De Povos Indígenas no Brasil
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== O Censo 2010 e os Povos Indígenas ==
+
== Quantos eram? Quantos serão? ==
 
 
por '''Marta Maria Azevedo, '''antropóloga e demógrafa, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População/Unicamp e pesquisadora colaboradora do <htmltag tagname="a" href="http://socioambiental.org" target="_blank">ISA</htmltag>, publicado originalmente no livro <htmltag tagname="a" target="_blank" href="http://www.socioambiental.org/loja/detalhe_produto.html?id_prd=10386" class="external">Povos Indígenas no Brasil 2006-2010 (ISA)</htmltag>
 
 
 
 
 
 
 
As novidades do censo demográfico brasileiro realizado pelo IBGE em 2010 foram muitas, desde a utilização de um pequeno computador manual pelos recenseadores até novas perguntas no questionário, como aquelas relativas às populações autodeclaradas indígenas, incluindo etnia e línguas faladas.
 
 
 
Essas mudanças foram resultado de um longo processo coordenado por especialistas do IBGE, com ampla participação das instituições governamentais federais, da sociedade civil e da comissão de especialistas que assessora o censo; o IBGE realizou diversas provas-piloto nos anos anteriores ao censo, com diferentes versões do questionário, sendo que duas dessas provas foram especificamente voltadas à população autodeclarada indígena e populações residentes em <htmltag tagname="a" href="http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/introducao/o-que-sao-terras-indigenas" target="_self">Terras Indígenas</htmltag>.
 
 
 
Desde o início dos anos 2000, a invisibilidade estatística dos povos indígenas no Brasil (e também na América Latina e Caribe), bem como as possibilidades de melhoria nos sistemas de informações censitários, tem sido discutida em vários congressos de estudos populacionais e seminários específicos de Demografia Indígena promovidos pelo Grupo de Trabalho da Abep e pela Alap. Tais temas também foram debatidos nas reuniões e discussões promovidas pelo próprio IBGE que, em 2008, criou um grupo de trabalho para discutir a metodologia do censo 2010 relativa aos povos indígenas. Três recomendações importantes foram então acordadas: a) a pergunta sobre raça/cor da pele deveria passar do questionário da amostra para o questionário do universo;<htmltag tagname="a" href="#1">¹</htmltag> b) além da autoidentificação como indígena na pergunta raça/cor da pele, dever-se-ia perguntar povo/etnia de pertencimento; c) as terras indígenas deveriam coincidir com o perímetro dos setores censitários.
 
 
 
A primeira questão da inclusão da pergunta no questionário do universo foi devido às grandes dificuldades que tínhamos em analisar as informações sobre os indígenas a partir de regiões ou áreas pequenas; nunca seria possível fazer análises por TIs, ou mesmo municípios, devido à rarefação dessa população e aos poucos números amostrados. Como para todas as análises sobre populações afrodescendentes, essa sempre foi uma questão problemática, no entanto a demanda se tornou imprescindível e foi facilitada agora com o uso do computador de bolso pelos recenseadores. Já a questão dos mapas e dos perímetros das TIs coincidirem com os setores censitários especiais foi um longo trabalho iniciado em 2007, junto com a <htmltag tagname="a" href="http://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai" target="_self">Funai</htmltag> e também com a Funasa, para acertar a base cartográfica, integrando as informações populacionais, e conseguir uma base que realmente possa ser utilizada em futuras análises e nos planejamentos e monitoramento das políticas públicas.
 
 
 
As duas questões específicas sobre povo/etnia de pertencimento e línguas foram sendo definidas a partir de dois movimentos de discussões. De um lado, a criação de um Grupo de Trabalho sobre Línguas Indígenas, criado no âmbito do Ministério da Cultura com o intuito de inscrever as línguas indígenas como patrimônio imemorial cultural brasileiro. Esse grupo passou a ser a referência do IBGE para pensar sobre as línguas faladas por aqueles que se autoidentificassem como indígenas. A pergunta específica sobre pertencimento étnico foi discutida entre IBGE e Funai, com participação de especialistas, inclusive da ABA e do GT da Abep, e teve como referência a equipe do Instituto Socioambiental e a enciclopédia virtual <htmltag tagname="a" href="http://pib.socioambiental.org/pt" target="_self">Povos Indígenas no Brasil</htmltag>. Com isso foi criada uma extensa lista/biblioteca de etnônimos que poderiam ser referidos pelos indígenas quando consultados
 
 
 
Durante as provas-piloto duas outras questões surgiram: primeiramente, a pergunta raça/cor da pele não era muito inteligível para muitos indígenas, que preferiram outras categorias, como branco, pardo e até amarelo. Portanto, incluiu-se uma outra pergunta para todos os habitantes de TIs, quando não se autoidentificavam como indígenas na pergunta anterior: “Você se considera indígena?”, e, em caso afirmativo, perguntou-se sobre o pertencimento étnico, procurando assim incluir todos os habitantes das TIs.
 
 
 
Por fim, a respeito das perguntas que constam no questionário da amostra, foi realizada uma reunião com um grupo de especialistas para pensar em alternativas mais adaptadas às aldeias e domicílios indígenas, o que aparentemente deu um bom resultado. Incluíram-se, por exemplo, voadeiras e canoas como utensílios e meios de transporte, e outras características específicas das TIs. Para os recenseadores que foram aos setores especiais das Terras Indígenas foi feito um manual especial com recomendações sobre etiqueta para conversar com as lideranças indígenas e as famílias nos domicílios.
 
 
 
Os resultados desse primeiro censo com questões específicas para os povos indígenas ainda são preliminares. Não temos ainda os resultados do questionário da amostra, nem o perfil etário dos indígenas, embora já tenhamos inúmeras informações que por si só nos dão um retrato da população indígena e mostram as mudanças que se anunciam.
 
<h3>O Censo Demográfico de 2010: Primeiros resultados</h3>
 
<div class="box-right">
 
<h4>Saiba mais</h4>
 
 
 
Veja o detalhamento dos dados, publicado em Agosto/2012 pelo IBGE, bem como correções de subenumeração dos primeiros resultados:
 
<ul>
 
    <li><htmltag tagname="a" href="http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2194&id_pagina=1" target="_blank" class="external">Características Gerais dos Indígenas: Resultados do Universo</htmltag> (análise)</li>
 
    <li><htmltag tagname="a" href="http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_gerais_indigenas/default_caracteristicas_gerais_indigenas.shtm" target="_blank" class="external">Características Gerais dos Indígenas: Resultados do Universo</htmltag> (dados)</li>
 
    <li><htmltag tagname="a" href="http://www.censo2010.ibge.gov.br/terrasindigenas/" target="_blank" class="external">Hotsite sobre população indígena (mapa interativo)</htmltag></li>
 
</ul>
 
</div>
 
 
 
Os primeiros resultados do universo apontam para uma mudança importante na proporção da população branca em relação à população não branca (preta, parda, amarela e indígena), no Brasil 52,27% da população total são não brancos, ou seja, mais da metade de nossa população de declara como pertencendo a outra ‘raça/cor da pele’. Essa proporção aumenta nas regiões norte e nordeste, com mais de 70% da população tendo se declarado ‘não branca’. Apenas no sul a proporção da população ‘não branca’ permanece minoritária, porque mesmo na região sudeste quase metade da população não se declarou branca. 
 
 
 
'''Tabela 1: Proporção da população não branca em relação à população total por região do Brasil em 2010'''
 
<table width="500" border="1" cellpadding="1" cellspacing="1">
 
   
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''região  '''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''nº absoluto população não branca'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''nº absoluto população branca'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''total'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''proporção''' 
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
norte
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 12.143.777
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 3.720.168
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 15.863.945
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 76,55
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
nordeste
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 37.452.977
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 15.627.710
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 53.080.687
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 70,56
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
sudeste
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 36.029.262
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 44.330.981
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 80.360.243
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 44,83
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
sul
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 5.895.638
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 21.490.997
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 27.386.635
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 21,53
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
centro-oeste
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 8.175.891
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 5.881.790
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 14.057.681
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 58,16
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
''' total'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''99.697.545'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
''' 91.051.646'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
''' 190.749.191'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
''' 52,27'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
   
 
</table>
 
<p style="font-size: x-small">''Fonte: Censo 2010 | IBGE. ''
 
 
 
Com relação à distribuição da população residente no Brasil por raça/cor da pele, temos um aumento da proporção dos ‘pardos’ e um pequeno aumento dos ‘pretos’, que perfazem os afrodescendentes, assim como um aumento da proporção da população indígena, de 0,43 para 0,44% da população total. 
 
 
 
'''Tabela 2: População residente no Brasil, por raça/cor da pele em 2010'''
 
<table width="500" border="1" cellpadding="1" cellspacing="1">
 
   
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''raça/cor da pele    '''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''nº absoluto'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''proporção'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
branca
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
91.051.646
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
47,73
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
parda
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
82.277.333
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
43,13
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
preta
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
14.517.961
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
7,61
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
amarela
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
2.084.288
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
1,09
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
indígena
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
817.963
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
0,44
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
''' total'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
''' 190.749.191'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
''' 100,00'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
   
 
</table>
 
<p style="font-size: x-small">
 
<meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=utf-8">''Fonte: Censo 2010 | IBGE. ''                      </meta>
 
 
 
 
 
A proporção da população autodeclarada indígena no Brasil, desde que se incluiu essa categoria como resposta possível à questão da raça/cor da pele, tem aumentado bastante, mas podemos verificar que a ‘grande virada’ foi de 1991 para 2000, quando de 0,2% da população passou a 0,43%. Já de 2000 para 2010, tivemos um pequeno aumento na proporção, resultado de uma mudança na autodeclaração principalmente nas regiões sul e sudeste. No último censo, menos pessoas se autodeclararam indígenas naquelas duas regiões em relação ao anterior, realizado em 2000. É provável que tenha havido uma migração da declaração para a categoria ‘pardo’, principalmente. 
 
 
 
'''Tabela 3: Proporção da população auto-declarada indígena em relação à população total do Brasil, nos censos 1991, 2000 e 2010'''
 
<table width="500" border="1" cellpadding="1" cellspacing="1">
 
   
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''1991'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''2000'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''2010'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''nº absoluto'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
306.245
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
734.131
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
817.963
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''proporção'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
0,2
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
0,43
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
0,44
 
            </td>
 
        </tr>
 
   
 
</table>
 
<p style="font-size: x-small">''Fonte: Censo 2010 | IBGE.''
 
 
 
Na região norte, vários fatores contribuíram para o aumento da população autodeclarada indígena: o crescimento vegetativo é um dos fatores principais desse aumento, seguido da melhoria da captação das informações com a ida efetiva dos recenseadores para as TIs, apoiados pela Funai, e de uma melhor declaração e reconhecimento das pessoas como indígenas. Os estados do Acre e Roraima, onde parecia haver uma subestimação da população indígena nos dois censos anteriores, no atual levantamento têm população muito próxima daquela contabilizada pela Funasa. 
 
 
 
Nas regiões nordeste e centro-oeste, o aumento foi menos significativo. Provavelmente isso se deve de forma majoritária ao crescimento vegetativo dessa população nas TIs e menos ao reconhecimento de pessoas como indígenas, que anteriormente se declaravam 'pardas'. É como se o fenômeno do autorreconhecimento e da valorização da categoria 'indígena' tivesse chegado a um ponto de esgotamento. Quanto ao outro fator sociológico apontado anteriormente por José Mauricio Arruti no artigo <htmltag tagname="a" href="http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/quem-sao/etnogeneses-indigenas">Etnogêneses Indígenas</htmltag>, publicado no livro <htmltag tagname="a" href="http://www.socioambiental.org/loja/detalhe_produto.html?id_prd=10278" target="_blank">Povos Indígenas no Brasil 2001/2005</htmltag>, que foi o ‘aparecimento’ ou ‘ressurgimento’ de povos que já se consideravam extintos, esse fenômeno também parece ter decrescido ou influenciado menos o aumento da população indígena. Essas hipóteses poderão ser mais bem exploradas e analisadas quando os resultados por sexo, idade, povo e microrregiões forem divulgados. 
 
 
 
No sul e sudeste, a população autodeclarada indígena foi menor em números absolutos do que aquela em 2000. Em todos os estados do sudeste, mas especialmente no Rio de Janeiro, em São Paulo e Minas Gerais, a população autodeclarada indígena no censo de 2000 parece ter migrado para outra categoria, possivelmente a ‘parda’. Poderíamos supor que a população nesses estados oscilou nos últimos dez anos entre se autodeclarar afrodescendente ou indiodescendente. 
 
 
 
'''Tabela 4: Evolução da população autodeclarada indígena nos censos 1991, 2000 e 2010, por UFs e grandes regiões'''
 
<table width="500" border="1" cellpadding="1" cellspacing="1">
 
   
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''1991'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''2000'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''2010'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''Região Norte'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''124.613 '''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
''' 213.445 '''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''305.873'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Rondônia
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
4.132 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
10.683 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
12.015
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Acre
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
4.743 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
8.009
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
15.921
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Amazonas
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
67.882
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
113.391
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
168.680
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Roraima
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
23.426 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
28.128 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
49.637
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Pará
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
16.132 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
37.681 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
39.081
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Amapá
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
3.245 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
 4.972
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
7.408
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Tocantins
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
5.053
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
10.581
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
13.131
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''Região Nordeste'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''55.849 '''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''170.389'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''208.691'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Maranhão
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
15.674
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
27.571
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
35.272
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Piauí
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
314
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
2.664
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
2.944
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Ceará
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
2.694
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
12.198
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
19.336
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Rio Grande do Norte
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
394
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
3.168
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
2.597
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Bahia
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
16.023
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
64.240
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
19.149
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Paraíba
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
3.778
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
10.088
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
53.284
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Pernambuco
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
10.576
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
34.669
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
14.509
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Alagoas
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
5.690
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
9.074
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
5.219
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Sergipe
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
706
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
6.717
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
56.381
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''Região Sudeste'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''42.714'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''161.189'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''97.960'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Minas Gerais
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
6.118
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
48.720
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
31.112
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Espírito Santo
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
14.473
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
12.746 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
9.160
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Rio de Janeiro
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
8.956
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
35.934
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
15.894
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
São Paulo
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
13.167
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
63.789
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
41.794
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''Região Sul'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''30.334'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''84.748'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''74.945'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Paraná
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
10.977
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
31.488 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
25.915
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Santa Catarina
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
4.884
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
14.542
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
16.041
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Rio Grande do Sul
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
14.473
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
38.718 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
32.989
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
'''Região Centro-Oeste'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''52.735'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''104.360 '''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''130.494'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Mato Grosso do Sul
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
32.755
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
53.900
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
73.295
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Mato Grosso
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
16.548 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
29.196
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
42.538
 
            </td>
 
        </tr>
 
   
 
</table>
 
<p style="font-size: x-small">''Fonte: Censos 1991, 2000 e 2010 | IBGE.''
 
 
 
 
 
<meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=utf-8" />
 
 
 
Com relação à presença indígena nos municípios brasileiros, dos 5.565 municípios, 1.085 não têm nenhuma população autodeclarada indígena, 4.382 têm menos do que 10% de sua população declarada indígena e 12 municípios possuem mais de 50% da população contabilizada como indígena, sendo eles majoritariamente da região norte e nordeste. São 86 os municípios com 10 a 50% da população indígena. Como a proporção varia muito de acordo com o tamanho dos municípios e a população indígena no Brasil é composta de muitos povos – 235 – com populações de pequeno porte (se compararmos, por exemplo, com o tamanho de outros povos indígenas da América Latina), a presença indígena em municípios brasileiros é bastante expressiva. 
 
 
 
'''Tabela 5: Municípios no Brasil com mais de 50% de população indígena, em 2010'''
 
<table width="500" border="1" cellpadding="1" cellspacing="1">
 
   
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''população total'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''população indígena'''
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
'''proporção de população indígena %'''
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Uiramutã - RR
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
8.375
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
7.382
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
88,14
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Marcação - PB 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
7.609
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
5.895
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
77,47
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
São Gabriel da Cachoeira - AM                 
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
37.896
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
29.017
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
76,57
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Baía da Traição - PB
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
8.012
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
5.687
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
70,98
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
São João das Missões - MG
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
11.715
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
7.936
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
67,74
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Santa Isabel do Rio Negro - AM
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
18.146
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
10.749
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
59,24
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Normandia - RR
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
8.940
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
5.091
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
56,95
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Pacaraima - RR
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
10.433
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
5.785
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
55,45
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Santa Rosa do Purus - AC
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
4.691
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
2.526
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
53,85
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Amajari - RR
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
9.327
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
5.014
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
53,76
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Campinápolis - MT
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
14.305
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
7.621
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
53,28
 
            </td>
 
        </tr>
 
        <tr>
 
            <td>
 
           
 
Ipuaçu - SC
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
6.798
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
3.436
 
            </td>
 
            <td>
 
           
 
50,54
 
            </td>
 
        </tr>
 
   
 
</table>
 
<p style="font-size: x-small">''Fonte: Censo 2010 | IBGE.''
 
<h3>Urbano x Rural? Mudanças de paradigmas</h3>
 
 
 
A presença indígena nas áreas urbanas tem crescido desde a inclusão da categoria indígena no censo de 1991, quando foi possível analisar e detectar esse fato. Os resultados de 2010 apresentam uma mudança, uma certa diminuição na proporção da população indígena residindo em áreas rurais. No Brasil, como um todo, 61% da população reside em áreas rurais, e nas regiões nordeste e sudeste essa proporção cai para 49 e 19%, respectivamente. Nas regiões norte e centro-oeste, a proporção de indígenas vivendo em áreas rurais é de 79 e 73% e no sul 54% das pessoas que se declaram como indígenas estão vivendo nas áreas rurais. 
 
 
 
As primeiras análises do censo de 2010 nos instigam a investigar fenômenos que antropólogos e demógrafos apenas começaram a analisar, seja a multilocalidade dos povos indígenas e os próprios conceitos de rural e urbano do ponto de vista dessa população. Cidades indígenas têm surgido em TIs e já têm sido objeto de estudos antropológicos; bairros indígenas são comuns seja em grandes cidades como Manaus, ou em cidades próximas a TIs, como Caarapó, no Mato Grosso do Sul. Há algumas décadas, geógrafos e economistas têm questionado o uso, desses conceitos e propuseram outras categorias como 'áreas rururbanas', ou 'aglomerados urbanos em áreas rurais'. A análise dos resultados desse censo deverá priorizar os trabalhos relacionados à migração, aos deslocamentos espaciais da população indígena em direção aos centros urbanos e, ao mesmo tempo, a sua presença - ou consideração de moradia principal - nas aldeias de origem. 
 
 
 
'''[Agosto/2011]'''
 
<h4>Notas</h4>
 
 
 
<htmltag tagname="a" name="1"></htmltag>¹ Os censos demográficos brasileiros possuem desde sempre dois tipos de questionários: um universal aplicado em todos os domicílios, e outro mais abrangente e completo, incluindo as perguntas que constam do universal, aplicados a uma amostra de domicílios que depende do tamanho do município.== Quantos eram? Quantos serão? ==
 
  
 
'''Marta Azevedo''' '''escreve sobre a recuperação demográfica dos povos indígenas
 
'''Marta Azevedo''' '''escreve sobre a recuperação demográfica dos povos indígenas

Edição das 17h34min de 12 de setembro de 2017

Quantos são? Onde estão?

Foto: diversos autores, veja aqui        

População indígena no Brasil

Quantos são

Estima-se que existam hoje no mundo pelo menos 5 mil povos indígenas, somando mais de 370 milhões de pessoas (IWGIA, 2015). No Brasil, até meados dos anos 70, acreditava-se que o desaparecimento dos povos indígenas seria algo inevitável.

Nos anos 80, verificou-se uma tendência de reversão da curva demográfica e, desde então, a população indígena no país tem crescido de forma constante, indicando uma retomada demográfica por parte da maioria desses povos, embora povos específicos tenham diminuído demograficamente e alguns estejam até ameaçados de extinção. Na listagem de povos indígenas no Brasil elaborada pelo ISA , sete deles têm populações entre 5 e 40 indivíduos.

Dos 271 povos listados, 48 têm parte de sua população residindo em outro(s) país(es). Quando há informações demográficas a respeito, essas parcelas são contabilizadas e apresentadas separadamente, segundo a fonte da informação, e não contam na estimativa global para o Brasil.

Os mais de 240 povos indígenas somam, segundo o Censo IBGE 2010, 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país.

Veja a lista de povos e respectivas populações no Quadro Geral dos Povos

Veja também os especiais do IBGE sobre população indígena:

Onde estão

Os povos indígenas contemporâneos estão espalhados por todo o território brasileiro. Vários desses povos também habitam países vizinhos. No Brasil, a grande maioria das comunidades indígenas vive em terras coletivas, declaradas pelo governo federal para seu usufruto exclusivo.  As chamadas Terras Indígenas (TIs)  somam, hoje, {{#total_area_ti total:1}}.

Nos estados da Amazônia Legal brasileira a população de pessoas indígenas, conforme o Censo IBGE 2010, é de 433.363 (somando os estados Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e Maranhão - desconsiderando que apenas parte do Maranhão é Amazônia Legal, uma vez que os dados divulgados do Censo não possibilitam esse recorte apurado).

O reconhecimento das Terras Indígenas por parte do Estado (processo de demarcação) é um capítulo ainda não encerrado da história brasileira. Muitas delas estão demarcadas e contam com registros em cartórios, outras estão em fase de reconhecimento; há, também, áreas indígenas sem nenhuma regularização. Além disso, diversas TIs estão envolvidas em conflitos e polêmicas.

Quem vive onde

Para saber em quais estados estão os diferentes grupos, pesquise abaixo:


Quantos eram? Quantos serão?

Marta Azevedo escreve sobre a recuperação demográfica dos povos indígenas

Impactos do contato

As estimativas sobre os contingentes populacionais dos povos que habitavam a região que agora denominamos Brasil variam mais de acordo com os interesses políticos de seus autores do que com relação à metodologia adotada. 

"Qualquer estimativa da população global de 1500 terá de levar em conta fatores históricos, tais como efeitos diferenciados das doenças sobre povos distintos e os movimentos espaciais de grupos indígenas em decorrência do contato, entre outros." (Jonh Monteiro. A Dança dos Números, in Tempo e Presença, São Paulo: CEDI, ano 16, n. 273, 1994).

Alguns autores estimam a população indígena no século XVI entre 2 e 4 milhões de pessoas, pertencentes a mais de 1.000 povos diferentes; Darcy Ribeiro afirma que desapareceram mais de 80 povos indígenas somente na primeira metade do século XX, sendo que a população total teria diminuído, de acordo com esse autor, de 1.000.000 para 200.000 pessoas(1). O extermínio de muitos povos indígenas no Brasil por conflitos armados, as epidemias, a desorganização social e cultural são processos de depopulação que não podem ser tratados sem uma análise das características internas e da história de cada uma dessas sociedades. Estudos sobre os diferentes impactos que uma mesma epidemia teve sobre diferentes povos ainda estão por surgir; as relações entre esses povos e diferentes agências indigenistas ou frentes de colonização e seus impactos na dinâmica demográfica de suas populações também não foram ainda estudadas.

A partir de análises demográficas e antropológicas de populações autóctones de diferentes regiões colonizadas pelos europeus, sabe-se que, após um longo período de perdas populacionais causadas por guerras, epidemias e pelos processos de escravização, os povos indígenas iniciam um processo de recuperação demográfica, muitas vezes consciente. Alguns estudos exemplares demonstram essa tendência de recuperação e, portanto, crescimento acelerado dessas populações, quando se tem acesso a fontes de dados com séries históricas.

Recuperação demográfica

Em estimativas feitas por diversos estudiosos, antropólogos, demógrafos ou profissionais de saúde, constata-se que a maioria dos povos indígenas tem crescido, em média, 3,5% ao ano, muito mais do que a média de 1,6% estimada para o período de 1996 a 2000 para a população brasileira em geral.

Estudos sobre a transição demográfica de diferentes povos do mundo inteiro dão conta de que depois da queda da mortalidade, acentuadamente da mortalidade infantil, devida à transição epidemiológica que ocorre com a vacinação dessas populações e com o atendimento mais eficaz e moderno à sua saúde, existe um incremento populacional durante um certo período, que varia de acordo com componentes estruturais de cada sociedade.

Muitos autores apontam as variações no ritmo e perfis da transição demográfica de cada sociedade como produtos de seus sistemas econômicos, e alguns estudos já foram realizados apontando componentes das estruturas sociais, incluindo modelos de casamento e composição familiar, como determinantes dessa dinâmica. Após esse período de incremento populacional começa a queda dos níveis de fecundidade, ou seja a diminuição do número médio de filhos por mulher. Os estudiosos desse tema apontam sem dúvida a urbanização e mudança de status feminino nas sociedades, como variáveis importantes para essa queda. O perfil demográfico de países europeus hoje em dia demonstra que, com a diminuição da mortalidade e queda da fecundidade, passa a existir uma diminuição acentuada no ritmo de crescimento, até o que se tem chamado de suicídio demográfico, quando os níveis de fecundidade de algumas populações ficam abaixo do nível da reposição.

A questão que se coloca hoje em dia para os estudos demográficos de populações indígenas no Brasil é se esses povos estão em fase de crescimento acelerado devido à queda da mortalidade provocada pela melhoria ao atendimento da saúde, mas ainda com a fecundidade estando em níveis muito superiores aos da população não-indígena, ou se esse crescimento é produto realmente de uma recuperação demográfica consciente, ou seja, se as sociedades têm a percepção de que perderam população em um período de sua história recente e estão agora tentanto recuperar essa população.

Estudos de caso

Estudos de caso realizado por antropólogos registram os eventos vitais de uma determinada população durante um período grande de tempo, o que permite algumas análises sobre sua dinâmica populacional.

Os Araweté

No livro Araweté - o povo do Ipixuna, de Eduardo Viveiros de Castro, consta um apêndice com os dados populacionais registrados por indigenistas ou outros desde o tempo do contato com esses índios em 1976. O registros permitem verificar um aumento populacional devido à diminuição da mortalidade, notadamente a infantil, e a um ligeiro aumento da natalidade, que ainda teria que ser melhor demonstrada pela continuação da análise. O que chama atenção é a último quadro, onde o autor tabula os dados dos óbitos pré contato a partir das categorias nativas de causa mortis: doenças; inimigos (desagregado por cada povo com quem os Araweté mantinham guerras), onde estão a maior proporção de mortos e/ou pessoas raptadas ou desaparecidas; espíritos e acidentes. Essa ‘demografia êmica’ permitiria aos índios gerenciar algumas políticas próprias incorporando técnicas demográficas ocidentais.(2)

Em um estudo sobre a dinâmica demográfica de dois povos indígenas - Waiãpi e Enawenê-nawê - procurei demonstrar como se poderia conhecer os diferentes perfis e dinâmicas dessas populações autóctones se tivéssemos, como é o caso dessas duas sociedades, séries históricas de dados sobre nascimentos, mortes, casamentos e migração. Esse estudo foi publicado como pôster, para o X Encontro de Estudos Populacionais da Abep (3), em 1996, e teve como base os dados coletados para população Waiãpi pela Dra. Dominique Gallois e Flora Dias Cabalzar; e para a população Enawenê-Nawê os dados coletados pela equipe da Opan que então trabalhava com esses povos.

Esses povos tiveram contato relativamente recente com a sociedade envolvente, por volta da década de 70, e ambos contam com assistência médica desde os anos 80. A série de dados dos eventos vitais permite levantar algumas hipóteses sobre o futuro dessas populações no que tange ao seu crescimento populacional.

Antes do contato com os colonizadores, os povos indígenas viviam em áreas onde os limites eram dados pelo próprio meio ambiente e pelos outros povos nativos que habitavam áreas contíguas, com os quais faziam guerra ou comércio. Com a presença do estado brasileiro, são demarcados territórios, colocando-os em uma nova situação: a de terem que viver nessa área, com limites conhecidos e demarcados. A partir desse momento, para algumas populações indígenas que tiveram apenas os núcleos habitacionais demarcados como T.I.s (como as que habitam o sul do Brasil) se coloca a questão de como sobreviverem em uma área diminuta com a tecnologia tradicional e um crescente contingente populacional. Já para os povos indígenas da Amazônia, que têm seus territórios demarcados incluindo áreas de exploração dos recursos naturais é preciso pensar o crescimento populacional (que ocorre, em geral, após um decréscimo, logo antes, e após o contato) junto com a tecnologia e o meio ambiente que ocupam, elementos estruturadores de suas culturas.

Evolução da população

Quanto à evolução da população total, a tabela 1 e gráficos 1 e 2 mostram que ambas as populações demonstram um crescimento a partir de 1985, o que se confirma pela evolução do número de nascimentos, possivelmente não só causado pelo aumento do número absoluto, mas também devido à diminuição da mortalidade infantil, proporcionado pelos programas de vacinação com que ambos os povos contam.

Tabela 1 - Evolução das populações totais Enawenê e Waiãpi

 

Enawenê Waiãpi
ano masc. fem. total ano masc. fem. total
 1985  75  82 157  1985  159 149  308
 1987  88  89  177  1987  175 168  343
 1989  94  97  191  1989  190 184  374
 1991  108  107  215  1991  206 200  406
 1993  114  124  238  1993  228 216  444
 1995  128  130  258  1995  239 222  461

 

 

 

Razão de sexo

A razão de sexo - proporção de mulheres e homens em uma dada população, em um determinado ano, nas diferentes faixas etárias -, para as duas populações, mostra que, nas idades mais velhas, a proporção de homens aumenta em relação à de mulheres, embora seja difícil visualizar um padrão, porque ainda é muito pequeno o número absoluto das coortes (ou seja, gerações) acima de 60 anos. Nas primeiras idades, parece que, entre os Enawenê-Nawê, a proporção de mulheres é ligeiramente maior do que entre os Waiãpi. Ver os gráficos 3 e 4:

 

 

 

Parturição

Com relação à parturição o número médio de filhos por mulher é 4, considerando o total da população nos diferentes anos, observado pela média e mediana em ambos os casos. A moda para os Enawenê-Nawê é 2 e para os Waiãpi é 1. Provavelmente, entre esses últimos, a moda é inferior devido ao número de mães jovens com um só filho. Para ambos os povos é mais frequente a mãe ter o primeiro filho entre os 15 e 19 anos, em média. Entre os Enawenê, as mulheres parecem ter o primeiro filho um pouco mais tarde do que entre os Waiãpi, o que se confirma a partir de relatos dos próprios índios, as jovens não casadas fazem uso de contraceptivo (bebida feita de uma planta) para não engravidarem. O mesmo contraceptivo é usado pelas mulheres que não desejam ter mais filhos, de acordo com as informações depois de terem 7 filhos vivos. O número ideal de filhos deve ser 10, já que, de acordo com sua própria percepção sobre a mortalidade infantil, desses 10, apenas 7 sobrevivem.

A parturição tem início na faixa etária de 10 a 14, sendo que a maior proporção de nascimentos ocorre na faixa etária dos 15 aos 19, para ambas as populações. Entre os Waiãpi, se confirma a idade mais jovem ao ter filhos, a proporção de mulheres com 10 a 14 anos tendo filhos é um pouco maior do que entre os Enawenê-Nawê; num segundo trabalho uma padronização por idade deve ser feita para verificação dessa hipótese. Com relação ao intervalo intergenésico, a média e mediana para ambas as populações fica em 3, sendo que a moda é 2 nos dois casos.

Concepções indígenas, estudos acadêmicos e política públicas


Na concepção waiãpi sua população deve crescer ainda mais para ocuparem toda a extensão de seu território, eles dizem que como antes morreram muitos waiãpi agora devem novamente serem muitos. Para os Enawenê-Nawê, parece ser que também têm consciência de seu crescimento populacional, dizem que as mulheres devem ter muitos filhos (10, como número ideal). Para ambos os povos o fato de terem sofridos graves perdas populacionais anteriores ao contato parece estimular o desejo de crescimento, de formas diferentes. O fato de que os territórios são ainda abundantes em recursos naturais para toda a população não os coloca em questão quanto à idéia de continuarem a crescer. A preocupação dos pesquisadores a eles relacionados é quanto à pressão desse crescimento frente ao agora limitado território, e seus recursos.

Esse exemplo de estudo demográfico preliminar procura mostrar, no âmbito deste artigo, os possíveis rendimentos para estudos acadêmicos antropológicos e demográficos, além de outros estudos importantes como análises sobre a interface da dinâmica populacional e a exploração de recursos naturais, bem como para o planejamento de políticas públicas voltadas para essas populações.

Notas

(1) Darcy Ribeiro: “Culturas e Línguas Indígenas do Brasil”, in Educação e Ciências Sociais, 1957.

(2) Eduardo Viveiros de Castro: Araweté - o povo do Ipixuna, São Paulo: CEDI, 1992.

(3) Marta Azevedo, Márcia Pivatto e Isabella Carneiro: “Análise demográfica de duas populações indígenas no Brasil” - X Encontro de Estudos Populacionais, 1996.

 

 

[Dezembro, 2000]