From Indigenous Peoples in Brazil

News

 Na II Marcha dos Povos Indígenas de Roraima, organizações divulgam Carta à População

09/08/2013

Fonte: Cimi - http://www.cimi.org.br



A II Marcha dos Povos Indígenas de Roraima, realizada neste dia 09 de agosto, reconhecido pela ONU como o Dia Internacional dos Povos Indígenas, reuniu aproximadamente 500 participantes indígenas dos povos Macuxi, Wapichana, Patamona, Taurepang, Ingaricó, Yekuana, Yanomami, Wai-Wai, organizações e parceiros da causa indígena.

A concentração da Marcha ocorreu a partir das seis horas na Praça do Centro Cívico, em Boa Vista, Roraima, onde após abertura seguiu para o Palácio do Governo. O movimento reivindicou melhorias e repudiou o descaso em que se encontra a educação indígena no Estado. Em seguida, o movimento seguiu para a Assembleia Legislativa, pedindo mais atenção e cumprimento das políticas públicas pelos parlamentares. Nos dois setores públicos foi entregue a Carta da II Marcha.

No período da tarde, a Marcha seguiu pelas principais vias da capital até o Ministério Público Federal (MPF), Advocacia Geral da União (AGU), Controladoria Geral da União (CGU), Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), onde também o documento foi entregue.

O encerramento da Marcha deu-se com um ato simbólico demonstrando que os povos indígenas não só se manifestam, mas que também comemoram as conquistas ao longo dos 500 anos do Brasil. O movimento indígena pede respeito e cumprimento dos direitos garantidos na Constituição Federal de 1988, considerando que até o momento o Estado Brasileiro se mostra ainda omisso com essa conquista.

2013: 25 anos de conquista dos Direitos Indígenas na Constituição Federal!

Pela vida e dignidade, salve os Povos Indígenas de Roraima e do Brasil!

A luta continua, unidos venceremos!


Carta Aberta à População

Nós, Povos Indígenas do Estado de Roraima, apoiados por nossas organizações indígenas, e com solidariedade do movimento social, instituições públicas e privadas, em reafirmação dos direitos dos Povos Indígenas e considerando a situação de vulnerabilidade e instabilidade dos direitos humanos dos povos indígenas amparados pela Constituição Federal Brasileira, vimos nesta data de 09 de Agosto, considerado Dia Internacional dos Povos Indígenas, expressar a nossa indignação dada aos povos indígenas, e cobrar a atenção e medidas necessárias das autoridades públicas para as seguintes situações:

1. No Legislativo, as Propostas de Emendas Constitucionais, tais como PEC 215, PEC 033 e PEC 419 colocam em risco a garantia de nossos direitos e ameaçam nossa sobrevivência física e cultural. Essas PECs são inconstitucionais e visam o interesse individual, econômico e politiqueiro, por isso devem ser rejeitadas;

2. Da mesma forma exigimos a anulação do PDL 2540/2006 que trata da implantação de uma hidrelétrica na Cachoeira de Tamanduá, no Rio Cotingo, interior da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. O projeto de mineração PL 1610/96 traz abusos visíveis aos direitos indígenas. A temática da mineração deve ter sua tramitação concomitante com o PL 2057/91 do Estatuto dos Povos Indígenas, por abranger direitos indígenas a serem protegidos e especificados. Pela imediata paralisação do PL 1610/95, priorizando a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas;

3. Os direitos de posse permanente e usufruto exclusivo sobre as terras indígenas são direitos constitucionais e devem ser protegidos. Infelizmente, as terras indígenas são vistas somente com olhar de cobiça e exploração devastadora. O exemplo disso são as contínuas invasões as terras indígenas, como caso na TI Anaro, na região Amajari e TI Yanomami. Queremos que haja celeridade para a retirada dos fazendeiros e demais invasões da TI Yanomami e demais terras indígenas, ações sistemáticas para coibir o garimpo ilegal e a adoção de ações efetivas e concretas para a proteção à posse indígena;

4. A Portaria 303/12 de iniciativa do poder executivo através da AGU, a qual interpreta como uma questão concluída e transitada em julgado tais condicionantes, pressionando o Poder Judiciário sobre todos os embargos declaratórios em trâmite no STF. Pela revogação da Portaria 303-AGU.

5. Pacaraima e Uiramutã foram municípios criados para desestabilizar a demarcação das Terras Indígenas São Marcos e Raposa Serra do Sol. A sede de Pacaraima tem crescido e se alastrando para dentro das comunidades indígenas, provocando impactos negativos socioculturais, ambientais, econômicos. Queremos providencias para sanar tal ilegalidade e a reintegração de posse para as comunidades indígenas.

6. A crise sobre a Saúde Indígena ameaça a organização social e a cultura indígena. O governo deve planejar e garantir serviços de assistência a saúde adequados e com qualidade, com equipamentos, postos, medicamentos e profissionais devidamente capacitados, com prioridade para os profissionais indígenas das próprias comunidades, como agentes de saúde, microscopistas, técnicos de enfermagem, laboratório, e profissionais de nível superior.

7. O governo deve criar linhas específicas de apoio às atividades econômicas sustentáveis dos povos indígenas, apoio à implementação dos planos de gestão territorial e ambiental das terras indígenas já construídos pelas comunidades indígenas, e o reconhecimento, regularização e apoio à atuação dos Agentes Territoriais e Ambientais Indígenas;

8. A situação da Educação Escolar Indígena é precária, apesar de receber verbas públicas federais em nome dos indígenas. Não tem construções de escolas e nem reformas, ou melhorias. A maioria das escolas indígenas são estruturas construídas pelas próprias comunidades e com recursos delas próprias. No mesmo sentido é preciso, apoiar os alunos indígenas que ingressam nas universidades com programas específicos no ingresso, na permanência e pós-graduação;

9. O Instituto Insikiran da UFRR foi criado atendendo a demanda indígena em parceria com as organizações indígenas. Somos contrários a exclusão das organizações indígenas nos processos decisórios. Queremos que a UFRR, no uso de sua autonomia mantenha o atual sistema de eleições para o Insikiran, no sentido de respeitar um sistema diferenciado e participativo da comunidade indígena.

O Estado de Roraima deve aprender a trabalhar com a realidade local e adequar o plano de desenvolvimento a partir dos direitos indígenas.

Com nossa Marcha no Dia Internacional dos Povos Indígenas, chamamos atenção das nossas autoridades públicas para a grave situação dos direitos dos povos indígenas em Roraima para reverter esse quadro negativo pela Justiça e Dignidade.

Conselho Indígena de Roraima - CIR, Conselho do Povo Indígena Ingarikó - COPING, Hutukara Associação Yanomami - HAY Associação dos Povos Indigenas Wai Wai - APIW, Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos - APITSM, Associação dos Povos Indígenas de Roraima - APIRR, Associação dos Povos Indígenas Wai-Wai - APIW, Associação do Povo Ye'kuana do Brasil - APYB, Organização das Mulheres Indígenas de Roraima - OMIR, Organização dos Professores Indígenas de Roraima - OPIR, Organização dos Índios na Cidade - ODIC.

Boa Vista, RR, 09 de agosto de 2014.



http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=7074
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source