De Povos Indígenas no Brasil
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Sociobioeconomia para enfrentamento da crise climática
10/12/2025
Autor: Dafne Spolti/OPAN
Fonte: Opan - https://amazonianativa.org.br
A partir do manejo de pirarucu, economia dos povos da floresta é discutida na COP30 como ação estruturante no quadro de crise climática, devendo ter ganhos financeiros justos
Na sociobioeconomia, produção e conservação andam juntas. A palavra é nova, mas a história remonta a um período de oito mil anos de sistemas agrícolas à qual se conecta o manejo sustentável de pirarucu. Durante o evento "Arapaima gigas: Clima e Soluções Comunitárias", realizado no Círculo dos Povos, na Zona Verde da COP30, dia 13 de novembro, a sociobioconomia foi colocada no centro do debate por sua eficácia para a proteção da floresta e o enfrentamento da crise climática a partir do trabalho comunitário realizado com o manejo de pirarucu.
Este percurso foi apresentado pelo professor e pesquisador da Indiana University, Eduardo Brondizio, que destacou os marcos da sociobioeconomia nos tempos antigos e recentes. A luta e as conquistas por direitos territoriais nos anos 60-70, a formação do termo "biodiversidade" no final dos anos 80, quando uma reunião no Museu Goeldi trouxe o reconhecimento à ciência das comunidades tradicionais registrada na "Carta de Belém" e, posteriormente, o surgimento do conceito "socioambiental", em 1992.
"É uma longa história que vem se consolidando nessa COP, a popularização e a normalização dos termos bioeconomia e sociobioeconomia, que é um passo importante para consolidar essa compreensão e o entendimento de onde estão as raízes dessa economia", afirma o pesquisador, reforçando o papel resiliente das economias da floresta: "Como toda a sociobioeconomia da Amazônia, com todo esse processo de destruição dos últimos 50 anos, essas bioeconomias não desapareceram, pelo contrário. Elas se inovaram, se adaptaram e se difundiram para hoje ser uma das maiores economias da região".
O sucesso das propostas envolve os ganhos ecológicos, sociais, de organização das comunidades e qualidade de vida das pessoas. Contudo, do ponto de vista financeiro precisam de mudanças significativas. "Estamos muito felizes, mas ainda temos muitas lutas pela frente, principalmente por causa das mudanças climáticas e também pela necessidade de mais justiça social, como a melhoria do preço do pirarucu", afirma Diomir de Souza Santos, secretário da Associação dos Comunitários que Trabalham com Desenvolvimento Sustentável no Município de Jutaí (ACJ), organização membro do Coletivo do Pirarucu.
"Estamos no meio de uma COP, discutindo emergência climática, e não podemos deixar de olhar a floresta e a sociobioeconomia como um elemento estruturante para enfrentamento da crise climática", ressalta a diretora do Imaflora, Patrícia Cota, em defesa de instrumentos econômicos que favoreçam os povos da floresta. "Se a gente quer viabilizar que as populações tradicionais sigam em seus territórios, manejando seus produtos e exercendo o papel de conservação da floresta, temos que trabalhar com instrumentos econômicos para fazer com que essas cadeias sejam de fato atrativas, para que a gente tenha as populações vivendo de forma digna no território", defende.
Caminhos para o fortalecimento econômico
Na trilha da construção de avanços para as comunidades, Patrícia contou sobre uma experiência piloto de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) junto a pescadores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Amanã, em que os produtores vão receber um valor por hectare de floresta conservada. Bruna de Vita, diretora do Departamento de Estímulo à Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), apresentou também a proposta de PSA desenvolvido em parceria projeto Floresta+ Amazônia, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, com o primeiro pagamento às comunidades manejadoras previsto para 2026.
"Chega um ponto em que as cadeias da sociobioeconomia enfrentam limitações - logísticas, de produção, e até pela sazonalidade - e a gente entende que é preciso complementar, criar condições mais equilibradas para esses produtos chegarem ao mercado e também garantir a segurança alimentar dos povos e comunidades tradicionais", afirma a diretora.
A proposta de PSA também foi apresentada por ela no evento "Sociobioeconomia e Serviços Ambientais: Construindo Mercados Sustentáveis para a Amazônia", na COP, em que destacou os atributos do manejo - anuência local, rastreabilidade e o comprometimento das comunidades na conservação do território - para o estabelecimento da iniciativa.
"Manejo do pirarucu: resposta concreta à crise climática"
O conjunto de benefícios do manejo pirarucu ganhou um filme inédito com imagens do fotógrafo Adriano Gambarini, produtor do documentário intitulado "Manejo do pirarucu: resposta concreta à crise climática", disponível na página especial da COP30 no site do Coletivo do Pirarucu. A obra conta com relatos de manejadores e manejadoras de diferentes regiões do Amazonas sobre a atividade.
Também é do Coletivo do Pirarucu a realização do evento "Arapaima gigas: Clima e Soluções Comunitárias", junto à OPAN e à rede Aliança de Águas Amazônicas com apoio de WCS e Fundação Moore. O encontro contou, ainda, com a mediação de Pedro Constantino, consultor do Banco Mundial para o MMA.
Disponibilizamos abaixo a fala completa do professor Eduardo Brondízio no evento "Arapaima gigas: Clima e Soluções Comunitárias", em que descreve a história do termo sociobioeconomia associada ao manejo do pirarucu:
O termo sociobioeconomia é um termo que nós estamos usando constantemente aqui. É um termo que vira políticas públicas, um termo que está na boca de todo mundo. É um termo muito novo, mas ele tem um caminho muito antigo. Um caminho que muitos aqui devem ter participado, mas nem todos sabem a história desse caminho. Eu acho importante a gente entender um pouco dessa trajetória para pensar quais são os desafios de hoje e qual é o papel de uma organização como o Coletivo do Pirarucu.
A sociobioeconomia tem raízes em oito mil anos de história de sistemas de produção da Amazônia. Sistemas de produção agrícola, sistemas de produção da floresta e sistemas de produção pesqueira. Das mãos da população daqui saíram a domesticação de alguns dos cultivos mais importantes do mundo hoje. Esses sistemas de produção que nasceram e se desenvolveram aqui na região tem uma característica muito fundamental: são chamados sistemas de produção multifuncionais. Eles não separam a produção da conservação e criam sistemas onde se atende a produção de alimentos, se maneja essas plantas silvestres e se maneja sistemas pesqueiros, sem interromper o funcionamento dos ecossistemas. É nessa raiz que está a sociobioeconomia que falamos hoje.
Passando essa história antiga para uma história mais recente, a história das comunidades que estão no manejo do pirarucu hoje começa nos anos 60 e 70, com a organização e o reconhecimento dos direitos territoriais e de acesso a recursos, com os acordos de lago, com as reservas extrativistas, com a luta pela demarcação das terras indígenas. Nos anos 80, começa a nascer uma ciência que praticamos hoje, que é a ciência do conhecimento indígena e do conhecimento tradicional. Nós chamávamos na época de "etnobiologia" ou "etnoecologia" e hoje damos mais crédito a quem de fato merece.
Já o termo biodiversidade começou a aparecer somente no final dos anos 80. Em 1988, aconteceu uma reunião muito importante aqui em Belém, no Museu Goeldi, onde povos indígenas e pesquisadores se reuniram para reafirmar o valor desse conhecimento e dessa ciência. Desse encontro saiu uma carta muito famosa e importante, que é a "Carta de Belém de 1988" que pavimentou muito do caminho que a gente chega hoje. Só em 1992 apareceu o termo socioambiental e aquele termo começou a ser corrente, usado para pensar nos problemas sociais e ambientais como uma só questão. Então tudo isso é um caminho muito recente que foi se integrando nas partes e formando o que hoje chamamos de sociobioeconomia.
O manejo do pirarucu veio dessa trajetória. Veio dos acordos de lago, da formalização de um processo de contagem e manejo, que foi uma união de conhecimento local com a ciência, e só em 1999 ele começa a ser experimentado como uma maneira de gerir um recurso que estava praticamente exaurido, que era a pesca do pirarucu. Como toda a sociobioeconomia da Amazônia, com todo esse processo de destruição dos últimos 50 anos, essas bioeconomias não desapareceram, pelo contrário. Elas se inovaram, se adaptaram e se difundiram para hoje ser uma das maiores economias da região.
Antes de aparecer o termo sociobioeconomia, vem a sociobiodiversidade, que é o reconhecimento que a biodiversidade que nós temos aqui na região vem dessa história de interação, de manejo, de conhecimento e de relações culturais que criaram essa riqueza toda que nós temos hoje na Amazônia. E por aí vem a popularização do termo bioeconomia e a captação do termo por vários setores foi importante para reafirmar esse diferencial de oito mil anos da sociobioeconomia da Amazônia que hoje está sendo reconhecida e virando um conceito que todo mundo conhece. É uma longa história que vem se consolidando nessa COP, a popularização e a normalização dos termos bioeconomia e sociobioeconomia, que é um passo importante para consolidar essa compreensão e o entendimento de onde estão as raízes dessa economia.
Quais são os desafios que enfrentam hoje muitas dessas bioeconomias, inclusive a do pirarucu? Elas demonstraram seu sucesso, sua capacidade de recuperar estoques pesqueiros, sua capacidade de regenerar e manejar sistemas agroflorestais, de produzir em grande escala frutos, óleos e produtos que hoje formam a base da economia regional. Então hoje nós vemos os resultados ecológicos desse avanço. A gente também vê muito dos resultados sociais desses avanços, na organização das comunidades, na formação de grandes federações e confederações que estão lutando pelas comunidades da sociobioeconomia. Mas o que a gente ainda não vê é o retorno financeiro para as comunidades que estão na base dessa sociobioeconomia.
Hoje enfrentamos o desafio da ainda persistente incongruência entre a contribuição dessas economias - tanto social quanto para o território - e o reconhecimento que elas de fato merecem. É aí que entram organizações como o Coletivo do Pirarucu, que é uma organização tão nova quanto o termo sociobioeconomia, mas que veio para unir experiências que estão na base dessa economia e para lutar por questões que estão acima da capacidade das comunidades. São questões de políticas públicas, de melhoria da logística de mercado e de maior apoio para as comunidades no trabalho que elas fazem sobre a vigilância territorial e sobre a proteção dos recursos da região. Então o Coletivo representa uma frente muito importante nesse momento de conseguir unir esforços locais e trabalhar em um nível em que cada comunidade sozinha não consegue chegar.
https://amazonianativa.org.br/2025/12/10/sociobioeconomia-para-enfrentamento-da-crise-climatica/
Na sociobioeconomia, produção e conservação andam juntas. A palavra é nova, mas a história remonta a um período de oito mil anos de sistemas agrícolas à qual se conecta o manejo sustentável de pirarucu. Durante o evento "Arapaima gigas: Clima e Soluções Comunitárias", realizado no Círculo dos Povos, na Zona Verde da COP30, dia 13 de novembro, a sociobioconomia foi colocada no centro do debate por sua eficácia para a proteção da floresta e o enfrentamento da crise climática a partir do trabalho comunitário realizado com o manejo de pirarucu.
Este percurso foi apresentado pelo professor e pesquisador da Indiana University, Eduardo Brondizio, que destacou os marcos da sociobioeconomia nos tempos antigos e recentes. A luta e as conquistas por direitos territoriais nos anos 60-70, a formação do termo "biodiversidade" no final dos anos 80, quando uma reunião no Museu Goeldi trouxe o reconhecimento à ciência das comunidades tradicionais registrada na "Carta de Belém" e, posteriormente, o surgimento do conceito "socioambiental", em 1992.
"É uma longa história que vem se consolidando nessa COP, a popularização e a normalização dos termos bioeconomia e sociobioeconomia, que é um passo importante para consolidar essa compreensão e o entendimento de onde estão as raízes dessa economia", afirma o pesquisador, reforçando o papel resiliente das economias da floresta: "Como toda a sociobioeconomia da Amazônia, com todo esse processo de destruição dos últimos 50 anos, essas bioeconomias não desapareceram, pelo contrário. Elas se inovaram, se adaptaram e se difundiram para hoje ser uma das maiores economias da região".
O sucesso das propostas envolve os ganhos ecológicos, sociais, de organização das comunidades e qualidade de vida das pessoas. Contudo, do ponto de vista financeiro precisam de mudanças significativas. "Estamos muito felizes, mas ainda temos muitas lutas pela frente, principalmente por causa das mudanças climáticas e também pela necessidade de mais justiça social, como a melhoria do preço do pirarucu", afirma Diomir de Souza Santos, secretário da Associação dos Comunitários que Trabalham com Desenvolvimento Sustentável no Município de Jutaí (ACJ), organização membro do Coletivo do Pirarucu.
"Estamos no meio de uma COP, discutindo emergência climática, e não podemos deixar de olhar a floresta e a sociobioeconomia como um elemento estruturante para enfrentamento da crise climática", ressalta a diretora do Imaflora, Patrícia Cota, em defesa de instrumentos econômicos que favoreçam os povos da floresta. "Se a gente quer viabilizar que as populações tradicionais sigam em seus territórios, manejando seus produtos e exercendo o papel de conservação da floresta, temos que trabalhar com instrumentos econômicos para fazer com que essas cadeias sejam de fato atrativas, para que a gente tenha as populações vivendo de forma digna no território", defende.
Caminhos para o fortalecimento econômico
Na trilha da construção de avanços para as comunidades, Patrícia contou sobre uma experiência piloto de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) junto a pescadores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Amanã, em que os produtores vão receber um valor por hectare de floresta conservada. Bruna de Vita, diretora do Departamento de Estímulo à Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), apresentou também a proposta de PSA desenvolvido em parceria projeto Floresta+ Amazônia, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, com o primeiro pagamento às comunidades manejadoras previsto para 2026.
"Chega um ponto em que as cadeias da sociobioeconomia enfrentam limitações - logísticas, de produção, e até pela sazonalidade - e a gente entende que é preciso complementar, criar condições mais equilibradas para esses produtos chegarem ao mercado e também garantir a segurança alimentar dos povos e comunidades tradicionais", afirma a diretora.
A proposta de PSA também foi apresentada por ela no evento "Sociobioeconomia e Serviços Ambientais: Construindo Mercados Sustentáveis para a Amazônia", na COP, em que destacou os atributos do manejo - anuência local, rastreabilidade e o comprometimento das comunidades na conservação do território - para o estabelecimento da iniciativa.
"Manejo do pirarucu: resposta concreta à crise climática"
O conjunto de benefícios do manejo pirarucu ganhou um filme inédito com imagens do fotógrafo Adriano Gambarini, produtor do documentário intitulado "Manejo do pirarucu: resposta concreta à crise climática", disponível na página especial da COP30 no site do Coletivo do Pirarucu. A obra conta com relatos de manejadores e manejadoras de diferentes regiões do Amazonas sobre a atividade.
Também é do Coletivo do Pirarucu a realização do evento "Arapaima gigas: Clima e Soluções Comunitárias", junto à OPAN e à rede Aliança de Águas Amazônicas com apoio de WCS e Fundação Moore. O encontro contou, ainda, com a mediação de Pedro Constantino, consultor do Banco Mundial para o MMA.
Disponibilizamos abaixo a fala completa do professor Eduardo Brondízio no evento "Arapaima gigas: Clima e Soluções Comunitárias", em que descreve a história do termo sociobioeconomia associada ao manejo do pirarucu:
O termo sociobioeconomia é um termo que nós estamos usando constantemente aqui. É um termo que vira políticas públicas, um termo que está na boca de todo mundo. É um termo muito novo, mas ele tem um caminho muito antigo. Um caminho que muitos aqui devem ter participado, mas nem todos sabem a história desse caminho. Eu acho importante a gente entender um pouco dessa trajetória para pensar quais são os desafios de hoje e qual é o papel de uma organização como o Coletivo do Pirarucu.
A sociobioeconomia tem raízes em oito mil anos de história de sistemas de produção da Amazônia. Sistemas de produção agrícola, sistemas de produção da floresta e sistemas de produção pesqueira. Das mãos da população daqui saíram a domesticação de alguns dos cultivos mais importantes do mundo hoje. Esses sistemas de produção que nasceram e se desenvolveram aqui na região tem uma característica muito fundamental: são chamados sistemas de produção multifuncionais. Eles não separam a produção da conservação e criam sistemas onde se atende a produção de alimentos, se maneja essas plantas silvestres e se maneja sistemas pesqueiros, sem interromper o funcionamento dos ecossistemas. É nessa raiz que está a sociobioeconomia que falamos hoje.
Passando essa história antiga para uma história mais recente, a história das comunidades que estão no manejo do pirarucu hoje começa nos anos 60 e 70, com a organização e o reconhecimento dos direitos territoriais e de acesso a recursos, com os acordos de lago, com as reservas extrativistas, com a luta pela demarcação das terras indígenas. Nos anos 80, começa a nascer uma ciência que praticamos hoje, que é a ciência do conhecimento indígena e do conhecimento tradicional. Nós chamávamos na época de "etnobiologia" ou "etnoecologia" e hoje damos mais crédito a quem de fato merece.
Já o termo biodiversidade começou a aparecer somente no final dos anos 80. Em 1988, aconteceu uma reunião muito importante aqui em Belém, no Museu Goeldi, onde povos indígenas e pesquisadores se reuniram para reafirmar o valor desse conhecimento e dessa ciência. Desse encontro saiu uma carta muito famosa e importante, que é a "Carta de Belém de 1988" que pavimentou muito do caminho que a gente chega hoje. Só em 1992 apareceu o termo socioambiental e aquele termo começou a ser corrente, usado para pensar nos problemas sociais e ambientais como uma só questão. Então tudo isso é um caminho muito recente que foi se integrando nas partes e formando o que hoje chamamos de sociobioeconomia.
O manejo do pirarucu veio dessa trajetória. Veio dos acordos de lago, da formalização de um processo de contagem e manejo, que foi uma união de conhecimento local com a ciência, e só em 1999 ele começa a ser experimentado como uma maneira de gerir um recurso que estava praticamente exaurido, que era a pesca do pirarucu. Como toda a sociobioeconomia da Amazônia, com todo esse processo de destruição dos últimos 50 anos, essas bioeconomias não desapareceram, pelo contrário. Elas se inovaram, se adaptaram e se difundiram para hoje ser uma das maiores economias da região.
Antes de aparecer o termo sociobioeconomia, vem a sociobiodiversidade, que é o reconhecimento que a biodiversidade que nós temos aqui na região vem dessa história de interação, de manejo, de conhecimento e de relações culturais que criaram essa riqueza toda que nós temos hoje na Amazônia. E por aí vem a popularização do termo bioeconomia e a captação do termo por vários setores foi importante para reafirmar esse diferencial de oito mil anos da sociobioeconomia da Amazônia que hoje está sendo reconhecida e virando um conceito que todo mundo conhece. É uma longa história que vem se consolidando nessa COP, a popularização e a normalização dos termos bioeconomia e sociobioeconomia, que é um passo importante para consolidar essa compreensão e o entendimento de onde estão as raízes dessa economia.
Quais são os desafios que enfrentam hoje muitas dessas bioeconomias, inclusive a do pirarucu? Elas demonstraram seu sucesso, sua capacidade de recuperar estoques pesqueiros, sua capacidade de regenerar e manejar sistemas agroflorestais, de produzir em grande escala frutos, óleos e produtos que hoje formam a base da economia regional. Então hoje nós vemos os resultados ecológicos desse avanço. A gente também vê muito dos resultados sociais desses avanços, na organização das comunidades, na formação de grandes federações e confederações que estão lutando pelas comunidades da sociobioeconomia. Mas o que a gente ainda não vê é o retorno financeiro para as comunidades que estão na base dessa sociobioeconomia.
Hoje enfrentamos o desafio da ainda persistente incongruência entre a contribuição dessas economias - tanto social quanto para o território - e o reconhecimento que elas de fato merecem. É aí que entram organizações como o Coletivo do Pirarucu, que é uma organização tão nova quanto o termo sociobioeconomia, mas que veio para unir experiências que estão na base dessa economia e para lutar por questões que estão acima da capacidade das comunidades. São questões de políticas públicas, de melhoria da logística de mercado e de maior apoio para as comunidades no trabalho que elas fazem sobre a vigilância territorial e sobre a proteção dos recursos da região. Então o Coletivo representa uma frente muito importante nesse momento de conseguir unir esforços locais e trabalhar em um nível em que cada comunidade sozinha não consegue chegar.
https://amazonianativa.org.br/2025/12/10/sociobioeconomia-para-enfrentamento-da-crise-climatica/
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