From Indigenous Peoples in Brazil
News
Festa dos mortos no Xingu
30/04/2007
Fonte: Horizonte Geográfico, v. 20, n. 110, abr. 2007, p. 20-29
Festa dos mortos no Xingu
O Kuarup, festa em homenagem aos mortos ilustres, como ficou conhecida na língua Kamaiurá, é considerado o grande símbolo da cultura dos indígenas do Alto Xingu. Trata-se de uma cerimônia que envolve mitos de criação da humanidade, a classificação hierárquica nos grupos, a iniciação das jovens na idade adulta e as relações entre as aldeias do Parque Indígena do Xingu, uma área criada em 1961 pelos irmãos Villas-Boas para proteger os povos do progresso predatório da Região Centro-Oeste.
Nesse território de 2,6 milhões de hectares, no nordeste do Mato Grosso, vivem 14 povos indígenas, somando mais de 4 anil indivíduos. Constituem uma população heterogênea, aproximada pelo costume de trocas, casamentos, rituais e pela base alimentar constituída de peixes. Entre esses povos, é comum a cerimônia do Kuarup, quando a aldeia anfitriã recebe os integrantes das aldeias vizinhas para a comemoração dos mortos. Durante a festa, xamãs e familiares dos mortos trazem do mato os troncos cortados, fincados ao lado da casa dos homens, pintados e enfeitados como os próprios índios.
No Alto Xingu, as aldeias são formadas por casas comunais dispostas em torno de uma praça de chão batido. No centro dessa praça fica a chamada Casa dos Homens. É uni ponto de reunião masculino no qual são guardadas as flautas sagradas, que só podem ser tocadas em seu interior ou à noite no pátio, quando as mulheres estão recolhidas. É também o lugar onde se enterram os mortos e se realizam os rituais, nos quais os chefes recebem mensageiros de outros grupos e proferem seus discursos aos locais. E ali também que os homens realizam as lutas.
O ritual do Kuarup costuma ocorrer no mês de agosto, desde a recepção aos convidados, com beiju, mingau de farinha de mandioca e peixe moqueado, oferecidos pelos familiares do morto. Durante a festa, homens portando flautas vão de casa em casa, em companhia das adolescentes que saem de seu período de reclusão, ocorrida após a primeira menstruação, quando se dá a passagem entre a infância e a vida adulta.
A noite, depois que os troncos foram preparados, os familiares dos mortos sentam-se a seu redor e choram durante toda a madrugada, enquanto os xamãs tocam seus maracás (espécie de chocalho). Os convidados das aldeias vizinhas acampam na mata próxima. Um grupo chega fazendo barulho e cantando, enquanto alimentam pequenas fogueiras rituais ao lado dos troncos.
Ao amanhecer, os anfitriões e os convidados se preparam para o huka-huka, nome da luta que lembra os gritos dos adversários imitando o rugido da onça. Para essas lutas, os homens se untam com óleo de copaíba, pasta de urucum e pequi -vermelho e amarelo. Eles também se submetem a arranhões feitos nos braços com o dente de um peixe e tomam ervas que servem para aumentar suas forças. Os lutadores batem o pé direito no chão, dando voltas no sentido dos ponteiros do relógio, com o braço esquerdo estendido e o direito retraído, enquanto gritam. Até que chocara as mãos direitas e enlaçam o pescoço do adversário com a esquerda. A luta, que pode durar poucos segundos, termina quando um dos adversários é derrubado.
Após a luta, as jovens que haviam estado reclusas oferecem sementes de pequi aos líderes das aldeias convidadas. Durante quase uni ano, elas Ficaram fechadas no espaço interno das casas, aprendendo a executar tarefas femininas no preparo dos alimentos e na confecção do artesanato. Nesse período, não cortaram o cabelo c soas franjas cresceram por sobre os olhos. Agora, elas têm um novo nome e se movimentara pela aldeia, entrando e saindo das casas, quando recebem as ofertas de casamento.
Com a descrição do Kuarup, Horizonte Geográfico faz a sua homenagem aos indígenas cuja data está sendo comemorada em 19 de abril. Na verdade, a data, estabelecida em 1940, após o primeiro congresso das comunidades indígenas da América Latina, realizado no México, é apenas uni lembrete a todos os povos do continente -indígenas ou não-sobre a importância dos índios, que somam atualmente algo entre 350 mil e mais de 550 mil indivíduos, segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA), e têm em comum a necessidade de preservação de si mesmos c de suas terras pelo mesmo processo de sustentabilidade que hoje preocupa a sociedade brasileira.
O fotógrafo Eraldo Peres esteve no Xingu, durante a festa do Kuarup oferecida pelos Kuikuro, junto com seus aliados Kalapalo, por ocasião da morte dos pais de um de seus chefes. As fotos deram ao brasileiro o prêmio na categoria "Ritos Tradicionais" do Humanity Photo Awards, realizado pela Associação de Fotógrafos de Folclore da China, em parceria com a Unesco, em 2006
Horizonte Geográfico, v. 20, n. 110, abr. 2007, p. 20-29
O Kuarup, festa em homenagem aos mortos ilustres, como ficou conhecida na língua Kamaiurá, é considerado o grande símbolo da cultura dos indígenas do Alto Xingu. Trata-se de uma cerimônia que envolve mitos de criação da humanidade, a classificação hierárquica nos grupos, a iniciação das jovens na idade adulta e as relações entre as aldeias do Parque Indígena do Xingu, uma área criada em 1961 pelos irmãos Villas-Boas para proteger os povos do progresso predatório da Região Centro-Oeste.
Nesse território de 2,6 milhões de hectares, no nordeste do Mato Grosso, vivem 14 povos indígenas, somando mais de 4 anil indivíduos. Constituem uma população heterogênea, aproximada pelo costume de trocas, casamentos, rituais e pela base alimentar constituída de peixes. Entre esses povos, é comum a cerimônia do Kuarup, quando a aldeia anfitriã recebe os integrantes das aldeias vizinhas para a comemoração dos mortos. Durante a festa, xamãs e familiares dos mortos trazem do mato os troncos cortados, fincados ao lado da casa dos homens, pintados e enfeitados como os próprios índios.
No Alto Xingu, as aldeias são formadas por casas comunais dispostas em torno de uma praça de chão batido. No centro dessa praça fica a chamada Casa dos Homens. É uni ponto de reunião masculino no qual são guardadas as flautas sagradas, que só podem ser tocadas em seu interior ou à noite no pátio, quando as mulheres estão recolhidas. É também o lugar onde se enterram os mortos e se realizam os rituais, nos quais os chefes recebem mensageiros de outros grupos e proferem seus discursos aos locais. E ali também que os homens realizam as lutas.
O ritual do Kuarup costuma ocorrer no mês de agosto, desde a recepção aos convidados, com beiju, mingau de farinha de mandioca e peixe moqueado, oferecidos pelos familiares do morto. Durante a festa, homens portando flautas vão de casa em casa, em companhia das adolescentes que saem de seu período de reclusão, ocorrida após a primeira menstruação, quando se dá a passagem entre a infância e a vida adulta.
A noite, depois que os troncos foram preparados, os familiares dos mortos sentam-se a seu redor e choram durante toda a madrugada, enquanto os xamãs tocam seus maracás (espécie de chocalho). Os convidados das aldeias vizinhas acampam na mata próxima. Um grupo chega fazendo barulho e cantando, enquanto alimentam pequenas fogueiras rituais ao lado dos troncos.
Ao amanhecer, os anfitriões e os convidados se preparam para o huka-huka, nome da luta que lembra os gritos dos adversários imitando o rugido da onça. Para essas lutas, os homens se untam com óleo de copaíba, pasta de urucum e pequi -vermelho e amarelo. Eles também se submetem a arranhões feitos nos braços com o dente de um peixe e tomam ervas que servem para aumentar suas forças. Os lutadores batem o pé direito no chão, dando voltas no sentido dos ponteiros do relógio, com o braço esquerdo estendido e o direito retraído, enquanto gritam. Até que chocara as mãos direitas e enlaçam o pescoço do adversário com a esquerda. A luta, que pode durar poucos segundos, termina quando um dos adversários é derrubado.
Após a luta, as jovens que haviam estado reclusas oferecem sementes de pequi aos líderes das aldeias convidadas. Durante quase uni ano, elas Ficaram fechadas no espaço interno das casas, aprendendo a executar tarefas femininas no preparo dos alimentos e na confecção do artesanato. Nesse período, não cortaram o cabelo c soas franjas cresceram por sobre os olhos. Agora, elas têm um novo nome e se movimentara pela aldeia, entrando e saindo das casas, quando recebem as ofertas de casamento.
Com a descrição do Kuarup, Horizonte Geográfico faz a sua homenagem aos indígenas cuja data está sendo comemorada em 19 de abril. Na verdade, a data, estabelecida em 1940, após o primeiro congresso das comunidades indígenas da América Latina, realizado no México, é apenas uni lembrete a todos os povos do continente -indígenas ou não-sobre a importância dos índios, que somam atualmente algo entre 350 mil e mais de 550 mil indivíduos, segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA), e têm em comum a necessidade de preservação de si mesmos c de suas terras pelo mesmo processo de sustentabilidade que hoje preocupa a sociedade brasileira.
O fotógrafo Eraldo Peres esteve no Xingu, durante a festa do Kuarup oferecida pelos Kuikuro, junto com seus aliados Kalapalo, por ocasião da morte dos pais de um de seus chefes. As fotos deram ao brasileiro o prêmio na categoria "Ritos Tradicionais" do Humanity Photo Awards, realizado pela Associação de Fotógrafos de Folclore da China, em parceria com a Unesco, em 2006
Horizonte Geográfico, v. 20, n. 110, abr. 2007, p. 20-29
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