De Povos Indígenas no Brasil
Foto: Dominique Gallois, 1991

Mudanças entre as edições de "Povo:Zo'é"

Autodenominação
Onde estão Quantos são
PA 331 (Iepé, 2022)
Família linguística
Tupi-Guarani
m (Sou um robo e fiz mudancinhas. Favor verificar.)
 
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Localizados numa área de refúgio, entre os rios Cuminapanema e Erepecuru, norte do Pará, os Zo'é procuraram manter-se afastados tanto dos povos indígenas vizinhos, que consideram inimigos, quanto dos brancos, que conheciam através de contatos intermitentes. Entraram para a história como um dos últimos povos "intactos" na Amazônia.
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Localizados numa área de densas florestas, entre os rios Cuminapanema e Erepecuru, norte do Pará. Em situação de recente contato, os Zo'é convivem com agentes de assistência há apenas três décadas, mantendo vigorosamente suas formas de organização social e territorial.  
  
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== Nome e língua ==
=== Veja também: ===
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Página do <htmltag href="http://www.funai.gov.br/programa_zoe/" tagname="a" target="_blank">Programa Zo'é</htmltag> da <htmltag href="http://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai" tagname="a" target="_self">Funai</htmltag>
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|Foto: Os Zo'e durante uma oficina de Letramento, Dominique Gallois, 2017
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'''Nome'''
  
== Nome e língua ==
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O pronome ''jo’é'' [zo’é], “nós mesmos”, se consolidou aos poucos como a autodenominação, que diferencia este povo dos não-índios, chamados ''kirahi''. No final dos anos 1980, quando começaram a conviver com missionários e com servidores da Funai, esse termo não era usado para designar a si mesmos, mas para identificar qualquer pessoa que adquirisse alguma proximidade e que passava, então, a ser considerada “gente como nós”. O pronome se transforma em etnônimo quando os Zo’é aprendem a se pensar como “índios”, uma categoria antes desconhecida por eles e que só poderia surgir da trajetória de convivência com diferentes grupos de não-indígenas.
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O termo ''Poturu'', ou ''Poturujara'', difundido inicialmente como nome dos índios do Cuminapanema, designa tão somente a madeira da árvore utilizada para confeccionar os adornos labiais ''embe’pot''. “''Poturu!''” respondiam os Zo’é, quando alguém apontava para seus rostos, buscando saber seu nome.
|Foto: Dominique Gallois, 1991
 
|https://img.socioambiental.org/d/239682-1/zoe_2.jpg
 
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Os índios do rio Cuminapanema autodenominam-se Zo'é. Trata-se de um classificador ainda em construção, um termo que é apenas usado em situações de contraposição entre um "nós" e os brancos (''Kirahi'') ou os inimigos (''Apam, Tapy'yi''), as duas únicas categorias étnicas atualmente utilizadas pelos Tupi. Fora estes termos, os Zo'é não usam etnônimos para designar, por exemplo, grupos indígenas vizinhos. Em algumas circunstâncias, diferenciam os kirahi ete, os brancos verdadeiros, ou seja, os primeiros forasteiros com quem travaram contatos esporádicos há várias décadas (castanheiros e gateiros, da região), e os agentes com quem se relacionam agora, que são apenas ''kirahi'' ou ''kirahi amõ'' (outros brancos, não-regionais).
 
  
O termo poturu, inicialmente utilizado pela Funai (Fundação Nacional do Índio) para designar este grupo Tupi, refere-se tão somente à madeira com que são confeccionados os adornos labiais ''embe'po'': é o que respondiam os Zo'é quando alguém apontava para eles, indagando um nome.
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'''Língua'''
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Os Zo’é são falantes de uma língua Tupi-Guarani, do tronco Tupi. Nos últimos quatro anos, um número significativo de jovens e todos os chefes de aldeia aprenderam a se comunicar em português. Cerca de 20 jovens estão escrevendo e lendo em sua língua, apropriando-se da grafia proposta em estudos linguísticos (Cabral, 2013).
  
Os Zo'é são falantes de uma língua da família Tupi-Guarani do tronco Tupi. Toda sua população é monolíngue, com excessão de alguns jovens que aprenderam algumas palavras em português, ouvindo os funcionários da Funai falar no rádio.
 
 
<!-- Seção escrita por [[Usuário:Dominique T. Gallois|Dominique T. Gallois]]. -->
 
<!-- Seção escrita por [[Usuário:Dominique T. Gallois|Dominique T. Gallois]]. -->
  
 
== Histórico do contato ==
 
== Histórico do contato ==
Os Zo'é entraram para a história como um dos últimos povos "intactos" na Amazônia. Seu contato com missionários protestantes norte-americanos e com sertanistas da Funai foi largamente noticiado pela mídia, que em 1989 divulgou as primeiras imagens deste povo tupi, até então vivendo uma situação de isolamento.
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'''Experiências de contato e de convivência com ''Kirahi'''''
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Os então chamados “Índios do Cuminapanema” foram apresentados ao mundo em 1989, em reportagens que enfatizavam sua “pureza” e “fragilidade” e os descrevendo como um dos últimos grupos “intactos” na Amazônia. E justamente por serem um dos raros grupos ainda “não atingidos” nem pela mensagem evangélica, nem pela assistência oficial, os Zo’é atraíram a atenção da Missão Novas Tribos - MNT, que inicia seu trabalho na região em 1982. Foram cinco anos de sucessivas entradas e saídas das aldeias, para “pacificar” os Zo’é, até que em 1987 eles instalaram sua base “Esperança” na porção sul da atual TI Zo’é. Ali, passaram a controlar sozinhos o processo de acomodação dos Zo’é à nova situação, até a Funai assumir a área em 1991.
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|Foto: Dominique Gallois, 1991
 
|Foto: Dominique Gallois, 1991
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No entanto, os Zo’é já tinham experiências de encontro com não-índios desde muito tempo. Relatam inclusive a saída de uma mulher, que viajou até Santarém de onde acabou voltando, provavelmente no final do século XIX. No final dos anos 1960, seu território passou a ser percorrido por caçadores de felinos, conhecidos como “gateiros”. Os Zo’é encontravam em suas trilhas, gaiolas, ferramentas abandonadas, restos de acampamentos. Também encontravam vestígios de coletores de castanha. Eram contatos indiretos, ou, como dizem os Zo’é, “sem carne/sem corpo”, pois não viam os forasteiros. Em 1975, eles foram surpreendidos por visitas mais espetaculares, quando um helicóptero do Instituto de Estudos e Pesquisas do Pará despejou embrulhos com roupas e objetos sobre a aldeia Kejã.
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Foi também com presentes lançados por avião ou dependurados no caminho das aldeias que os membros da Missão Novas Tribos se aproximaram. Entre 1982 e 1987, eles estiveram várias vezes em acampamentos ou aldeias, saindo rapidamente. Segundo os Zo’é, muitas pessoas ficavam doentes na sequência dessas visitas e, como os missionários demoravam meses para voltar, as pessoas acometidas por doenças pulmonares morriam. Eles também relatam que resolveram se deslocar rumo ao sul, em busca de uma explicação para esse “sopro” de doenças e para pegar mais objetos, chegando finalmente à Base “Esperança” em outubro de 1987, data oficial do “contato” com a MNT.
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Após essa notícia, a Funai cria o PINC Cuminapanema, subordinado à 4ª SUER/Funai em Belém (Port.1.061 de 22 de maio de 1987). No ano seguinte, o convênio 008/1998 celebrado entre a Funai e a MNT veda sua atuação em áreas de índios isolados. Mas a missão não se retira e continua seu trabalho junto aos Zo’é.
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|Foto: Luis Donisete B. Grupioni/1989
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A Funai tinha conhecimento da existência do grupo desde pelo menos o início dos anos 70, quando procedeu ao levantamento dos grupos isolados que estavam na rota da construção da rodovia Perimetral Norte (BR-210). Na época, o contato com o grupo do Cuminapanema foi planejado, mas a interrupção das obras da Perimetral levaram a Funai a desistir do contato.
 
  
Nesse período, já se dispunha de informações relativamente precisas sobre a localização do grupo. Em 1975, uma equipe do Idesp (órgão do governo do estado do Pará) que realizava mapeamento e pesquisa mineral para a Sudam, encontrou uma clareira, que poderia ser utilizada como pista de pouso. Ao se aproximar, descobriram que se tratava de uma aldeia, com três grandes casas. A equipe resolveu sobrevoar a aldeia, recebendo flechadas dos índios. Antes de interromper os trabalhos, o Idesp localizou, através de sobrevôos, outras três aldeias e comunicou a "descoberta" à Funai, que chegou a designar dois sertanistas para trabalhar na região.
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Em janeiro de 1989, a missão alerta a Funai sobre a precária situação de saúde dos índios. O sertanista Sidney Possuelo consegue apoio da imprensa e pode assim realizar uma primeira visita à área. Numa segunda viagem, pouco tempo depois, a equipe da Funai verifica que a situação de saúde estava piorando e começa a planejar um trabalho mais sistemático. Durante mais de um ano, os Zo’é assistiram à convivência tensa entre as equipes da Funai e da Missão Novas Tribos, cada uma com sua base, entre as quais eles continuaram circulando para obter remédios e objetos industrializados. Quando conseguiu recursos e pessoal adequados para assumir um trabalho de assistência que abrangeria a totalidade das quatro aldeias existentes na época, a Funai retirou os missionários da área, em outubro de 1991.  
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A partir desse momento, os sucessivos responsáveis pelo PINC Cuminapanema, orientados pelo Departamento de Índios Isolados -DII/Funai, desempenham ações de proteção do povo Zo’é e de sua terra, em formatos que irão variar sensivelmente ao longo dos anos. Foi somente a partir de dezembro de 2009, com a reestruturação da Funai que o órgão indigenista amplia a atuação da então Coordenação Geral de Índios Isolados - CGII, incluindo a proteção às populações de recente contato, entre eles os Zo’é. A Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema – FPEC, é criada em 2011 (Portaria Nº 1816/PRES, de 30 de dezembro de 2011) e desde então segue novas diretrizes para a promoção da integridade cultural e territorial do povo Zo’é.
  
Em 1982, missionários evangélicos da Missão Novas Tribos do Brasil efetivaram o contato com os índios, após terem localizado, num sobrevôo, quatro aldeias. Segundo os missionários, este contato "relâmpago" foi muito tenso e limitado à entrega de alguns presentes.
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== O processo de demarcação da TI Zo'é ==
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|Foto: Reunião de chefes Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2018
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Em 1987, a Funai procedeu à interdição da Área Indígena Cuminapanema/Urucuriana, com uma extensão de aproximadamente 2.059.700 hectares, ao sul do [https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3885 Parque Indígena de Tumucumaque], nos municípios de Alenquer e Óbidos, Pará (Port. n.4.098 de 30.12.1987). A interdição visava dar condições de trabalho às equipes de localização e contato, na identificação de numerosas referências de índios isolados na região, levantadas pelo então Departamento de Índios Isolados – DII. Na época, a Funai já conhecia a presença dos Zo'é nesta área através de informações repassadas pela Missão Novas Tribos, que já tinha localizado este povo em 1982.  
  
Nos anos seguintes, de 1982 a 1985, os missionários limitaram-se a realizar sobrevôos para reconhecer a localização das aldeias e lançar presentes. Em 1985, eles voltaram à área e iniciaram a construção de uma base, chamada Esperança, situada a alguns dias de caminhada das aldeias e fora da área de perambulação dos índios. Em dois anos concluíram a edificação de algumas casas e de uma pista de pouso para pequenos aviões. Durante este período realizaram sucessivas incursões rumo às aldeias, efetivando alguns encontros esporádicos com os índios que, segundo os missionários, permaneciam "agitados" e arredios.
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Os trabalhos de identificação e delimitação da Terra Indígena Zo'é aconteceram entre 1996 e 1998, com a participação ativa dos Zo'é e de vários técnicos e especialistas, em muitas etapas. A primeira, de estudos antropológicos, incluiu a preparação da comunidade indígena para que os Zo'é pudessem acompanhar todos os procedimentos da regularização de seu território. A Portaria 309 de 04.04.1997 constituiu o Grupo de Trabalho cujo relatório de identificação e delimitação foi submetido ao Departamento de Identificação e Delimitação – DID/Funai em novembro de 1998.
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|Foto: Zo'é trabalhando na construção de novas casas, Leonardo Viana Braga, 2018
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A demarcação física da Terra Indígena, com 668.565 hectares, foi realizada entre 1999 e 2000, por uma empresa contratada pela Funai. A homologação e o registro da Terra Indígena demarcada no Serviço de Patrimônio da União - SPU, foram consagrados por Decreto presidencial (s/n) publicado no Diário Oficial da União em 22 de dezembro de 2009.
  
Foi em 5 de novembro de 1987, na Base Esperança, que ocorreu o contato definitivo com os Zo'é: um grupo de índios apareceu no morro situado atrás da Base, onde outras famílias foram se reunindo, num grupo de cerca de cem pessoas. Segundo os missionários foi um momento de grande tensão. Comunicando-se através de gestos, os missionários ofereceram presentes e receberam, em troca, flechas, cujas pontas haviam sido quebradas. Nos dias seguintes outros vieram, construindo casas no morro, onde permaneceram por algum tempo.
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Em 2008, a pedido do Ministério Público Federal, foi criada uma faixa de amortecimento em volta da Terra Indígena. Esta Zona Intangível das Florestas Estaduais Trombetas e Paru não poderia receber nenhum tipo de exploração econômica para evitar a contaminação dos índios em situação de recente contato. Com a aprovação do Plano de Manejo da FLOTA do Trombetas pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente do Pará, a faixa foi incorporada no zoneamento da Unidade, conforme plano de manejo.  
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<!-- Seção escrita por [[Usuário:Dominique T. Gallois|Dominique T. Gallois]]. -->
  
Comunicado o episódio à Funai, esta proibiu os missionários de instalarem-se nas aldeias, o que os levou a atrair os índios para junto da Base Esperança, onde os Zo'é construíram casas e abriram roças. O objetivo da atuação da Missão Novas Tribos estava pautada por três etapas: aprender a língua, iniciar a alfabetização e, através da tradução da Bíblia, transmitir a palavra de Deus aos Zo'é.
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== Estações e ritmos das atividades produtivas ==
 
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|Foto: Luis Donisete B. Grupioni/1989
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|Foto:Índios Zo'é finalizando uma rede de fibra de castanheira, Flora Dias Cabalzar, 2016.
|https://img.socioambiental.org/d/281189-1/zoe_7.jpg
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| https://galeria.socioambiental.org/filestore/5/2/6/8/5_7ed184682c27e1c/52685scr_a5f3ac836c6e409.jpg}}
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Em 1989, a Funai realizou algumas expedições de reconhecimento da situação dos índios e constatou que o estado de saúde do grupo era precário. As relações entre a Funai e a Missão tornaram-se conflituosas e, em outubro de 1991, a Funai assumiu o controle da área, retirando a Missão e implantando uma política assistencial própria.
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O caráter sazonal de alguns recursos dos quais os Zo'é se utilizam conforma a dinâmica de circulação das famílias pelo território e também repercute nos movimentos de aproximação e distanciamento entre essas famílias.
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No tempo das chuvas, de fevereiro a julho, que acontecem os períodos mais prolongados de dispersão das famílias pelo território, quando são realizadas grandes caçadas, principalmente de coatá gordo e de tucano. No início das chuvas, as famílias também se deslocam para a beira de igarapés, aproveitando o volume das águas para caçar urubu-rei, usando peixes podres como iscas. Instalados nos acampamentos, retornam às aldeias para buscar farinha, preparada com antecedência e estocada nas casas; quando ela acaba, permanecem alguns dias para preparar mais farinha, beiju e tapioca.
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O período ideal para a caça de ''kwata'' (macaco-aranha ou coamba) vai de março a maio, período denominado ''kwata ike'', quando estão gordos. Montam-se acampamentos específicos, de onde os homens saem para as serras, em busca dos macacos. No final desse período, em maio, tucanos, araras e papagaios já estão comendo frutas de palmeiras. É a estação chamada de ''token ike'', do “tucano gordo”, que dura cerca de um mês e meio, quando bandos numerosos de aves vêm comer patauá ou açaí, em locais de concentração de frutas. Já é no final da estação chuvosa e início da estação seca que porcos queixadas e caititus estão gordos, motivando saídas frequentes de grupos de homens nas trilhas das varas de porcos.
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Entre os recursos mais valorizados nesse calendário do tempo das chuvas, a castanha-do-Brasil é um alimento básico na dieta. Os Zo´é colhem os ouriços a partir de janeiro e consomem amêndoas em profusão durante toda a estação chuvosa; durante o verão, colhem ouriços ainda verdes e continuam comendo castanha o ano todo, em preparos diversos com produtos da mandioca ou carnes.  Como é também nesse período que muitas frutas amadurecem, é comum interromper o movimento de dispersão entre acampamentos para realizar uma festa, quando se distribui grande quantidade de bebida fermentada ''sepy''.  
  
Assim, foi apenas nesta última década que os Zo'é vêm experimentando a convivência com brancos, que para eles significa: a introdução de tecnologias de alto impacto e consequente atração em torno de postos de assistência, instalados dentro de seu território em função dos interesses dos brancos, a subsequente aparição de novas doenças que, por sua vez, consolidam a concentração de sua população em torno dos postos. Em muitos aspectos, a situação desse povo apresenta similitudes com a dos outros 50 grupos isolados que existem atualmente na Amazônia. Há porém algumas características peculiares, que merecem ser enfatizadas:
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* mesmo que tenham estabelecido, por sua própria iniciativa, relações de convivência permanente com o posto assistencial há apenas sete anos, os Zo'é já haviam experimentando contatos ocasionais com castanheiros e caçadores de pele há pelo menos 50 anos;
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|Foto: Refeição familiar dos Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2017.
* sua localização numa área de refúgio, entre os rios Cuminapanema e Erepecuru, evidencia que durante décadas procuraram manter-se afastados tanto dos povos indígenas vizinhos, que consideram inimigos, quanto dos brancos;
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|https://galeria.socioambiental.org/filestore/5/2/6/8/9_9e70545c4b7fee0/52689scr_5d2f4b741f6cd92.jpg}}
* ao contrário das experiências anteriores de contato intermitente, foi no processo recente de contato (1982/90) que sofreram as baixas demográficas mais drásticas, decorrentes da propagação de doenças antes desconhecidas, resultando num processo de contaminação que continua crescente;
 
* devido às difíceis condições de acesso e à inexistência de programas estaduais ou federais de desenvolvimento na região norte do Pará, a área continua relativamente preservada; no entanto, pequenos grupos garimpeiros se implantaram nas margens dos rios que limitam a área: Erepecuru (onde existem várias pistas de pouso) e Curuá. Até o momento, a Área Indígena Cuminapanema/Urukuriana continua apenas "interditada". Uma situação jurídica precária: sua "identificação" começou em 1997, dando-se início ao longo processo de reconhecimento fundiário que garantirá aos Zo'é exclusividade na ocupação e exploração de suas terras.
 
  
É um fato que, hoje, os Zo'é saíram do isolamento. A passagem para a convivência permanente com agentes de contato se manifesta no processo de dependência no qual estão inseridos e na reestruturação de seu ritmo de vida e de seu sistema de ocupação territorial em função da presença dos agentes de assistência. Estão visíveis no Cuminapanema todos os elementos de um processo que historicamente acompanha a instauração de uma política assistencial que visa justamente a "proteção".
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A estação seca, de final de julho até o início de janeiro, é marcada pelo trabalho nas roças. É quando a vida nas aldeias se intensifica, sendo um período de maior aproximação entre grupos familiares. Isso não significa que as famílias não mantenham, no verão, outras atividades que as leve a deixar a aldeia. Saem para buscar frutas da estação, como o açaí que é trazido em grandes cachos. Mas sobretudo saem para pescar com timbó, com anzóis, ou ainda com flecha ou zagaia.
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No verão, também acontecem expedições de caça, em geral mais curtas e só entre homens, já que as mulheres ficam nas aldeias cuidando das roças. Além disso, como muitas famílias mantêm cultivos em mais de uma aldeia, deslocam-se para dar conta de todas as roças. O corte, queima e limpeza das roças se prolonga até dezembro, meados de janeiro, quando a castanha está de novo madura, e os Zo'é limpam a roça da mandioca que brotou e fazem novo plantio.
|Foto: Luis Donisete B. Grupioni/1989
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A mandioca é o principal cultivo, com uma variedade de produtos: farinha, beiju, tapioca, tucupi. As mulheres, inclusive com colaboração dos homens para ralar as raízes, dedicam muito de seu tempo ao processamento da mandioca: descascar, ralar, espremer no tipiti, peneirar, torrar farinha. Os Zo'é também cultivam pimenta, batata doce, cará, banana, mamão, caju, goiaba, graviola, manga, urucum, algodão, cuia, cabaça, curauá e cana de flecha.  
|https://img.socioambiental.org/d/281191-1/zoe_8.jpg
 
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Ora, a principal particularidade das relações de contato em curso no Cuminapanema relaciona-se ao fato das agências assistenciais terem se antecipado ao convívio mais intenso dos índios com frentes de ocupação regional. A MNTB, e depois a Funai, promoveram intervenções cujo objetivo declarado era garantir e preservar o "isolamento" desta etnia. Uma decisão unilateral, que contrasta com o interesse dos Zo'é em ter acesso ao mundo exterior, em ritmo e segundo categorias de entendimento próprias. Desde que optaram por estabelecer relações de convívio permanente com os brancos em 1987, os Zo'é manifestam uma curiosidade crescente em desvendar e controlar o mundo à sua volta: desejam maior contato com os brancos, querem mais objetos, querem visitar a cidade, querem conhecer outros índios.
 
 
<!-- Seção escrita por [[Usuário:Dominique T. Gallois|Dominique T. Gallois]]. -->
 
<!-- Seção escrita por [[Usuário:Dominique T. Gallois|Dominique T. Gallois]]. -->
  
== Modos de vida ==
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== População ==
 
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|Foto: Dominique Gallois, 1990
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|Foto: Distribuição de bebida sepy durante uma festa dos Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2017
|https://img.socioambiental.org/d/239684-1/zoe_3.jpg
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|https://galeria.socioambiental.org/filestore/5/2/7/4/6_cd584b0ad074849/52746scr_dcd3b057e91c8af.jpg}}
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A população Zo'é praticamente dobrou nos últimos vinte anos: eram 172 em 1998, à época da identificação da TI, e são hoje 315 pessoas (FPEC-Funai, 2019).
Como outros povos da região das Guianas, os Zo'é apresentam uma estrutura social descentralizada, marcada pela autonomia política e econômica do grupo local. Em uma mesma aldeia podem habitar mais de um grupo local. Cada casa abriga uma família nuclear ou duas unidades que ocupam espaços separados na habitação, cada uma com seu fogo.
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Os Zo'é subdividem-se em quatro grupos locais (iwan), distribuídos em determinadas áreas territoriais, onde estão suas aldeias antigas e recentes e seus acampamentos. Constituem agregados de famílias extensas que ocupam aldeias próximas cuja composição sofre constantes alterações em função das alianças matrimoniais e das parcerias estabelecidas para ocupar novas áreas.
  
Suas atividades econômicas dividem-se em dois movimentos: relativa sedentarização em função das práticas agrícolas e uma importante mobilidade resultante das atividades de caça e pesca.
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Nos últimos anos, ocorreu um processo significativo de abertura de aldeias, que hoje totalizam 47. Na época da instalação da Funai, eram apenas 4. Essas pequenas aldeias são ocupadas por poucas famílias, que circulam entre distintos assentamentos. Esse notável processo de dispersão recente está relacionado a vários fatores, entre eles o apoio logístico que receberam tanto da Funai como de outros parceiros. Dispor de equipamentos de transporte e comunicação trouxe maior segurança às famílias que se deslocam e permanecem em aldeias distantes da Base da FPEC-Funai. Além disso, atividades de formação e informação realizadas nesse período mobilizaram os Zo'é a percorrer áreas onde antes temiam a possível presença de inimigos. Agora confiantes em avançar em relação aos percursos conhecidos pelos antigos, abriram novos caminhos e acampamentos, alguns deles logo transformados em aldeias. A dispersão redunda em vigilância e essa promove incursões em áreas onde há fartura de recursos, como nas margens de rios maiores que os antigos Zo'é não ocupavam tão intensamente.
  
Devido a tecnologia lítica (ferramentas de pedra) que os Zo'é utilizavam até pouco tempo, as roças são reaproveitadas ano após ano, replantando-se mandioca e outros produtos nas mesmas clareiras. Por esta razão, há poucas roças e portanto poucas aldeias na área. Contrariamente à esse padrão sedentário, as atividades de caça e pesca levam as famílias à deslocamentos em regiões muito distantes das aldeias, onde permanecem por várias semanas, aproveitando no local a fartura de caça e complementando a alimentação com farinha preparada na aldeia. Essa alternância das atividades voltadas para a agricultura e a preparação de farinha e das expedições à longa distância concretizam-se em uma grande mobilidade na área.
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== Planejando como vamos continuar vivendo bem no futuro: Jo'e rekoha bokitute ram ==
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|Foto: Os Zo'e durante uma oficina de Letramento, Hugo Prudente, 2018
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|https://galeria.socioambiental.org/filestore/5/2/6/8/6_92ae3e7baf9ad67/52686scr_d2b118ef8ea028d.jpg }}
  
O equipamento material utilizado pelos Zo'é em suas atividades de subsistência é composto por um número limitado de artefatos, sobressaindo os de cerâmica e de trançado, confeccionados pelas mulheres e destinados ao processamento da mandioca.
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Em novembro de 2019, os Zo'é pactuaram seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental – PGTA, onde definem suas prioridades para o futuro e definem as diretrizes para defender a integridade de sua terra e portanto, de sua qualidade de vida. Nesse documento, afirmam: “queremos que nossos filhos sigam ocupando vastamente o nosso território”, colocando o processo de dispersão de aldeias como um dos fundamentos do bem-viver.  
<!-- Seção escrita por [[Usuário:Dominique T. Gallois|Dominique T. Gallois]]. -->
 
  
== Localização e população ==
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No PGTA também dedicam especial atenção à fiscalização e vigilância da porção sul da Terra Indígena, onde a Funai constatou a presença de invasores interessados em explorar os castanhais. Para os Zo'é, que fazem uso intensivo da castanha, especialmente mas não apenas em sua alimentação, é prioritária a fiscalização dessa região, impedindo o retorno dos invasores. 
  
Os Zo'é habitam uma faixa de terra firme, cortada por pequenos igarapés afluentes de dois grandes rios, o Cuminapanema e o Erepecuru, no município de Oriximiná, norte do Pará. Trata-se de uma região montanhosa de grandes castanhais, que apresenta maximização dos recursos de subsistência. Além da mandioca, que corresponde a cerca de 90% da área plantada da roça, a castanha-do-pará é o produto mais consumido pelos índios, que utilizam também a casca e a entrecasca para confeccionar a maioria de seus artefatos. O território ocupado pelos índios é entrecortado por pequenos igarapés, onde realizam pescarias com timbó. A relativa escassez de recursos faunísticos nessa zona de ocupação resulta do longo tempo de permanência das aldeias e, portanto, do esgotamento da caça. A área habitada corresponde à uma zona de "refúgio", onde os Zo'é mantiveram-se isolados dos brancos, que conheciam através de contatos intermitentes há várias décadas, e de outros povos indígenas vizinhos, que consideram inimigos.
 
  
Os Zo'é aceitaram a convivência pacífica com os brancos em 1987. Quatro anos depois, estima-se que tenham morrido 45 indivíduos por epidemias de malária e gripe. Em 1991, eram 133; seis anos depois, os Zo´é iniciam um processo de recuperação demográfica e a população cresce chegando a 152 pessoas.
 
 
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== Fontes de informação ==
 
== Fontes de informação ==
 
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<li>BINDA, Nadja Havt. Representações do ambiente e territorialidade entre os Zo'é/PA. São Paulo : USP, 2001. 209 p. (Dissertação de Mestrado)</li>
 
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<li>CABRAL, A. S. A. C. Algumas evidências lingüísticas de parentesco genético do Jo'é com as línguas Tupi-Guarani. Rev. Cursos de Pós-Graduação em Letras, Belém : UFPA, v. 4, 1996.</li>
 
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<li>--------. Notas sobre a fonologia do Jo- Moara : estudos de línguas indígenas. Rev. Cursos de Pós-Graduação em Letras, Belém : UFPA, v. 4, 1996.</li>
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<li>GALLOIS, Dominique Tilkin. De arredio a isolado : perspectivas de autonomia para os povos indígenas isolados. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org.). Índios no Brasil. São Paulo : Secretaria Municipal de Cultura, 1992. p. 121-34.</li>
 
<li>GALLOIS, Dominique Tilkin. De arredio a isolado : perspectivas de autonomia para os povos indígenas isolados. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org.). Índios no Brasil. São Paulo : Secretaria Municipal de Cultura, 1992. p. 121-34.</li>
 
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<li>--------. Essa incansável tradução : entrevista. Sexta Feira: Antropologia, Artes e Humanidades, São Paulo : Pletora, n. 6, p. 103-21, 2001.</li>
 
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<li>GALLOIS, Dominique Tilkin; HAVT, Nadja. Relatório de identificação da Terra Indígena Zo'é : Portaria 309/PRES/Funai - 04.04.97. São Paulo : Funai, 1998.</li>
 
<li>GALLOIS, Dominique Tilkin; HAVT, Nadja. Relatório de identificação da Terra Indígena Zo'é : Portaria 309/PRES/Funai - 04.04.97. São Paulo : Funai, 1998.</li>
 
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<li>HAVT, Nadja. De algumas questões sobre a participação de “índios isolados” no processo de regularização fundiária : o exemplo dos Zo’É. In: GRAMKOW, Márcia Maria (Org.). Demarcando terras indígenas II : experiências e desafios de um projeto de parceria. Brasília : Funai/PPTAL/GTZ, 2002. p. 85-94.</li>
 
<li>HAVT, Nadja. De algumas questões sobre a participação de “índios isolados” no processo de regularização fundiária : o exemplo dos Zo’É. In: GRAMKOW, Márcia Maria (Org.). Demarcando terras indígenas II : experiências e desafios de um projeto de parceria. Brasília : Funai/PPTAL/GTZ, 2002. p. 85-94.</li>
 
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<li> Braga, Leonardo Viana. Micropeças sobre gênero e caçada junto aos Zo’é. In: Fajardo Grupioni, D.; Andrade, L. M. 2015. Entre águas bravas e mansas:
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índios e quilombolas em Oriximiná. São Paulo: CPI-SP/Iepé, 2015.</li>
 
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<li>SILVEIRA, Maria Luiza dos Santos. Identidade em mulheres índias : um processo sobre processos de transformação. São Paulo : USP-IP, 2001. 377 p. (Dissertação de Mestrado)</li>
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<li> Ribeiro, Fabio N. “Os Zo’é e as metamorfoses do fundamentalismo evangélico”. In: Fajardo Grupioni, D.; Andrade, L. M. 2015. Entre águas bravas e mansas: índios e quilombolas em Oriximiná. São Paulo: CPI-SP/Iepé, 2015.</li>
 
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<ul>
<li>A arca de Zo'É. Dir.: Dominique T. Gallois; Vincent Carelli. Vídeo Cor, VHS, 22 min., 1993. Prod.: CTI-SP</li>
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[[Categoria:Povos indígenas no Pará]]

Edição atual tal como às 14h01min de 8 de maio de 2024

Localizados numa área de densas florestas, entre os rios Cuminapanema e Erepecuru, norte do Pará. Em situação de recente contato, os Zo'é convivem com agentes de assistência há apenas três décadas, mantendo vigorosamente suas formas de organização social e territorial.

Nome e língua

Foto: Os Zo'e durante uma oficina de Letramento, Dominique Gallois, 2017
Foto: Os Zo'e durante uma oficina de Letramento, Dominique Gallois, 2017

Nome

O pronome jo’é [zo’é], “nós mesmos”, se consolidou aos poucos como a autodenominação, que diferencia este povo dos não-índios, chamados kirahi. No final dos anos 1980, quando começaram a conviver com missionários e com servidores da Funai, esse termo não era usado para designar a si mesmos, mas para identificar qualquer pessoa que adquirisse alguma proximidade e que passava, então, a ser considerada “gente como nós”. O pronome se transforma em etnônimo quando os Zo’é aprendem a se pensar como “índios”, uma categoria antes desconhecida por eles e que só poderia surgir da trajetória de convivência com diferentes grupos de não-indígenas. O termo Poturu, ou Poturujara, difundido inicialmente como nome dos índios do Cuminapanema, designa tão somente a madeira da árvore utilizada para confeccionar os adornos labiais embe’pot. “Poturu!” respondiam os Zo’é, quando alguém apontava para seus rostos, buscando saber seu nome.

Língua Os Zo’é são falantes de uma língua Tupi-Guarani, do tronco Tupi. Nos últimos quatro anos, um número significativo de jovens e todos os chefes de aldeia aprenderam a se comunicar em português. Cerca de 20 jovens estão escrevendo e lendo em sua língua, apropriando-se da grafia proposta em estudos linguísticos (Cabral, 2013).


Histórico do contato

Experiências de contato e de convivência com Kirahi

Os então chamados “Índios do Cuminapanema” foram apresentados ao mundo em 1989, em reportagens que enfatizavam sua “pureza” e “fragilidade” e os descrevendo como um dos últimos grupos “intactos” na Amazônia. E justamente por serem um dos raros grupos ainda “não atingidos” nem pela mensagem evangélica, nem pela assistência oficial, os Zo’é atraíram a atenção da Missão Novas Tribos - MNT, que inicia seu trabalho na região em 1982. Foram cinco anos de sucessivas entradas e saídas das aldeias, para “pacificar” os Zo’é, até que em 1987 eles instalaram sua base “Esperança” na porção sul da atual TI Zo’é. Ali, passaram a controlar sozinhos o processo de acomodação dos Zo’é à nova situação, até a Funai assumir a área em 1991.

Foto: Dominique Gallois, 1991
Foto: Dominique Gallois, 1991

No entanto, os Zo’é já tinham experiências de encontro com não-índios desde muito tempo. Relatam inclusive a saída de uma mulher, que viajou até Santarém de onde acabou voltando, provavelmente no final do século XIX. No final dos anos 1960, seu território passou a ser percorrido por caçadores de felinos, conhecidos como “gateiros”. Os Zo’é encontravam em suas trilhas, gaiolas, ferramentas abandonadas, restos de acampamentos. Também encontravam vestígios de coletores de castanha. Eram contatos indiretos, ou, como dizem os Zo’é, “sem carne/sem corpo”, pois não viam os forasteiros. Em 1975, eles foram surpreendidos por visitas mais espetaculares, quando um helicóptero do Instituto de Estudos e Pesquisas do Pará despejou embrulhos com roupas e objetos sobre a aldeia Kejã. Foi também com presentes lançados por avião ou dependurados no caminho das aldeias que os membros da Missão Novas Tribos se aproximaram. Entre 1982 e 1987, eles estiveram várias vezes em acampamentos ou aldeias, saindo rapidamente. Segundo os Zo’é, muitas pessoas ficavam doentes na sequência dessas visitas e, como os missionários demoravam meses para voltar, as pessoas acometidas por doenças pulmonares morriam. Eles também relatam que resolveram se deslocar rumo ao sul, em busca de uma explicação para esse “sopro” de doenças e para pegar mais objetos, chegando finalmente à Base “Esperança” em outubro de 1987, data oficial do “contato” com a MNT. Após essa notícia, a Funai cria o PINC Cuminapanema, subordinado à 4ª SUER/Funai em Belém (Port.1.061 de 22 de maio de 1987). No ano seguinte, o convênio 008/1998 celebrado entre a Funai e a MNT veda sua atuação em áreas de índios isolados. Mas a missão não se retira e continua seu trabalho junto aos Zo’é.

Foto: Luis Donisete B. Grupioni/1989
Foto: Luis Donisete B. Grupioni/1989

Em janeiro de 1989, a missão alerta a Funai sobre a precária situação de saúde dos índios. O sertanista Sidney Possuelo consegue apoio da imprensa e pode assim realizar uma primeira visita à área. Numa segunda viagem, pouco tempo depois, a equipe da Funai verifica que a situação de saúde estava piorando e começa a planejar um trabalho mais sistemático. Durante mais de um ano, os Zo’é assistiram à convivência tensa entre as equipes da Funai e da Missão Novas Tribos, cada uma com sua base, entre as quais eles continuaram circulando para obter remédios e objetos industrializados. Quando conseguiu recursos e pessoal adequados para assumir um trabalho de assistência que abrangeria a totalidade das quatro aldeias existentes na época, a Funai retirou os missionários da área, em outubro de 1991. A partir desse momento, os sucessivos responsáveis pelo PINC Cuminapanema, orientados pelo Departamento de Índios Isolados -DII/Funai, desempenham ações de proteção do povo Zo’é e de sua terra, em formatos que irão variar sensivelmente ao longo dos anos. Foi somente a partir de dezembro de 2009, com a reestruturação da Funai que o órgão indigenista amplia a atuação da então Coordenação Geral de Índios Isolados - CGII, incluindo a proteção às populações de recente contato, entre eles os Zo’é. A Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema – FPEC, é criada em 2011 (Portaria Nº 1816/PRES, de 30 de dezembro de 2011) e desde então segue novas diretrizes para a promoção da integridade cultural e territorial do povo Zo’é.

O processo de demarcação da TI Zo'é

Foto: Reunião de chefes Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2018
Foto: Reunião de chefes Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2018

Em 1987, a Funai procedeu à interdição da Área Indígena Cuminapanema/Urucuriana, com uma extensão de aproximadamente 2.059.700 hectares, ao sul do Parque Indígena de Tumucumaque, nos municípios de Alenquer e Óbidos, Pará (Port. n.4.098 de 30.12.1987). A interdição visava dar condições de trabalho às equipes de localização e contato, na identificação de numerosas referências de índios isolados na região, levantadas pelo então Departamento de Índios Isolados – DII. Na época, a Funai já conhecia a presença dos Zo'é nesta área através de informações repassadas pela Missão Novas Tribos, que já tinha localizado este povo em 1982.

Os trabalhos de identificação e delimitação da Terra Indígena Zo'é aconteceram entre 1996 e 1998, com a participação ativa dos Zo'é e de vários técnicos e especialistas, em muitas etapas. A primeira, de estudos antropológicos, incluiu a preparação da comunidade indígena para que os Zo'é pudessem acompanhar todos os procedimentos da regularização de seu território. A Portaria 309 de 04.04.1997 constituiu o Grupo de Trabalho cujo relatório de identificação e delimitação foi submetido ao Departamento de Identificação e Delimitação – DID/Funai em novembro de 1998.

Foto: Zo'é trabalhando na construção de novas casas, Leonardo Viana Braga, 2018
Foto: Zo'é trabalhando na construção de novas casas, Leonardo Viana Braga, 2018

A demarcação física da Terra Indígena, com 668.565 hectares, foi realizada entre 1999 e 2000, por uma empresa contratada pela Funai. A homologação e o registro da Terra Indígena demarcada no Serviço de Patrimônio da União - SPU, foram consagrados por Decreto presidencial (s/n) publicado no Diário Oficial da União em 22 de dezembro de 2009.

Em 2008, a pedido do Ministério Público Federal, foi criada uma faixa de amortecimento em volta da Terra Indígena. Esta Zona Intangível das Florestas Estaduais Trombetas e Paru não poderia receber nenhum tipo de exploração econômica para evitar a contaminação dos índios em situação de recente contato. Com a aprovação do Plano de Manejo da FLOTA do Trombetas pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente do Pará, a faixa foi incorporada no zoneamento da Unidade, conforme plano de manejo.

Estações e ritmos das atividades produtivas

Foto:Índios Zo'é finalizando uma rede de fibra de castanheira, Flora Dias Cabalzar, 2016.
Foto:Índios Zo'é finalizando uma rede de fibra de castanheira, Flora Dias Cabalzar, 2016.

O caráter sazonal de alguns recursos dos quais os Zo'é se utilizam conforma a dinâmica de circulação das famílias pelo território e também repercute nos movimentos de aproximação e distanciamento entre essas famílias. No tempo das chuvas, de fevereiro a julho, que acontecem os períodos mais prolongados de dispersão das famílias pelo território, quando são realizadas grandes caçadas, principalmente de coatá gordo e de tucano. No início das chuvas, as famílias também se deslocam para a beira de igarapés, aproveitando o volume das águas para caçar urubu-rei, usando peixes podres como iscas. Instalados nos acampamentos, retornam às aldeias para buscar farinha, preparada com antecedência e estocada nas casas; quando ela acaba, permanecem alguns dias para preparar mais farinha, beiju e tapioca.

O período ideal para a caça de kwata (macaco-aranha ou coamba) vai de março a maio, período denominado kwata ike, quando estão gordos. Montam-se acampamentos específicos, de onde os homens saem para as serras, em busca dos macacos. No final desse período, em maio, tucanos, araras e papagaios já estão comendo frutas de palmeiras. É a estação chamada de token ike, do “tucano gordo”, que dura cerca de um mês e meio, quando bandos numerosos de aves vêm comer patauá ou açaí, em locais de concentração de frutas. Já é no final da estação chuvosa e início da estação seca que porcos queixadas e caititus estão gordos, motivando saídas frequentes de grupos de homens nas trilhas das varas de porcos. Entre os recursos mais valorizados nesse calendário do tempo das chuvas, a castanha-do-Brasil é um alimento básico na dieta. Os Zo´é colhem os ouriços a partir de janeiro e consomem amêndoas em profusão durante toda a estação chuvosa; durante o verão, colhem ouriços ainda verdes e continuam comendo castanha o ano todo, em preparos diversos com produtos da mandioca ou carnes. Como é também nesse período que muitas frutas amadurecem, é comum interromper o movimento de dispersão entre acampamentos para realizar uma festa, quando se distribui grande quantidade de bebida fermentada sepy.

Foto: Refeição familiar dos Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2017.
Foto: Refeição familiar dos Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2017.

A estação seca, de final de julho até o início de janeiro, é marcada pelo trabalho nas roças. É quando a vida nas aldeias se intensifica, sendo um período de maior aproximação entre grupos familiares. Isso não significa que as famílias não mantenham, no verão, outras atividades que as leve a deixar a aldeia. Saem para buscar frutas da estação, como o açaí que é trazido em grandes cachos. Mas sobretudo saem para pescar com timbó, com anzóis, ou ainda com flecha ou zagaia. No verão, também acontecem expedições de caça, em geral mais curtas e só entre homens, já que as mulheres ficam nas aldeias cuidando das roças. Além disso, como muitas famílias mantêm cultivos em mais de uma aldeia, deslocam-se para dar conta de todas as roças. O corte, queima e limpeza das roças se prolonga até dezembro, meados de janeiro, quando a castanha está de novo madura, e os Zo'é limpam a roça da mandioca que brotou e fazem novo plantio. A mandioca é o principal cultivo, com uma variedade de produtos: farinha, beiju, tapioca, tucupi. As mulheres, inclusive com colaboração dos homens para ralar as raízes, dedicam muito de seu tempo ao processamento da mandioca: descascar, ralar, espremer no tipiti, peneirar, torrar farinha. Os Zo'é também cultivam pimenta, batata doce, cará, banana, mamão, caju, goiaba, graviola, manga, urucum, algodão, cuia, cabaça, curauá e cana de flecha.

População

Foto: Distribuição de bebida sepy durante uma festa dos Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2017
Foto: Distribuição de bebida sepy durante uma festa dos Zo'é, Leonardo Viana Braga, 2017

A população Zo'é praticamente dobrou nos últimos vinte anos: eram 172 em 1998, à época da identificação da TI, e são hoje 315 pessoas (FPEC-Funai, 2019). Os Zo'é subdividem-se em quatro grupos locais (iwan), distribuídos em determinadas áreas territoriais, onde estão suas aldeias antigas e recentes e seus acampamentos. Constituem agregados de famílias extensas que ocupam aldeias próximas cuja composição sofre constantes alterações em função das alianças matrimoniais e das parcerias estabelecidas para ocupar novas áreas.

Nos últimos anos, ocorreu um processo significativo de abertura de aldeias, que hoje totalizam 47. Na época da instalação da Funai, eram apenas 4. Essas pequenas aldeias são ocupadas por poucas famílias, que circulam entre distintos assentamentos. Esse notável processo de dispersão recente está relacionado a vários fatores, entre eles o apoio logístico que receberam tanto da Funai como de outros parceiros. Dispor de equipamentos de transporte e comunicação trouxe maior segurança às famílias que se deslocam e permanecem em aldeias distantes da Base da FPEC-Funai. Além disso, atividades de formação e informação realizadas nesse período mobilizaram os Zo'é a percorrer áreas onde antes temiam a possível presença de inimigos. Agora confiantes em avançar em relação aos percursos conhecidos pelos antigos, abriram novos caminhos e acampamentos, alguns deles logo transformados em aldeias. A dispersão redunda em vigilância e essa promove incursões em áreas onde há fartura de recursos, como nas margens de rios maiores que os antigos Zo'é não ocupavam tão intensamente.

Planejando como vamos continuar vivendo bem no futuro: Jo'e rekoha bokitute ram

Foto: Os Zo'e durante uma oficina de Letramento, Hugo Prudente, 2018
Foto: Os Zo'e durante uma oficina de Letramento, Hugo Prudente, 2018

Em novembro de 2019, os Zo'é pactuaram seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental – PGTA, onde definem suas prioridades para o futuro e definem as diretrizes para defender a integridade de sua terra e portanto, de sua qualidade de vida. Nesse documento, afirmam: “queremos que nossos filhos sigam ocupando vastamente o nosso território”, colocando o processo de dispersão de aldeias como um dos fundamentos do bem-viver.

No PGTA também dedicam especial atenção à fiscalização e vigilância da porção sul da Terra Indígena, onde a Funai constatou a presença de invasores interessados em explorar os castanhais. Para os Zo'é, que fazem uso intensivo da castanha, especialmente mas não apenas em sua alimentação, é prioritária a fiscalização dessa região, impedindo o retorno dos invasores.


Fontes de informação

 

  • CABRAL, Ana Suely.Uma escrita para a Língua Zo'é. Brasília: Lalli/Unb/Funai, 2013.
  • GALLOIS, Dominique Tilkin. De arredio a isolado : perspectivas de autonomia para os povos indígenas isolados. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org.). Índios no Brasil. São Paulo : Secretaria Municipal de Cultura, 1992. p. 121-34.
  • --------. Essa incansável tradução : entrevista. Sexta Feira: Antropologia, Artes e Humanidades, São Paulo : Pletora, n. 6, p. 103-21, 2001.
  • --------. Tupi do Cuminapanema : eles se chamam Zo'É. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1991/1995. São Paulo : Instituto Socioambiental, 1996. p. 280-7.
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  • GALLOIS, Dominique Tilkin; GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. O índio na Missão Novas Tribos. In: WRIGHT, Robin (Org.). Transformando os Deuses : os múltiplos sentidos da conversão entre os povos indígenas no Brasil. Campinas : Unicamp, 1999. p. 77-130.
  • --------. A redescoberta dos amáveis selvagens. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1987/88/89/90. São Paulo : Cedi, 1991. p. 209-14. (Aconteceu Especial, 18)
  • GALLOIS, Dominique Tilkin; HAVT, Nadja. Relatório de identificação da Terra Indígena Zo'é : Portaria 309/PRES/Funai - 04.04.97. São Paulo : Funai, 1998.
  • HAVT, Nadja. De algumas questões sobre a participação de “índios isolados” no processo de regularização fundiária : o exemplo dos Zo’É. In: GRAMKOW, Márcia Maria (Org.). Demarcando terras indígenas II : experiências e desafios de um projeto de parceria. Brasília : Funai/PPTAL/GTZ, 2002. p. 85-94.
  • --------. Representações do Ambiente e da Territorialidade entre os Zo’é/PA. Dissertação de Mestrado. FFLCH/USP, 2001.
  • Iepé & FPEC/Funai. Jo’e bokitute ram: planejando como vamos continuar vivendo bem no futuro. Plano de Gestão Territorial e Ambiental da TI Zo’é. São Paulo: Iepé, 2019.
  • Braga, Leonardo Viana. Micropeças sobre gênero e caçada junto aos Zo’é. In: Fajardo Grupioni, D.; Andrade, L. M. 2015. Entre águas bravas e mansas: índios e quilombolas em Oriximiná. São Paulo: CPI-SP/Iepé, 2015.
  • ---------. Pani'em: um esboço sobre os modos de saber entre os Zo'é. Dissertação de mestrado. FFLCH/USP, 2017.
  • Ribeiro, Fabio N. “Os Zo’é e as metamorfoses do fundamentalismo evangélico”. In: Fajardo Grupioni, D.; Andrade, L. M. 2015. Entre águas bravas e mansas: índios e quilombolas em Oriximiná. São Paulo: CPI-SP/Iepé, 2015.
  • ---------. Encontros Zo’é nas Guianas. Tese de doutorado. FFLCH/USP, 2019.