De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Minério radioativo é extraído sem fiscalização no AP, diz PF

27/12/2008

Fonte: FSP, Brasil, p. A6



Minério radioativo é extraído sem fiscalização no AP, diz PF
Polícia afirma que não faz apreensão de torianita por não ter onde guardar o material
Minério é negociado na rede clandestina por até US$ 300 o quilo; só há um inquérito ainda em andamento sobre o contrabando de torianita

Breno Costa
Pablo Solano
Da agência Folha

A extração e o comércio ilegais de torianita -minério radioativo que contém urânio, tório e um tipo de chumbo usado na montagem de reatores nucleares e bombas de nêutrons- estão correndo livremente no extremo norte do país há dez meses, sem fiscalização.
O diagnóstico é de quem deveria coibir o contrabando. A Polícia Federal do Amapá, que investiga o comércio clandestino desde 2004 -ano da primeira apreensão de torianita no Estado-, diz que não tem onde guardar o material e, por isso, apesar de receber denúncias, não pode fazer apreensões.
"A investigação foi praticamente suspensa por estarmos de mãos atadas e não podermos apreender nem um quilo de minério", afirma o delegado da PF Felipe Alcântara. Toda extração de torianita é ilegal no país.
Alcântara preside o único inquérito ainda em andamento sobre o contrabando do minério, que, de acordo com a PF, é negociada na rede clandestina por até US$ 300 o quilo.
Outros cinco foram encerrados com o indiciamento dos intermediários, mas sem chegar aos destinatários, diz a PF. Todos os indiciados respondem a processo em liberdade por danos ambientais e nucleares.
No início das investigações sobre o contrabando, há quatro anos, havia participação até do Serviço Antiterrorismo da PF em Brasília. O delegado Ademir Dias Cardoso Júnior, ex-chefe do Serviço Antiterrorismo da PF, diz que a unidade "aportou recursos materiais e humanos para tentar investigar, tendo em vista a sensibilidade do tema e o interesse nacional".
No entanto, diz que a participação da unidade foi interrompida após o vazamento do inquérito a uma revista semanal, em 2006, e, desde então, a investigação é conduzida só pela Superintendência da PF no Amapá. Ele diz que nunca foi produzido relatório conclusivo sobre o destino da torianita.
Desde fevereiro, quando apreendeu cerca de 1,1 tonelada do minério, a PF não faz mais apreensões. O minério, escuro e com densidade alta (um copo de 250 ml de torianita pesa 2,5 kg), é encontrado nas margens de um afluente do rio Araguari, na região central do Amapá.
O delegado teve de recorrer à Justiça para que a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) enviasse técnicos ao Estado para retirar o material e levá-lo a um laboratório do órgão em Poços de Caldas (MG).
O recolhimento só foi feito em setembro, mas a PF diz que o problema não foi resolvido. Alcântara quer que a Cnen construa um depósito no Amapá para armazenar o material. Ele já recorreu novamente à Justiça, que não se manifestou.
O responsável pelo recebimento da torianita pela Cnen, Antônio Luís Quinelato, afirma que não está entre as funções da comissão receber minérios apreendidos. Ele defende a construção de um depósito, mas diz que o assunto ainda não foi debatido na Cnen.
O material era armazenado provisoriamente em tonéis no Batalhão de Polícia Militar Ambiental, em Santana (22 km de Macapá). Mas o comandante do batalhão, coronel Sérgio do Nascimento, comunicou à PF que não quer mais torianita nas dependências do batalhão.
Segundo o coronel, a unidade abriga projetos sociais, e a presença de material radioativo poderia colocar em risco a saúde de quem circula por ali.


Pesquisa com a torianita teve início neste ano

Da agência Folha

Somente neste ano a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) diz ter iniciado pesquisas com a torianita apreendida no Estado do Amapá. O minério é rico em três materiais utilizados pela indústria nuclear: urânio, tório e chumbo-208.
Enquanto o minério usado pelo Brasil na produção de combustível nuclear possui 0,3% de urânio, a torianita possui uma concentração de 7%. O objetivo da pesquisa é verificar se é viável extrair o minério da torianita para alimentar reatores.
A torianita é dos minérios que fazem do Brasil a maior reserva de tório conhecida no mundo, segundo os dados da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). De acordo com um relatório de 2007 da entidade, as reservas brasileiras são superiores a 600 mil toneladas.
O tório é utilizado nos programas nucleares da França e da Índia, mas ainda é desprezado pela pesquisa nuclear brasileira.

Chumbo
Outro elemento presente na torianita é o chumbo-208. Enquanto o chumbo natural possui 54% do tipo 208, o encontrado na torianita tem uma concentração de 88%, segundo o pesquisador José Antonio Seneda, do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares).
Segundo ele, o chumbo-208 é utilizado para a refrigeração de reatores. A Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas de Angra, disse que não desenvolve pesquisas com o material.
Outro uso do chumbo-208 é o revestimento de bombas de nêutrons, famosas pelo potencial de matar seres vivos e ter um impacto menor sobre prédios e construções.
Segundo o engenheiro químico Luiz Felipe da Silva, assessor da presidência da estatal brasileira INB (Indústrias Nucleares do Brasil), a torianita ainda não é explorada pela indústria nuclear porque não existem informações que apontem o Brasil com reservas suficientes para viabilizar economicamente a exploração do urânio a partir dela.
O país desenvolveu pesquisas sobre o uso do tório na indústria nuclear até a década de 1960, mas as autoridades brasileiras privilegiaram as pesquisas envolvendo o urânio.
As reservas de tório do Brasil eram consideradas estratégicas pelos EUA na metade do século 20. Relatório da CIA de 1957 mostra a preocupação dos agentes de inteligência norte-americanos com uma recomendação do Conselho de Segurança Nacional para a exploração dos minérios radioativos ser monopólio da União. (PS e BC)


Comissão discutirá com a PF combate ao contrabando

Da agência Folha

O chefe do laboratório da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) em Poços de Caldas (MG), Antônio Luís Quinelato, afirma que a comissão não possui um procedimento estabelecido para atuar no combate ao contrabando de minerais radioativos.
Quinelato afirma que a demanda da Cnen em atuar em conjunto com a Polícia Federal é nova. De acordo com ele, a diretoria do órgão discutirá como será a participação da comissão, pois não está nas suas atribuições a fiscalização da mineração ilegal.
Quinelato diz que é insustentável a política de ir buscar no Amapá a torianita toda vez em que ocorrerem apreensões. Ele afirma que as operações demandam a solicitação de avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e o envio de pessoal técnico para o Estado.

Depósito no Amapá
O chefe do laboratório diz que uma provável solução é a construção de um depósito no Amapá para receber a torianita, mas o assunto ainda não foi discutido pelo órgão. Quando o material atingisse grande quantidade, a Cnen o levaria para uma de suas unidades.
A Cnen também enfrenta resistência em Poços de Caldas para receber o minério. A ida da torianita do Amapá para a cidade foi alvo de protestos na Câmara Municipal da cidade e reportagens na imprensa local.
Sobre eventuais riscos à saúde humana decorrente da exposição à torianita, alegados pelo Batalhão de Polícia Militar Ambiental do Amapá, a Cnen diz que o nível de radioatividade do minério na natureza é baixo, mas passa do nível seguro quando acumulado em grandes quantidades sem o armazenamento adequado. (PS e BC)

FSP, 27/12/2008, Brasil, p. A6
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.