Tingui Botó
- Autodenominação
- Onde estão Quantos são
- AL 407 (Siasi/Sesai, 2020)
- Família linguística
Os Tingui-Botó habitam a comunidade Olho D´Água do Meio, no município alagoano de Feira Grande. Até o início da década de 80, eram conhecidos como "caboclos", quando foi-lhes reconhecida a identidade indígena pela Funai. Desde esse período preservam dois hectares de mata para realizar o ritual secreto do Ouricuri, principal emblema de sua identidade, que continuam resguardando das populações vizinhas.
Nome
O nome Tingui-Botó é de origem recente. Nos registros históricos e nos levantamentos gerais da região, como os realizados por Duarte e Hohenthal Jr., os remanescentes indígenas de Olho d'Água do Meio, povoado do município de Feira Grande, são identificados como Xocó ou Shocó. Mas, segundo relatou ao Instituto Socioambiental o cacique Eliziano de Campos e o pajé Adalberto Ferreira da Silva, os Tingui-Botó não são Xocó e sim Kariri.
A atual denominação teria sido dada por João Botó, curandeiro e pajé que, juntamente com sua família, se instalou em Olho d'Água do Meio provavelmente nos anos 1940. Isso ocorreu depois da criação do Posto Indígena Padre Alfredo Dâmaso, em Porto Real do Colégio. Com a formação da nova comunidade, foi revitalizado o ritual do Ouricuri, desencadeando um processo de agregação em torno da "taba", ou seja, do território sagrado, onde o ritual se realiza secretamente a cerca de dois hectares da localidade. Esta versão da origem do nome "Botó" me foi dada pelo pajé dos Kariri- Xocó na década de 1980, sendo confirmada em 2002 pelos índios acima citados ao Instituto Socioambiental. Estes também disseram que a denominação "Tingui" tem como origem uma árvore com esse nome, cujas folhas foram utilizadas no acampamento erguido durante a vinda para Olho D´Água do Meio.
Língua
Os Tingui-Botó falam o português à moda das populações rurais do nordeste. Alegam, porém, falar sua língua ancestral no ritual secreto do Ouricuri. De acordo com o cacique Eliziano de Campos e o pajé Adalberto Ferreira da Silva, sua língua é designada Dzbokuá.
Nesse sentido, o etnólogo Ugo Maia Andrade afirma que o cariri era uma língua corrente em uma extensa área no interior do Nordeste e estava dividido em quatro dialetos, entre os quais o "dzubukuá". Por se tratar de uma língua não mais falada usualmente pelas populações locais, seu estudo linguístico é precário e quase todo baseado nas gramáticas elaboradas por missionários que estiveram na região durante os séculos XVII e XVIII (sobre o assunto, ver a página sobre o povo Tumbalalá).
História e etnogênese
Os Tingui-Botó foram reconhecidos como grupo indígena em 1980 por Clovis Antunes, professor da Universidade Federal de Alagoas, que enviou documentação à Funai. Trata-se de um dos casos de resgate da identidade étnica de uma população anteriormente dispersa, em processo de etnogênese. À substituição de uma identidade "acanhada" de caboclo pelo orgulho étnico de ser índio, seguem-se desdobramentos políticos tais como a reinvindicação de posse de terras por direito imemorial e a luta pelo seu reconhecimento pelo órgão tutelar.
Até 1983 possuíam apenas a pequena área de cerca de dois hectares coberta de mata para preservar o segredo do Ouricuri das populações não indígenas circunvizinhas. Moravam num arruado em Olho d'Água do Meio e trabalhavam nas fazendas da região como meeiros (com direito à metade da colheita do que plantavam) ou alugados (contratados para executar determinada tarefa agrícola em troca de pagamento).
Em 1983, a FUNAI instalou um posto indígena na área. No ano seguinte, o órgão adquiriu duas pequenas propriedades: a Fazenda Boacica, com 30 hectares, e a Fazenda Olho d'Água do Meio, de 31,5 hectares. Em 1988 comprou a Fazenda Ypioca, com 59,6 hectares. Assim, hoje a comunidade dispõe de uma área de 121,1 hectares.
Produzem artesanato de palha, além de cocares, colares e bordunas.
Localização
A comunidade Olho d'Água do Meio dista três quilômetros de Feira Grande, 23 de Arapiraca e 155 de Maceió. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), existe uma escola na área para atender à comunidade indígena. Para atendimento médico, a população tem de deslocar-se para as cidades de Arapiraca ou Maceió.
Nota sobre as fontes
Há somente um trabalho exclusivamente dedicado aos Tingui-Botó. É monografia de Benildo Gomes de Farias, Tingui-Botó: uma etnografia, apresentada como monografia de graduação na Univeridade Federal de Alagoas.
Tratando-se de uma denominação recente, nos levantamentos regionais mais antigos os Tingui-Botó são referidos com outros nomes. Assim, Hohenthal Jr., em As tribos indígenas do médio e baixo São Francisco (1960), identifica-os enquanto "shocós" de Olho d'Água do Meio; Duarte, em Tribos, aldeias e missões de indios nas Alagoas (1969), a eles se refere como "shocó"ou "xocó". Há também referências a eles em Claudio Sant'Ana, Alagoas seus índios e suas terras (1991), e no Atlas das Terras Indígenas do Nordeste (1993).
Fontes de informação
- DUARTE, A. Tribos, aldeias e missões de índios nas Alagoas. Rev. do Instituto Histórico, Maceió : Instituto Histórico, s.n., 1969.
- FARIAS, Benildo Gomes de. Tingui-Botó : uma etnografia. Maceió : UFAL, 1998. 94 p. (Monografia para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais)
- HOHENTHAL JÚNIOR, W. D. As tribos indígenas do médio e baixo São Francisco. Rev. do Museu Paulista, São Paulo : Museu Paulista, v. 12, n.s., 1960.
- MUSEU NACIONAL. PETI. Atlas das terras indígenas do Nordeste : Alagoas, Bahia (exceto sul), Ceará, Paraíba, Pernambuco, Sergipe. Rio de Janeiro : Museu Nacional-Peti, 1993. 93 p.
- RONDINELLI, Rosely Curi (Coord.). Inventário analítico do arquivo permanente do Museu do Índio - Funai : documentos textuais 1950-1994. Rio de Janeiro : Museu do Índio, 1997. 150 p.
- SANT'ANA, Claudio L. F. Alagoas seus índios e suas terras. Recife : Funai, 1991.