Artes
O conceito de arte e os indígenas
![Cestaria de arumã baniwa. Foto: Beto Ricardo, 2000 Cestaria de arumã baniwa. Foto: Beto Ricardo, 2000](https://img.socioambiental.org/d/639627-1/cesto_baniwa.jpg)
Arte é uma categoria criada pelo homem ocidental. E, mesmo no Ocidente, o que deve ou não deve ser considerado arte está longe de ser um consenso. O que não dizer da aplicação desse termo em manifestações plásticas de povos que nem ao menos possuem palavra correspondente em suas respectivas línguas?
O assunto é complexo e, a despeito da inadequação do termo, muitas obras indígenas têm impactado a sensibilidade e/ou a curiosidade do “homem branco” desde o século XVI, época em que os europeus aportaram nas terras habitadas pelos ameríndios. Nesse período, objetos confeccionados por esses povos eram colecionados por reis e nobres como espécimes “raros” de culturas “exóticas” e “longínquas”.
Até hoje, uma certa concepção museológica dos artefatos indígenas continua a vigorar no senso comum. Para muitos, essas obras constituem “artesanato”, considerado uma arte menor, cujo artesão apenas repete o mesmo padrão tradicional sem criar nada novo. Tal perspectiva desconsidera que a produção não paira acima do tempo e da dinâmica cultural. Ademais, a plasticidade das obras resulta da confluência de concepções e inquietações coletivas e individuais, apesar de não privilegiar este último aspecto, como ocorre na arte ocidental. Confeccionados para uso cotidiano ou ritual, a produção de elementos decorativos não é indiscriminada, podendo haver restrições de acordo com categorias de sexo, idade e posição social. Exige ainda conhecimentos específicos acerca dos materiais empregados, das ocasiões adequadas para a produção etc.
A Arte Baniwa, marca criada por indígenas Baniwa do alto rio Negro (AM), é um exemplo bem sucedido dessa empreitada.
As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra e outros materiais conferem singularidade à produção ameríndia, diferenciando-a da arte ocidental, assim como da produção africana ou asiática. Entretanto, não se trata de uma “arte indígena”, e sim de “artes indígenas”, já que cada povo possui particularidades na sua maneira de se expressar e de conferir sentido às suas produções.
Os suportes de tais expressões transcendem as peças exibidas nos museus e feiras (cuias, cestos, cabaças, redes, remos, flechas, bancos, máscaras, esculturas, mantos, cocares...), uma vez que o corpo humano é pintado, escarificado e perfurado; assim como o são construções rochosas, árvores e outras formações naturais; sem contar a presença crucial da dança e da música. Em todos esses casos, a ordem estética está vinculada a outros domínios do pensamento, constituindo meios de comunicação – entre homens e mulheres, entre povos e entre mundos – e modos de conceber, compreender e refletir a ordem social e cosmológica.
Nas relações entre os povos, os artefatos também são objeto de troca, inclusive com o “homem branco”. Ultimamente, o comércio com a sociedade envolvente tem apontado uma alternativa de geração de renda por meio da valorização e divulgação de sua produção cultural.
Outras leituras
Para saber mais sobre o assunto, ver o artigo de Lúcia Hussak van Velthen, “Em outros tempos e nos tempos atuais: arte indígena”, no catálogo Artes Indígenas - Mostra do Redescobrimento, Fundação Bienal de SP (2000), e o livro Grafismo Indígena: Estudos de Antropologia Estética, organizado por Lux Vidal, Edusp/Nobel (2001)
Panorama da diversidade
![Mairawê Kaiabi. Foto: Rosely Alvim Sanches/ISA, 2002
Mairawê Kaiabi. Foto: Rosely Alvim Sanches/ISA, 2002](https://img.socioambiental.org/d/286426-1/arte_bakairi.jpg)
![Foto: Vladimir Kozak, s/d.
Foto: Vladimir Kozak, s/d.](http://img.socioambiental.org/d/286429-1/arte_karaja.jpg)
![Foto: Vladimir Kozak, s/d.
Foto: Vladimir Kozak, s/d.](http://img.socioambiental.org/d/286435-1/arte_karaja_2.jpg)
![Coleção FFLCH/USP, 1935.
Coleção FFLCH/USP, 1935.](http://img.socioambiental.org/d/286439-1/arte_kadiweu_2.jpg)
![Foto: Jussara Gruber, 1979.
Foto: Jussara Gruber, 1979.](http://img.socioambiental.org/d/286441-1/arte_ticuna.jpg)
![Foto: Isabelle Vidal Giannini, 1996.
Foto: Isabelle Vidal Giannini, 1996.](http://img.socioambiental.org/d/286447-1/arte_xikrin_2.jpg)
![Foto: Lúcia Hussak Van Velthen, 1984.
Foto: Lúcia Hussak Van Velthen, 1984.](http://img.socioambiental.org/d/286453-1/arte_wayana_2.jpg)
![Foto: Aparecida Vilaça, 1995.
Foto: Aparecida Vilaça, 1995.](http://img.socioambiental.org/d/286455-1/arte_wari.jpg)