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Notícias

Lideranças indígenas e organizações protestam na COP29 para denunciar impactos da Ferrogrão

21/11/2024

Autor: Carolina Bataier

Fonte: Brasil de Fato - https://www.brasildefato.com.br/



Lideranças indígenas e organizações protestam na COP29 para denunciar impactos da Ferrogrão
Manifestantes denunciaram os impactos da infraestrutura de escoamento da soja na Amazônia
Carolina Bataier
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 21 de novembro de 2024 às 16:21

Lideranças indígenas e organizações realizaram uma manifestação na COP29, em Baku, capital do Azerbaijão, para denunciar os impactos do projeto da Ferrogrão e de outras obras de infraestrutura na Amazônia. O protesto, realizado nesta quinta-feira (21), foi organizado na Zona Azul do evento, espaço onde ocorrem as negociações oficiais, reuniões de grupos de trabalho e sessões plenárias da conferência climática. Nessa área, representantes dos países se reúnem para discutir e negociar acordos e tomar decisões.


A Ferrogrão, ferrovia de 933 quilômetros de extensão, destinada ao escoamento de soja e milho, está prevista para ser construída entre os municípios de Sinop (MT) e Itaituba (PA), passando por áreas protegidas, como o território dos indígenas Munduruku. A ferrovia integra um sistema de transporte dos grãos, formado pelos portos instalados nos municípios de Itaituba e Santarém e pela rodovia BR 163, onde há intenso fluxo de caminhões no trecho entre Mato Grosso e Pará.

Na manifestação, que atenta para os riscos socioambientais desses empreendimentos, Alessandra Korap, liderança indígena do povo Munduruku, foi a voz principal do ato ao ler uma carta do rio Tapajós para o mundo - documento que marcou o encerramento do 7o Grito Ancestral do Povo Tupinambá, no Pará, no último final de semana. Na carta, o rio ganha voz para fazer uma denúncia sobre os impactos das obras de escoamento de soja na Amazônia.

"Na Praia do Mangue, uma das muitas aldeias Munduruku à minha margem, o pó de soja infesta o ar e suja minhas águas. Também me ameaçam com a construção de dezenas barragens e hidrelétricas, e ignoram os impactos dessa ação predatória sobre mim", alerta um trecho do documento.


Na manifestação, Alessandra criticou a contradição entre o discurso climático do governo brasileiro na COP29 e as ações que promovem obras como a Ferrogrão. "Essas obras de logística não funcionam para a Amazônia e impactam negativamente a vida dos povos tradicionais", alerta.

O protesto ocorre em meio a ações de setores do governo brasileiro para acelerar projetos ferroviários, como a Ferrogrão. Nesta semana, o Ministério dos Transportes emitiu uma diretriz que transfere para a União o licenciamento ambiental dessas obras, buscando segurança jurídica para atrair investimentos. Organizações ambientais veem a medida como um retrocesso que ignora os impactos sociais e ambientais.

Bruna Balbi, assessora jurídica da ONG Terra de Direitos, destacou o caráter excludente do planejamento dessas obras. "O problema dos grandes projetos de infraestrutura na Amazônia é que eles não são feitos para as pessoas e nem com a participação das comunidades que vivem lá. Demandamos que o governo brasileiro respeite e valorize as tradições e saberes dos povos que habitam esses territórios", diz.

Além das críticas à Ferrogrão, Balbi questionou a falta de inclusão das populações amazônicas nas decisões climáticas. "Essa é a grande questão hoje: é possível haver participação popular nas grandes tomadas de decisão sobre infraestrutura e metas climáticas? A justiça climática só será possível com a voz dos povos tradicionais".


Participaram da manifestação as organizações Movimentos Atingidos por Barragens (MAB), Associação Pariri, representada por Alessandra Korap, Engajamundo e Terra de Direitos.

Edição: Martina Medina

https://www.brasildefato.com.br/2024/11/21/liderancas-indigenas-e-organizacoes-protestam-na-cop29-para-denunciar-impactos-da-ferrograo
 

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