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Brasil 2020: baixo carbono e alta inclusão

22/11/2009

Autor: VIANA, Jorge

Fonte: O Globo, Opinião, p. 7



Brasil 2020: baixo carbono e alta inclusão

Jorge Viana

Uma amena tarde de sábado em Paris sugere atividades também mais amenas, ainda assim a reunião que ocorre no Palácio do Eliseu é de intenso trabalho. Visto por esse ângulo, o momento da cena pode guardar algum tom de improvável, mas não tanto quanto a minha presença ali, posto pelo destino como testemunha ocasional do encontro dos chefes de Estado de França e Brasil.

"Se você vai, eu também vou", ouvi o presidente Nicolas Sarkozy dizer para o presidente Lula, reagindo à afirmação do líder brasileiro de que representaria pessoalmente nosso país na Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas.

Meses atrás, neste mesmo espaço do GLOBO, afirmei minha confiança de que o Brasil teria uma posição ousada na COP 15. Agora confesso minha alegria ao ver essa expectativa confirmada naquela tarde de sábado no Palácio do Eliseu, com o presidente Lula tornando público que levará a Copenhague o compromisso voluntário de o Brasil reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020.

Um conjunto de fatos permite entender que esse compromisso voluntário também indica a iniciativa do governo Lula na formação de bases sustentáveis para a produção e o consumo nacional, colocando o Brasil a caminho de uma economia de baixo carbono e alta inclusão.

No começo do seu governo, o presidente Lula apareceu na cúpula de elite de Davos para despertar os países ricos da indiferença com a fome que ainda grassa mundo afora. Fez ver que a responsabilidade dessa elite com as populações que passam fome cresce em proporção direta à globalização da economia. Ao mesmo tempo, iniciou aqui o esforço do Fome Zero, que, entre a cronicidade do problema e o aprendizado da solução, evolui no Bolsa Família como um dos mais bem-sucedidos programas de combate à fome e inclusão social em todo o mundo. E a sustentabilidade disso? A resposta é paulatina e vem em notícias como essa do novo recorde mensal na geração de empregos formais, sendo outubro de 2009 o melhor dos últimos 17 anos, com a criação de quase 1,5 milhão de empregos formais e saldo positivo de mais de 230 mil vagas.

Já no segundo mandato, mesmo depois de levar a economia em onda crescente e socialmente inclusiva por percurso tão longo quanto inédito, o presidente quase foi crucificado por demonstrar confiança no Brasil diante da crise mundial. Tornaram clichê do derrotismo sua afirmação de que a tsunami financeira chegaria aqui como uma "marolinha". Mas o Brasil foi o primeiro país a dar mostra de uma nova vitalidade econômica e agora se admite um 2010 com crescimento de 6%. Mesmo os 5% concedidos pelos mais pessimistas já serão algo extraordinário.

O desafio de modernizar a economia e distribuir riqueza, valorizando os recursos naturais, tem agora um compromisso governamental que facilita a missão das empresas, do capital privado e da força de trabalho da população. Será melhor se a compreensão desta oportunidade, talvez única na nossa história, poupar o país de entraves de motivação política. É hora de quebrar paradigmas para crescer com responsabilidade socioambiental. E o mercado, como ideia ampla de produtores e consumidores, precisa se mexer mais rapidamente.

Com a economia projetando índices de crescimentos animadores e os números do desmatamento na Amazônia caindo em proporções inéditas, o Brasil se mostra decidido a encarar a parte que lhe cabe no movimento da humanidade pela criação da sociedade do Século XXI.

A opção por uma economia de baixo carbono e alta inclusão, a partir do compromisso voluntário que levará a Copenhague, também coloca o Brasil na vanguarda mundial pela sustentabilidade, uma necessidade que cresce ainda mais agora, quando emerge a força cinza do chamado G2, o bloco China/Estados Unidos, cujos interesses falam tão alto que ameaçam tragar até a esperança noviça representada pelo presidente Barack Obama.

Com efeito, no encontro do Palácio Eliseu pude notar a força simbólica da decisão do presidente Lula de comparecer à COP 15, seduzindo o presidente francês a fazer o mesmo. O gesto indica que o Brasil quer a sustentabilidade alçada à categoria daqueles assuntos sacramentados como permanentes nas pautas das cúpulas de lideranças mundiais, a exemplo de economia e segurança global. Na verdade, o presidente sinalizou com essa importância logo depois de eleito, quando anunciou, em Washington, os primeiros membros do seu Ministério, justamente o da Fazenda e o do Meio Ambiente.

Na sequência, chamou para perto do seu gabinete a tratativa dos problemas ambientais, locados na Casa Civil da Presidência da República. E, antes que os apressados questionem se isso tem a ver com a candidatura Dilma Roussef, lembrem que a própria senadora Marina Silva, do alto da sua grandeza ética, já descartou a politização desse fato, reconhecendo publicamente que faz muito tempo que Lula levou o assunto para o andar de cima do Palácio do Planalto.

Jorge Viana é engenheiro florestal. Foi prefeito de Rio Branco (1993/96) e governador do Acre (1999/2006). E-mail: jorgeviana.acre@gmail.com.

O Globo, 22/11/2009, Opinião, p. 7
 

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