De Povos Indígenas no Brasil
Foto: Museu do Índio, S/d.

Terena

Autodenominação
Onde estão Quantos são
MS, MT, SP 26065 (Siasi/Sesai, 2014)
Família linguística
Aruak

O Mato Grosso do Sul abriga uma das maiores populações indígenas do país. Os Terena, por contarem com uma população bastante numerosa e manterem um contato intenso com a população regional, são o povo indígena cuja presença no estado se revela de forma mais explícita, seja através das mulheres vendedoras nas ruas de Campo Grande ou das legiões de cortadores de cana-de-açúcar que periodicamente se deslocam às destilarias para changa, o trabalho temporário nas fazendas e usinas de açúcar e álcool. Essa intensa participação no cotidiano sul-matogrossense favorece a atribuição aos Terena de estereótipos tais como “aculturados” e “índios urbanos”. Tais declarações servem para mascarar a resistência de um povo que, através dos séculos, luta para manter viva sua cultura, sabendo positivar situações adversas ligadas ao antigo contato, além de mudanças bruscas na paisagem, ecológica e social, que o poder colonial e, em seguida, o Estado brasileiro os reservou. 

Contato direto

No Facebook: Resistência do Povo Terena

Localização e população

Com uma população estimada em 16 mil pessoas em 2001, os Terena, povo de língua Aruák, vivem atualmente em um território descontínuo, fragmentado em pequenas “ilhas” cercadas por fazendas e espalhadas por sete municípios sul-matogrossenses: Miranda, Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti, Sidrolândia, Nioaque e Rochedo. Também há famílias terena vivendo em Porto Murtinho (na Terra Indígena Kadiweu), Dourados (TI Guarani) e no estado de São Paulo (TI Araribá). Nestas duas últimas localidades, famílias terena foram levadas pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) para servirem de "exemplo" aos índios locais (exempo de afinco nas práticas agrícolas e também de "obediência" ao sistema de controle imposto pelos funcionáros daquele extinto órgão público...).

As Terras Indígenas Terena atuais foram “requeridas” ao Estado do Mato Grosso pelo SPI nas décadas de 1920 e 1930; duas delas porém (Cachoeirinha e Taunay/Ipegue) foram “concedidas” pelo governo estadual no início do século XX.

Do total da população terena, dados da Funasa de 2001 estimam que 13.629 indivíduos habitam as TIs acima relacionadas, ou cerca de 2.400 famílias.

Língua

Da família Aruak, a língua terena é falada pela maioria das pessoas que se reconhecem, hoje, como Terena. Mas o seu uso - e freqüência - é desigual nas várias aldeias e Terras Indígenas. Por exemplo, em Buriti e Nioaque, são pouquíssimas pessoas que a utilizam. Em, outras, como Cachoeirinha, tem casos de jovens que dominam mal o português.

De um modo geral, podemos definir os Terena como um povo estritamente bilíngüe - entendendo por isso uma realidade social em que a distinção entre uma língua "mãe" (por suposto, indígena) e uma língua "de contato" ou "de adoção" (o português, no caso) não tem sentido sociológico. A língua 'materna' para os terena não tem importância socializadora, no sentido de integrar o indivíduo em um mundo próprio, conceitualmente diferente do 'mundo dos brancos'. Podemos afirmar que seu uso está ligado a uma socialidade apenas afetiva. Em outras palavras, a língua terena não é usada nestas sociedades enquanto sinal diacrítico para afirmar sua diferença frente aos "brancos". Na verdade (...) os Terena têm orgulho de dominarem, inclusive por meio do uso da língua do purutuya, a situação de contato com a sociedade nacional, e é este domínio que lhes permite continuar existindo enquanto um povo política e administrativamente autônomo (Ladeira, 2001:130-2).

História

Fazendo arreio; Aldeia do Bananal. Foto: acervo do Museu do Índio, 1922.
Fazendo arreio; Aldeia do Bananal. Foto: acervo do Museu do Índio, 1922.

Últimos remanescentes da nação Guaná no Brasil, os Terena falam uma língua Aruak e possuem características culturais essencialmente chaquenhas (de povos provenientes da região do Chaco). O domínio dos grupos de língua Aruak entre os diversos povos indígenas do Chaco, todos caçadores e coletores, deveu-se ao fato daqueles grupos serem, de longa data, predominantemente agricultores – e sobre esta base econômica se organizarem socialmente em grupos locais (aldeias) mais populosos, expansionistas e guerreiros.

Os estudiosos dos povos chaquenhos afirmam que os Chané ou Guaná dispunham de uma base social muito mais sofisticada do que seus vizinhos Mbayá. Estavam estratificados em camadas hierárquicas: os "nobres" ou "capitães" (os Naati ou "os que mandam") e a "plebe" ou "soldados" (Wahêrê-xané, ou "os que obedecem"). As relações de aliança Guaná-Mbayá estavam alicerçadas no casamento: os chefes Guaná cediam mulheres da sua casta para casar-se com os "maiorais" Mbayá. As relações entre os dois grupos, por essa via, consolidariam ao longo do tempo uma estrutura social complexa: de um lado, um segmento social autônomo na posição de fornecedor de mulheres e alimentos; de outro, uma casta guerreira tomadora de mulheres e responsável pela segurança dos grupos locais e supridores de instrumentos de ferro e cavalos.

Na década de 1760, a pressão crescente dos espanhóis sobre os territórios Mbayá localizados nas margens ocidentais do Paraguai, somada a disputas internas por prestígio guerreiro, forçariam a migração de inúmeros subgrupos Mbayá e Guaná para o lado oriental do rio. Essa migração provavelmente se estendeu até as primeiras décadas do século XIX. Os subgrupos Guaná – Terena, Echoaladi, Layana e Kinikinau – que se estabeleceram ao leste do Chaco, mantiveram contudo no novo território a forma tradicional de organização em metades e estratos sociais endógamos, suas roças e também a aliança com os Mbayá-Guaykuru.

Os Terena atuais ainda guardam a memória desta migração e da travessia do rio Paraguai:

Eu tenho a história comigo, história do meu pai. Aqui na Cachoeirinha não havia ninguém... Meu pai é daqui mesmo. O bisavô dele veio do Eêxiwa [região compreendida entre a margem direita do rio Paraguai e a chamada “morraria” de Albuquerque – hoje Corumbá – na margem esquerda do mesmo rio], meu pai contava. Eles tinham sido atacados por outros índios diferentes lá do Eêxiwa. Aí eles vieram de lá, atravessaram o rio Paraguai até Porto Esperança, atraz da morraria... Ficaram um pouco perto de Corumbá e depois fizeram aldeia aqui, em Miranda... Naquele tempo não tinha purutuyé [brancos, portugueses], só mesmo índio Terena, Laiana, Kiniquinao, Echoaladi, Caduveo... (Felix, ancião morador da aldeia Cachoeirinha).

Outro ainda descreve o modo como foi feita a travessia do rio Paraguai:

Minha avó, meu avô vieram do Eêxiwa. Eles usaram uma taquara bem grande para atravessar o rio... Eles trançaram cipó (hymomó) para fazer canoa para atravessar o huveonókaxionó ("rio dos paraguaios")... (João Martins, ancião morador da aldeia Cachoeirinha).

A resistência dos Mbayá-Guaykuru diante do avanço dos paulistas que se dirigiam à região de Cuiabá manteve os Guaná distantes de relações com europeus. Essa situação se manteve até a última década do século XVIII, quando, em 1791, é assinado o tratado de paz entre Portugal e os Mbayá-Guaicuru.

Esse tratado permitiu a fixação portuguesa, ainda que incipiente, na margem direita do Paraguai, ao mesmo tempo em que propiciaria o desgaste da aliança Guaná-Mbayá. Um dos sustentáculos dessa aliança, como vimos, era o fornecimento de instrumentos de ferro aos Guaná pelos Mbayá – e que os primeiros começariam a obter independentemente, através do comércio com os portugueses.

Novos parceiros: os purutuyé

Afastada a ameaça dos constantes ataques dos “índios cavaleiros”, pequenos núcleos populacionais portugueses/paulistas começariam a se estabelecer em torno das fortificações avançadas que vinham sendo construídas na região nas duas décadas que antecederam a assinatura do tratado, em função da disputa de limites com a Espanha: Forte Coimbra (1775), Forte de Príncipe da Beira (1776) e Presídio de Miranda (1778).

Estas relações de amizade entre os purutuyé (portugueses) e Guanás seriam reforçadas pelos agentes da Coroa: em 1797, um dos principais chefes Guaná recebeu uma carta patente do Governador Geral das Capitanias do Mato Grosso, em troca da sua fidelidade e vassalagem à Coroa portuguesa. O documento recomenda aos agentes oficiais portugueses que (ao “capitão” e “a todos os seus”) “...tratem e auxiliem com todas as demonstrações de amigos e de vassalos da Coroa Portuguesa, deixando-os gozar de todas as liberdades, privilégios e isenções de que gozam os demais vassalos da mesma Coroa...” (documento original depositado no Arquivo Público do Estado do Mato Grosso, in Carvalho & Carvalho, 1998).

Costurando à maquina, Aldeia Cachoeirinha. Foto: acervo do Museu do Índio, 1922.
Costurando à maquina, Aldeia Cachoeirinha. Foto: acervo do Museu do Índio, 1922.

As relações com os portugueses e brasileiros, após 1791, tiveram variações entre os diversos subgrupos Guaná. Hercules Florence descreveu, na década de 1820, um grupo ao qual denominou “guanás” – provavelmente os Echoaladi, cuja aldeia era “um pouco acima de Miranda” – da seguinte maneira:

“De quantas tribo tem o [rio] Paraguai, é esta que mais em contato está com os brasileiros. Lavradores, cultivam o milho, o aipim e mandioca, a cana-de-açúcar, o algodão, o tabaco e outras plantas do país. Fabricantes, possuem alguns engenhos de moer cana e fazem grandes peças de pano de algodão com que se vestem, além de redes e cintas. Industriais, vão, em canoas suas ou nas dos brasileiros, até Cuiabá para venderem suas peças de roupa, cintas, suspensórios, cilhas de selim e tabaco”.

A guerra do Paraguai e a perda dos territórios

A eclosão do conflito entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, no final de 1864, viria a mudar de forma dramática a vida de toda a nação Guaná, inaugurando um novo tempo. Um dos palcos do conflito foi justamente em território destes povos que, aliado dos brasileiros, sofreram ataques e represálias por parte das tropas invasoras. É certo que todas as aldeias então existentes na região dos rios Miranda e Aquidauana se dispersaram, com seus habitantes buscando refúgio em matos inacessíveis na região (como o lugar chamado Pulôwô'uti, para aonde foram os moradores de Cachoeirinha) ou nas serras de Maracajú (onde Taunay esteve em 1866, perto do córrego Piranhinha e utilizada como refúgio pelos Kiniquinau).

Terena que lutaram na guerra do Paraguai. Foto: acervo da Comissão Rondon, s/d.
Terena que lutaram na guerra do Paraguai. Foto: acervo da Comissão Rondon, s/d.

No relatório sobre o "estado da catequese" em 1866, o Diretor de Índios informava que "...nada posso informar a V.Exª sobre o estado das aldeias... em consequência de achar-se aquela parte da província ocupada pelos paraguaios desde janeiro do ano passado...". Em 1870, o mesmo Diretor noticiava ao Presidente da Província que o diretor das aldeias de Miranda, Frei Mariano, havia sido capturado e feito prisioneiro pelas forças invasoras. A aldeia do Ipegue foi destruída pelas tropas invasoras em 1866.

Apesar da intensa participação dos Guaná em favor das forças imperiais e na defesa de suas terras – cujos episódios desta participação foram descritos por Alfredo Taunay (nas obras "Entre os Nossos Índios" e "A Retirada da Laguna") – o governo do Império não reconheceria estes esforços, não consignando um palmo sequer de terras para os Guaná – como o faria, em 1880, para os Kadiweu na concessão de cerca de 500 mil hectares de terras na região do Nabileque/Bodoquena.

Os impactos do pós-guerra: "tempos de servidão"

Findo o conflito com o Paraguai, o antigo território das aldeias já era disputado por novos "proprietários", em geral oficiais desmobilizados do exército brasileiro e comerciantes que lucraram com a guerra e permaneceram na região. Nas memórias de Taunay (1931:35), fica evidente o modo como ocorreu este processo de "fixação dos desmobilizados" e o processo de expropriação das suas terras e sua agregação como peões nas fazendas que começariam a se implantar da região:

"Nos diversos acampamentos da serra [de Maracaju] construíram-se ranchos vastos e cômodos e, pouco a pouco, regularizou-se o modo de viver daquelas colônias híbridas de brasileiros civilizados [sic] e índios, sobretudo kiniquinaus, a que se haviam agregado guanás, terênas e laianos".

De fato, o conflito com o Paraguai acarretou uma mudança radical no modus vivendi dos Guaná com a população brasileira local. Se antes a relação era de mútua dependência, alicerçada na troca recíproca entre os índios e as tropas regulares que formavam a população dominante nos “presídios” de Miranda e Albuquerque, depois da guerra as populações indígenas passaram a se relacionar com um grupo humano heterogêneo e oportunista – e que passaria a receber apoio oficial para a “colonização” da região conflagrada. Nesses novos tempos, a antiga relação de respeito e solidariedade seria alterada.

Os recém-chegados, desmobilizados de uma tropa que participou de uma guerra violenta e quase sem comando (Taunay, 1935) eram em geral pessoas aventureiras e ambiciosas, prontas a lutar para iniciar a ocupação de uma região devastada do ponto de vista político e social – como indica o documento oficial acima citado. Esses novos colonizadores – a maioria chegada de regiões do Brasil onde a relação com os índios era fundada na prepotência e no desprezo ao “bugre” – desconheciam completamente qual havia sido o papel dos Guaná na conquista e manutenção da região em mãos brasileiras. E os índios se surpreenderam com o caráter eminentemente predador destes novos porutuya, recorrendo como podiam às autoridades de Cuiabá – que antes os tratavam com o respeito devido a aliados – para defenderem suas terras.

A respeito dessa situação, assim se pronunciava o Diretor Geral dos Índios, em novembro de 1871: "Acerca do índio da Tribo Terena, de nome José Caetano, de quem trata o ofício de V.Exª de 7 do corrente, cujo recebimento tenho a honra de acusar, o que sei e posso afirmar é que o dito índio com mais alguns da sua tribo, em número de 17 [e] Pedro Tavares, capitão da aldeia do Ipegue, no distrito de Miranda [contaram] que na ocasião da invasão paraguaia não só sua tribo como todas as outras, e mais habitantes do distrito, abandonaram os seus lares e retiraram-se para os montes e bosques, onde permaneceram por seis anos; que ultimamente voltando seus moradores a reocuparem seus domicílios, esses Terenas encontraram sua aldeia do Ipegue ocupada por Simplicio Tavares, por sua autonomásia Piché, o qual lhes obsta a repovoarem e lavrarem suas antigas terras e de seus antepassados; pelo que vinham pedir providências para não serem esbulhados de suas propriedades das quais não podiam desprender-se. Um outro índio da mesma tribo, de nome Victorino, que farda-se como alferes, e pertence à aldeia do Nachedache, distante da Ipegue uma légua, fez-me igual reclamação".

Logo em seguida, no mesmo documento, esse funcionário considerava – tendo em vista a ausência de um missionário para dirigir as aldeias de Miranda e que ali havia se estabelecido um "corpo de tropas" – ser "...conveniente que V.Exª recomende ao comandante militar e às autoridades do local toda proteção aos índios e que os mantenham em suas terras, visto que serão precisos ainda anos para que Miranda volte ao seu antigo estado e tenha autoridades próprias de uma Vila".

Em 1871 era nomeado o tenente coronel José Vicente Vieira Couto como diretor das aldeias e nesta qualidade, segundo relatório do Diretor Geral datado de 02 de Maio de 1872, "...conseguiu concentrar grande número de índios em seus antigos aldeamentos...". Porém, a situação de pressão sobre as terras das aldeias já era grande.

Este tempo do pós-guerra é conhecido pelos Terena como o tempo da servidão. Dispersos em razão do conflito, os vários sub-grupos Guaná começariam a recompor suas antigas aldeias, agora pedindo "licença" aos novos ocupantes. É a época em que se intensifica a abertura dos estabelecimentos pecuários e do "fechamento" dos pastos, com apoio das autoridades do Império, que pretendia consolidar a ocupação brasileira na área recém conflagrada. E todos estes empreendimentos só foram possíveis graças à "liberação" das terras e o uso intensivo da mão-de-obra indígenas, agora disponíveis. Os relatos dos velhos Terena sobre este período são eloqüentes:

"O pessoal daquela época tinha medo porque ainda se lembrava do patrão que os chicoteava na fazenda. Quem se atrasava para tomar chá de manhã era surrado...foi o finado meu avô quem me contou. Como castigo o pessoal tinha que arrancar mato com a mão. Quando a comida estava pronta, eles mediam toda a sua tarefa. Eram quinze braças de tarefa e, mesmo não terminando a tarefa do dia, de manhã mediam outra tarefa, que acumulava" (João Martins Menootó, ancião de Cachoeirinha).

O advento da República – e as concessões político-administrativas descentralizadoras feitas aos Estados federados e, conseqüentemente, aos chefes políticos regionais – só fez agravar a situação dos Terena. Neste sentido, os depoimentos de Rondon são esclarecedores:

"São comumente explorados pelos fazendeiros. É difícil encontrar um camarada Terena que não deva ao seu patrão os cabelos da cabeça...Nenhum 'camarada de conta' poderá deixar o seu patrão sem que o novo senhor se responsabilize. E, se tem ousadia de fugir, corre quase sempre o perigo de sofrer vexames, pancadas e não raras vezes a morte, em tudo figurando a polícia como co-participante de tais atentados" (1949: 83-84).

Os Terena e o SPI

Nas décadas de 1910 e 1920, dois fatos significativos marcariam a história Terena: a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), esta última responsável direto pelo aumento da população não-indígena da região sulmatogrossense em cinco vezes ao longo de duas décadas.

O SPI instalaria seus postos na década de 1920, com o objetivo de levar aos Terena os objetivos da "proteção fraternal" preconizada por Rondon – o quê, ao menos nos primeiros anos, foi de fato tentado. Mas logo essa "proteção", que deveria ser de direitos, foi sendo gradualmente transformada em imposição ideológica, culminando na perda do que ainda restava da autonomia política dos Terena.

O "encarregado do posto", em pouco tempo, passaria a interferir em praticamente todos os aspectos da vida social Terena: da mediação de conflitos internos entre famílias à lavratura – e guarda dos registros – das ocorrências civis (nascimento, casamento e óbitos) até a gestão dos contratos de trabalho e estabelecimento de uma "guarda indígena" para a manutençao da "ordem": em cada detalhe e momento, ficava marcado que os Terena, ali, viviam por concessão. Como veremos adiante, no caso de Buriti, um chefe do posto – na década de 1920 – foi o responsável direto pela "autorização" para que um fazendeiro vizinho se apropriasse de uma gleba de terras dos índios, contribuindo ainda para a expulsão da aldeia ali estabelecida.

Agente subalterno local de um sistema verdadeiramente colonial de poder, este funcionário passaria a decidir o futuro do povo Terena. E esse futuro, agora "orientado legitimamente" por um purutuyé, se direcionaria a marcar todas as reservas Terena como reservas de mão-de-obra para as empresas agropecuárias da região – e ele, o gerente deste estoque. Na história oral dos Terena, são poucos os funcionários do SPI (ou da Funai, posteriormente) lembrados por tentar realizar uma gestão que privilegiasse o trabalho interno.

Lugar de uma estrutura de poder colonial, o "posto" se impunha para imobilizar a força de trabalho interna com vistas a torná-la disponível externamente. De fato, já nos anos 1950 os dados colhidos por Cardoso de Oliveira em Cachoeirinha impressionavam: dos 127 grupos domésticos que constituíam a aldeia em 1957, apenas 19 (17%) viviam exclusivamente da agricultura interna e do artesanato, enquanto 46% viviam exclusivamente do trabalho externo e outros 37% combinavam o trabalho em suas roças com o trabalho esporádico externo. A população na época era de cerca 900 pessoas (Cardoso de Oliveira, 1968).

Esses números não se alteraram nos anos seguintes; com a implantação de usinas de açúcar e álcool na região, no final dos anos 70, os números, em termos absolutos, com certeza aumentaram – assim como a população indígena residente nas "reservas" Terena, que ultrapassaria os dez mil em meados da década de 1980.

O fenômeno da urbanização de indivíduos Terena nos centros regionais (sobretudo Campo Grande e, em menor medida, Aquidauana e Dourados), crescente a partir do final dos anos 50, estaria diretamente ligado à superpopulação das "reservas" e pouca perspectiva de futuro que apresentavam (Cardoso de Oliveira, 1968). Em 1960, este autor registrou 418 indivíduos Terena morando em Campo Grande; hoje certamente esse número passa dos 2 mil indivíduos – grande parte mantendo ainda vínculos com as suas aldeias de origem.

A maioria desses migrantes saiu da "reserva" de Taunay/Ipegue e sobrevive como prestadores de serviços (empregados domésticos, fornecedores de mão-de-obra para serviços gerais, donos de pequeno comércio, funcionários públicos ou da antiga NOB etc.). As razões alegadas pela primeira geração de migrantes urbanos para deixarem as reservas foram os conflitos internos (por diferenças sobretudo religiosas, quando da chegada dos missionários protestantes às duas reservas citadas). Comparativamente às outras reservas, são poucos os Terena urbanizados egressos de Cachoeirinha (os quais ainda mantêm laços permanentes com suas famílias de origem na reserva).

Podemos inferir das análises de Cardoso de Oliveira (1968 e 1976) que as condições adversas que foram impostas aos Terena pela sociedade regional dominante, nas quatro décadas imediatas ao fim da guerra do Paraguai, foram sendo, naquele período de tempo, positivadas sociologicamente pelos Terena. Assim, a situação de confinamento na Reserva, ao mesmo tempo em que acarretou a perda da autonomia política das aldeias – dado que submeteu os índios à dependência política do chefe branco do posto do SPI/Funai – foi transformada pelos Terena na base territorial necessária para a atualização e manutenção do ethos tribal; a sua integração à estrutura econômica compensou de certa forma a perda da auto-suficiência econômica; e, finalmente, a urbanização crescente de parte de sua população foi a resposta encontrada pelos Terena às limitações políticas, sociais e econômicas, reinantes na situação de Reserva. Portanto, poderíamos compreender as novas pautas sociais engendradas pelos Terena “modernos” como derivadas da estratégia de um povo na busca de novos espaços para o exercício da sua sobrevivência, espaços estes onde a pressão para a negação da identidade indígena fosse minimizada.

As reservas indígenas Terena, consolidadas a partir da década de 1920, serviriam de ponto de apoio vital para o reagrupamento das famílias dispersas pela guerra e que ainda se encontravam sob a servidão nos barracões das fazendas. Passaram a representar, para os Terena, não só o espaço necessário para a reafirmação do ethos tribal, mas também de uma certa liberdade. Para os moradores das reservas, o trabalho externo voltaria a ganhar sua característica de trabalho facultativo, readquirindo a liberdade de escolher o tipo de serviço e até o patrão. Esse período de relativa liberdade, ao que parece, duraria pouco tempo, exatamente até o SPI alterar sua política nas reservas.

Havia a necessidade da imposição dos limites das Reservas porque, na verdade, os Terena não os respeitavam, isto é, continuaram usando e ocupando as áreas vizinhas para as suas necessidades, caçando, pescando e coletando suas ervas medicinais ou mel, sempre e quando lhes aprouvesse. E é somente a partir de 1960 que os Terena começariam a ser perseguidos e reprimidos, pelos fazendeiros e pelos encarregados do SPI, nessas suas expedições. E mesmo depois, quando se configurou uma situação de verdadeira clandestinidade, jamais interromperam suas incursões.

Do SPI à Funai

Pouco mudaria nesta estrutura de poder com a substituição do SPI pela Funai: o chefe do posto deste novo órgão herdaria do seu antecessor do SPI as mesmas prerrogativas de poder. Contudo, o aumento da procura em "escala" da mão-de-obra para as usinas de cana daria motivo para que aquele funcionário público (com o beneplácito do "capitão" e autorização de Campo Grande), passasse a cobrar uma taxa, por índio contratado, dos intermediários ("gatos") das usinas. O dinheiro assim arrecadado deveria ser utilizado na "manutenção" de algumas atividades do posto. Este recurso passaria a ser, nos anos 80, o principal atrativo para a disputa da "capitania"... e fonte importante de ganhos para o Posto Indígena – cuja prestação de contas é em geral um segredo, apenas partilhado pelo chefe do PI e o "capitão".

A administração da changa (como é chamado regionalmente o trabalho temporário nas fazendas e hoje nas usinas de açúcar e álcool) passaria a ser um dos principais – senão o principal – papel desempenhado pelo núcleo de poder na reserva (chefe PI, capitão e membros privilegiados do Conselho). Assim, para sustentar a posição de poder, atualmente, aquele núcleo é responsável pela indicação exclusiva dos "cabeçantes" – figuras da aldeia, necessariamente alfabetizadas, que são os encarregadas das "turmas" de trabalhadores contratadas pelo empreiteiro das usinas. Estes "cabeçantes" recebem um salário diferenciado e se responsabilizam integralmente pela "sua" turma (composta por 20/30 trabalhadores) distribuindo (e anotando) as tarefas realizadas no dia-a-dia do corte de cana. A escolha destes indivíduos é basicamente determinada pelas relações de parentela e – sobretudo – pelo aliciamento de lealdades, que ocorrem durante o processo eleitoral, feita pelos canditados a "capitão". Um bom "cabeçante" traz dividendos políticos para o seu "padrinho".

Fora da changa, portanto, as opções são poucas – e o próprio sistema de poder não favoreceria alternativas para além de consentir, por exemplo em Cachoeirinha, nos anos 30 e 50, a operação de um extrativismo individual, também taxado pelo PI (de casca de angico para os cortumes regionais e lenha para as cerâmicas/olarias locais e para uma caieira que existiu num povoado vizinho a Cachoeirinha até 1960). Porém esse extrativismo, nos anos 70, extinguiu-se devido ao fechamento dos cortumes e por oposição das lideranças locais, preocupadas com a predação das matas da Reserva. Houve também o estímulo de um chefe de posto para o plantio de café, de início com bons resultados; mas, sem acompanhamneto técnico adequado, foram sendo atacados por pragas até serem totalmente erradicados 8/10 anos depois.

À exceção deste surto extrativista e de tentativa de implantação de culturas comerciais permanentes, outra iniciativa visando contemplar o trabalho interno nas aldeias teve lugar nos fins dos anos 1970 e início dos 80. Favorecida por um orçamento pródigo administrado pelos militares-presidentes, a Funai de então, durante cinco anos, beneficiou os poucos produtores locais de Cachoeirinha por meio de "projetos de desenvolvimento comunitário". Na realidade, tais projetos (aos quais eram destinados anualmente verbas orçamentárias, fora daquelas enviadas com a rubrica "manutenção do PI") serviram como uma espécie de capital inicial gratuito para a introdução da "revolução verde" no universo das Reservas Terena. Os efeitos sobre o ambiente natural deste processo de "modernização" do trabalho agrícola serão analisados adiante. Mas é a partir deste surto modernizante que novas áreas de roças seriam abertas nas "reservas" Terena, privilegiando culturas não mais de mera subsistência, mas claramente buscando a geração de excedentes comercializáveis.

Enquanto durou a fartura dos recursos a fundo perdido da Funai, de fato alguns produtores locais foram beneficiados, trazendo alguma esperança para os que viviam exclusivamente das roças. Foram adquiridos pequenos tratores, máquinas de beneficiamento, além do fornecimento de adubos e sementes selecionadas e do óleo para o preparo e plantio – às vezes o PI cobrando a restituição da semente e do óleo, outras não, dependendo do acerto com o "capitão" e do caixa do PI. E também trazendo invasoras resistentes, compactação do solo e o estímulo à abertura de novas áreas. Foram contratados técnicos agrícolas e agrônomos para dar suporte à agricultura comercial Terena. A chefia do PI passou a gerenciar então, além da changa, um empreendimento agrícola mais sofisticado – e de pouca duração.

Aldeias e território

O padrão de localização das aldeias (oneó) Guaná ou Chané se alterou ao longo dos anos em função da limitação territorial imposta a estes grupos após a guerra com o Paraguai. Antes da guerra, quando a disponibilidade de terras era ainda grande, a distribuição das aldeias Guaná não diferia muito do padrão, digamos "clássico", descrito por Sanches Labrador (El Paraguai Catolico: 275-276). Esse padrão combinava – como já indicavam os primeiros cronistas, ainda no século XVII, para os Guaná do Chaco meridional – uma agricultura bem desenvolvida com a caça, a pesca e, já no Brasil, a criação de gado vacum e cavalar – com os quais aprenderam a lidar no longo período de convivência que mantiveram com os Mbayá-Guaicuru.

Este modo de ocupação – com a fixação da aldeia em um ponto privilegiado do território – exigia uma área de extensão considerável, posto que as roças (cawané), pertecentes a um mesmo grupo de parentesco (liderado por um "capitão" ou chefe da família extensa), iam se distribuindo em matas de "galeria" contíguas, ao longo dos anos.

Historicamente, aldeias Guaná possuíam, em média, de 30 a 40 casas (ovocuti) e, segundo Sanches Labrador, cada casa media "de 16 a 20 jardas de comprimento por 8 de largura" e na qual viviam um "capitão... junto com seus irmãos e seus parentes...[e] cada casa tem cinco portas". Se considerarmos que casas nestas dimensões (15 x 7 metros no mínimo!) abrigariam entre 20-30 pessoas (cinco grupos domésticos, delimitados pelas suas "portas"), então podemos estimar a população das aldeias no Eêxiva em cerca de 600 a 1.200 pessoas – cifras que, como vimos no tópico anterior, se manteriam no Brasil até a primeira metade do século XIX.

Os grupos domésticos (compostos por marido, mulher, filhos, genros e, eventualmente, cativos de outros grupos indígenas, os chamados cauti) de cada casa possuíam áreas contíguas de roças. Nenhum dos cronistas, do Chaco ou do Brasil, menciona as dimensões das roças Terena antes da guerra do Paraguai. Porém, os Terena atuais afirmam que as roças "de toco" de seus avós possuíam, em média, seis "tarefas" (uma "tarefa" é igual a 30 "braças" quadradas ou cerca de 3.600 m²) por grupo doméstico (ou seja, cerca de 2,16 ha). Esta cifra é perfeitamente compatível com os instrumentos então utilizados pelos Guaná para suas lides agrícolas – equipamentos bem mais desenvolvidos do que, por exemplo, aqueles utilizados pelos Guarani, seus vizinhos meridionais e também dependentes da agricultura.

A escolha do local para o estabelecimento das aldeias Guaná deveria levar em conta a disponibilidade de matas que denunciavam solos propícios para a formação das roças e áreas de caça, coleta e pesca (lagoas ou rios de porte), necessários para o período de seca (e de entressafa dos produtos cultivados). Ao lado disso, o território desse grupo deve possuir área necessária para a criação de bois e cavalos em regime extensivo.

Dados estes critérios – e limitações impostas pelas condições ecológicas do planalto pré-pantaneiro brasileiro –, a única região propícia ao estabelecimento das aldeias Guaná seria aquela do interflúvio Miranda-Aquidauana-Taquari. Ademais, barreiras e limites sociais impuseram a fixação da maioria dos grupos Guaná naquela região. Ao sul (nas cabeceiras do Miranda e serra de Maracajú) e a leste (os chamados “campos de Vacaria”, além Aquidauana), os limites para expansão dos Guaná seriam dados, de um lado, pelos índios “Coroados” (Ofayé-Xavante) e, de outro lado, pelos Kaiowá-Guarani (interflúvio Brilhante-Dourados-Apa). Ao norte, a barreira era dada pelo Pantanal e os índios Guató, inimigos históricos dos Guaná – como mencionam vários cronistas (por exemplo, Castelnau, 1949) e estudiosos clássicos (como Metraux,1946).

Organização social

Tecelã terena. Foto: Harold Schultz, 1942.
Tecelã terena. Foto: Harold Schultz, 1942.

Em todas as terras Terena, hoje, o “setor” (como os próprios índios chamam e é sinônimo de "aldeia") é a unidade social mais inclusiva, dotado de autonomia política própria, ou seja, possui um "cacique" e um "conselho tribal" que responde pelas relações políticas de cada setor. Menos em Cachoeirinha, onde a figura do "cacique geral" ainda permanece em vigor. Vinculado estritamente à aldeia sede (do Posto Indígena), portanto, o controle político da Reserva passa ainda pelas lideranças desta aldeia; nos demais setores, o "cacique geral" administra a eleição e processo de escolha do "cacique" local. Este arranjo político ainda é fonte de muitas disputas e tensões entre os setores e o "cacique geral" (e o Posto Indígena da Funai, conseqüentemente). Em suma, contrariamente ao que se passa na maioria das outras Reservas, na de Cachoeirinha os setores têm uma autonomia político-administrativa apenas relativa (aos interesses estritos das suas áreas jurisdicionadas e seus habitantes).

Cada setor ou aldeia resolve, dentro de certos marcos normativos, as pendências jurídico-políticas entre seus membros. Assuntos que dizem respeito ao conjunto dos setores da Reserva são tratados em reuniões grandes, com a presença necessária de todas as lideranças dos setores. Em Cachoeirinha, estas reuniões têm lugar em uma área nas vizinhanças da sede do Posto Indígena.

A aldeia (ou setor) é composta por um conjunto de residências situadas dentro dos seus limites, estabelecidos por certos "marcos" (acidentes geográficos, estradas, açudes etc.) e depois de discutidos com as lideranças do conjunto da Reserva no contexto do processo de concessão da autonomia de determinada aldeia, já que as aldeias foram estabelecidas ao longo da história da Reserva. Os interesses comuns, e que constituem a sua unidade, são estritamente políticos: não está em jogo aqui o acesso a lotes para roças (veremos adiante que esta questão está ligada à parentela agnática); o que se cobra do morador de determinado setor é o respeito a certas regras de conduta. Existe uma certa dose de liberdade para o estabelecimento de residência em qualquer setor.

Este quadro de liberdade é condicionado pela própria situação de Reserva: pois, dada a exigüidade territorial, seu espaço não se constitui em uma base indispensável e exclusiva para a produção que possibilite a geração de renda e a subsistência para todos os seus moradores; antes e sobretudo, a Reserva de Cachoeirinha é, para a maioria dos seus moradores, o lugar da moradia e de referência para a atualização da identidade Terena (Cardoso de Oliveira, 1968).

Não se vive da Reserva, mas na Reserva: em Cachoeirinha por exemplo, das 484 famílias nucleares (pai-mãe-filhos menores) recenseadas por nós em 1999, cerca de 87 viviam exclusivamente do trabalho interno nas roças (cerca de 18%); outras 268 combinavam o trabalho nas roças e o trabalho externo eventual (55%); as restantes 129 (cerca de 27%) portanto viviam somente do trabalho externo. Daí a constatação feita por Cardoso de Oliveira, já nos anos 1950, de que "a Reserva Indígena, na área Terena, tem uma significação definida na consciência regional: ela representa uma reserva natural de mão-de-obra".

Portanto, as Reservas Terena não se afiguram como um território indígena, na acepção que este termo adquire quando, por exemplo, nos referimos aos grupos indígenas amazônicos, isto é, como locus fundamental para a reprodução social de uma sociedade, em sentido amplo. Ao contrário, a situação de Reserva foi determinante para o processo de integração dos terena à economia regional.

Casas

As residências se estabelecem em determinado setor tendo por foco aglutinador as parentelas agnáticas (ienõchapá, ou “meus parentes”) – que se constituem na unidade social de maior densidade, política e social, na sociedade Terena contemporânea, seja em situação de Reserva ou de cidade. Essa parentela é constituída por grupos domésticos ligados por laços agnáticos (linha de germanos masculinos), suas famílias de procriação (esposas, filhos e netos) e seus agregados eventuais (filhos adotivos, "primos", ou "tios"), centrado (e organizado) na figura de um chefe – o pai ou (com a morte deste) o irmão mais velho.

As casas destes grupos de irmãos, em geral, localizam-se próximas umas das outras. Seus lotes de roças são contíguos, havendo cooperação econômica e partilha de alimentos entre as casas, constituindo, portanto, uma unidade de produção real que se sobrepõe aos grupos domésticos que a compõe. O apoio mútuo, inclusive político, é a regra – o que não quer dizer que não ocorram problemas e cisões. Aparentemente, o que garante a unidade, o crescimento e o peso político da parentela agnática é a capacidade de liderança e aglutinação do seu chefe – ou seja, sua capacidade de ampliar e manter solidário o grupo de irmãos. Ressalta-se no entanto que, enquanto a composição da parentela agnática é dada genealogicamente (daí seu "fechamento"), a sua unidade é construída pela capacidade do seu líder em efetivar a solidariedade política e a cooperação econômica entre os irmãos (e suas respectivas famílias conjugais).

A residência, por outro lado, abriga o grupo doméstico, composto no seu limite mínimo por duas gerações (pai e filhos) – e, no limite máximo, por quatro (avô, pai, filhos e netos). Do ponto de vista técnico, o grupo doméstico pode ser constituído por uma família nuclear (composta pelo casal e seus filhos solteiros) ou por uma família extensa (pais e filho(s) e nora(s) ou filha(s) e genro(s); ou ainda por dois irmãos e suas esposas ou duas irmãs e seus maridos, caso bem raro no universo Terena). Na Reserva de Cachoeirinha por exemplo, cerca de 13% dos domicílios abrigam famílias elementares; os restantes 87% das casas abrigam famílias extensas, variáveis na sua composição.

A regra geral na sociedade Terena para a residência pós-matrimônio é a patrilocalidade (ou seja, a jovem esposa indo morar na casa do sogro) – pelo menos durante os primeiros anos do casamento, até sua consolidação com o nascimento do(s) filho(s), quando o casal estabelece uma nova residência. Esta nova casa pode ser levantada no grupo de vizinhança do sogro ou de seus irmãos, dependendo do papel mais ou menos aglutinador desempenhado pela parentela agnática. Por outro lado, o número de casos de uxorilocalidade (o jovem esposo indo residir na casa da esposa, que em geral é a casa do pai desta) verificados é alto – e é o fator que "apressa" a construção de uma nova casa pelo marido, via de regra junto ao grupo de vizinhança agnático de onde vem – posto que, em uma sociedade marcadamente patrilinear e que não impõe a obrigação social ou moral de prestar serviços ao sogro – o jovem esposo sente-se desconfortável em ali permanecer por muito tempo (cf. Cardoso de Oliveira, 1968).

Assim, a localização das aldeias é determinada pela distribuição destes grupos de vizinhança, cuja unidade, vimos, é decorrência do processo de constituição da parentela agnática. Mas este aparente equilíbrio na situação social e política nas Reservas é mantido sobretudo graças às regras de solidariedade do grupo de irmãos, que se encontram, hoje, perturbadas pela divisão entre "católicos" e "crentes" (e, nestes, entre as diversas igrejas hoje presentes nas Reservas). Esta divisão "ideológica", no passado recente, chegou a contaminar o próprio núcleo de poder nas Reservas (Cf. Altenfelder para Taunay-Ipegue e Cardoso de Oliveira [1968] para Cachoeirinha).

A distribuição das residências nas Reservas e nos respectivos setores, junto com a localização dos lotes de roças, de pastagens e a cobertura vegetal remanescente, ilustram bem que o espaço para a instalação de novos grupos domésticos nas Reservas chegou, há anos, ao seu limite crítico. Constata-se na situação de Reserva um processo onde, cada vez mais ao longo do tempo, determinadas condicionantes externas impõem as condições de vida ali reinantes.

Deste quadro resulta a necessária procura pelo trabalho externo. E a sua contrapartida perversa, que é a relativamente alta oferta de mão-de-obra e o conseqüente aviltamento da sua remuneração. Por isso não interessa às elites regionais exploradoras desta mão-de-obra a alteração desse status quo – pois são raras, na região, fazendas que não contaram (ou contam) com os braços (baratos) dos Terena para sua abertura e/ou manutenção. Para qualquer observador isento, é patente, hoje, o elo causal entre a situação de Reserva (falta de condições de vida mais dignas, traduzidas na alta taxa de ocupação e na migração), as dificuldades de obter condições de vida melhores no meio urbano e a emergência de ações reivindicatórias inusitadas na história Terena recente: a ocupação de terras contíguas às Reservas, o que aconteceu recentemente no Buriti.

Assim, as alterações nos padrões históricos da ocupação Terena ao longo dos anos e no modo de produção tradicional foram determinados fundamentalmente pela situação de confinamento em Reservas. Está claro que não se pode esperar um retorno idílico e totalmente irreal às bases socioculturais de antes da guerra com o Paraguai; mas é bem possível esperar que as áreas eventualmente recuperadas pelos Terena no Mato Grosso do Sul serão ocupadas segundo seus usos, costumes e tradições – considerando alguns conceitos mais ou menos óbvios para qualquer antropólogo: que os padrões socioculturais são dinâmicos e que se alteram necessariamente frente às vicissitudes da história e que “tradição” aqui (isto é, do ponto de vista antropológico) não quer dizer “salvaguarda de relíquias” e muito menos “resgate cultural” (pois os Terena permanecerão Terena em qualquer situação).

Com isso queremos dizer que, ampliadas as Reservas, é muito provável que se desenvolvam, a partir daí, uma série de novos eventos que alterarão irremediavelmente a paisagem daquelas áreas – tais como a volta da cobertura arbórea nas áreas de pastagens; a reestruturação das matas secundárias hoje existentes; a abertura de novas áreas de roças que aliviarão a pressão sobre os remanescentes vegetais nas áreas atualmente ocupadas; o surgimento de pontos de coleta e uma recomposição da fauna – tornando-a indígena pelo seu modo de uso e apropriação.

Grupos estratificados e metades

Outrora (mas em certas aldeias e dadas certas circunstâncias isso prevelece ainda hoje) a sociedade Terena dividia seus membros em "camadas", segundo a expressão de Cardoso de Oliveira (1976) e cuja filiação era (e se dá ainda) pela linha paterna. Estas camadas são denominadas naati ("gente de chefes"), wahêrê ("gente que pede" ou "guerreiros", ou ainda modernamente "soldados") e cauti (corruptela de "cativo", outrora aplicada a indivíduos de outras etnias capturados nas guerras e incorporados na sociedade terena como trabalhadores e serviçais). Apesar da condição filiativa patrilinear, o segundo podia (ou pode) aceder à primeira condição dependendo do seu desempenho, outrora basicamente guerreiro. São camadas endogâmicas e ainda hoje (em Cachoeirinha, pelo menos) classificam um casamento como "bom" (aquele que respeitou a regra endogâmica) ou "ruim" (que não observou a regra).

Além desta estratificação em camadas, os indivíduos terena estão divididos em duas metades, cuja filiação também é dada patrilinearmente: as metades sukirikionó ("sérios" e "mansos") e xumonó ("gozadores" e "bravos"). Apesar de seu status apenas cerimonial, esse par de metades é levemente desigual, com os Terena emprestando um valor mais positivo aos membros da primeira em relação à segunda (Cardoso de Oliveira, 1976: 49).

Cosmologia e xamanismo

Apesar do longo tempo de contato, os Terena, sobretudo aqueles residentes nas aldeias mais "tradicionais", como Cachoeirinha e Bananal, utilizam os poderes dos seus "porangueiros", como dizem, ou curadores (xamãs, em terena: koixomuneti). Recorrem a estes para a cura de doenças, interpretadas como "males do espírito" que afetam o corpo do indivíduo (não há separação entre o corpo e o espírito na concepção dos curadores terena). Também possuem o poder de descobrir feitiço que terceiros podem ter colocado no doente, causando sua morte. Estas acusações são uma constante fonte de fuxicos, que geram crises políticas internas nas aldeias de Cachoeirinha, por exemplo. O koixomuneti age por meio de um "espírito companheiro" (koipihapati) que na verdade é quem "descobre" as coisas encobertas e lhe orienta na cura.

Em Cachoeirinha, no mês de maio, quando as plêiades voltam a aparecer no horizonte, realizam uma festa (oheokoti) em que os vários koixomuneti, paramentados e pintados, utilizando seus instrumentos básicos de trabalho (o "porango" ou maracá - itaaká e um tufo de penas de ema - kipahê) passam a noite cantando em invocação dos seus "espíritos guia" para que tragam boas colheitas, abundância e para livrar a aldeia dos "feitiços".

O mito de origem do povo Terena, um longo relato de como o herói civilizador duplo (tem uma parte "gêmea" que age como um anti-herói) Yurikoyuvakái tirou-os de debaixo da terra e ensinou-lhes o uso do fogo e das ferramentas agrícolas, é ainda passado de geração a geração, pelo menos em Cachoeirinha. É essa dupla face do herói que fundamenta o comportamento dos membros das metades xumonó (gozadores, "bravos") e sukirikionó (sérios, "mansos"), ainda presentes em muitos aspectos da vida social e cerimonial Terena.

Atividades produtivas

Agricultura

A agricultura hoje praticada pelos Terena é diferente da que se praticava antes da Guerra do Paraguai. Anteriormente possuíam um território suficiente para desenvolver uma agricultura itinerante, de corte e queima e posterior pousio, por tempo suficiente para a regeneração da fertilidade natural do solo.

Atualmente, confinados nas Reservas – fator fundamental para as transformações ocorridas em sua agricultura tradicional – os Terena possuem campos de cultivo permanentes, utilizando-se da mecanização (tratores) para gradagem, preparo da terra para plantio e eventualmente para a abertura de novas áreas permanentes de cultivo. As práticas atualmente utilizadas são adaptações posteriores a esta "modernização" forçada. Das atividades produtivas praticadas pelos Terena nas Reservas, a agricultura continua sendo a sua principal atividade.

O ano agrícola em todas as Reservas Terena inicia-se em agosto, tendo seu término em março/abril, com o plantio de feijão da "seca". A produção agrícola obtida nas áreas de roça Terena é destinada e para o consumo familiar e, quando possível, para a venda – o que é cada vez mais raro, devido ao aviltamento dos preços agrícolas. Na Reserva Buriti, o arroz, o feijão, a mandioca e o milho são os principais produtos plantados para o consumo. Cultivam ainda para a subsistência o feijão "miúdo", a abóbora, a melancia, o maxixe, entre outros.

As roças, regra geral, pertencem ao grupo doméstico (que engloba eventualmente mais de uma família elementar). Devido à dinâmica de sucessão pela linha paterna, os terrenos já desbravados por uma parentela agnática tendem a ficar no domínio de irmãos consangüíneos, acentuando a patrilinearidade do sistema de parentesco Terena – e a virilocalidade da residência pós-matrimonial (a esposa vai à casa do marido, que é a do pai dele ou muito próxima ao grupo de vizinhança do mesmo). Por força desta composição, as roças de um mesmo grupo de irmãos se distribuem em áreas contíguas. Este grupo – com a autoridade do mais velho – decide sobre quando e o quê plantar e trabalham coletivamente no seu "trecho", apesar do reconhecimento da propriedade individual de cada integrante para cada "trecho". Esta descrição serve para os grupos mais velhos da Reserva, descendentes dos formadores das aldeias ou dos primeiros migrantes. Os migrantes – sem base ou apoio na parentela – tendem a abrir (e foi assim no passado) roças novas em áreas concedidas pela chefia.

Considerando o fato de que as Reservas possuem áreas nitidamente delimitadas e insuficientes para assegurar a segurança alimentar mínima de toda a sua população, a prática da agricultura se dá em terrenos já abertos, e com trator. Até o início dos anos 1990, ainda ocorria um pequeno avanço para as áreas de "capoeirão" (vegetação em estágio de regeneração de 15 a 20 anos) presentes no entorno das roças abertas, através de uma técnica denominada “destoca”: a partir de uma área já aberta, eles adentram a capoeira retirando os troncos mais grossos, de forma que restem os troncos finos e os tocos das árvores. Após o corte das árvores com machado é efetuado a desgalha, retirando os galhos mais grossos para serem aproveitados como lenha. Efetuada a limpeza dos troncos, estes são removidos do interior das áreas de roça e destinados aos mais variados tipos de uso: confecção de caibros, mourões e mesmo venda (madeira nobre com valor comercial). O material restante nas áreas de roça (lenhoso e não lenhoso) era agregado junto aos cepos arbóreos e queimados. Essa "destoca" gradual pode ainda ser hoje utilizada, dependendo da disponibilidade de insumos (óleo, trator e dinheiro para o tratorista).

As áreas novas para agricultura, recém-preparadas, são destinadas basicamente para as roças de milho, arroz (este nas poucas áreas naturalmente irrigadas e de terra preta) e feijão. As áreas destinadas para o plantio destes cereais exigem uma condição de fertilidade de solo diferenciado de outros cultivos. Junto às roças de milho e feijão (nas áreas mais altas) é observada uma grande diversidade de cultivos consorciados, como abóbora, melancia, batata-doce, maxixe, entre outros. Estes cultivos secundários têm a função de cobrir as áreas de solo entre os pés da cultura principal, reduzindo assim o "praguejamento" da roça. Quando a produtividade dos gêneros principais começa a diminuir nas áreas de roça, estas mesmas áreas, no ano seguinte, são destinadas ao plantio dos tubérculos (mandioca, batata-doce, maxixe) e demais cultivos menos exigentes em fertilidade do solo - por um certo período, até a recuperação de parte da fertilidade do solo.

As famílias Terena que vivem da agricultura não conseguem auferir dela a renda mínima necessária para manter, durante todo o ano, seu grupo doméstico. Para que as roças sejam bem sucedidas, as lideranças devem garantir junto aos órgãos governamentais (prefeituras, órgãos estaduais e Funai, nesta ordem) o suprimento necessário de diesel e sementes e contar ainda com que os tratores estejam em perfeitas condições de uso. Porém, esta situação coloca os lavouristas Terena das Reservas na dependência quase absoluta dos insumos externos (óleo e sementes) – dependência esta que acaba por submeter as lideranças indígenas ao mais deslavado "clientelismo", sobretudo por parte das autoridades municipais, ávidas dos votos indígenas. Dado este quadro, os lavouristas indígenas apenas têm o controle sobre "o quê plantar", mas não sobre "o quanto e o quando plantar". Daí as diferenças, ano a ano, verificadas nas áreas efetivamente plantadas nas Reservas.

Outro ponto que merece ser destacado, é a constatação que a desigualdade na distribuição dos lotes de roças, somada às diferenças no desempenho dos líderes das parentelas agnáticas, reflete-se na existência de grupos domésticos mais bem "sucedidos" que outros, em termos de sua "condição de vida" (e os equipamentos domésticos e as roupas são o sinal exterior destas diferenças).

Pecuária

A despeito da “vocação” Terena para a agricultura, este povo jamais deixou de exercer a atividade de criação de gado, vacum e cavalar, ocupação que herdaram, para depois assumirem como própria, na sua prolongada convivência com os Mbayá-Guaicuru. Este conhecimento foi fundamental nos anos subseqüentes à guerra com o Paraguai, para a inserção de muitos Terena como colonos e peões preferenciais das fazendas da região.

Outrora, o acesso às reses parecia estar restrito aos naati – chefes de grupos locais que tinham a prerrogativa de receber, através da troca de suas mulheres com os "maiorais" Mbayá, bois e cavalos. Hoje, este acesso restringe-se aos Terena "bem sucedidos", isto é, que conseguiram dinheiro suficiente para comprar algumas reses, seja através dos longos anos despendidos na changa ou seja por meio de outro emprego qualquer no mundo dos purutuyé. Mas a criação é ainda sinal de status elevado dentro das reservas Terena.

Por outro lado, a criação de gado – dada as limitações das Reservas – tornou-se uma das principais fontes de conflitos internos. E já o era também em tempos passados, visto a divisão proposta pelo então major Rondon quando da delimitação das Reservas de Cachoeirinha e Taunay-Ipegue, entre as áreas de roça e aquelas destinadas à criação. O "fechamento" das áreas de pastagem no interior das Reservas foi sempre causa de problemas políticos, pois subtrai da área comum uma parcela maior que aquelas requeridas pelas roças – e para fins estritamente particulares, já que os rebanhos da "comunidade" introduzidos pelo SPI foram extintos há muitos anos.

Algumas famílias ainda criam porcos confinados. E praticamente todas mantêm uma pequena criação de galinhas, que, junto com a carne de alguma caça e peixe, são as principais fontes próprias (isto é, não adquiridas externamente) de proteína de origem animal nas Reservas.

Apenas em Cachoeirinha e Taunay-Ipegue observamos que o artesanato desempenha papel significativo enquanto atividade econômica – e é uma das fontes de renda das mulheres, além da cerâmica.

Trabalhos temporários

A modalidade de trabalho externo temporário mais antiga entre os Terena é a "empreitada" nas fazendas vizinhas. Na região do antigo território Terena, é muito difícil encontrar uma propriedade rural que não tenha contado com os braços Terena para "abri-la" (isto é, substituir a mata nativa pelas pastagens) ou mantê-la. E suas modalidades (permanente ou temporário) variaram ao longo na história Terena do pós-guerra (do Paraguai): a história Terena registra a passagem do "permanente compulsório" (ou "tempo da servidão", na definição dos Terena de Cachoeirinha), ao "temporário autônomo", passando pela "situação de colônia".

Hoje a modalidade dominante (e quase exclusiva) do trabalho indígena nas fazendas é aquela que chamamos de "temporário autônomo". Em geral, a mão-de-obra indígena é requisitada "voluntariamente" para os serviços instalação de cercas, corte de postes, carpina em pastagens e no auxílio ao aparte de bezerros e na colheita do feijão. Para este tipo de trabalho são preferencialmente aceitos os índios mais velhos (faixa etária dos 35-50 anos) – e sua contratação depende em grande parte das relações de amizade que cultivam, ou cultivavam, com os capatazes destas fazendas. De modo geral, os homens maduros que exercem eventualmente este tipo de trabalho externo já têm sua fazenda "preferencial" (ou seu “patrão”, como dizem).

Já a administração da changa, como hoje é chamado, regionalmente, o trabalho temporário nas fazendas e hoje nas usinas de açúcar e álcool, passaria a ser um dos principais – senão o principal – papel desempenhado pelo núcleo de poder nas Reservas: chefe do PI, capitão e membros privilegiados do "Conselho". Assim, para sustentar a posição de poder, atualmente aquele núcleo é responsável pela indicação exclusiva dos "cabeçantes" – moradores da Reserva, necessariamente alfabetizados e que são os encarregados das "turmas" de trabalhadores contratadas pelo empreiteiro das usinas. Estes "cabeçantes" recebem um salário diferenciado e se responsabilizam integralmente pela "sua" turma (composta por 40 a 60 trabalhadores) distribuindo (e anotando) as tarefas realizadas no dia a dia do corte de cana. A escolha destes indivíduos é basicamente determinada pelas relações de parentela e – sobretudo – pelo aliciamento de lealdades, que ocorrem durante o processo eleitoral, feita pelos candidatos a "capitão". Um bom "cabeçante" traz dividendos políticos para o seu "padrinho”.

No que diz respeito ao trabalho no meio urbano, a partir do final dos anos 1950, a crescente urbanização de grupos familiais Terena está ligada à superpopulação das Reservas e à ausência de perspectiva nelas. Cardoso de Oliveira, que analisou exaustivamente este fenômeno (1968, capítulo VI) registraria, já em 1960, 418 indivíduos Terena morando em Campo Grande. Por essa época, as profissões "liberais" (pedreiro, servente, auxiliar de escritório etc.) e o emprego fixo na extinta NOB (Estrada de Ferro Noroeste do Brasil) eram as principais atividades exercidas pelos Terena no meio urbano.

Não inventariamos exaustivamente qual o tipo de trabalho que os Terena egressos das Reservas estão exercendo nos núcleos urbanos. Nas entrevistas realizadas, as mencionadas com maior freqüência são a de "empregada doméstica", "segurança" e "vendedor". Os Terena "em situação de cidade" se concentram principalmente em Campo Grande. Entretanto, a maior parte desses índios ainda mantem fortes vínculos com as Reservas.

Caça, pesca e coleta

Essas atividades têm ainda uma importância fundamental para a subsistência de muitos grupos domésticos, particularmente para aqueles mais "pobres" – e que têm poucos recursos para adquirirem proteína animal nos açougues dos purutuyé. Mas estas atividades, por serem clandestinas (as áreas de caça e pesca ainda disponíveis ficam hoje em fazendas vizinhas), não podem "aparecer" (nas caçadas, a arma é sempre escondida e o animal abatido é retalhado e "disfarçado" em um saco, com material vegetal) – nem mesmo para os demais "patrícios".

Estas atividades foram exercidas com mais intensidade até meados dos anos 1970, quando as florestas e matas de galeria da região ainda eram abundantes. Nos cerrados e pantanais (vazantes) vizinhos às Reservas, ainda é abundante a oferta de caitetus, antas, cervos e veados (mateiro e catingueiro). Como os fazendeiros nunca permaneciam (ou permanecem) nas fazendas, e como eram patrícios ou conhecidos os "encarregados" por elas, a permissão para as caçadas estava garantida. Com a "abertura" de áreas contínuas para a formação de pastagens artificiais, nas áreas vizinhas à Reserva – intensificadas a partir dos anos 1970 – reduziram-se ao mesmo tempo as áreas de caça e aumentaram a repressão e vigilância dos “proprietários”.

A caça nas fazendas da região fora reprimida desde a época do SPI, inclusive com castigos sendo reservados aos índios que caçassem nessas fazendas. Por ser clandestina, esta atividade envolve um alto risco – e recursos, como a espingarda e a munição, além de uma disposição para arcar com as conseqüências, pois se flagrado por um funcionário da fazenda, terá sua arma e a peça de caça apreendidos, além da possível admoestação por parte do agente federal da Funai, sem contudo deixarem de exercê-la. Atualmente as áreas mais buscadas são aquelas onde a vigilância dos gerentes é mais frouxa. A utilização de cachorros nestas incursões é vital – mas acarreta um risco a mais. Os detentores atuais dos imóveis vizinhos reclamam que essas expedições assustam o gado, pondo em risco a “integridade” das suas reses (sic).

A pesca hoje é outra atividade que os Terena praticam ou procuram praticar com afinco, apesar de acarretar quase os mesmos riscos da caça. Nos tempos de seca, nas Reservas de Cachoeirinha, Taunay-Ipegue e Buriti, essa atividade envolve um número surpreendentemente grande de índios.

A coleta de mel e frutas, bastante importante no passado recente, já não tem a mesma significação – e parece estar restrita como brincadeira das crianças. Outras atividades extrativistas dignas de nota ainda presentes nas Reservas de Cachoeirinha e Taunay-Ipegue hoje são a lenha (para a cozinha e também para a o cozimento da cerâmica) e as plantas medicinais. A dependência de muitas famílias da madeira como fonte de energia (coisa que já não ocorre, por exemplo, na Reserva Buriti) é, além da cerâmica, a responsável pela manutenção do montante de matas significativas nas Reservas citadas.

Nota sobre as fontes

Maria Elisa Ladeira, antropóloga do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), realizou sua tese de doutoramento sobre esse grupo, com o título Análise sociolingüística em um grupo Terena, pelo Programa de Antropologia Social da USP, em 2001.

Gilberto Azanha, também antropólogo do CTI, é o coordenador do GT 1155/Funai, cujos relatórios definiram novas áreas para as TIs Buriti, Cachoeirinha e Taunay-Ipegue, propostas estas já reconhecidas e publicadas pela Funai.

Os Terena foram ainda estudados pelo antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira, cuja obra é referência para o estudo sobre esse povo. Seus principais livros sobre o grupo são: Urbanização e Tribalismo: a integração dos índios Terena numa sociedade de classes (Zahar Editores, 1968) e Do Índio ao Bugre: o processo de assimilação dos Terena (2ª ed. Francisco Alves, 1976).

Fontes de informação

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VÍDEOS

Cultura do Povo Terena, narrada por Isac Dias, ancião Terena.

Aldeia Limão Verde em Aquiaudana – MS

Produzido pela indígena Naine Terena 

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=KcfabKwVvY4