De Povos Indígenas no Brasil

News

 Terra indígena barra a destruição

13/04/2010

Fonte: Greenpeace - http://www.greenpeace.org/brasil




Irregularidades, ilegalidades e um povo sem acesso à terra que lhe era de direito: a criação da terra indígena Deni mostra como preservação é também questão de governança.

Era agosto de 2003. O povo indígena Deni voltava a cantar e dançar com gosto. A demarcação de suas terras fora, enfim, concluída. Antes de os órgãos oficiais fincarem as placas de identificação, no entanto, muita água - ou madeira - rolou naquele sudoeste do Amazonas.

Em 1999, uma equipe do Greenpeace seguia rio acima numa investigação sobre a extração ilegal de madeira na região. Uma madeireira da Malásia, a WTK, havia comprado 313 mil hectares de floresta por ali. Quase 50% da área se sobrepunha à terra Deni.

Informados de que 150 mil hectares de suas florestas poderiam sumir, os Deni decidiram: querendo o governo ou não, a área seria demarcada. O poder público não agiu. E os indígenas foram à luta. Com o apoio do Greenpeace e de organizações indigenistas, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), eles começaram, em 2001, a demarcar a área por conta própria.

Após receberem as instruções de antropólogos, sociólogos e engenheiros voluntários, membros de oito aldeias adentraram a floresta com bússolas e até GPS em punho. Abriram quilômetros de trilhas e colocaram placas ao longo delas avisando: "Entrada proibida: terra Deni". Uma carta foi enviada à Funai (Fundação Nacional do Índio) para dizer que a empreitada só teria fim quando o governo assumisse o trabalho.

O protesto caiu na imprensa internacional. A bordo do navio do Greenpeace MV Arctic Sunrise, os líderes Deni participavam de entrevistas denunciando a morosidade do governo: segundo a Constituição de 1988, todas as terras indígenas do Brasil deveriam ser demarcadas até 1993.

Uma campanha pela internet levou milhares de pessoas a escreverem para o governo apoiando a causa. Após muita pressão, consumidores da WTK cancelaram contratos de compra. Em seguida, a empresa declarou publicamente que não mais exploraria madeira na área dos Deni e que não recorreria à Justiça contra a demarcação.

Depois de muita negociação e resistência dos órgãos oficiais, os esforços foram recompensados. Em outubro de 2001, o Ministério da Justiça reconheceu os direitos daquele povo sobre sua terra. Dois anos mais tarde, em maio de 2003, chegavam os técnicos para a demarcação oficial do território. Ela foi concluída em agosto de 2003, com a instalação de marcos e placas identificando a área com o selo do governo federal.

Desde então, a mineração e a exploração industrial de madeira estão proibidas por ali. São 1,53 milhão de hectares protegidos por lei, formando um corredor de 3,6 milhões de hectares se somado a outras terras indígenas na região. As margens do rio Xeruã foram o palco da festa: os Deni celebraram a vitória com cantos e danças tradicionais, pisando numa terra que, enfim, era sua.
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source