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O assunto é complexo e, a despeito da inadequação do termo, muitas obras indígenas têm impactado a sensibilidade e/ou a curiosidade do “homem branco” desde o século XVI, época em que os europeus aportaram nas terras habitadas pelos ameríndios. Nesse período, objetos confeccionados por esses povos eram colecionados por reis e nobres como espécimes “raros” de culturas “exóticas” e “longínquas”. | O assunto é complexo e, a despeito da inadequação do termo, muitas obras indígenas têm impactado a sensibilidade e/ou a curiosidade do “homem branco” desde o século XVI, época em que os europeus aportaram nas terras habitadas pelos ameríndios. Nesse período, objetos confeccionados por esses povos eram colecionados por reis e nobres como espécimes “raros” de culturas “exóticas” e “longínquas”. | ||
− | Até hoje, uma certa concepção museológica dos artefatos indígenas continua a vigorar no senso comum. Para muitos, essas obras constituem “artesanato”, considerado uma arte menor, cujo artesão apenas repete o mesmo padrão tradicional sem criar nada novo. Tal perspectiva desconsidera que a produção não paira acima do tempo e da dinâmica cultural. Ademais, a plasticidade das obras resulta da confluência de concepções e inquietações coletivas e individuais, apesar de não privilegiar este último aspecto, como ocorre na arte ocidental. Confeccionados para uso cotidiano ou | + | Até hoje, uma certa concepção museológica dos artefatos indígenas continua a vigorar no senso comum. Para muitos, essas obras constituem “artesanato”, considerado uma arte menor, cujo artesão apenas repete o mesmo padrão tradicional sem criar nada novo. Tal perspectiva desconsidera que a produção não paira acima do tempo e da dinâmica cultural. Ademais, a plasticidade das obras resulta da confluência de concepções e inquietações coletivas e individuais, apesar de não privilegiar este último aspecto, como ocorre na arte ocidental. Confeccionados para uso cotidiano ou [[Rituais | ritual]], a produção de elementos decorativos não é indiscriminada, podendo haver restrições de acordo com categorias de sexo, idade e posição social. Exige ainda conhecimentos específicos acerca dos materiais empregados, das ocasiões adequadas para a produção etc. |
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Motivo gráfico que os Bakairi (MT) utilizam na fabricação de uma máscara do ritual yakuygâde.Retangular e entalhada em madeira, a máscara representa espíritos tutores relativos ao mundo aquático. Desenho de Odil Apacano, s/d." width="180"></htmltag></htmltag></div> | Motivo gráfico que os Bakairi (MT) utilizam na fabricação de uma máscara do ritual yakuygâde.Retangular e entalhada em madeira, a máscara representa espíritos tutores relativos ao mundo aquático. Desenho de Odil Apacano, s/d." width="180"></htmltag></htmltag></div> | ||
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<div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286429-1/arte_karaja.jpg" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Vladimir Kozak, s/d. "><htmltag alt="arte_karaja" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286430-3/arte_karaja.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="Esta tatuagem facial faz parte do segundo ritual de iniciação dos Karajá (MT/ TO), que se dá quando a menina está por volta dos 11 anos. Foto: Vladimir Kozak, s/d. " width="180"></htmltag></htmltag></div> | <div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286429-1/arte_karaja.jpg" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Vladimir Kozak, s/d. "><htmltag alt="arte_karaja" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286430-3/arte_karaja.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="Esta tatuagem facial faz parte do segundo ritual de iniciação dos Karajá (MT/ TO), que se dá quando a menina está por volta dos 11 anos. Foto: Vladimir Kozak, s/d. " width="180"></htmltag></htmltag></div> | ||
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<div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286431-1/arte_tikuna.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Jusssara Gruber/1999. "><htmltag alt="arte_tikuna" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286432-3/arte_tikuna.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="Hilda Tomás do Carmo, índia Tikuna (AM), mostra o desenho que representa a “festa da moça nova”. Foto: Jusssara Gruber/1999. " width="180"></htmltag></htmltag></div> | <div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286431-1/arte_tikuna.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Jusssara Gruber/1999. "><htmltag alt="arte_tikuna" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286432-3/arte_tikuna.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="Hilda Tomás do Carmo, índia Tikuna (AM), mostra o desenho que representa a “festa da moça nova”. Foto: Jusssara Gruber/1999. " width="180"></htmltag></htmltag></div> | ||
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<div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286437-1/arte_kadiweu.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935."><htmltag alt="arte_kadiweu" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286438-3/arte_kadiweu.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="Desenhos minuciosos e simétricos, traçados com tinta obtida da mistura do suco do jenipapo com pó de carvão, marcam, até hoje, a pintura corporal dos Kadiwéu. Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935." width="180"></htmltag></htmltag></div> | <div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286437-1/arte_kadiweu.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935."><htmltag alt="arte_kadiweu" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286438-3/arte_kadiweu.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="Desenhos minuciosos e simétricos, traçados com tinta obtida da mistura do suco do jenipapo com pó de carvão, marcam, até hoje, a pintura corporal dos Kadiwéu. Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935." width="180"></htmltag></htmltag></div> | ||
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<div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286443-1/arte_matis.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Philippe Erikson, s/d."><htmltag alt="arte_matis" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286444-3/arte_matis.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="As máscaras dos Matis (AM) representam os espíritos mariwin, cujo papel tradicional é bater nas crianças para estimular sua crença. Foto: Philippe Erikson, s/d." width="180"></htmltag></htmltag></div> | <div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286443-1/arte_matis.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Philippe Erikson, s/d."><htmltag alt="arte_matis" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286444-3/arte_matis.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="As máscaras dos Matis (AM) representam os espíritos mariwin, cujo papel tradicional é bater nas crianças para estimular sua crença. Foto: Philippe Erikson, s/d." width="180"></htmltag></htmltag></div> | ||
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<div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286449-1/arte_baniwa.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Pedro Martinelli, 2000."><htmltag alt="arte_baniwa" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286450-4/arte_baniwa.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="Índio baniwa do alto Içana (Amazonas) coloca etiqueta com a logomarca “arte baniwa” num urutu de arumã, cestaria que é comercializada em São Paulo. Foto: Pedro Martinelli, 2000." width="180"></htmltag></htmltag></div> | <div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286449-1/arte_baniwa.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Pedro Martinelli, 2000."><htmltag alt="arte_baniwa" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286450-4/arte_baniwa.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="Índio baniwa do alto Içana (Amazonas) coloca etiqueta com a logomarca “arte baniwa” num urutu de arumã, cestaria que é comercializada em São Paulo. Foto: Pedro Martinelli, 2000." width="180"></htmltag></htmltag></div> | ||
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<div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286451-1/arte_wayana.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Lúcia Hussak Van Velthen, 1984."><htmltag alt="arte_wayana" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286452-3/arte_wayana.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="A maruana, roda-de-teto com pinturas que representam lagartas sobrenaturais, está presente em todas casas wayana. Desenho de Yeyé. Foto: Lúcia Hussak Van Velthen, 1984." width="180"></htmltag></htmltag></div> | <div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286451-1/arte_wayana.JPG" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Lúcia Hussak Van Velthen, 1984."><htmltag alt="arte_wayana" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286452-3/arte_wayana.JPG?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="A maruana, roda-de-teto com pinturas que representam lagartas sobrenaturais, está presente em todas casas wayana. Desenho de Yeyé. Foto: Lúcia Hussak Van Velthen, 1984." width="180"></htmltag></htmltag></div> | ||
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<div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286455-1/arte_wari.jpg" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Aparecida Vilaça, 1995."><htmltag alt="arte_wari" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286456-3/arte_wari.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="O towa, instrumento de percussão dos Wari´ (RO), é feito de argila revestida de caucho de seringueira. Foto: Aparecida Vilaça, 1995." width="180"></htmltag></htmltag></div> | <div class="side-left"><htmltag href="http://img.socioambiental.org/d/286455-1/arte_wari.jpg" rel="lightbox[g2image]" tagname="a" title="Foto: Aparecida Vilaça, 1995."><htmltag alt="arte_wari" height="180" src="http://img.socioambiental.org/d/286456-3/arte_wari.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" tagname="img" title="O towa, instrumento de percussão dos Wari´ (RO), é feito de argila revestida de caucho de seringueira. Foto: Aparecida Vilaça, 1995." width="180"></htmltag></htmltag></div> | ||
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Edição das 17h24min de 20 de fevereiro de 2018
Artes
O conceito de arte e os índios
Arte é uma categoria criada pelo homem ocidental. E, mesmo no Ocidente, o que deve ou não deve ser considerado arte está longe de ser um consenso. O que não dizer da aplicação desse termo em manifestações plásticas de povos que nem ao menos possuem palavra correspondente em suas respectivas línguas?
O assunto é complexo e, a despeito da inadequação do termo, muitas obras indígenas têm impactado a sensibilidade e/ou a curiosidade do “homem branco” desde o século XVI, época em que os europeus aportaram nas terras habitadas pelos ameríndios. Nesse período, objetos confeccionados por esses povos eram colecionados por reis e nobres como espécimes “raros” de culturas “exóticas” e “longínquas”.
Até hoje, uma certa concepção museológica dos artefatos indígenas continua a vigorar no senso comum. Para muitos, essas obras constituem “artesanato”, considerado uma arte menor, cujo artesão apenas repete o mesmo padrão tradicional sem criar nada novo. Tal perspectiva desconsidera que a produção não paira acima do tempo e da dinâmica cultural. Ademais, a plasticidade das obras resulta da confluência de concepções e inquietações coletivas e individuais, apesar de não privilegiar este último aspecto, como ocorre na arte ocidental. Confeccionados para uso cotidiano ou ritual, a produção de elementos decorativos não é indiscriminada, podendo haver restrições de acordo com categorias de sexo, idade e posição social. Exige ainda conhecimentos específicos acerca dos materiais empregados, das ocasiões adequadas para a produção etc.
As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra e outros materiais conferem singularidade à produção ameríndia, diferenciando-a da arte ocidental, assim como da produção africana ou asiática. Entretanto, não se trata de uma “arte indígena”, e sim de “artes indígenas”, já que cada povo possui particularidades na sua maneira de se expressar e de conferir sentido às suas produções.
Os suportes de tais expressões transcendem as peças exibidas nos museus e feiras (cuias, cestos, cabaças, redes, remos, flechas, bancos, máscaras, esculturas, mantos, cocares...), uma vez que o corpo humano é pintado, escarificado e perfurado; assim como o são construções rochosas, árvores e outras formações naturais; sem contar a presença crucial da dança e da música. Em todos esses casos, a ordem estética está vinculada a outros domínios do pensamento, constituindo meios de comunicação – entre homens e mulheres, entre povos e entre mundos – e modos de conceber, compreender e refletir a ordem social e cosmológica.
Nas relações entre os povos, os artefatos também são objeto de troca, inclusive com o “homem branco”. Ultimamente, o comércio com a sociedade envolvente tem apontado uma alternativa de geração de renda por meio da valorização e divulgação de sua produção cultural.
Outras leituras
Para saber mais sobre o assunto, ver o artigo de Lúcia Hussak van Velthen, “Em outros tempos e nos tempos atuais: arte indígena”, no catálogo Artes Indígenas - Mostra do Redescobrimento, Fundação Bienal de SP (2000), e o livro Grafismo Indígena: Estudos de Antropologia Estética, organizado por Lux Vidal, Edusp/Nobel (2001)
Panorama da diversidade
Motivo gráfico que os Bakairi (MT) utilizam na fabricação de uma máscara do ritual yakuygâde. Retangular e entalhada em madeira, a máscara representa espíritos tutores relativos ao mundo aquático. | |
Esta tatuagem facial faz parte do segundo ritual de iniciação dos Karajá (MT/ TO), que se dá quando a menina está por volta dos 11 anos. | |
Hilda Tomás do Carmo, índia tikuna (AM), mostra o desenho que representa a “festa da moça nova”. | |
A cerâmica Karajá é arte exclusiva das mulheres. | |
Desenhos minuciosos e simétricos, traçados com tinta obtida da mistura do suco do jenipapo com pó de carvão, marcam, até hoje, a pintura corporal dos Kadiwéu. | |
Entre os Kadiwéu (MS), também são as mulheres que decoram a cerâmica. Elas utilizam padrões que seguem um repertório rico, mas fixo, de formas preenchidas com variadas cores. | |
As máscaras Tikuna, que guardam características essenciais do sobrenatural, "dançam" no pátio da aldeia. | |
As máscaras Matis (AM) representam os espíritos mariwin, cujo papel consiste em bater nas crianças com o objetivo de endurecer, disciplinar e torná-las mais ativas e vigorosas. | |
Entre os Xikrin, a qualidade de pintura é considerada atributo inerente à natureza feminina. | |
No ritual de nominação dos Xikrin do Cateté, as meninas são, por meio da pintura corporal e da elaborada arte plumária, literalmente transformadas em pássaros. | |
Índio Baniwa do alto Içana (Amazonas) coloca etiqueta com a logomarca “arte baniwa” num urutu de arumã, cestaria que é comercializada em São Paulo. | |
A maruana, roda-de-teto com pinturas que representam lagartas sobrenaturais, está presente em todas casas Wayana. Desenho de Yeyé. | |
Esta peça de cestaria dos Wayana (PA) guarda o motivo kaikui, a onça pintada que representa simbolicamente os guerreiros. | |
O towa, instrumento de percussão dos Wari´ (RO), é feito de argila revestida de caucho de seringueira. |