De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Para negociar terra com índio, um indigenista
16/01/2011
Autor: CARVALHO, José Porfírio de
Fonte: O Globo, Economia, p. 31
Documentos anexos
Para negociar terra com índio, um indigenista
Especialista ensina executivos da estatal a lidarem com indígenas em projetos de hidrelétricas com impacto em reservas
Perfil - José Porfílio de Carvalho, consultor da Eletrobras
Liana Melo
Enviada especial
Entre os Waimiri-Atroari, José Porfírio de Carvalho é mais conhecido como Thiamyry. Traduzindo para o português, o apelido dado pelos índios do Amazonas ao cearense de 65 anos significa "velho".
Entre os índios Parakaña, do Pará, ele é mais conhecido como Tamuy, que, numa tradução literal, quer dizer "meu avô". Já na Eletrobras, onde há 26 anos ocupa a função de consultor indigenista, ele é simplesmente Carvalho. O especialista ensina executivos da estatal a lidarem com os índios, em projetos que afetarão reservas, como a construção de hidrelétricas.
Ainda que o governo tenha escolhido a região da Amazônia Legal como o novo celeiro energético do país e de vários projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) passarem perto de terras indígenas, a Eletrobras é uma exceção. Ter um consultor indigenista é raridade no meio empresarial.
Coordenador de dois programas de etnia na estatal, um junto aos Waimiri-Atroari - salvos do extermínio após a instalação da usina de Balbina, que inundou 30 quilômetros da reserva - e outro com os Parakaña, Carvalho trabalha há 40 anos com índios.
Esses programas garantem atendimento médico e educação para a população das aldeias.
Depois de se aventurar no resgate de colegas atacados por índios isolados, quando trabalhou na Fundação Nacional do Índio (Funai), e presenciar a derrubada da Floresta Amazônica para abertura de estradas, o indigenista hoje anda preferindo tomar distância de temas polêmicos. É o caso da usina de Belo Monte.
- Considero o projeto de Belo Monte um dos melhores do ponto de vista ambiental, mas não sou carneiro. Tenho opiniões próprias. Prefiro não me meter com este projeto. Já estou muito velho - diz Carvalho, em sua sala, no quinto andar do edifício sede da Eletrobras, em Brasília, decorada com fotos de índios.
Ele discorda do modelo de gestão da hidrelétrica:
- Quem vai mandar nesta usina, o governo ou o setor privado? Esta indefinição acaba com qualquer possibilidade de diálogo com índios, porque eles perdem a confiança.
Como amigo dos índios e, ao mesmo tempo, funcionário da estatal, Carvalho acompanha o assunto desde a época em que a usina se chamava Kararaô. A resistência dos índios ao projeto culminou numa reunião histórica em Altamira, no fim dos anos 80, quando uma índia Tuíra, dirigindo-se à mesa onde se encontrava autoridades, passou um facão no rosto do atual presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz Lopes, então diretor da Eletronorte. Carvalho tinha avisado que haveria resistência.
- Só que a reação da índia fugiu do roteiro, ainda mais porque índia caiapó não costuma participar de política - admite o indigenista, que avisou a Muniz que ele seria agredido com puxões de orelha, tapas no rosto, socos no peito com suas bordunas, a arma indígena. - Mas nunca com um facão.
Para Possuelo, trabalho encobre ações violentas
Muniz hoje dá risadas quando lembra do assunto, mas lembra que, no momento da agressão, sentiu muito medo:
- Carvalho tinha me avisado e me garantiu que eu não seria machucado, o que, de fato, aconteceu. Mas foi um susto grande.
O indigenista também estava em outra reunião em Altamira, em maio de 2008, quando o engenheiro da Eletrobras Paulo Rezende foi ferido no braço com um facão, por caiapós. O tema era o mesmo: Belo Monte.
O indigenista é apaixonado pelo trabalho que desenvolve, na Eletrobras, junto aos Waimiri-Atroari. A aldeia já foi vista como empecilho para a construção da BR-174 (Manaus-Boa Vista) e sofreu a invasão de uma hidrelétrica e de uma mineradora.
Estava encolhendo - o índice de mortalidade era de 20% ao ano e chegou a reunir pouco mais de 300 pessoas - e passou a registrar crescimento populacional em torno de de 6% anuais.
Hoje tem 1.330 habitantes.
- Não sou contra o trabalho do Carvalho, que é muito bom,mas jamais trabalharia para uma empresa - admite o sertanista Sidney Possuelo, ex-presidente da Funai, explicando que o trabalho funciona para "encobrir as ações violentas cometidas contra os povos indígenas".
Outro ex-presidente da Funai, Márcio Santilli, fundador do Instituto Socioambiental, considera "uma grande vantagem comparativa"para a Eletrobras:
- Ele é um mediador de qualidade.
O Globo, 16/01/2011, Economia, p. 31
Especialista ensina executivos da estatal a lidarem com indígenas em projetos de hidrelétricas com impacto em reservas
Perfil - José Porfílio de Carvalho, consultor da Eletrobras
Liana Melo
Enviada especial
Entre os Waimiri-Atroari, José Porfírio de Carvalho é mais conhecido como Thiamyry. Traduzindo para o português, o apelido dado pelos índios do Amazonas ao cearense de 65 anos significa "velho".
Entre os índios Parakaña, do Pará, ele é mais conhecido como Tamuy, que, numa tradução literal, quer dizer "meu avô". Já na Eletrobras, onde há 26 anos ocupa a função de consultor indigenista, ele é simplesmente Carvalho. O especialista ensina executivos da estatal a lidarem com os índios, em projetos que afetarão reservas, como a construção de hidrelétricas.
Ainda que o governo tenha escolhido a região da Amazônia Legal como o novo celeiro energético do país e de vários projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) passarem perto de terras indígenas, a Eletrobras é uma exceção. Ter um consultor indigenista é raridade no meio empresarial.
Coordenador de dois programas de etnia na estatal, um junto aos Waimiri-Atroari - salvos do extermínio após a instalação da usina de Balbina, que inundou 30 quilômetros da reserva - e outro com os Parakaña, Carvalho trabalha há 40 anos com índios.
Esses programas garantem atendimento médico e educação para a população das aldeias.
Depois de se aventurar no resgate de colegas atacados por índios isolados, quando trabalhou na Fundação Nacional do Índio (Funai), e presenciar a derrubada da Floresta Amazônica para abertura de estradas, o indigenista hoje anda preferindo tomar distância de temas polêmicos. É o caso da usina de Belo Monte.
- Considero o projeto de Belo Monte um dos melhores do ponto de vista ambiental, mas não sou carneiro. Tenho opiniões próprias. Prefiro não me meter com este projeto. Já estou muito velho - diz Carvalho, em sua sala, no quinto andar do edifício sede da Eletrobras, em Brasília, decorada com fotos de índios.
Ele discorda do modelo de gestão da hidrelétrica:
- Quem vai mandar nesta usina, o governo ou o setor privado? Esta indefinição acaba com qualquer possibilidade de diálogo com índios, porque eles perdem a confiança.
Como amigo dos índios e, ao mesmo tempo, funcionário da estatal, Carvalho acompanha o assunto desde a época em que a usina se chamava Kararaô. A resistência dos índios ao projeto culminou numa reunião histórica em Altamira, no fim dos anos 80, quando uma índia Tuíra, dirigindo-se à mesa onde se encontrava autoridades, passou um facão no rosto do atual presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz Lopes, então diretor da Eletronorte. Carvalho tinha avisado que haveria resistência.
- Só que a reação da índia fugiu do roteiro, ainda mais porque índia caiapó não costuma participar de política - admite o indigenista, que avisou a Muniz que ele seria agredido com puxões de orelha, tapas no rosto, socos no peito com suas bordunas, a arma indígena. - Mas nunca com um facão.
Para Possuelo, trabalho encobre ações violentas
Muniz hoje dá risadas quando lembra do assunto, mas lembra que, no momento da agressão, sentiu muito medo:
- Carvalho tinha me avisado e me garantiu que eu não seria machucado, o que, de fato, aconteceu. Mas foi um susto grande.
O indigenista também estava em outra reunião em Altamira, em maio de 2008, quando o engenheiro da Eletrobras Paulo Rezende foi ferido no braço com um facão, por caiapós. O tema era o mesmo: Belo Monte.
O indigenista é apaixonado pelo trabalho que desenvolve, na Eletrobras, junto aos Waimiri-Atroari. A aldeia já foi vista como empecilho para a construção da BR-174 (Manaus-Boa Vista) e sofreu a invasão de uma hidrelétrica e de uma mineradora.
Estava encolhendo - o índice de mortalidade era de 20% ao ano e chegou a reunir pouco mais de 300 pessoas - e passou a registrar crescimento populacional em torno de de 6% anuais.
Hoje tem 1.330 habitantes.
- Não sou contra o trabalho do Carvalho, que é muito bom,mas jamais trabalharia para uma empresa - admite o sertanista Sidney Possuelo, ex-presidente da Funai, explicando que o trabalho funciona para "encobrir as ações violentas cometidas contra os povos indígenas".
Outro ex-presidente da Funai, Márcio Santilli, fundador do Instituto Socioambiental, considera "uma grande vantagem comparativa"para a Eletrobras:
- Ele é um mediador de qualidade.
O Globo, 16/01/2011, Economia, p. 31
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