De Povos Indígenas no Brasil
Foto: Agência O Globo, 1985

Mudanças entre as edições de "Povo:Kadiwéu"

Autodenominação
Onde estão Quantos são
MS 1413 (Siasi/Sesai, 2014)
Família linguística
Guaikuru
m (Sou um robo e corrigi as imagens. Favor verificar.)
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== A sociedade ancestral ==
 
== A sociedade ancestral ==
<div class="side-left"><htmltag tagname="a" href="http://img.socioambiental.org/d/211576-1/kadiweu_2.jpg" rel="lightbox[g2image]" title="Desenho: J. B. Debret, 1834 "><htmltag tagname="img" width="250" height="250" src="http://img.socioambiental.org/d/211577-6/kadiweu_2.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" alt="kadiweu_2" title="Desenho: J. B. Debret, 1834 " /></htmltag></div>
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|Desenho: J. B. Debret, 1834  
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Também conhecidos como "índios cavaleiros", integrantes da única "horda" sobrevivente dos Mbayá, um ramo dos Guaikurú, guardam a lembrança de um glorioso passado. Organizados numa sociedade que tinha num extremo os nobres e no outro os cativos, viveram do saque e do tributo sobre seus vizinhos, dos quais faziam depender sua própria reprodução biológica, uma vez que suas mulheres não geravam filhos ou permitiam a sobrevivência de apenas um, quando já estavam no final de seu período fértil. Estas mulheres dedicavam-se à pintura corporal e facial, cuja especial disposição dos elementos geométricos Lévi-Strauss considerou como característica das sociedades hierárquicas. Desenhos que impressionam pela riqueza de suas formas e detalhes, a que temos fácil acesso através da vasta coleção recolhida por Darcy Ribeiro, reproduzida no livro que publicou sobre os Kadiwéu.
 
Também conhecidos como "índios cavaleiros", integrantes da única "horda" sobrevivente dos Mbayá, um ramo dos Guaikurú, guardam a lembrança de um glorioso passado. Organizados numa sociedade que tinha num extremo os nobres e no outro os cativos, viveram do saque e do tributo sobre seus vizinhos, dos quais faziam depender sua própria reprodução biológica, uma vez que suas mulheres não geravam filhos ou permitiam a sobrevivência de apenas um, quando já estavam no final de seu período fértil. Estas mulheres dedicavam-se à pintura corporal e facial, cuja especial disposição dos elementos geométricos Lévi-Strauss considerou como característica das sociedades hierárquicas. Desenhos que impressionam pela riqueza de suas formas e detalhes, a que temos fácil acesso através da vasta coleção recolhida por Darcy Ribeiro, reproduzida no livro que publicou sobre os Kadiwéu.
  
 
Os capturados em guerra no passado, preferencialmente crianças e mulheres, eram incluídas nesta sociedade sob uma categoria específica, a de "cativos", ou ''gootagi'' (nossos cativos), no dizer Kadiwéu. Os Guaikurú-Mbayá fizeram cativos de diversos outros povos indígenas, sobretudo aos Xamakôko, habitantes de território paraguaio, sua mais importante fonte. Também fizeram cativos aos brancos, portugueses ou espanhóis, brasileiros ou paraguaios, conforme registrou a crônica histórica e a memória Kadiwéu.
 
Os capturados em guerra no passado, preferencialmente crianças e mulheres, eram incluídas nesta sociedade sob uma categoria específica, a de "cativos", ou ''gootagi'' (nossos cativos), no dizer Kadiwéu. Os Guaikurú-Mbayá fizeram cativos de diversos outros povos indígenas, sobretudo aos Xamakôko, habitantes de território paraguaio, sua mais importante fonte. Também fizeram cativos aos brancos, portugueses ou espanhóis, brasileiros ou paraguaios, conforme registrou a crônica histórica e a memória Kadiwéu.
<div class="side-left"><htmltag tagname="a" title="Foto: Museu do Índio, 1948" rel="lightbox[g2image]" href="http://img.socioambiental.org/d/211579-1/kadiweu_3.jpg"><htmltag tagname="img" width="250" height="250" title="Foto: Museu do Índio, 1948" alt="kadiweu_3" src="http://img.socioambiental.org/d/211580-19/kadiweu_3.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" /></htmltag></div>
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|Foto: Museu do Índio, 1948
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Os Mbayá mantiveram ainda uma outra qualidade de relação, aquela que estabeleceram com os Terena (um subgrupo dos então chamados Guaná ou Txané), sociedade também dividida em estratos. Consentiam o casamento entre seus nobres e as mulheres de alta estirpe Terena, adquirindo, por meio deste, o direito sobre as prestações de serviço, sobretudo produtos agrícolas, advindos da produção deste último povo.
 
Os Mbayá mantiveram ainda uma outra qualidade de relação, aquela que estabeleceram com os Terena (um subgrupo dos então chamados Guaná ou Txané), sociedade também dividida em estratos. Consentiam o casamento entre seus nobres e as mulheres de alta estirpe Terena, adquirindo, por meio deste, o direito sobre as prestações de serviço, sobretudo produtos agrícolas, advindos da produção deste último povo.
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== Língua ==
 
== Língua ==
<div class="side-left"><htmltag tagname="a" href="http://img.socioambiental.org/d/211585-1/kadiweu_5.jpg" rel="lightbox[g2image]" title="Ceramista kadiwéu. Foto: Mônica Pechincha, 1992"><htmltag tagname="img" width="250" height="250" src="http://img.socioambiental.org/d/211586-19/kadiweu_5.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" alt="kadiweu_5" title="Ceramista kadiwéu. Foto: Mônica Pechincha, 1992" /></htmltag></div>
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|Ceramista kadiwéu. Foto: Mônica Pechincha, 1992
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Os Kadiwéu pertencem à família lingüística Guaikurú, na qual se incluem outros povos do Chaco, que são os Toba (Paraguai e Argentina), os Emók, ou Toba-Mirí (Paraguai), os Mocoví (Argentina), os Abipón (extintos) e os Payaguá (extintos). Dentre estes grupos Guaikurú, os Kadiwéu são os mais setentrionais e o único localizado a leste do rio Paraguai, no Brasil. Alguns velhos, mulheres e sobretudo as crianças falam apenas o Kadiwéu. Um bom número dentre os Kadiwéu, contudo, se comunica com facilidade em português. Há, na língua Kadiwéu, muitas diferenças entre as falas masculina e feminina. É interessante notar que os descendentes de Terena que vivem entre os Kadiwéu usam apenas o português para se comunicar na aldeia (não usam a língua Terena nem entre si). Entretanto, mesmo que não falem, entendem perfeitamente o Kadiwéu, pois é nesta última língua que são interpelados.
 
Os Kadiwéu pertencem à família lingüística Guaikurú, na qual se incluem outros povos do Chaco, que são os Toba (Paraguai e Argentina), os Emók, ou Toba-Mirí (Paraguai), os Mocoví (Argentina), os Abipón (extintos) e os Payaguá (extintos). Dentre estes grupos Guaikurú, os Kadiwéu são os mais setentrionais e o único localizado a leste do rio Paraguai, no Brasil. Alguns velhos, mulheres e sobretudo as crianças falam apenas o Kadiwéu. Um bom número dentre os Kadiwéu, contudo, se comunica com facilidade em português. Há, na língua Kadiwéu, muitas diferenças entre as falas masculina e feminina. É interessante notar que os descendentes de Terena que vivem entre os Kadiwéu usam apenas o português para se comunicar na aldeia (não usam a língua Terena nem entre si). Entretanto, mesmo que não falem, entendem perfeitamente o Kadiwéu, pois é nesta última língua que são interpelados.
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== Arte ==
 
== Arte ==
<div class="side-left"><htmltag tagname="a" href="http://img.socioambiental.org/d/211638-1/kadiweu_10.jpg" rel="lightbox[g2image]" title="Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935"><htmltag tagname="img" width="250" height="250" src="http://img.socioambiental.org/d/211639-17/kadiweu_10.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" alt="kadiweu_10" title="Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935" /></htmltag></div>
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|Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935
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Os finos desenhos corporais realizados pelos Kadiwéu constituem-se em uma forma notável da expressão de sua arte. Hábeis desenhistas estampam rostos com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com a tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com pó de carvão, aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara. No passado, a pintura corporal marcava a diferença entre nobres, guerreiros e cativos.
 
Os finos desenhos corporais realizados pelos Kadiwéu constituem-se em uma forma notável da expressão de sua arte. Hábeis desenhistas estampam rostos com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com a tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com pó de carvão, aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara. No passado, a pintura corporal marcava a diferença entre nobres, guerreiros e cativos.
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== Narrativas ==
 
== Narrativas ==
<div class="side-left"><htmltag tagname="a" title="Desenhos publicados em VIDAL, Lux (org.). Grafismo Indígena. Studio Nobel, Fapesp, Edusp, SP, 1992" rel="lightbox[g2image]" href="http://img.socioambiental.org/d/211644-1/kadiweu_12.jpg"><htmltag tagname="img" width="250" height="250" title="Desenhos publicados em VIDAL, Lux (org.). Grafismo Indígena. Studio Nobel, Fapesp, Edusp, SP, 1992" alt="kadiweu_12" src="http://img.socioambiental.org/d/211645-17/kadiweu_12.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" /></htmltag></div>
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|Desenhos publicados em VIDAL, Lux (org.). Grafismo Indígena. Studio Nobel, Fapesp, Edusp, SP, 1992
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A sociedade Kadiwéu teve na guerra de captura o fundamento de sua organização. A memória da guerra é bastante presente e acionada sempre nos discursos de auto-definição, bem como fonte de recursos a serem usados na sua relação atual com a sociedade nacional. O ideal do guerreiro é fonte de valores que ainda norteiam as suas práticas. Vários mitos Kadiwéu fazem menção aos ''Godapoagenigi'', aqueles guerreiros que se sobressaíam por sua coragem e força física. Dentre as narrativas que ouvi de seu rico repertório, os Kadiwéu distinguem pelo menos duas classes. A uma delas chamam de "histórias de admirar", ou "histórias que fazem milagres", "histórias sagradas", mais próximas da categoria de mitos propriamente ditos. Outra classe seria a das "histórias que aconteceram mesmo", que se apresentam como "descrição histórica" de eventos tais como as guerras do passado.
 
A sociedade Kadiwéu teve na guerra de captura o fundamento de sua organização. A memória da guerra é bastante presente e acionada sempre nos discursos de auto-definição, bem como fonte de recursos a serem usados na sua relação atual com a sociedade nacional. O ideal do guerreiro é fonte de valores que ainda norteiam as suas práticas. Vários mitos Kadiwéu fazem menção aos ''Godapoagenigi'', aqueles guerreiros que se sobressaíam por sua coragem e força física. Dentre as narrativas que ouvi de seu rico repertório, os Kadiwéu distinguem pelo menos duas classes. A uma delas chamam de "histórias de admirar", ou "histórias que fazem milagres", "histórias sagradas", mais próximas da categoria de mitos propriamente ditos. Outra classe seria a das "histórias que aconteceram mesmo", que se apresentam como "descrição histórica" de eventos tais como as guerras do passado.
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== Ritos ==
 
== Ritos ==
<div class="side-left"><htmltag tagname="a" title="Bobos, ritual do navio. Foto: Mônica Pechincha, 1992" rel="lightbox[g2image]" href="http://img.socioambiental.org/d/211654-3/kadiweu_15.jpg"><htmltag tagname="img" width="250" height="250" title="Bobos, ritual do navio. Foto: Mônica Pechincha, 1992" alt="kadiweu_15" src="http://img.socioambiental.org/d/211655-5/kadiweu_15.jpg?g2_GALLERYSID=TMP_SESSION_ID_DI_NOISSES_PMT" /></htmltag></div>
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|Bobos, ritual do navio. Foto: Mônica Pechincha, 1992
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O indivíduo Kadiwéu recebe um nome por ocasião de seu nascimento e quando da morte de um parente. Durante os ritos funerários, os parentes do morto têm seus cabelos cortados. Aquele que corta o cabelo em sinal de luto é chamado ''okojege''. As mulheres velhas, conhecedoras destes ritos, se reúnem durante o funeral para decidir o nome mais adequado para o enlutado. Quando se perde um parente próximo é também possível adotar alguma outra pessoa (independentemente da idade, do sexo e do grau ou mesmo da existência de parentesco) para preencher a falta do morto. Um parente adotado nestas circunstâncias é chamado ''godokogenigi''. A este também se dá um novo nome e se lhe corta os cabelos. Há ainda uma outra forma de se estabelecer um parentesco "de consideração". É através da relação entre ''imedi'' (ou ''imeeti'', no caso das mulheres, palavra traduzida como "amigo/a"). Duas famílias podem acertar fazer ''imedi'' um filho de cada uma, os quais estabeleceriam entre si uma relação de irmãos e as atitudes que lhes são peculiares. Os descendentes de dois ''imedi'' seriam ''imedi'' entre si.
 
O indivíduo Kadiwéu recebe um nome por ocasião de seu nascimento e quando da morte de um parente. Durante os ritos funerários, os parentes do morto têm seus cabelos cortados. Aquele que corta o cabelo em sinal de luto é chamado ''okojege''. As mulheres velhas, conhecedoras destes ritos, se reúnem durante o funeral para decidir o nome mais adequado para o enlutado. Quando se perde um parente próximo é também possível adotar alguma outra pessoa (independentemente da idade, do sexo e do grau ou mesmo da existência de parentesco) para preencher a falta do morto. Um parente adotado nestas circunstâncias é chamado ''godokogenigi''. A este também se dá um novo nome e se lhe corta os cabelos. Há ainda uma outra forma de se estabelecer um parentesco "de consideração". É através da relação entre ''imedi'' (ou ''imeeti'', no caso das mulheres, palavra traduzida como "amigo/a"). Duas famílias podem acertar fazer ''imedi'' um filho de cada uma, os quais estabeleceriam entre si uma relação de irmãos e as atitudes que lhes são peculiares. Os descendentes de dois ''imedi'' seriam ''imedi'' entre si.
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    <li>BEHR, Miguel von. Os Cadiueu. In: BEHR, Miguel von. Serra da Bodoquena : história, cultura, natureza. Campo Grande : Free, 2001. p. 53-61.</li>
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<li>BEHR, Miguel von. Os Cadiueu. In: BEHR, Miguel von. Serra da Bodoquena : história, cultura, natureza. Campo Grande : Free, 2001. p. 53-61.</li>
 
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    <li>BOGGIANI, G. Os Caduveos. Belo Horizonte : Itatiaia, 1975.</li>
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<li>BOGGIANI, G. Os Caduveos. Belo Horizonte : Itatiaia, 1975.</li>
 
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    <li>BRAGGIO, Silvia Lúcia Bigonjal. Aspectos fonológicos e morfológicos do kadiwéu. Campinas : Unicamp, 1981. (Dissertação de Mestrado)</li>
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<li>BRAGGIO, Silvia Lúcia Bigonjal. Aspectos fonológicos e morfológicos do kadiwéu. Campinas : Unicamp, 1981. (Dissertação de Mestrado)</li>
 
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    <li>CACERES, Luiz d’Albuquerque de Mello Pereira e. Exploração do Rio Paraguay e Primeiras Práticas com os índios Guaikurús. Rev. Trimensal do Instituto Histórico Geográfico e Ethnographico do Brasil, s.l. : IHGEB, v. 28, p. 70-117, 1865.</li>
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<li>CACERES, Luiz d’Albuquerque de Mello Pereira e. Exploração do Rio Paraguay e Primeiras Práticas com os índios Guaikurús. Rev. Trimensal do Instituto Histórico Geográfico e Ethnographico do Brasil, s.l. : IHGEB, v. 28, p. 70-117, 1865.</li>
 
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    <li>CASTELNAU, Francis. Expedição às Regiões Centrais da América do Sul. v. 2. São Paulo : Cia. Ed. Nacional, 1949.</li>
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<li>CASTELNAU, Francis. Expedição às Regiões Centrais da América do Sul. v. 2. São Paulo : Cia. Ed. Nacional, 1949.</li>
 
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    <li>D’ALINCOURT, Luiz. Reflexões sobre o systema que se deve adoptar na fronteira do Paraguay, em conseqüência da revolta e dos insultos praticados ultimamente pela nação dos Índios Guaicurus ou cavalleiros. Rev. Inst. Hist. Geogr. Bras., s.l. : IHGB, v. 20, p. 360-5, 1857.
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<li>D’ALINCOURT, Luiz. Reflexões sobre o systema que se deve adoptar na fronteira do Paraguay, em conseqüência da revolta e dos insultos praticados ultimamente pela nação dos Índios Guaicurus ou cavalleiros. Rev. Inst. Hist. Geogr. Bras., s.l. : IHGB, v. 20, p. 360-5, 1857.
 
      </li>
 
      </li>
    <li>FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Rio de Janeiro : Conselho Federal de Cultura, 1974. 162 p.</li>
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<li>FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Rio de Janeiro : Conselho Federal de Cultura, 1974. 162 p.</li>
    <li>--------. A Gruta do Inferno. Rev. Trim. Hist. Geogr., s.l. : s.ed., n. 4, p. 360-5, 1842</li>
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<li>--------. A Gruta do Inferno. Rev. Trim. Hist. Geogr., s.l. : s.ed., n. 4, p. 360-5, 1842</li>
    <li>FRIC, Pavel; FRICOVA, Yvonna (Orgs.). Guido Boggiani Fotógrafo. Praga : Nakladatelstvi Titanic, 1997. 139 p.</li>
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<li>FRIC, Pavel; FRICOVA, Yvonna (Orgs.). Guido Boggiani Fotógrafo. Praga : Nakladatelstvi Titanic, 1997. 139 p.</li>
 
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<ul>
    <li>GENTILE, Brigidena (1984). I Caduvei tra mito e stória : la conservazione di un modello di comportamento da parte di una popolazione del Mato Grosso del Sud, Brasile. Roma : Universitá degli Studi, 1984. (Tese de Doutorado)</li>
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<li>GENTILE, Brigidena (1984). I Caduvei tra mito e stória : la conservazione di un modello di comportamento da parte di una popolazione del Mato Grosso del Sud, Brasile. Roma : Universitá degli Studi, 1984. (Tese de Doutorado)</li>
 
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    <li>GRIFFTHS, Glyn. Gramática Pedagógica Kadiwéu. Brasília : SIL, 1986</li>
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<li>GRIFFTHS, Glyn. Gramática Pedagógica Kadiwéu. Brasília : SIL, 1986</li>
 
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<ul>
    <li>KOLLER LECZNIESKI, Lisiane - 2005. Estranhos Laços: predação e cuidado entre os Kadiwéu, Tese de doutoramento em antropologia social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.</li>
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<li>KOLLER LECZNIESKI, Lisiane - 2005. Estranhos Laços: predação e cuidado entre os Kadiwéu, Tese de doutoramento em antropologia social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.</li>
    <li>LÉVI-STRAUSS, Claude . Saudades do Brasil. São Paulo : Companhia das Letras, 1994. 227 p.</li>
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<li>LÉVI-STRAUSS, Claude . Saudades do Brasil. São Paulo : Companhia das Letras, 1994. 227 p.</li>
    <li>--------. Tristes Trópicos. São Paulo : Companhia das Letras, 1996.</li>
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<li>--------. Tristes Trópicos. São Paulo : Companhia das Letras, 1996.</li>
    <li>MANGOLIM, Olívio. Povos indígenas no Mato Grosso do Sul : viveremos por mais 500 anos. Campo Grande : Cimi-MS, 1993. 120 p.</li>
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<li>MANGOLIM, Olívio. Povos indígenas no Mato Grosso do Sul : viveremos por mais 500 anos. Campo Grande : Cimi-MS, 1993. 120 p.</li>
 
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<ul>
    <li>MÉTRAUX, Alfred. Ethnografy of the Chaco. In: STEWARD, Julian H. (Ed.). Handbook of South American Indians. v. 1. New York : Cooper Square Publishers, 1963. p. 197-370.</li>
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<li>MÉTRAUX, Alfred. Ethnografy of the Chaco. In: STEWARD, Julian H. (Ed.). Handbook of South American Indians. v. 1. New York : Cooper Square Publishers, 1963. p. 197-370.</li>
 
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    <li>OBERG, Kalervo. The Terena and the Caduveo of Southern Mato Grosso, Brazil. Washington : Smithsonian Institution, 1949. (Institute of Social Anthropology, Publication, 9).</li>
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<li>OBERG, Kalervo. The Terena and the Caduveo of Southern Mato Grosso, Brazil. Washington : Smithsonian Institution, 1949. (Institute of Social Anthropology, Publication, 9).</li>
 
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    <li>OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Do Índio ao Bugre. Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1976.</li>
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<li>OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Do Índio ao Bugre. Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1976.</li>
 
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    <li>PADILHA, Solange. A arte como trama do mundo : corpo, grafismo e cerâmica Kadiweu. São Paulo : PUC, 1996. 218 p. (Dissertação de Mestrado)</li>
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<li>PADILHA, Solange. A arte como trama do mundo : corpo, grafismo e cerâmica Kadiweu. São Paulo : PUC, 1996. 218 p. (Dissertação de Mestrado)</li>
 
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</ul>
 
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<ul>
    <li>PECHINCHA, Mônica Thereza Soares. Histórias de admirar : mito, rito e história Kadiwéu. Brasília : UnB, 1994. 148 p. (Dissertação de Mestrado)</li>
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<li>PECHINCHA, Mônica Thereza Soares. Histórias de admirar : mito, rito e história Kadiwéu. Brasília : UnB, 1994. 148 p. (Dissertação de Mestrado)</li>
 
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    <li>PRADO, Francisco Rodrigues do. História dos índios Cavalleiros ou da Nação Guaycurú, Rev. Inst. Hist. Geogr. Brasil., s.l. : IHGB, v. 1, p. 25-57, 1939.</li>
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<li>PRADO, Francisco Rodrigues do. História dos índios Cavalleiros ou da Nação Guaycurú, Rev. Inst. Hist. Geogr. Brasil., s.l. : IHGB, v. 1, p. 25-57, 1939.</li>
    <li>RIBEIRO, Darcy. A arte dos índios Kadiwéu. Rev. Cultura, s.l. : Min. da Ed. e Saude, s.n., p. 147-90, s.d.</li>
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<li>RIBEIRO, Darcy. A arte dos índios Kadiwéu. Rev. Cultura, s.l. : Min. da Ed. e Saude, s.n., p. 147-90, s.d.</li>
    <li>--------. Kadiwéu : ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza. Petrópolis : Vozes, 1980.</li>
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<li>--------. Kadiwéu : ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza. Petrópolis : Vozes, 1980.</li>
 
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    <li>--------. Religião e mitologia Kadiwéu. Rio de Janeiro : SPI, 1950. 237 p.</li>
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<li>--------. Religião e mitologia Kadiwéu. Rio de Janeiro : SPI, 1950. 237 p.</li>
 
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<ul>
 
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    <li>--------. Sistema familial Kadiwéu. Rev. do Museu Paulista, São Paulo : Museu Paulista, v. 2, n.s., p. 175-92, 1948.</li>
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<li>--------. Sistema familial Kadiwéu. Rev. do Museu Paulista, São Paulo : Museu Paulista, v. 2, n.s., p. 175-92, 1948.</li>
    <li>RIBEIRO, José Hamilton. A vingança do índio cavaleiro. São Paulo : Moderna, 1995. 72 p. </li>
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<li>RIBEIRO, José Hamilton. A vingança do índio cavaleiro. São Paulo : Moderna, 1995. 72 p. </li>
 
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<ul>
 
<ul>
    <li>RIVASSAU, Emílio. A Vida dos Índios Guaycurús, São Paulo : Cia. Ed. Nacional, 1936.</li>
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<li>RIVASSAU, Emílio. A Vida dos Índios Guaycurús, São Paulo : Cia. Ed. Nacional, 1936.</li>
 
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    <li>ROHAN, Henrique de Beaupaire. De Cuiabá ao Rio de Janeiro pelo Paraguai, Corrientes, Rio grande do Sul e Santa Catarina, Rev. Inst. Hist. Geogr. Brasil., s.l. : IHGB, v. 9, p. 376-97, 1869.</li>
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<li>ROHAN, Henrique de Beaupaire. De Cuiabá ao Rio de Janeiro pelo Paraguai, Corrientes, Rio grande do Sul e Santa Catarina, Rev. Inst. Hist. Geogr. Brasil., s.l. : IHGB, v. 9, p. 376-97, 1869.</li>
 
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    <li>SANCHEZ-LABRADOR, José. El Paraguay Católico. 2 v. Buenos Aires : Imprenta de Coni Hermanos, 1910.</li>
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<li>SANCHEZ-LABRADOR, José. El Paraguay Católico. 2 v. Buenos Aires : Imprenta de Coni Hermanos, 1910.</li>
 
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    <li>SANDALO, Filomena. A grammar of Kadiweu : with special reference to the polysynthesis parameter. Cambridge : MTIWP, 1997. 137 p. (MIT Occasional Papers in Linguistics, 11)</li>
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<li>SANDALO, Filomena. A grammar of Kadiweu : with special reference to the polysynthesis parameter. Cambridge : MTIWP, 1997. 137 p. (MIT Occasional Papers in Linguistics, 11)</li>
 
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    <li>SCHMÍDEL, U. Viaje al Rio de La Plata. Buenos Aires : Cabaut y Cia. Ed., 1903.</li>
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<li>SCHMÍDEL, U. Viaje al Rio de La Plata. Buenos Aires : Cabaut y Cia. Ed., 1903.</li>
 
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    <li>SERRA, Ricardo Franco de Almeida. Parecer sobre o aldeamento dos índios Uaicurus e Guanás com a descripção dos seus usos, religião, estabilidade e costumes. Rev. Inst. Hist. Geogr. Brasil., s.l. : IHGB, v. 7, p. 204-18, 1845.
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<li>SERRA, Ricardo Franco de Almeida. Parecer sobre o aldeamento dos índios Uaicurus e Guanás com a descripção dos seus usos, religião, estabilidade e costumes. Rev. Inst. Hist. Geogr. Brasil., s.l. : IHGB, v. 7, p. 204-18, 1845.
 
     --------. Continuação do parecer sobre os índios Uaicurús e Guanás. Rev. Inst. Hist. Geogr. Brasil., s.l. : IHGB, v. 13, p. 348-95, 1850.</li>
 
     --------. Continuação do parecer sobre os índios Uaicurús e Guanás. Rev. Inst. Hist. Geogr. Brasil., s.l. : IHGB, v. 13, p. 348-95, 1850.</li>
    <li>SIQUEIRA JÚNIOR, Jaime Garcia. Arte e técnicas Kadiwéu. São Paulo : Secretaria Municipal de Cultura, 1992. 125 p.</li>
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<li>SIQUEIRA JÚNIOR, Jaime Garcia. Arte e técnicas Kadiwéu. São Paulo : Secretaria Municipal de Cultura, 1992. 125 p.</li>
    <li>--------. “Esse campo custou o sangue dos nossos avós” : a construção do tempo e espaço Kadiwéu. São Paulo : USP, 1993. 290 p. (Dissertação de Mestrado)</li>
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<li>--------. “Esse campo custou o sangue dos nossos avós” : a construção do tempo e espaço Kadiwéu. São Paulo : USP, 1993. 290 p. (Dissertação de Mestrado)</li>
 
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    <li>--------. Kadiwéu : as dificuldades da gestão direta dos arrendamentos. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1987/88/89/90. São Paulo : Cedi, 1991. p. 538-42. (Aconteceu Especial, 18)</li>
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<li>--------. Kadiwéu : as dificuldades da gestão direta dos arrendamentos. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1987/88/89/90. São Paulo : Cedi, 1991. p. 538-42. (Aconteceu Especial, 18)</li>
    <li>TAUNAY, Alfred d’Escragnole. Entre Nossos Índios. São Paulo : Melhoramentos, 1923.
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<li>TAUNAY, Alfred d’Escragnole. Entre Nossos Índios. São Paulo : Melhoramentos, 1923.
 
     --------. A Retirada da Laguna. São Paulo : Melhoramentos, 1963.</li>
 
     --------. A Retirada da Laguna. São Paulo : Melhoramentos, 1963.</li>
 
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    <li>VINHA, Marina. Memórias do guerreiro, sonhos do atleta : jogos tradicionais e esporte entre jovens Kadiwéu. Campinas : Unicamp, 1999. (Dissertação de Mestrado)</li>
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<li>VINHA, Marina. Memórias do guerreiro, sonhos do atleta : jogos tradicionais e esporte entre jovens Kadiwéu. Campinas : Unicamp, 1999. (Dissertação de Mestrado)</li>
 
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    <li>WILBERT, Johannes; SIMONEAU, Karin (Eds.). Folk literature of the Caduveo indians. Los Angeles : Univ. of California, 1987. 214 p. (Ucla Latin American Studies, 71)</li>
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<li>WILBERT, Johannes; SIMONEAU, Karin (Eds.). Folk literature of the Caduveo indians. Los Angeles : Univ. of California, 1987. 214 p. (Ucla Latin American Studies, 71)</li>
 
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    <li>A propos de tristes tropiques. Dir.: Jorge Bodansky; Patrick Menget. Vídeo Cor, U-Matic, 50 min., 1991. Prod.: Yves Billon; Les Filmes du Village</li>
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<li>A propos de tristes tropiques. Dir.: Jorge Bodansky; Patrick Menget. Vídeo Cor, U-Matic, 50 min., 1991. Prod.: Yves Billon; Les Filmes du Village</li>
 
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Edição das 13h19min de 19 de outubro de 2017

Introdução

Os Kadiwéu, conhecidos como "índios cavaleiros", por sua destreza na montaria, guardam em sua mitologia, na arte e em seus rituais o modo de ser de uma sociedade hierarquizada entre senhores e cativos. Guerreiros, lutaram pelo Brasil na Guerra do Paraguai, razão pela qual, como contam, tiveram suas terras reconhecidas.

A sociedade ancestral

Desenho: J. B. Debret, 1834
Desenho: J. B. Debret, 1834

Também conhecidos como "índios cavaleiros", integrantes da única "horda" sobrevivente dos Mbayá, um ramo dos Guaikurú, guardam a lembrança de um glorioso passado. Organizados numa sociedade que tinha num extremo os nobres e no outro os cativos, viveram do saque e do tributo sobre seus vizinhos, dos quais faziam depender sua própria reprodução biológica, uma vez que suas mulheres não geravam filhos ou permitiam a sobrevivência de apenas um, quando já estavam no final de seu período fértil. Estas mulheres dedicavam-se à pintura corporal e facial, cuja especial disposição dos elementos geométricos Lévi-Strauss considerou como característica das sociedades hierárquicas. Desenhos que impressionam pela riqueza de suas formas e detalhes, a que temos fácil acesso através da vasta coleção recolhida por Darcy Ribeiro, reproduzida no livro que publicou sobre os Kadiwéu.

Os capturados em guerra no passado, preferencialmente crianças e mulheres, eram incluídas nesta sociedade sob uma categoria específica, a de "cativos", ou gootagi (nossos cativos), no dizer Kadiwéu. Os Guaikurú-Mbayá fizeram cativos de diversos outros povos indígenas, sobretudo aos Xamakôko, habitantes de território paraguaio, sua mais importante fonte. Também fizeram cativos aos brancos, portugueses ou espanhóis, brasileiros ou paraguaios, conforme registrou a crônica histórica e a memória Kadiwéu.

Foto: Museu do Índio, 1948
Foto: Museu do Índio, 1948

Os Mbayá mantiveram ainda uma outra qualidade de relação, aquela que estabeleceram com os Terena (um subgrupo dos então chamados Guaná ou Txané), sociedade também dividida em estratos. Consentiam o casamento entre seus nobres e as mulheres de alta estirpe Terena, adquirindo, por meio deste, o direito sobre as prestações de serviço, sobretudo produtos agrícolas, advindos da produção deste último povo.

Na Guerra do Paraguai, escolheram lutar pelo Brasil, razão pela qual tiveram suas terras reconhecidas, embora até hoje não estejam inteiramente garantidas. A adoção de um vestuário "country" pelos homens Kadiwéu da atualidade revela seu apego a um modo de vida apoiado no uso e criação de cavalos, de que ainda mantêm rebanhos, embora bem menores que os do passado.


Língua

Ceramista kadiwéu. Foto: Mônica Pechincha, 1992
Ceramista kadiwéu. Foto: Mônica Pechincha, 1992

Os Kadiwéu pertencem à família lingüística Guaikurú, na qual se incluem outros povos do Chaco, que são os Toba (Paraguai e Argentina), os Emók, ou Toba-Mirí (Paraguai), os Mocoví (Argentina), os Abipón (extintos) e os Payaguá (extintos). Dentre estes grupos Guaikurú, os Kadiwéu são os mais setentrionais e o único localizado a leste do rio Paraguai, no Brasil. Alguns velhos, mulheres e sobretudo as crianças falam apenas o Kadiwéu. Um bom número dentre os Kadiwéu, contudo, se comunica com facilidade em português. Há, na língua Kadiwéu, muitas diferenças entre as falas masculina e feminina. É interessante notar que os descendentes de Terena que vivem entre os Kadiwéu usam apenas o português para se comunicar na aldeia (não usam a língua Terena nem entre si). Entretanto, mesmo que não falem, entendem perfeitamente o Kadiwéu, pois é nesta última língua que são interpelados.


Localização

Os espanhóis colonizadores chamaram de Mbayá (termo provavelmente de origem Tupi) aos Guaikurú (nome também de origem Tupi) dos quais descendem os Kadiwéu. Com origem no lado ocidental do rio Paraguai, parte dos Mbayá atravessou, no século XVII, para a banda oriental. Com a pressão das frentes colonizadoras, deslocaram-se mais para o norte e os que ainda não tinham migrado para leste do rio o fizeram no final do século XVIII. Nessa época, o seu território estendia-se das serras que separam os rios Paraná e Paraguai até mais além da latitude de 18° sul.

Os Mbayá dividiam-se em diversas hordas, cada uma com um nome específico que se associava a acidentes naturais dos locais que habitavam. Uma delas, a dos Cadiguegodis, tinha, no século XVIII, o seu território banhado por um riacho que os índios chamavam de Cadigugi. Tudo indica que esta última horda seja a dos ancestrais dos Kadiwéu atuais. A horda dos Kadiwéu foi a última a migrar para o lado oriental do rio Paraguai, e era a única sobrevivente já na segunda metade do século XIX.

Os Kadiwéu, que a literatura histórica uma vez chamou de "os índios cavaleiros", por sua condição de possuidores de um vasto rebanho eqüino e sua admirável destreza na montaria, vivem hoje em território localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, em terras em parte incidentes no Pantanal matogrossense. O seu território tem como limites naturais a oeste os rios Paraguai e Nabileque, a leste a Serra da Bodoquena, ao norte o rio Naitaca e ao sul o rio Aquidaban. Dentro deste território, a população Kadiwéu se divide entre quatro aldeias. A aldeia maior, Bodoquena, localiza-se no nordeste da Terra Indígena, ao pé da Serra da Bodoquena, vizinha à aldeia Campina, que fica já no alto daquela serra. A aldeia Tomázia localiza-se no sul da Terra Indígena. Também no sul encontra-se a aldeia São João. Habitam esta última aldeia principalmente índios Terêna e remanescentes de Kinikináo. Algumas famílias Kadiwéu vivem ainda em pequenos grupos, em localidades no interior da Terra Indígena mais afastadas das aldeias principais, onde criam pequeno gado.

A Terra Indígena Kadiwéu está no município de Porto Murtinho. Bodoquena é a cidade mais próxima da aldeia maior (60 km), seguida de Miranda e Aquidauana. Campo Grande (310 km) é o centro urbano de maior importância estratégico-administrativa para os Kadiwéu. Ali está sediada a administração da FUNAI que os jurisdiciona, a associação dos fazendeiros arrendatários (ACRIVAN - Associação dos Criadores do Vale do Aquidaban e Nabileque) e a ACIRK (Associação das Comunidades Indígenas da Reserva Kadiwéu).


Demografia

Os dados da Funai apontam como sendo, em 1999, de 1.041 o total da população Kadiwéu sob a jurisdição do Posto Indígena Bodoquena (que abrange as aldeias Bodoquena e Campina), sediado na aldeia de mesmo nome. A população referente ao Posto Indígena São João, que abrange as aldeias São João e Tomázia, seria de 551, segundo a mesma fonte e data. Cabe notar que, como já foi aludido acima, na aldeia São João vivem principalmente índios Terena e Kinikináo. Por conseguinte, a população total de 1.592 em 1999 corresponde aos índios destas três etnias que habitam a Terra Indígena Kadiwéu e inclui também os Kadiwéu que moram fora dela, de proveniência daquelas aldeias.

Não contávamos, até essa data, com outro censo atual da população Kadiwéu que não este da FUNAI, que, entretanto, não relacionava em separado as etnias habitantes do Posto Indígena São João, o que impossibilitava o cálculo total da população Kadiwéu. Segundo dados da Funasa mais atuais, em 2006 os Kadiwéu somavam 1.629 pessoas. Em 1992, época da pesquisa de Mônica Thereza Pechincha, viviam 633 Kadiwéu na aldeia Bodoquena, 39 na aldeia Campina, 60 na aldeia Tomázia e 67 em outras localidades no interior da Terra Indígena, além da aldeia São João, que, na época, contava com 170 habitantes. Para fins de observação do crescimento demográfico, apresento ainda dados de 1995, recolhidos na Administração Regional de Campo Grande, da FUNAI, que indicam como sendo 951 o número da população do Posto Indígena Bodoquena, e 388 o do Posto Indígena São João.


Histórico do contato

A primeira notícia que se tem dos Guaikurú data do século XVI, proveniente de uma expedição européia que adentrou a região chaquenha à procura de metais preciosos no interior do continente. Muitos grupos Mbayá estiveram sob a influência de reduções missionárias a partir do século XVIII. No mesmo século e no início do seguinte, o contato com as frentes colonizadoras se intensificou com o estabelecimento de fortes militares estabelecidos pelo curso do rio Paraguai, seja de portugueses ou espanhóis, que se debatiam pela definição de fronteiras. As cidades fundadas na região fizeram parte do cenário de sua história, muitas vezes de conflito. Ou de acordo, como o celebrado em 1779 entre os Mbayá e os espanhóis, e o firmado em 1791, com os portugueses.

Um marco de peso na história do contato com a sociedade nacional, recordado com orgulho e insistência, foi a participação dos Kadiwéu na Guerra do Paraguai. Esta participação rendeu o seu registro em inúmeras narrativas históricas que lembram detalhes do evento e um desempenho heróico guardado com cuidado. Contam os Kadiwéu sua fundamental participação naquela guerra, quando lutaram em favor dos brasileiros e ganharam como recompensa o território que até hoje habitam. É aí que buscam o argumento mais eficaz de sua posse incontestável, mas sempre ameaçada.

A Terra Indígena Kadiwéu esteve sujeita a um primeiro reconhecimento oficial no início do século, por ato do Governo do Estado do Mato Grosso. Houve demarcação em 1900 e expedição de decreto em 1903, que já estabelecia como limites naturais os mesmos atuais acima mencionados. Em 9 de abril de 1931, o decreto n° 54 ratificou estes limites. Mas os problemas fundiários foram uma constante em sua história e os Kadiwéu não apagaram de sua memória as tentativas de invasão e conflitos ocorridos desde o início do século. Mais recentemente, a demarcação de suas terras, concluída em 1981, cercou-se de muita tensão com invasores e deixou inclusive de fora de seu perímetro uma aldeia Kadiwéu de nome Xatelôdo, localizada na serra da Bodoquena. Em 1983 eram em número de 1.868 os posseiros que ocupavam aquela Terra Indígena. Os conflitos gerados, notadamente nos anos de 1982 e 1983, foram amplamente divulgados pela imprensa.

Esta história marcou-se também por inevitáveis conflitos com fazendeiros arrendatários. Os pecuaristas começaram a adentrar o território Kadiwéu há quase cinco décadas, havendo notícias de que o primeiro o teria feito em 1952. Desde o final da década de 50 começaram, de outra forma, a ocupar este território com autorização oficial do Serviço de Proteção ao Índio (SPI, órgão que antecedeu a atual FUNAI). Em 1961, já haviam sido efetivados 61 contratos individuais com arrendatários. Esta ocupação alterou significativamente a utilização pelos índios de seu território. No início da década de 90, eram 89 as fazendas arrendadas no interior da Terra Kadiwéu, as quais se estendiam pelo território quase que na sua inteireza, de forma a ficarem os índios espremidos nas suas aldeias.


Organização social e política

No passado, as hordas Mbayá se dividiam em "tolderias". A tolderia, onde havia uma casa coletiva, era a menor unidade política e econômica, que reunia a parentela de um "capitão" e os seus cativos. As famílias de "capitães" compunham-se dos Mbayá de nascimento, que hoje são recordados como famílias de Kadiwéu "puros", conforme a elas se referem, ou os goniwtagodepodi ejiwajigi ("nossos senhores Kadiwéu"), sendo ejiwajigi a sua auto-denominação. Goniwtagodi, ou goniwaagodi, conforme as falas masculina e feminina, respectivamente (há distinção lingüística entre as duas), é um termo de tratamento que os Kadiwéu usam para qualquer pessoa do sexo masculino, inclusive estrangeiros. As mulheres, da mesma maneira, são interpeladas pelos termos goniwtagodo (na fala masculina) ou goniwaagodo (na fala feminina). Também abordam as crianças por estes termos, que traduzem como senhor e senhora (goniwtagodi = nosso senhor, iniwtagodi = meu senhor).

Os capitães eram todos os descendentes de capitães, em qualquer linha ou grau, inclusive os de sexo feminino (as "capitãs"). Uma vez que o núcleo de Kadiwéu "puros" era diminuto em virtude da baixa natalidade, certamente alguns cativos a ele deveriam se incorporar, possivelmente via casamento, que não era o preferencial. Pois os Kadiwéu afirmam que os senhores não se casavam, antes, com os seus cativos, regra hoje não verificável. Ainda permanece naquela sociedade a distinção hierárquica entre aqueles que se consideram Kadiwéu "puros" e os descendentes de cativos. Atualmente apenas duas famílias reivindicam o status de senhores na aldeia Bodoquena. Ambas disputam a hegemonia política no grupo. A relação de "cativeiro" se faz notar melhor nas práticas rituais. Por exemplo, quando há alguma atividade em que rapazes e moças participam pela primeira vez, precisam ser representados naquele momento por um cativo seu. De forma geral, no que diz respeito às atividades cotidianas, as famílias, qualquer uma delas, desenvolvem-nas de forma autônoma e enquanto unidade.

Em 1992, os Kadiwéu da aldeia Bodoquena se distribuíam entre 110 casas, que abrigam mais freqüentemente famílias nucleares, dispostas em geral por grupos de parentes e obedecendo preferencialmente uma regra matrilocal. São muito freqüentes os casamentos com os Terena. Nessa época, apenas na aldeia Bodoquena, em 28 famílias nucleares um dos cônjuges era Terena. Isto sem mencionar os que têm ancestrais desta última etnia.

As decisões políticas e de interesse geral do grupo estão fortemente centralizadas na figura do capitão e seus assessores. O direito de chefia é hereditário. Hoje, tal direito é reconhecido como "naturalmente" pertencente ao bisneto primogênito do Capitãozinho, um venerável líder do passado. Contudo, as regras se flexibilizaram no sentido do sufrágio, no que diz respeito à chefia. Os capitães, termo com que se referem ao chefe ou "cacique", atualmente são escolhidos dentro do grupo e, no transcurso da sua história recente, vários capitães se sucederam em curtos períodos. Estes nem sempre pertencem a "famílias de capitães" e, quando não pertencem, sua posição política não altera seu status social. O capitão é assessorado por um conselho, composto sobretudo por homens mais velhos e experientes. Cabe notar, entretanto, que é igualmente forte o papel político de líderes jovens, que alcançaram prestígio sobretudo devido ao seu grau de instrução (alguns deles possuem até o 2° grau escolar) e seu domínio da língua portuguesa, muito útil nas negociações externas.


Arte

Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935
Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935

Os finos desenhos corporais realizados pelos Kadiwéu constituem-se em uma forma notável da expressão de sua arte. Hábeis desenhistas estampam rostos com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com a tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com pó de carvão, aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara. No passado, a pintura corporal marcava a diferença entre nobres, guerreiros e cativos.

As mulheres Kadiwéu produzem, igualmente, belas peças de cerâmica: vasos de diversos tamanho e formato, pratos também de diversos tamanhos e profundidade, animais, enfeites de parede, entre outras peças criativas. Decoram-nas com padrões que lhes são distintos, que segue a um repertório rico, mas fixo, de formas preenchidas com variadas cores. A matéria-prima de seu trabalho encontram-na em barreiros especiais, que contêm o barro da consistência e tonalidade ideais para a cerâmica durável. Os pigmentos para sua pintura são conseguidos de areias dos mais variados tons, alguns dos detalhes sendo envernizados com a resina do pau-santo.

Podemos também ver a arte Kadiwéu expressa nos cânticos das mulheres velhas, nas músicas dos tocadores de flauta e tambor, e nas danças coletivas.


Narrativas

Desenhos publicados em VIDAL, Lux (org.). Grafismo Indígena. Studio Nobel, Fapesp, Edusp, SP, 1992
Desenhos publicados em VIDAL, Lux (org.). Grafismo Indígena. Studio Nobel, Fapesp, Edusp, SP, 1992

A sociedade Kadiwéu teve na guerra de captura o fundamento de sua organização. A memória da guerra é bastante presente e acionada sempre nos discursos de auto-definição, bem como fonte de recursos a serem usados na sua relação atual com a sociedade nacional. O ideal do guerreiro é fonte de valores que ainda norteiam as suas práticas. Vários mitos Kadiwéu fazem menção aos Godapoagenigi, aqueles guerreiros que se sobressaíam por sua coragem e força física. Dentre as narrativas que ouvi de seu rico repertório, os Kadiwéu distinguem pelo menos duas classes. A uma delas chamam de "histórias de admirar", ou "histórias que fazem milagres", "histórias sagradas", mais próximas da categoria de mitos propriamente ditos. Outra classe seria a das "histórias que aconteceram mesmo", que se apresentam como "descrição histórica" de eventos tais como as guerras do passado.

É nas "histórias de admirar" que os Kadiwéu vão buscar seus nomes pessoais -chamei-as "mitos de nominação". Muitos destes mitos são de propriedade de famílias de capitães, e os nomes pessoais que deles advêm podem ser usados por seus descendentes e cativos. Em muitas destas histórias, os protagonistas são ancestrais mitológicos de famílias de capitães.

Algumas outras contam também com personagens míticos ancestrais de cativos, cujos descendentes lhes usam os nomes. Nestes mitos estão contidos ensinamentos, conselhos e prescrições. Cada um vem a explicar e a prescrever um costume: o ato da guerra de captura de crianças, a iniciação feminina, o uso da bebida feita do mel, determinados remédios, tabus alimentares. O mito de criação, também incluído nesta categoria, fala do início da sociedade Kadiwéu e daquilo que a distingue das demais sociedades com que mantêm ou mantiveram contato, tecendo comentários sobre as mesmas e sobre esta relação.


Ritos

Bobos, ritual do navio. Foto: Mônica Pechincha, 1992
Bobos, ritual do navio. Foto: Mônica Pechincha, 1992

O indivíduo Kadiwéu recebe um nome por ocasião de seu nascimento e quando da morte de um parente. Durante os ritos funerários, os parentes do morto têm seus cabelos cortados. Aquele que corta o cabelo em sinal de luto é chamado okojege. As mulheres velhas, conhecedoras destes ritos, se reúnem durante o funeral para decidir o nome mais adequado para o enlutado. Quando se perde um parente próximo é também possível adotar alguma outra pessoa (independentemente da idade, do sexo e do grau ou mesmo da existência de parentesco) para preencher a falta do morto. Um parente adotado nestas circunstâncias é chamado godokogenigi. A este também se dá um novo nome e se lhe corta os cabelos. Há ainda uma outra forma de se estabelecer um parentesco "de consideração". É através da relação entre imedi (ou imeeti, no caso das mulheres, palavra traduzida como "amigo/a"). Duas famílias podem acertar fazer imedi um filho de cada uma, os quais estabeleceriam entre si uma relação de irmãos e as atitudes que lhes são peculiares. Os descendentes de dois imedi seriam imedi entre si.

Além de ritos funerários, praticam também o que chamam de "Festa da Moça". Ritual de iniciação feminina, submete a menina que passa pela menarca a uma reclusão de dois dias e a uma dieta rigorosa. Não pode pisar o chão e nem olhar para animais. No clímax do ritual, esta menina é "abanada" com um pano vermelho bordado com miçangas e penduricalhos nas pontas (o "abanico", wajuide) e, deitada de bruços, será pressionada na altura dos rins por uma mulher da aldeia cuidadosamente escolhida por seus familiares, pois suas características serão assimiladas pela menina.

O Navio, ou Etogo, é o ritual que os Kadiwéu consideram a expressão mais visível de sua alteridade, pois, como dizem, é o que melhor mostra que eles são "índios mesmo". Realizado em 1992, havia pelo menos cinqüenta anos que não vinha sendo encenado e não voltou a ser repetido após essa data. A motivação imediata para a sua realização foi a necessidade de mostrar a brancos, seus convidados, o ritual mais expressivo de sua identidade.

O Navio é um longo ritual. Faz referência à Guerra do Paraguai, notada, entre outros aspectos, pela afixação, a cada lado da entrada do navio de tabocas que construíram para ser o espaço ritual, de bandeiras estilizadas do Brasil e do Paraguai. O Navio mimetiza um navio de guerra, tal como os que os Kadiwéu dizem ter visto, no passado, a percorrer o rio Paraguai.

O chefe do Navio é o personagem chamado Maxiotagi, ou o "Macho". Maxiotagi é um personagem Xamakôko (embora o ator seja Kadiwéu), da etnia que foi a principal fonte de cativos no passado. A sua função no ritual é ditar as ordens que condicionam as cenas do seu desenvolvimento.

Maxiotagi, que é cego, tem seus companheiros, Ligecoge, "os Olhos do Macho", e Lionigawanigi (Pequeno), que o auxiliam em suas atividades. Estes personagens se adornam com paramentos engraçados. No Navio também há o Delegado, o Sargento (Jajentege), os cabos e os escrivães (Nidikuna). E também Ixotece Gonibedona Gonibegi, ou "Dedo-no-Cu", que se encarrega da "ronda". A regra máxima no Navio é não poder rir, sob pena de ser preso e/ou pagar uma "fiança", cobrada, geralmente, em forma de gado a ser abatido na hora, abastecendo o churrasco coletivo dos vários dias deste ritual.

No período ritual, a rotina da aldeia é totalmente modificada e todos se comportam como se estivessem sob voz de comando, só agindo conforme as ordens do chefe. Durante o Navio, todos os homens da aldeia são chamados de "soldados" e todas as mulheres, de paraguaias (gaxianaxe), e representam presas de guerra. Há também um papel particular para as mulheres velhas, que são no grupo quem guarda os cânticos sagrados. Essas mulheres, conhecedoras únicas da linguagem dos cânticos, que os jovens não sabem traduzir, cantam à maneira de repente sempre que um acontecimento importante advém ao grupo. Os seus cânticos recordam fatos históricos e guardam a memória dos capitães e seus grandes feitos, além de comentar, com base em sua história e cosmologia, os fatos atuais. As mulheres velhas cantam (ou "rezam") no Navio para livrar os presos.

O momento ritual é preenchido também por danças masculinas (nabacenaganaga, ou "bate-pau") e femininas, pela música entoada por seus instrumentos típicos, a flauta (natena) e o tambor (goge), por brincadeiras e jogos (sobretudo os que demonstram o desempenho físico dos homens, lembrando os godapoagenigi), e pela apresentação dos "bobos" (bobotegi). Estes são personagens que não figuram só no Navio. Apresentam-se mascarados, o corpo também dissimulado, irreconhecíveis, dançando suas "polcas" específicas, assustando as crianças a quem pedem prendas.

Há também um Padre no Navio, que batiza como os padres dos cristãos e simula ritos de cura, como o do nijienigi (o xamã Kadiwéu). O nijienigi é capaz de prever, com a ajuda das entidades espirituais que o guiam, os acontecimentos vindouros. Por isso, no passado seu papel foi fundamental nas estratégias guerreiras. Os nijienigi também curam e na aldeia ainda são chamados a intervir em casos de doenças.


Nota sobre as fontes

A mais importante referência histórica sobre os Kadiwéu (ou os Guaikurú-Mbayá) encontra-se na obra do Pe. José Sanchez-Labrador intitulada El Paraguay Católico, considerada uma das melhores etnografias escritas no século XVIII. Vários cronistas no século XIX registraram, com mais ou menos detalhes, as suas impressões sobre estes índios, sua localização, modo de vida e relações com os colonizadores. Dentre eles, destacam-se Ricardo Franco de Almeida Serra, Francisco Rodrigues do Prado, Alexandre Rodrigues Ferreira, Francis Castelnau, Alfred d'Escragnole Taunay (que narrou episódios da participação indígena na Guerra do Paraguai) e, notadamente, Guido Boggiani. Este último autor viveu alguns meses entre os Kadiwéu no final do século passado e nos legou, entre outros escritos, o seu rico diário de campo referente àquela visita, publicado com o nome de Os Caduveos.

Boggiani recolheu um vasto material representativo da arte e artefatos Kadiwéu, cuja mais significativa coleção encontra-se hoje conservada pelo museu "Luigi Pigorini", em Roma. Pode-se obter igualmente informações históricas em relatórios de Presidentes da Província do Mato Grosso guardados pelo Arquivo Nacional. Quanto a trabalhos antropológicos propriamente ditos, Alfred Métraux nos oferece estudos etnológicos sobre os índios do Grã Chaco, sobretudo no que tange à religião. Claude Lévi-Strauss esteve entre os Kadiwéu em 1937 e escreveu sobre sua arte.

Darcy Ribeiro procedeu pesquisa de campo entre os Kadiwéu no final da década de 1940 e seus trabalhos mais importantes sobre os mesmos estão reunidos no volume Kadiwéu: Ensaios Etnológicos sobre o Saber, o Azar e a Beleza que, como já indica o título, trata de mitologia, xamanismo e arte. Escreveu também um artigo sobre "O sistema familial Kadiwéu" (1948). Mais recentemente foram defendidas duas teses de mestrado: a de Jaime Siqueira Jr. (USP, 1993), que trata da construção do tempo e espaço Kadiwéu; e a de Mônica Thereza Pechincha, intitulada Histórias de Admirar: Mito, Rito e História Kadiwéu (UnB, 1994). A língua Kadiwéu foi estudada por Silvia L.B. Braggio (1981). Quanto a relatórios técnicos, cabe mencionar os produzidos por Alain Moreau, que há vários anos freqüenta e acompanha a sociedade Kadiwéu e tem lhe prestado, mediante iniciativa pessoal, valiosa assessoria jurídica, sobretudo na condução do processo de substituição do regime de arrendamento.


Fontes de informação

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  • A propos de tristes tropiques. Dir.: Jorge Bodansky; Patrick Menget. Vídeo Cor, U-Matic, 50 min., 1991. Prod.: Yves Billon; Les Filmes du Village