From Indigenous Peoples in Brazil

News

 Realidade virtual leva índios brasileiros a Londres

06/05/2018

Autor: Claudia Sarmento

Fonte: O Globo https://oglobo.globo.com/



Para chegar à aldeia Ipatse é preciso pegar um avião até Brasília, viajar mais 18 horas de ônibus até Canarana (Mato Grosso), e depois enfrentar oito horas de carro, sendo que um trecho talvez tenha que ser feito de barco. Só então o viajante pisará na terra dos kuikuros, uma das 16 etnias do Alto Xingu. A distância entre esse ponto do Brasil e Londres é incalculável, mas essa noção de espaço é questionada pela instalação "Xingu Ensemble", do artista Clelio de Paula, na qual os índios contam suas histórias através de realidade virtual. Assim, é como se eles pudessem estar em qualquer lugar. No domingo, estarão no museu Tate Modern, um dos principais centros de arte contemporânea do mundo.

A instalação é a expressão artística do Projeto Xingu, financiado por instituições de pesquisa britânicas para preservação da cultura indígena. Os kuikuros já têm uma produção audiovisual reconhecida, representada pelo cineasta Takumã Kuikuro. A convite dele, nove artistas se instalaram na aldeia no ano passado, durante 20 dias. Armado de drones, scanners 3D e câmeras 360 graus, o time registrou a vida da tribo, produzindo memória com o objetivo de proteger um patrimônio cultural em risco. A imersão, que se repetirá este ano, trouxe da floresta um material inédito. Nas mãos de Clelio, imagens e sons se transformaram num espetáculo de magia digital. É como voar pela mata com os kuikuros, sob um céu de estrelas. Sem sair de Londres, ou de qualquer outro lugar.

- A holografia tridimensional transporta a aldeia para que ela possa narrar sua própria história - explica Clelio, que se diz um "obcecado por memória e registro".

Tendo como base a engenharia eletrônica de computação, o fluminense de Xerém se define como um criador de arte através de códigos. No Xingu, onde esteve acompanhado por nomes como Gringo Cardia e Batman Zavareze, investigou lendas e hábitos dos índios, e gravou imagens usando escaneamento de pessoas reais para montar um diorama futurístico, no qual elementos mitológicos e cotidianos se confundem. O convite para que o artista mostrasse o trabalho em Londres partiu da Queen Mary University e do People's Palace Projects, que promove projetos artísticos em diferentes comunidades.

Yamalui Kuikuro, membro da tribo e pesquisador indígena, acompanha Clelio na visita. É sua voz que tem destaque na instalação, contando uma lenda na língua karib. A participação reflete a preocupação em garantir o protagonismo dos kuikuros, os donos da história.

- Quero que a realidade do meu povo seja conhecida. Sou parte dessa narrativa e tenho muito orgulho dela - disse Yamalui, em sua primeira viagem ao exterior.

Publicidade

A instalação integra uma mostra do Tate Modern que discute a preservação de culturas em situações de risco e ruptura. Para Clelio, as tecnologias digitais têm a capacidade de eternizar elementos que acabariam se perdendo, preservando narrativas imersivas que não se encaixam num quadro. O artista relembra o momento em que se sentiu livre na aldeia, sem ser "mais um homem branco" invadindo uma terra que não é dele:

- Passei oito horas num barco pescando com um pai e um filho. No barco, entendi que eles não eram figuras mitológicas, mas pessoas muito mais parecidas comigo do que eu imaginava. Entendi seu humor, e me vi muito próximo deles. Naquele dia, fiquei livre para ser seu amigo e trabalhar com os kuikuros.

O acervo virtual vai crescer, reforçado por uma parceria que envolve o Horniman Museum (museu de etnografia de Londres), a Factum Foundation e a Associação Indígena Kuikuro. Novas imagens resultarão em outra experiência interativa, em realidade aumentada, que voltará a quebrar as barreiras físicas de um museu, desta vez numa exposição no Horniman, prevista para o fim do ano.


https://oglobo.globo.com/cultura/realidade-virtual-leva-indios-brasileiros-londres-22657488
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source