De Povos Indígenas no Brasil
Foto: Saulo Petean, 1983

Gavião Parkatêjê

Autodenominação
Parkatejê
Onde estão Quantos são
PA 646 (Siasi/Sesai, 2014)
Família linguística

Depois de uma traumática "pacificação", ocorrida na década de 1970, na qual perderam 70% da população, os Gaviões venceram a crise populacional e reconstruíram seu modo de vida. A aldeia Kaikoturé, erguida em 1984, traduz em sua concepção o projeto de futuro dos Parkatêjê: reproduzindo o desenho circular tradicional das aldeias timbira, possui casas de alvenaria servidas por rede de água, luz e esgoto.

Nome

O nome "Gavião" foi atribuído a diferentes grupos Timbira por viajantes do século passado que desse modo destacavam seu caráter belicoso. Dentre os assim chamados, Curt Nimuendajú qualificou de "ocidentais", "de oeste", ou ainda "da mata", aos que vivem na bacia do Tocantins, a fim de os distinguir assim dos Pukôbjê e Krinkatí, do alto Pindaré no Estado do Maranhão, também conhecidos por aquela designação.

Na primeira metade do século XX, os "Gaviões de oeste" se distribuiam em três unidades locais autodenominadas conforme a posição que ocupavam na bacia do rio Tocantins. Uma delas chamou-se Parkatêjê (onde par é pé, jusante; katê é dono; e é povo), "o povo de jusante", enquanto outra, Kyikatêjê (onde kyi é cabeça), "o povo de montante", porque, no começo do século XX, por motivo de guerra entre as duas, a primeira refugiou-se a montante do rio Tocantins, já no Estado do Maranhão; por essa razão os Kyikatêjê são também designados como "grupo do Maranhão" (não confundir com os Pukôbjê e Krinkatí). A terceira unidade, que ficou conhecida como "turma da Montanha" conforme sua autodenominação Akrãtikatêjê (onde akrãti é montanha), ocupava as cabeceiras do rio Capim.

Embora atualmente estejam todas reunidas, a distinção entre as três unidades permanece marcada. Há, contudo, uma autodenominação comum a todas, como indica a placa na entrada da aldeia nova, onde se lê "Comunidade Indígena Parkatêjê", figura de fato criada pelos Gaviões, como expressão da autonomia por eles conquistada em 1976, para fazer face aos novos desdobramentos das relações interétnicas.

Língua

Os Gaviões falam um dialeto da língua Timbira Oriental, pertencente à família Jê.

A partir de 1981, com o funcionamento sistemático da escola do Posto da Funai e com a intensificação das relações com os vários segmentos da sociedade nacional, ocorreu, de forma acentuada, a difusão da língua portuguesa exatamente no plano do cotidiano, inclusive entre as crianças e adolescentes.

Por outro lado, a retomada dos ciclos cerimoniais de longa duração acentuou o uso da língua original em ocasiões rituais, com cantos, discursos etc.

Localização

Aldeia de alvenaria e a reciclagem da tradição. Foto: ISA Archive, 1984
Aldeia de alvenaria e a reciclagem da tradição. Foto: ISA Archive, 1984

Os Gaviões vivem na Terra Indígena Mãe Maria, localizada no município de Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do Estado do Pará. Situada em terras firmes de mata tropical, apresenta como limites os igarapés Flecheiras e Jacundá, afluentes da margem direita do curso médio do Tocantins.

O ribeirão Mãe Maria, que nasce no interior da terra indígena, conferiu seu nome ao Posto que o SPI ali instalou em 1964, à beira de uma picada estreita que, três anos mais tarde, viria a ser uma rodovia estadual pioneira na região: a PA-70 (como ficou conhecida localmente, embora seja a PA-332 desde 1982). Essa rodovia foi a primeira ligação do município de Marabá à rodovia Belém-Brasília, antes da construção da Transamazônica. Em 1967, ela cortou em toda a extensão — cerca de 22 km no sentido norte-sul — o imenso castanhal que constitui o território dos Gaviões.  

Krohokrenhum, com mais de 55 anos, resolve aprender a andar de moto. Foto: Iara Ferraz, 1985
Krohokrenhum, com mais de 55 anos, resolve aprender a andar de moto. Foto: Iara Ferraz, 1985

Em 1977, o limite sudoeste da Terra Indígena foi tocado pela construção de uma outra rodovia, a PA-150, que parte de Morada Nova — km 12 da PA-70 — em direção a Castanhal, município já próximo a Belém. A construção destas duas rodovias acelerou a ocupação efetiva e desordenada daquela porção oriental da Amazônia, favorecendo a invasão sistemática e crescente da terra dos Gaviões, tanto por posseiros como por obras estatais de infra-estrutura dos projetos que viriam a se instalar na região.

Mais tarde, a terra indígena foi ainda cortada pela linha de transmissão da Eletronorte, originada na Usina Hidroelétrica de Tucuruí, e, em 1982, pela Estrada de Ferro Carajás.

Distantes cerca de 40 km da cidade de Marabá, o principal núcleo urbano da região, e a apenas 30 km do povoado de São Félix, os Gaviões vivem na aldeia Kaikoturé — um dos nomes do líder do grupo, Krohokrenhum — inaugurada em julho de 1984. Situa-se cerca de um quilometro da rodovia PA-70.

População

O mesmo Krohokrenhum, cantador desde pequeno, no pátio da aldeia. Foto: Saulo Petean, 1983
O mesmo Krohokrenhum, cantador desde pequeno, no pátio da aldeia. Foto: Saulo Petean, 1983

A partir de 1975, vinte e cinco anos após a fase de "pacificação", durante a qual perderam 70% de sua população, os Gaviões passaram a apresentar franca tendência para o crescimento demográfico. 0 processo de recuperação passou por soluções tais como a reintegração de homens e mulheres Gaviões que haviam sido criados entre os civilizados ou no seio de outros povos indígenas, o casamento com mulheres regionais, busca de esposas entre os Pukôbjê, a incorporação de famílias ou indivíduos de etnias indígenas não-timbira, e até de homens brancos, numa política consciente de voltarem a ser muitos outra vez.

Em 1985, a população dos Gaviões era de 176 pessoas, mas viviam também na aldeia Kaikoturé mais 16 Guarani, um Ka’apor, um Tembé e 17 Kupên (civilizados). 0 grupo era constituído sobretudo por crianças e jovens (de 0 a 20 anos), que correspondiam a mais de 60% do total. Em termos globais, observava-se um pronunciado desequilíbrio entre os sexos, a favor dos homens, mas que estava começando a ser corrigido com um maior número de nascimentos de crianças do sexo feminino.

Os Gaviões Parkatêjê venceram a crise populacional e apresentavam em 1998 uma população de 338 indivíduos, que incluia muitas crianças e jovens (Jane Beltrão,1998). Em 2010 esse total chegou a 582 pessoas.

Histórico do contato

Gaviões do Rio Ipixuna. Foto: José Medeiros, 1957
Gaviões do Rio Ipixuna. Foto: José Medeiros, 1957

Com base nos relatos dos viajantes do século passado, Nimuendajú mencionou precisamente a localização dos Gaviões nas cabeceiras dos rios Jacundá e Moju, onde tiveram de fato suas grandes aldeias até a década de 60. Nessa área, os contatos e as relações que os índios Gaviões estabeleceram com as frentes de expansão da sociedade nacional apresentaram fases distintas, correspondendo à exploração dos recursos econômicos do rio Tocantins. A primeira delas, com contatos esporádicos, pacíficos, visuais entre índios e "civilizados", quando os pioneiros utilizavam as margens do rio como pousada, perdurou até o final do século passado, quando não havia necessidade nem motivação para se penetrar nas matas do interior.

No início do século XX o extrativismo vegetal (caucho, óleo de copaíba e, finalmente, castanha-do-pará) modificou a estrutura sócio-econômica do médio Tocantins e do Burgo do ltacaiúnas, que veio a ser a cidade de Marabá. A preocupação da população regional em neutralizar os Gaviões data particularmente do início da exploração da castanha — por volta de 1920 — quando se faz a penetração nas matas da margem direita do rio Tocantins, a fim de localizar castanhais.

As tradições orais dos Gaviões se referem a este período, marcado pelo recrudescimento de relações com a "gente civilizada", os kupên. Conforme os relatos de Krohokrenhum, os Gaviões passaram a se "acostumar" com a presença dos brancos em seu território. As relações pareciam inicialmente amistosas, pois eles obtinham dos kupên bens industrializados, como facões e machados. Logo, porém, ocorreram episódios violentos, com mortes de ambos os lados, especialmente após o assassinato de um dos chefes indígenas por castanheiros no baixo rio Tauri. Os Gaviões revidaram e mataram três castanheiros, além de incendiar suas barracas (Folha do Norte 25-03-38). A retaliação de mortes com mortes marcou o recrudescimento das relações com os civilizados.

Os conflitos entre os Gaviões e os coletores de castanha foram-se intensificando na medida em que este produto assumia maior importância para a economia regional. Pela margem direita do rio Tocantins, esses choques armados ocorriam numa extensão de quase 180 km, abrangendo terras dos atuais municípios de Tucuruí, Itupiranga, Marabá e São João do Araguaia. Os Gaviões eram então acusados de praticar 'grandes selvagerias' e em Marabá, principal centro comercial da região, durante as décadas de 30 e 40, políticos locais, comerciantes e donos de castanhais organizavam expedições de extermínio aos Gaviões.

Foi somente em 1937 que o SPI instalou um Posto no rio lpixuna, destinado à atração dos Gaviões. Quase em seguida, vários índios começaram a visitar o Posto para receber ferramentas e outros "brindes". Mas, quando por ocasião de uma dessas visitas, "encontraram o Posto desprovido de ferramentas e sobretudo de farinha, após demonstrarem descontentamento, mataram com várias flechadas um dos trabalhadores. Deixaram de freqüentar o Posto, tendo estabelecido contatos pacíficos em outros pontos do Tocantins inclusive num lugar chamado Ambauá, em frente a Tucuruí" (Arnaud: 1975, 37).

Em 1945, após uma troca de áreas, o SPI instalou um posto em Ambauá, retomando os trabalhos de atração. Os diferentes unidades locais em que estavam divididos os Gaviões alternaram-se nas visitas à área, inclusive com incursões violentas, que eram amplamente noticiadas na imprensa nacional, de modo alarmante, entre 1948 e 1951 (como, por exemplo, as matérias publicadas no Estado do Pará em 29-01-48 e em 0 Cruzeiro de 31-03-51; ver Arnaud: 1984, 12-13).

"O ethos beligerante dos Gaviões, no entanto, também regia normas de expansão territorial dos vários grupos dentro de um mesmo sistema de relações sociais. Não raras vezes, os conflitos internos eram motivados por roubos de produtos das roças, acusações de feitiçaria ou raptos de mulheres" (idem). Foi nesse contexto que ocorreram as cisões, no início deste século, que geraram as três referidas unidades locais dos Gaviões.

O início da década de 50 foi marcado pela ruptura decisiva de uma ordem tradicional, onde a operação do seu sistema de organização social acabara por se debilitar com o esfacelamento dos territórios comuns, as doenças advindas e a depopulação. A total ausência de condições de resistência por parte das unidades locais em que haviam se segmentado fez com que a única possibilidade de sobrevivência fosse a "rendição", a busca do contato com o kupên — o "civilizado", "cristão".

Com a morte do antigo chefe Gavião, a quem os regionais chamavam "Indiuma", que durante toda sua vida rejeitara o contato com os kupên, começou a se firmar nesta época, sobre os poucos integrantes do grupo do Cocal, aldeia dos Parkatêjê, a liderança de Krohokrenhum, cuja trajetória como líder e cantador está relacionada a sua coragem pessoal e a de seus seguidores na aproximação com os civilizados.

Os contatos decisivos com o grupo do Cocal ocorreram em 1956, através de uma expedição organizada pelo dominicano Frei Gil Gomes Leitão e por um tenente da reserva, a serviço do SPI. Com poucos recursos, promoveram o encontro com os Gaviões a fim de evitar que as expedições punitivas organizadas com o apoio de políticos locais alcançassem seu objetivo: exterminar os índios para poderem explorar os castanhais em que eles haviam se fixado.

Em seguida, muitos componentes do grupo do Cocal dirigiram-se para a cidade de ltupiranga, onde sua permanência por cerca de quatro meses, vivendo da prestação de serviços à população local — encher os potes d'água, tirar lenha ou exibirem-se como exímios atiradores de flechas — em troca de roupas e alimentação, resultou numa depopulação ainda mais acentuada quando retornaram posteriormente à aldeia, com epidemias de gripe e sarampo.

Diante do fascínio pela cidade, o grupo havia abandonado a antiga aldeia, socorrendo-se em um local onde não havia assistência sistemática por parte do SPI, os meios de subsistência eram precários e as terras já estavam ocupadas por regionais. Segundo manuscrito de Frei José, dominicano que visitava os Gaviões, aquela área fora adquirida por um deputado de Belém.

Formaram pequenos roçados e começaram a adotar nomes pessoais em língua portuguesa, que, assim como o uso de roupas, consistiam em elementos de um sistema específico de comunicação e interação com os kupên que lhes forneciam bens industrializados". Os agentes do SPI incentivavam os índios a coletar castanha, em troca de facões, machados, munições e gêneros alimentícios. 0 castanhal onde haviam se fixado, arrendado por um "Seu Benedito" que "permitira" instalarem-se ali — tendo assim se tornado "amigo" dos Gaviões — passou a ser explorado individualmente por eles, segundo Da Matta (1967: 115). A produção era vendida em Itupiranga e o transporte era patrocinado por um funcionário da prefeitura daquele município, que veio a trabalhar como agente do SPI entre o grupo. Os Gaviões foram assim iniciados nas operações de compra e venda neste período — princípio da década de 60.

Ao contrário do grupo do Cocal, a "turma da Montanha" foi se estabelecer — em fins de 1960 — no local conhecido como Ambauá, onde já existia um Posto (e pastagens) do SPI desde o início da década de 40. Os contatos sistemáticos com os habitantes de Tucuruí, situada a meia hora de barco a motor da sede do Posto, fizeram com que os Gaviões deixassem de ser vistos como "saqueadores" e passassem a abastecer o mercado local com caça, peixe e castanha. Para os moradores da cidade eles haviam se tornado "crentes". De fato, a partir de 1964, integrantes da Missão Novas Tribos do Brasil haviam se instalado na "Montanha".

Concentração em Mãe Maria

Desde 1943 havia uma gleba de terra concedida aos índios Gaviões por decreto do então interventor federal no Estado do Pará. Segundo Cotrim, naquela época, os Gaviões costumavam sair numa praia do Tocantins em frente do castanhal Mãe Maria e se confraternizavam com o seu administrador. Este deduziu que os índios deviam habitar nas cabeceiras do igarapé Mãe Maria e se preocupou em reivindicar para eles esta gleba, compreendida entre os rios Flecheiras e Jacundá, uma légua além da margem do Tocantins, faixa em que ele (administrador) explorava castanha (Soares: 1983).

Esta área passou a ser arrendada a terceiros pelo SPI a partir de 1947 por uma quantia considerada "irrisória", mas em 1965 o SPI começou a receber propostas de novos arrendamentos a preços altíssimos. Com o começo da abertura da PA-70 em 1964 a área despertou grande interesse e dezenas de posseiros se instalaram na área indígena. Vendo que os funcionários do SPI não conseguiriam conter a ocupação da área, Antonio Cotrim resolveu convencer os 28 Gaviões aldeados em Itupiranga a se mudarem para lá.

As expectativas dos agentes do SPI em "dar início à vida econômica" do Posto estavam vinculadas à eficácia da ação dos Gaviões em afugentar os castanheiros que haviam se instalado ali. Os estereótipos então existentes em relação aos Gaviões eram atualizados e reforçados nas expedições que empreendiam num determinado trecho da estrada, entre os rios Flecheiras e Jacundá, com objetivos precisos.

No final da década de 60, a penetração de posseiros e grileiros, facilitada pela abertura da rodovia PA-70, e o avanço rápido da frente pecuária acabaram por confinar, sob forte pressão, aquele grupo que fora se refugiar no Maranhão, num local que ficou conhecido como Igarapé dos Frades, em Saranzal, próximo a Imperatriz (Arnaud: 1975, 72-76). Em fins de 1968, a área em que a "turma do Maranhão" se encontrava — perto da PA-70, mas a 150 km de Mãe Maria — havia sido interditada por decreto (nº 63.515 de 31-10-68), medida que não fora respeitada pela população pioneira. Os Gaviões reagiram violentamente, tendo havido mortes de ambos os lados, o que provocou um pânico generalizado em toda a região (0 Estado de S. Paulo 30-05-72).

Para o contato definitivo com o grupo, um trecho de alguns quilômetros ao longo da PA-70 foi interditado pelo Exército, pela Funai, Governo do Pará e Polícia Federal. Deste modo, a Frente de Atração, chefiada por Cotrim, auxiliado, na etapa final da atração, por intérpretes do grupo da Montanha, estabeleceu os contatos ainda em 1968. Diante de um eventual "massacre" ao qual o grupo estaria sujeito naquela localidade, a FUNAI negociou a sua transferência para Mãe Maria. E mediante uma soma em dinheiro destinada aos gastos com a remoção do grupo, a área foi entregue a uma empresa de grilagem regional. Atualmente, esta área, conhecida como "Cinelândia", é atravessada pela ferrovia de Carajás e está ocupada por cerca de 15.000 famílias de posseiros em inúmeros povoados.

No início da década de 70, com o impulso da política governamental de ocupação gradativa dos chamados "espaços vazios" da Amazônia, começaram a se desenvolver os grandes projetos de construção da rodovia Transamazônica e da Usina Hidroelétrica de Tucuruí, esta visando à exploração de minérios da Serra de Carajás. A Funai determinou então a remoção do grupo da Montanha para o interior do PI Mãe Maria, para onde se dirigiram seis rapazes solteiros, em 1971. No ano seguinte, começaria a construção da barragem da Usina Hidroelétrica de Tucuruí, exatamente na área concedida aos Gaviões em 1945.

O líder do contato

O líder Krohokrenhum assinando um acordo com a Companhia Vale do Rio Doce, autorizando a passagem da estrada de ferro Carajás dentro da área Gavião mediante indenização. Foto: Cynthia Brito, 1984
O líder Krohokrenhum assinando um acordo com a Companhia Vale do Rio Doce, autorizando a passagem da estrada de ferro Carajás dentro da área Gavião mediante indenização. Foto: Cynthia Brito, 1984

Krohokrenhum viveu o contato com os kupên desde os momentos iniciais, tendo sido o seu grande incentivador. Tomou a frente em todo o processo e, a certa altura, chegou a acreditar que seu povo estivesse realmente próximo do fim. Exercer a liderança, passou a ser, de fato, decidir pelo grupo todo: desde a transferência. a para o Mãe Maria, a submissão ao trabalho na castanha, até o descontentamento crescente e a ruptura definitiva daquela ordem.

No decorrer deste período pós-contato, cresceu o seu prestígio como chefe dos Gaviões, aos poucos reunidos em uma única aldeia. Grande cantador e exímio jogador de flechas, como é reconhecido por todos os seus, Krohokrenhum, foi o grande incentivador da retomada, com intensidade, dos ciclos cerimoniais, desde 1976. É o mediador por excelência diante dos conflitos internos, ou ainda de ameaças externas, nas situações que possam pôr em risco a harmonia do grupo. Guardião da integridade do território, bastante ameaçado pelo intenso processo de ocupação da região de Marabá, Krohokrenhum sabe que o enfrentamento da gente civilizada é luta, não acaba nunca.

O líder Krohokrenhum. Foto: José Caron, 1961
O líder Krohokrenhum. Foto: José Caron, 1961

Krohokrenhum reluta em se ausentar do território da "Comunidade Indígena Parkatêjê ". Ele costuma enviar emissários e alguns entre os Gaviões se especializaram nas "relações para fora" (comércio, bancos, Funai, exportadores de castanha, etc.), nos povoados vizinhos, em Marabá, Belém ou Brasília. Às vezes, o próprio Krohokrenhum se desloca, mas desde muito tempo, as negociações importantes para o destino dos Gaviões, envolvendo representantes de agências federais, ele faz questão que ocorram na própria aldeia. Ficou famosa, nos idos de 1977, sua retumbante recusa ao convite do Ministro do Interior, Rangel Reis, para comparecer em Brasília no ato da assinatura de um empréstimo bancário para a safra de castanha. 0 mesmo estilo permaneceu nas negociações posteriores, envolvendo indenizações vultosas, com representantes da ELETRONORTE e CVRD. Krohokrenhum tem plena consciência da lenda que corre, na região e pelo Brasil, a respeito dos Gaviões, "os índios que enricaram com as indenizações". Não gosta da maioria das versões veiculadas pela imprensa a respeito das mudanças que estio ocorrendo no vida da aldeia.

O líder Krohokrenhum. Foto: Messias, 1979
O líder Krohokrenhum. Foto: Messias, 1979

A firmeza de sua liderança e do seu prestígio como chefe dos Gaviões é um fato notável, apesar das crises de autoridade. Em julho de 1985, por exemplo, num gesto dramático e inusitado, com grandes repercussões na vida da aldeia, Krohokrenhum quebrou publicamente seu maracá e seu arco e mandou destruir as toras que seriam utilizadas na "corrida", depois que um grupo de jovens, recém-chegados do "comércio", preferiram jogar futebol no pátio de aldeia ao invés de participar de um ritual que envolvia cantos e danças. De pouca conversa com os kupên, mas autor de longos e freqüentes discursos no pátio da aldeia, Krohokrenhum vem sendo o condutor de um amplo movimento de resistência dos Gaviões.

Da castanha da FUNAI à castanha dos Gaviões

A transferência de todos os grupos locais para a Terra Indígena Mãe Maria permitiu a Funai constituir ali a força necessária para o desenvolvimento de uma atividade que chegou a fazer desse posto o maior produtor de castanha, no início da década de 70. 0 sistema de exploração econômica a que os Gaviões estavam submetidos, como mão-de-obra coletora, durou dez anos, de 1966 a 1976. Durante esse período os Gaviões se recuperaram em termos demográficos, mediante a assistência proporcionada pela Funai.

Com o decorrer dos anos, a manipulação da distribuição da renda da castanha, através do sistema de pagamento de "comissões" aos líderes pelos agentes locais da Funai, passou a gerar a maior insatisfação entre os Gaviões. Por outro lado, a obrigatoriedade do trabalho na castanha, durante seis meses por ano e mediante um esforço físico acentuado para a obtenção de bens que haviam se tornado indispensáveis, impedia a realização de atividades tradicionais, como os cerimoniais de longa duração.

Krohokrenhum resolveu dirigir-se pessoalmente à Delegacia de Belém, para resolver a questão da "comissão" paga pela Funai, como remuneração pelo trabalho dos Gaviões na coleta da castanha. Em diálogo veemente com ele o então delegado regional afirmou que, dali em diante, deixaria de comercializar a castanha de Mãe Maria, uma vez que os Gaviões se mostravam intolerantes em relação àquela sistemática, 'aceita' nos outros postos indígenas produtores de castanha.

Naquele ano, a antropóloga Iara Ferraz estava realizando levantamentos preliminares para a implementação do Projeto de Emergência para a Coordenação da Safra de Castanha pelos Gaviões de Mãe Maria. Com os Gaviões, debatia a possibilidade concreta de comercializar a produção diretamente com os agentes exportadores, sem a mediação da Funai.

Apesar dos entraves iniciais, administrativos e políticos, oriundos da Delegacia e do DGPC em Brasília (atraso na remessa da verba inicial e insuficiência dos suprimentos), o final da safra de 1976 representou para os Gaviões a conquista da autonomia. Configurando-se como produtores, os Gaviões conseguiram reafirmar-se perante a população regional, passando a ser admirados e respeitados. Reassumiram, ao mesmo tempo, uma atitude de plena afirmação de uma identidade étnica que vinha sendo ameaçada. Para expressar a diferença em relação ao "tempo em que a Funai mandava", os Gaviões assumiram a autodenominação coletiva e institucionalizada de "Comunidade Indígena Parkatêjê", ao mesmo tempo em que empreenderam a instituição do mecanismo da "cantina" para a redistribuição de mercadorias em maior quantidade.

As transformações ocorridas abrangeram também a ruptura definitiva com os agentes da MNTB que haviam se fixado desde 1971, junto à "turma do Maranhão" assim como foram totalmente modificadas as relações com os funcionários da Funai. De acordo com o modelo de ocupação e expansão que ocorre na região, os Gaviões se mostraram atraídos por uma série de "negócios" — denominados posteriormente "projetos da comunidade" — que lhes pareceram rentáveis e que viriam incrementar o fundo de recursos da Comunidade.

Uma vez que a ênfase desse empreendimento estava na comercialização direta com os exportadores, os Gaviões passaram a utilizar os meios tradicionais de especulação de mercado, tanto em Marabá quanto em Belém, mecanismo este comum aos médios produtores regionais. Os "contratos de compra e venda" de lotes de castanha eram assinados por dois representantes da "Comunidade Indígena Parkatêiê".

A "castanha dos Gaviões", distinta da "castanha da Funai", era vendida em Belém, para onde a produção seguia em caminhões fretados pela Comunidade, face a algumas vantagens como o preço mais elevado e a correção da medida-padrão. Em Marabá, esta medida é acrescida da chamada "cabeça do hectolitro" — cerca de 10 litros — para compensar ao comprador a perda ou quebra do produto até chegar aos seus depósitos, em Belém.

Desta maneira os Gaviões estabeleceram relações pessoais e diretas com determinados segmentos da sociedade nacional que até então desconheciam, representados sobre tudo por exportadores e agentes bancários. O controle financeiro da safra e de quaisquer outras operações comerciais era efetuado, em 1976, através de livros-caixa, elaborados por dois componentes do grupo da "Montanha", assessores de Krohokrenhum. Nesse trabalho, eram acompanhados pelo chefe Gavião e assistidos pelo chefe do Posto. Esses dois representantes assinavam contratos e movimentavam as contas bancárias, em nome da "Comunidade Indígena Parkatêjê", conforme indicado nos novos talonários, que logo substituíram os antigos impressos do Posto.

Eletronorte e Companhia Vale do Rio Doce

Tão logo os Gaviões haviam conseguido gerir, de forma autônoma, a safra de castanha de 1976, tiveram que enfrentar as pressões exercidas sobre seu território. por empreendimentos governamentais de grande porte: a passagem de uma linha de transmissão da ELETRONORTE e, posteriormente, da ferrovia do Projeto Carajás.

Diante da impossibilidade de desviar o traçado da linha de transmissão de alta tensão que ligaria Marabá a Imperatriz, justamente sobre os seus maiores castanhais, roças e a aldeia em que então estavam todos vivendo, a do "Trinta", os Gaviões passaram a exigir o pagamento de uma indenização prévia, por perdas e danos, em dinheiro e diretamente à Comunidade, mediante o estabelecimento de um contrato. Uma série de negociações diretas entre os Gaviões e representantes da ELETRONORTE resultaram no acordo assinado em 1980, para o pagamento de uma indenização de 40 milhões de cruzeiros.

A indenização permitiu a realização do projeto de Krohokrenhum de construir uma nova aldeia. Com casas de alvenaria dispostas em círculo, inaugurada em 1984, a nova aldeia pode ser considerada como paradigmática da recuperação desta sociedade indígena, ao mesmo tempo que dos problemas que enfrenta. Para que esta inauguração fosse possível, a Comunidade teve que contornar uma série de dificuldades, especialmente a ingerência da Funai no andamento das obras.

Ainda em 1980, os Gaviões tiveram de enfrentar nova ameaça: a construção, pela CVRD, da ferrovia que liga Serra de Carajás a Itaqui cujo leito atravessou a terra indígena. As negociações em torno da indenização levaram a um primeiro acordo e ao pagamento, em 1982, de 56 milhões de cruzeiros à Comunidade. Mas ocorreram vários desdobramentos posteriores.

Poucos meses depois, os Gaviões partiram para novos "enfrentamentos" com os kupên. Iniciaram um movimento para forçar a Eletronorte a indenizar uma família Gavião da Montanha que haviam permanecido na sua área tradicional, em Tucuruí. Estas negociações prosseguiram durante vários anos, com o envolvimento de várias agências. Terminaram em janeiro de 1984, quando a Comunidade aceitou uma indenização no valor de 50 milhões de cruzeiros.

Atividades tradicionais e sua comercialização

A divisão do trabalho se dá entre os sexos e pelas classes de idade. As atividades das mulheres, reunidas em grupos de irmãs, reais ou classificatórios, voltam-se para o plantio e colheita das roças de tubérculos (batata, cará, inhame branco e roxo e kupá, espécie de cipó tradicionalmente cultivada pelos Timbira). Cultivam também duas qualidades de mandioca, três de milho, uma de amendoim e seis de banana. Tradicionalmente, estas roças pertencem às mulheres.

A agricultura ocupa assim um papel de destaque enquanto fonte de subsistência para os Gaviões. Os homens passaram a cultivar arroz em grandes extensões (de 10 a 15 alqueires), derrubadas e plantadas sob o sistema de coivara, e cuja produção se destina ao consumo da comunidade. Posteriormente extensões ainda maiores (cerca de 30 alqueires) vieram a ser plantadas pelos kupên contratados por empreitada pelos Gaviões.

A produção destas roças destina-se, eventualmente, à comercialização. Os Gaviões não vêm reciclando as antigas capoeiras. Ao contrário, novas derrubadas vêm sendo feitas para o posterior plantio de pastagens, de acordo com um padrão que se observa ao longo da rodovia.

A caça constitui ainda uma importante fonte de subsistência para os Gaviões, embora seu consumo venha se restringindo às ocasiões cerimoniais, em virtude da escassez gradativa, provocada pelos grandes desmatamentos nas redondezas. No entanto, veados, caititus, porcos do mato, tatus, pacas, cutias e macacos (prego e guariba) são animais ainda abatidos a espingarda, no interior da terra indígena.

A obtenção da caça — assim como o esquartejamento e a distribuição da caça entre os parentes próximos, afins e consangüíneos — é uma tarefa masculina, que confere muito prestígio. 0 preparo da alimentação é feito pelas mulheres.

Tradicionalmente, a coleta de frutos silvestres — bacaba, açaí, inajá, macaúba e babaçu, além do ingá, do cupuaçu e da castanha-do-pará — também constituía uma tarefa principalmente feminina e de grande importância enquanto fonte de subsistência, sendo hoje executada por ambos os sexos.

A pesca, por sua vez, não é especialmente privilegiada pelos Gaviões, à exceção da pesca ao poraquê, muito apreciado para a confecção dos "berarubus" (ou kuputi), iguaria tradicional dos grupos Jê. São feitos com duas camadas de mandioca ralada, entremeadas com carne de caça e assados sob pedras quentes e folhas de bananeira, num forno coberto de terra, sempre provisório, no quintal das casas.

Em períodos de muita escassez, mulheres e crianças vão pescar, apanhando peixes pequenos — como carás e traíras — com linha e anzol nos igarapés próximos da aldeia. Na época da seca, fazem expedições em canoas, para a pesca com tarrafa (em geral confeccionada pelos kupên que se agregaram aos Gaviões).

A confecção de farinha de mandioca à maneira regional — dos tipos "puba" ou "seca" — era, em geral, feita em grande quantidade por indivíduos de ambos os sexos para o abastecimento de todo o grupo. Pasaram depois a comprá-la dos comerciantes das redondezas, assim como os outros bens industrializados (óleo, sal, açúcar, café, querosene, sabão, munição). Em 1983 adquiriram de um regional o maquinário para fabricá-la nas próprias roças, voltando assim a obter a farinha necessária ao seu consumo.

O artesanato constitui-se num dos itens comercializados pelos Gaviões, em geral vendido pelo próprio artesão aos visitantes da aldeia ou ainda em Marabá. Cabe aos homens mais velhos a confecção dos itens da cultura material que ainda são utilizados pelos Gaviões, como os instrumentos musicais — de sopro e de percussão — além dos arcos e flechas usados nos jogos cerimoniais, por ambos os sexos. Quando destinados à comercialização, os artigos confeccionados nem sempre correspondem àqueles tradicionais dos Gaviões. No caso de arcos e flechas, a qualidade dos materiais empregados também é diversa e o acabamento das peças, pouco esmerado. Há entre os Gaviões duas famílias provindas de um grupo Guarani localizado em Xambioá (GO) cuja fonte de subsistência complementar está baseada na comercialização do artesanato que confeccionam.

Organização social

0 fortalecimento da identidade dos Gaviões, a partir de 1976, se expressou tanto através das novas relações estabelecidas com os brancos quanto através da rearticulação dos ciclos produtivos com os ciclos cerimoniais de longa duração. A rearticulação da sociedade Gavião passou também pelo rearranjo dos vínculos entre as unidades locais outrora separadas, que, por sua vez, apresentavam subdivisões em pequenas frações. Nesse contexto, inscreve-se a construção da grande aldeia que reúne hoje todos os Gaviões ocidentais na Terra Indígena Mãe Maria.

A nova aldeia, denominada Kaikoturé, se compõe de 33 casas dispostas em círculo (que tem cerca de 200 metros de diâmetro), forma tradicional das aldeias Timbira, retomada pelos Gaviões. Há um largo caminho ao redor, em frente às casas e vários caminhos radiais que levam ao pátio central, onde se desenvolvem todas as atividades cerimoniais.

O padrão de residência uxorilocal — o marido vai morar em casa de sua esposa, que permanece na casa da mãe — foi abandonado com a depopulação ocorrida após o contato. Retomaram-no posteriormente, já na antiga aldeia do Mãe Maria, agrupando-se em segmentos residenciais formados por famílias elementares ligadas entre si pelo lado materno. Em geral, grupos de irmãs, reais ou classificatórias, permanecem espacialmente próximas, num mesmo segmento, após se casarem.

As casas da nova aldeia foram construídas em alvenaria, com paredes pintadas de azul e portas e janelas pintadas de branco. São cobertas com telhas de barro. Todas têm água, luz e esgoto.

A casa de Krohokrenhum é um sobrado com dois andares. Na parte inferior, há uma varanda, o salão para reuniões importantes, a sala de TV (onde muitos, jovens principalmente, se reúnem à noite). Na parte superior: a varanda, uma saleta e três quartos da família de Krohokrenhum. Nos fundos de sua casa, há uma outra construção em alvenaria, onde está a cozinha e uma grande varanda, onde se fazem as refeições. Ali se realizam as reuniões matinais, diárias, de todos os homens.

A adoção do estilo regional "moderno" foi o resultado de múltiplas pressões exercidas por empreiteiros, comerciantes locais de material de construção industrializado e agentes tutelares, sobretudo após os Gaviões terem recebido indenização da ELETRONORTE, em 1980, quando a construção da linha de transmissão obrigou-os a se mudarem. No entanto, as edificações em alvenaria, construídas enquanto benfeitorias para o PI Mãe Maria, durante anos seguidos, pelos agentes da Funai constituiriam o "modelo" de casas ditas boas para morar, prometidas aos Gaviões desde a época em que começaram a ser transferidos para aquela localidade.

Atualmente, atrás de cada casa — cuja ocupação espacial interna não corresponde exatamente às divisões construídas para sala, quartos, dispensa, cozinha e banheiro — existe um pequeno rancho de madeira ou de folhas de babaçu, com apenas uma pequena parte fechada com paredes, que muito se assemelha à casa tradicional Timbira. Passam ali grande parte do dia: é onde se cozinha e se repousa, utilizando o interior da casa de alvenaria apenas para dormir, à noite. De fato, muitos Gaviões e sobretudo os mais velhos, ficaram insatisfeitos com a condução das obras na aldeia e se queixam, especialmente do calor e do ruído nas novas casas em alvenaria.

Os regionais que se agregaram aos Gaviões moram atualmente ao lado da aldeia nova, num aldeamento provisório, construído com palha de babaçu, tábuas e telhas de amianto, onde todos os componentes do grupo permaneceram durante um ano (1980), aguardando o término da construção da aldeia nova e enquanto, no local da antiga aldeia, iam sendo montadas as torres de alta tensão.

Apesar do acentuado desequilíbrio demográfico, o processo de recuperação populacional permitiu aos Gaviões reestabelecer a operação de um sistema de classes de idade que tem como referência exatamente a população masculina, mais numerosa. Distribuem-se assim entre crianças, adolescentes ou "solteiros", adultos "casados sem filhos" e os adultos "casados com filhos". Cada uma dessas classes está associada a determinados graus de participação e de prestígio.

Mesmo utilizando pouco a língua original no cotidiano da aldeia, os Gaviões voltaram a pôr em prática o sistema de nominação e as relações por ele engendradas, com a realização dos ciclos cerimoniais de longa duração, como um dos mecanismos voltados para a reafirmação da identidade étnica do grupo.

Com o rearranjo que vinha ocorrendo a partir de 1976, deu-se a retomada, com intensidade, dos ciclos cerimoniais de longa duração, até então impedidos pelos agentes do Posto. 0 sistema de nominação readquiriu assim sua importância enquanto sistema de classificação operante, uma vez que é responsável pelo recrutamento dos componentes das unidades básicas rituais em que toda a sociedade se divide durante os cerimoniais.

Parece que o irmão da mãe e a irmã do pai, reais ou classificatórios, seriam os transmissores preferenciais, respectivamente, de nomes masculinos e de nomes femininos. No entanto, face ao esvaziamento das categorias ideais, observa-se atualmente a existência de rearranjos para a escolha, pelos pais, daqueles que vão dar nomes a seus filhos, sobretudo face à ampliação de uma rede de relações intragrupais.

Cada indivíduo recebe dois nomes (ou mais), dos quais apenas um é usado. Tanto para os homens quanto para as mulheres, a transmissão de nomes impõe-lhes responsabilidades para atuar enquanto mentor para os que recebem os nomes, guiando-os nos cerimoniais, ensinando-lhes cantigas, técnicas de corridas de toras, além de mitos. Os pais podem transmitir os nomes de seus parentes próximos mortos a seus próprios filhos. É um modo de preservar os nomes e o "lugar" dos mortos. Cada pessoa tende a chamar os componentes da Comunidade — exceto os parentes mais próximos consangüíneos — pelos mesmos termos de parentesco que lhes aplica aquele indivíduo que lhe deu o nome, além de adotar os seus amigos formais. Uma criança adota todas as afiliações cerimoniais de quem lhe deu o nome. Enfim, quem dá o nome e quem o recebe identificam-se socialmente.

Entre os amigos formais, por sua vez, as relações são marcadas sobretudo pela evitação, que também vigora entre genro-nora/sogro-sogra.

A retomada dos rituais

Jogo de flecha na aldeia Gavião do Mãe Maria. Foto: Miguel Rio Branco, 1976
Jogo de flecha na aldeia Gavião do Mãe Maria. Foto: Miguel Rio Branco, 1976

Na rearticulação promovida pelos Gaviões, voltar a "fazer as brincadeiras" — como chamam os rituais — significou recuperar instituições e regras essenciais à operação do sistema de organização social. Ainda em 1976, a 'festa do milho novo', realizada a partir do final de janeiro, exatamente por ocasião do início da coleta de castanha, foi marcada por grande entusiasmo e euforia, manifestados por todos, fazendo sobressair o rearranjo que vinha sendo promovido.

Os rituais dos Gaviões se ocupam diretamente das relações entre pessoas e grupos, mediante a utilização de um esquema simbólico: a divisão em metades. Todo o grupo está segmentado conforme essas metades cerimoniais, Pàn (Arara) e Hàk (Gavião), que disputam as tradicionais corridas de toras e os jogos de flechas. Uma outra divisão, nas frações Peixe, Lontra e Arraia, serve para a realização de um outro ciclo cerimonial.

Não são apenas as metades e outras frações que participam dos rituais: neles, pode-se notar oposições como entre parentes e afins, entre amigos formais, entre homens e mulheres ou ainda entre classes de idade. 0 jogo de futebol, realizado com freqüência no próprio pátio cerimonial da aldeia, prende-se à divisão entre jovens e homens maduros.

Há rituais que duram vários meses, com períodos de abertura e de encerramento. Ligada a todos os ritos, a corrida de toras voltou a se realizar com muita freqüência, disputando-se entre duas ou três turmas, basicamente, que correspondem a frações cerimoniais. São realizadas quase que diariamente, com toras de coqueiro babaçu ou de sumaúma, de acordo com a fase do ciclo cerimonial, pintadas de urucum. Ao chegarem ao pátio, os corredores são banhados pelas mulheres, que, em geral, costumam participar só no final. Inúmeros comentários, em tom jocoso, exaltam o desempenho dos corredores por todo o dia.   

Krohokrenhum, exímio jogador de flecha. Foto: Vincent Carelli, 1983
Krohokrenhum, exímio jogador de flecha. Foto: Vincent Carelli, 1983

Paralelamente às corridas de tora, intensificaram-se os jogos de flechas, como prática que acentua a competição, publicamente e de modo ritualizado, reafirmando alianças interpessoais. Nas ocasiões cerimoniais, esses jogos consistem em competições realizadas no decorrer do dia, após a corrida de toras, quando todos se dirigem para um local na mata, próximo à aldeia. Por vezes, o jogo se realiza em frente às casas, mas sempre até o final da tarde. Em grupos, formam pares (componentes de frações cerimoniais distintas) para a disputa de flechas, em caminhos radiais. Na outra extremidade ficam em geral rapazes ou mulheres que apanham as flechas para devolvê-las aos participantes.

Existem duas modalidades desse jogo que se sucedem no desenvolvimento do ciclo cerimonial, onde os Parkatêjê utilizam tipos de flecha distintos. A primeira consiste em atirar para baixo, fazendo com que a flecha bata à frente de um pequeno arco fincado no chão a uma distância de um metro do jogador, para em seguida se elevar e cair a cerca de trezentos metros dali. Na outra modalidade, a flecha é atirada para o alto e seu percurso é ainda maior. Ao caírem no chão, a distância ultrapassada pelas flechas dos participantes, a cada jogada, determina o ganhador (de flechas) entre os parceiros. Os exímios atiradores, mulheres e homens maduros em geral, são admirados no interior da sociedade dos Parkatêjê e seu desempenho, assim como dos corredores mais velozes e hábeis com as toras, é fonte de aquisição de prestígio e motivo para longas conversas no pátio.

Em 1983, os Gaviões realizaram um importante ciclo ritual ligado à iniciação masculina: o Pemp, que haviam deixado de praticar há cerca de 25 anos, exatamente o tempo transcorrido desde o contato definitivo com os kupên. Embora este ritual diga respeito à iniciação dos jovens guerreiros, grande entusiasmo e movimentação mobilizam todo o grupo, sobretudo quando apresenta momentos de inversão de papéis, dando ênfase ao desempenho das mulheres nas corridas de tora e nos jogos de flechas.

Os jovens iniciandos permanecem reclusos por alguns meses, numa pequena casa fechada com palhas de babaçu, construída na parte posterior do círculo da aldeia, atrás da casa de um dos guias cerimoniais. Naquele local, recebem ensinamentos especiais, baseados na bravura e na honradez, princípios norteadores da perpetuação de um ethos guerreiro, particular aos grupos Jê atuais. Dali saem apenas para a realização de atividades coletivas, como expedições de caça e coleta ou ainda colheita de roças. Sempre juntos, os pemp banham-se num ponto exclusivo do igarapé Mãe Maria. "É preciso banhar muito para crescer logo!" afirmam os mais velhos.

Este solene período de reclusão, onde estão interditadas as relações sexuais e a ingestão de determinados alimentos — como carnes de caça e castanha — marca a passagem para o que se poderia chamar de maturidade.

Palavras e flechas de Kokrenum: Depoimento Gavião

Por Kokrenum. Agosto, 2010.
Entrevista realizada por Vincent Carelli, Indigenista, cineasta e secretário executivo do Vídeo nas Aldeias, publicada originalmente no livro Povos Indígenas no Brasil 2006-2010 (ISA).

Kokrenum, ou “capitão” como é chamado, é o líder sobrevivente do primeiro grupo gavião contatado em 1957. Agora com mais de 80 anos, ele se diz do tempo do “índio bravo no mato”. traumatizados pelas mortes do contato, escravizados na coleta de castanha pelo SPI/Funai, o grupo foi quase extinto. Pedro, uns dos órfãos do contato criados por Kokrenum, conta: “naquele tempo o nosso mundo gavião tinha acabado, a gente queria é ser kupen (civilizados)”

Kokrenum, também conhecido como capitão. Ele é o líder sobrevivente do primeiro grupo Gavião, contatado em 1957. TI Mãe Maria, Bom Jesus do Tocantins. Foto: Vincent Carelli/Vídeo nas Aldeias, 2010.
Kokrenum, também conhecido como capitão. Ele é o líder sobrevivente do primeiro grupo Gavião, contatado em 1957. TI Mãe Maria, Bom Jesus do Tocantins. Foto: Vincent Carelli/Vídeo nas Aldeias, 2010.


O PÓS-CONTATO “Quando eu cheguei aqui a primeira vez (na reserva do Mãe Maria, perto de Marabá), o SPI fez uma roça grande pra mim. Tinha muito arroz, feijão, mandioca, muita banana. Eu fiquei muito alegre, pensei que ia ser assim todo o tempo, que eles iam fazer como se eu fosse filho deles: eles trabalhavam e davam para a gente comer e roupas para a gente vestir. Eu pensava assim, mas não, eles não prestavam. Mas só foi uma vez, aí eles mandaram a gente trabalhar. Falavam na língua do kupen chamando a gente de preguiçoso. Quando a gente jogava flecha, eles mandavam a gente trabalhar em vez de ficar só jogando flecha. Eles não respeitavam a gente, falavam mesmo. Agora eu sei que eles não prestavam. Depois de velho é que eu fui entender.”

Introdução

por Vincent Carelli/Vídeo nas Aldeias

Os Gavião começam a reconquistar a sua autonomia no final dos anos 1970, assumindo a gestão de seus castanhais, com o apoio do general Ismarth, presidente da Funai, dos antropólogos Olimpio Serra e Iara Ferraz e dos juristas Dalmo Dallari e Frederico Marés. O contato com o grupo Gavião do Maranhão, que se juntou à turma de Kokrenum, possibilita novos casamentos, a retomada da língua e de sua vida cultural. Nessa época eu iniciava o Vídeo nas Aldeias, e durante três anos registramos a realização dos grandes rituais que haviam sido abandonados depois do contato. Mas logo a região se tornou o eixo dos grandes projetos ama zônicos: rodovia Transamazônica, a linha de transmissão da hidrelétrica de Tucuruí e a ferrovia de Carajás. Estas duas últimas cortam a Terra Indígena dos Gavião. Bom negociador, Kokrenum exige compensações consistentes pela destruição de seu castanhal e degradação do seu território. Mas o dinheiro também trouxe muitas mudanças, como o desinteresse progressivo das novas gerações pelas suas tradições. Abatido, Kokrenum se afastou da aldeia.

Recentemente, um grupo de jovens mulheres e um aprendiz de cantor, angustiados com a possível perda de suas referências e da sua língua, resolveu procurar o capitão. Kokrenum, crítico ácido da juventude e das mudanças ocorridas, como miscigenação, perda da língua, abandono da agricultura, alimentação de “branco”, que geraram muitas doenças, ficou tocado pelo apelo desses jovens e decidiu dedicar seus últimos anos de vida a passar seus conhecimentos e retomar as festas tradicionais. “Hoje, eu vivo só para vocês, quero ensinar tudo o que eu sei”, diz ele carinhosamente. Em agosto de 2010, Kokrenum voltou a me chamar para registrar esse processo e retornei à aldeia depois de uma ausência de 20 anos, devolvendo a eles todas as gravações realizadas no final dos anos 1980. Resolvi então fazer um novo filme sobre essa trajetória e pedi a Kokrenum um depoimento fazendo uma retrospectiva da sua vida. Eis aqui os melhores momentos da sua fala.

A CASTANHA “Ainda hoje eu falo: lembrem-se como a gente carregava paneiro de castanha pesado debaixo de chuva, trazia de longe, se matando para nada. Eles pegavam a castanha, vendiam, ficavam com um bocado e só davam o resto para a gente. A gente gastava tudo no mesmo dia e não ficava com nada. Eu ainda fico com raiva, só de lembrar. Eles vendiam para eles mesmos e a gente ficava só esperando. Kupen mandava em mim, para eu trabalhar de graça. Eles enganavam mesmo a gente. É disso que vocês tem que se lembrar, e se vingar.”

A RETOMADA “Quando você chegou aqui, você me viu novinho, mas desanimado, não tinha festa. Naquela época a gente era bem poucos e eu pensei que a gente ia se acabar. A gente estava calado, como arara mordendo pau, eu já tinha até abandonado a minha língua. Aí veio esse pessoal (do Maranhão - Gavião Pykopjê) e se juntou comigo e aí voltamos a falar na língua. Eu já era chefe principal e pediram para eu continuar. Aí eu fiquei e comecei a brincar de novo, jogando flecha. Eu tive vontade de voltar a trabalhar pra produzir para eles terem o que comer. Eu plantei muita banana aqui, batata também. Mas eles ficam com preguiça de cuidar das coisas e está se acabando tudo.”

O DINHEIRO “A primeira vez, a Eletronorte trouxe alguém lá de Brasília e me deu um monte de dinheiro, mas levaram tudo de graça. Foram sete milhões que ele me deu. Eu pensei que a Funai ia cuidar direitinho e entreguei para eles. Eles roubaram tudinho e deixaram as casas mal-feitas para a gente. Acabou muito rápido. A Vale tá sempre falando que eu não presto, que eles querem tomar conta do recurso, do dinheiro, como dizem os brancos. Não é na nossa língua não, na nossa língua não existia dinheiro, agora que nós aprendemos com eles. Eles me deram, a gente experimentou, e agora eles querem tomar para entregar para a Funai administrar direito. Eu falei: aonde é que eles vão administrar direito? Eles é que roubam mais!”

A DECISÃO “Eu mesmo vou fazer mal feito, deixa eu mesmo acabar com o dinheiro. Agora eu vou trabalhar pra mim mesmo, eu mesmo vou me roubar, vou sentir raiva de mim mesmo. Deixa que eu mesmo gasto tudo, que eu fico alegre. Aí eu não vou ficar com raiva de ninguém. Vocês só vigiam a terra para mim, como vocês dizem, fica no apoio que eu vou tocar o serviço. Eles não mandam mais em mim e eu não peço nada para eles. Eles mentem demais, só por causa do dinheiro, eu já conheço. Kupen rouba muito e eu tenho raiva. Quando o meu povo crescer, aí eles vão pensar e começar a trabalhar para nós mesmos. Não vai existir mais branco aqui. Eu estou pensando que eu vou mandar tudinho embora com calma. Aí vai acabar.”

A COMIDA E A DOENÇA “Eles estão se estragando, só com a comida dos kupen, aí eu choro. Eles só compram as coisas do kupen. Eu não gosto das coisas do Kupen. Eu falo demais para eles: por que vocês não largam isso, para ver se vocês vivem mais? Eu peço muito para eles: por que pelo menos dois de vocês não param com isso e fazem alguma coisa? Senão vocês vão se acabar tudinho com barriga grande. Quando seus filhos adoeciam, as mães proibiam eles mexerem nas comidas dos Kupen. Os filhos agora não querem largar as coisas do Kupen, só eu falo, mas eles não ouvem. Vocês estão novos, ainda estão duros e já querem ficar velhos. Já cortaram todas as mulheres, eu vejo isso e eu choro. Eles não têm pena de ninguém, cortam mesmo a gente.”

OS JOVENS E A MISCIGENAÇÃO “Agora voltou a aumentar de novo. Eles continuam fazendo filho e o povo já está aumentando mais. A população aumentou, mas já está a metade estragada. Parece tudo com kupen, não parece meu filho legítimo. Eu não entendo direito. Eles têm vontade de brincar, mas não brincam direito. Eles têm que aprender a dançar, cair, levantar para animar a festa, para todo mundo sorrir. Senão fica todo mundo triste. Aqueles velhos de antigamente, eles brincavam, dançando mesmo! Eles brincavam e os outros gostavam e sorriam deles. Esses meninos de hoje parecem estátuas de barro, eles não abrem os braços, não dançam de verdade, e eu fico falando de graça. Não tem um que brinque, para os outros rirem dele, para ele ficar famoso na brincadeira, para ele ficar andando aí, todo mundo achando graça. Eles não largam a roupa, com medo de brincar.”

O FILME “Eu não quero que vocês fiquem feito besta na brincadeira, para a gente mesmo assistir o nosso filme. Quando eu morrer vai ficar a minha imagem. Aí vocês vão ver o filme e fazer como fazia lá atrás. Assim que eu quero fazer. Não sei como você apareceu na hora certa, e eu acabei essa festa na tua presença, eu fiquei feliz. Assim vocês vão poder continuar assistindo.”

Nota sobre as fontes

Não há trabalhos que descrevam exaustivamente a cultura dos Gaviões. Os etnólogos Roberto DaMatta, Expedito Arnaud e Iara Ferraz dedicaram-se ao estudos das relações de contato interétnico. Esta última, além de sua tese de mestrado sobre o líder dos Gaviões, deu-lhes assessoria no seu esforço de assumirem o controle da produção de castanha e nos entendimentos entre eles e as grandes empresas estatais que cortaram sua terra com estradas e linha de transmissão de energia elétrica.

Leopoldina de Araújo realizou pesquisa sobre o dialeto da língua Timbira falada pelos Gaviões, a partir de 1974, que serviu de tema para sua dissertação de mestrado e tese de doutorado. Por solicitação de Krohokrenhum, o líder Gavião, empenhado em recuperar a utilização do dialeto, ela elaborou uma coletânea bilíngüe de mitos, a ser empregada como material didático na escola da aldeia.

O vídeo de Vincent Carelli, Eu já fui seu irmão, mostra uma visita dos Gaviões aos Kraô, um outro grupo Timbira, e a retribuição da visita por estes. Esse vídeo foi comentado num artigo pelo mesmo diretor e por Dominique Gallois. Há também dois vídeos dirigidos por um Gavião, Xontapti Totore Payroroti.

Fontes de informação

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  • Eu já fui seu irmão. Dir.: Vincent Carelli. Vídeo Cor, NTSC e Betacam SP, 32 min., 1993. Prod.: CTI-SP
  • Kry Rytaiti. Dir.: Xontapti Totore Payroroti. Vídeo Cor, VHS, 6 min., 1993.
  • Pemp. Dir.: Vincent Carelli. Vídeo Cor, VHS/NTSC, 27 min.
  • To kayrere Kry Ritayti Na. Dir.: Xontapti Totore Payroroti. Vídeo Cor, VHS, 13 min., 1993.