From Indigenous Peoples in Brazil
News
Amazônia ampliará sobra de urânio no país
19/10/2009
Fonte: FSP, Dinheiro, p. B3
Amazônia ampliará sobra de urânio no país
Com excedente ainda maior após exploração de nova reserva, Brasil poderá exportar minério que serve de base para usina nuclear
Plano é exportar produto já na forma de combustível nuclear; decisão sobre venda ou estocagem do excedente não está tomada
Marta Salomon
Da sucursal de Brasília
Embora já conte com a produção de toneladas de excedentes de urânio a partir de 2012, o governo negocia aumentar, na Amazônia, a exploração do minério no país. A cerca de 120 quilômetros de Manaus, numa área ainda preservada de floresta, encontra-se uma das maiores reservas de urânio do país, de nome Pitinga, com supostas 150 mil toneladas do minério que serve de combustível para as usinas nucleares.
Segundo o presidente da estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil), Alfredo Tranjan Filho, a empresa negocia um acordo para a extração de urânio com a mineradora peruana Minsur, que comprou no ano passado os direitos de exploração da Paranapanema em Pitinga. No local, o urânio -monopólio estatal- aparece associado ao estanho.
"Todo o mundo é ávido por urânio", diz Tranjan Filho, defensor de que o país deve exportar o urânio que produzir a mais para a geração de energia nas usinas nucleares.
A exportação de urânio ainda é tema de debate no governo, mas a página da estatal na internet não deixa dúvida sobre o objetivo: "O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de urânio, o que permite o suprimento das necessidades domésticas a longo prazo e a disponibilização do excedente para o mercado externo".
O país produz atualmente, na mina de Caetité, na Bahia, cerca de 400 toneladas de urânio por ano. Em 2012, a previsão é produzir mais 1.500 toneladas por ano, com a primeira ampliação da extração em Caetité e com o início da exploração no município de Santa Quitéria, no Ceará. Na jazida cearense, começou a funcionar recentemente a primeira parceria com a iniciativa privada para a exploração de urânio.
Com as duas usinas nucleares atualmente em operação no Brasil - Angra 1 e Angra 2-, o país consome menos de 500 toneladas de urânio por ano. Quando entrar em operação, provavelmente a partir de 2014, Angra 3 consumirá cerca de 320 toneladas por ano.
Também em 2014, o Brasil planeja dominar em escala industrial todas as etapas do ciclo do combustível nuclear, da produção do concentrado de urânio, conhecido como "yellow cake", até o enriquecimento, a fabricação de pastilhas e a montagem das varetas usadas como combustível nas usinas nucleares.
"A gente não quer exportar urânio como concentrado, mas já na forma de combustível nuclear", adianta Tranjan.
Quatro novas usinas nucleares, planejadas para entrar em funcionamento até 2030, deverão usar 250 toneladas por ano de urânio. Mas, antes mesmo de a primeira dessas quatro novas usinas começar a operar, e sem contar com o potencial de Pitinga, o Brasil estará produzindo 2.800 toneladas de urânio por ano. E usando menos do que a terça parte disso.
"Nossa prioridade é assegurar o fornecimento para as nossas usinas e as que estão planejadas. A decisão sobre o que fazer com o excedente será tomada quando ele realmente existir", disse o ministro Edison Lobão (Minas e Energia).
Decisão
O comitê interministerial de desenvolvimento do programa nuclear ainda não definiu o que fazer com o urânio extra a ser produzido em Santa Quitéria. A mais recente reunião do grupo ocorreu em agosto, pouco depois do anúncio do resultado da licitação, ganha pelo grupo Galvani. Na jazida de Itataia, o urânio é encontrado associado ao fosfato, usado na produção de fertilizantes agrícolas.
A exportação de urânio foi assunto polêmico durante a primeira viagem de Luiz Inácio Lula da Silva à China, em 2004, quando os chineses manifestaram interesse em importar o produto brasileiro.
Procurado pela Folha, o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) não se manifestou sobre a ampliação da produção excedente de urânio planejada pela INB, estatal vinculada à pasta.
Se optar por não exportar os excedentes, o urânio produzido a mais pode ser estocado. "Se o país entender que deve ficar com estoques estratégicos, tudo bem", diz Tranjan, insistindo em que o planejamento da estatal extrapola o mercado interno. "Nossa ambição vai além disso."
O mundo tem hoje mais de 400 usinas nucleares em funcionamento. A demanda anual por urânio é estimada em 64 mil toneladas. O Brasil tem a sétima maior reserva mundial do minério. À frente do país, nesse ranking, estão: Austrália, Cazaquistão, Rússia, África do Sul, Canadá e Estados Unidos.
Minério testa ambições diplomáticas de Lula
Igor Gielow
Secretário de redação
Da sucursal de Brasília
A questão do urânio brasileiro pode tornar-se o real teste dos limites das ambições diplomáticas do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Como é sabido, o Itamaraty lulista prega uma independência estridente, visando acompanhar o crescimento da importância econômica do Brasil. Para críticos, a longa lista de trapalhadas e fracassos na empreitada supera a iniciativa, mas nunca houve um questionamento externo incisivo.
Isso pode mudar. Se há um assunto que é tratado seriamente no mundo, é proliferação nuclear. Ainda que Barack Obama pareça dar prioridade a quase tudo, seus movimentos no setor reforçam o que já fazia George W. Bush: incentivar o controle da produção de combustível que eventualmente possa ser utilizado em armas nucleares.
O medo é dividido em duas vertentes. A primeira é a da proliferação estatal. Desde que foi descoberto no começo da década que cientistas paquistaneses haviam permitido à Coreia do Norte fazer sua bomba e alimentaram países como o Irã e a Líbia com segredos atômicos, Washington teme que regimes que lhe são hostis virem potências nucleares.
O segundo flanco é o do terrorismo. É bem difícil montar uma bomba e ter os meios para jogá-la sobre alguém, mas há uma longa lista de mecanismos simples que precisam de um pouco de material físsil para criar uma confusão dos diabos: são as chamadas bombas sujas, que, se não destroem uma cidade, podem contaminá-la de forma devastadora.
Se o Brasil não preocupa ninguém no segundo item, seu alinhamento ideológico a regimes antiamericanos em nome da tal independência pode gerar uma situação conflituosa quando o que está na mesa é algo mais que um cargo em algum organismo internacional.
O país considera o controle da produção de urânio enriquecido, como defendem os EUA na forma de um banco regulado pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), uma ameaça à sua soberania. É seu direito, ainda mais quando possui reservas importantes de urânio e pretende dominar todo o ciclo de enriquecimento em escala industrial. Mas, ao fazer isso e ao mesmo tempo abraçar o regime do iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o Brasil passa uma mensagem dúbia sobre suas intenções.
Não ajuda muito seu Plano de Defesa quase reclamar da limitação constitucional à bomba e de tempos em tempos alguma autoridade dizer que temos direito ao armamento nuclear. No jogo bruto da diplomacia nuclear, palavras são tão importantes quanto ações.
Plano do governo exorta domínio da tecnologia nuclear
Da sucursal de Brasília
Acelerar o aproveitamento das jazidas de urânio do país é uma das diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa. Lançado por Lula em dezembro de 2008, o plano dedica duas páginas à defesa do domínio da tecnologia nuclear.
O documento rejeita novos acordos internacionais que limitem o desenvolvimento da tecnologia de energia nuclear no país, como a ideia defendida pelos EUA de criar um banco de urânio enriquecido em grau suficiente para ser usado na geração de energia. A proposta manteria as atividades de enriquecimento de urânio sob controle de organismos multilaterais.
A bomba atômica usa urânio enriquecido a um grau bem superior ao do usado nas usinas e na propulsão de submarinos.
"A ideia em discussão é abortar a construção de fábricas de enriquecimento de urânio nos países, sobretudo por causa do programa nuclear iraniano", diz Guilherme Camargo, presidente da Aben (Associação Brasileira de Energia). O Brasil já tem fábrica, em Resende (RJ).
"O Brasil zelará por manter abertas as vias de acesso ao desenvolvimento de suas tecnologias de energia nuclear", diz a Estratégia Nacional de Defesa.
O documento critica o aumento das restrições do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear) e defende o submarino de propulsão nuclear e o desenvolvimento em escala industrial de todo o ciclo do combustível nuclear. (MS)
FSP, 19/10/2009, Dinheiro, p. B3
Com excedente ainda maior após exploração de nova reserva, Brasil poderá exportar minério que serve de base para usina nuclear
Plano é exportar produto já na forma de combustível nuclear; decisão sobre venda ou estocagem do excedente não está tomada
Marta Salomon
Da sucursal de Brasília
Embora já conte com a produção de toneladas de excedentes de urânio a partir de 2012, o governo negocia aumentar, na Amazônia, a exploração do minério no país. A cerca de 120 quilômetros de Manaus, numa área ainda preservada de floresta, encontra-se uma das maiores reservas de urânio do país, de nome Pitinga, com supostas 150 mil toneladas do minério que serve de combustível para as usinas nucleares.
Segundo o presidente da estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil), Alfredo Tranjan Filho, a empresa negocia um acordo para a extração de urânio com a mineradora peruana Minsur, que comprou no ano passado os direitos de exploração da Paranapanema em Pitinga. No local, o urânio -monopólio estatal- aparece associado ao estanho.
"Todo o mundo é ávido por urânio", diz Tranjan Filho, defensor de que o país deve exportar o urânio que produzir a mais para a geração de energia nas usinas nucleares.
A exportação de urânio ainda é tema de debate no governo, mas a página da estatal na internet não deixa dúvida sobre o objetivo: "O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de urânio, o que permite o suprimento das necessidades domésticas a longo prazo e a disponibilização do excedente para o mercado externo".
O país produz atualmente, na mina de Caetité, na Bahia, cerca de 400 toneladas de urânio por ano. Em 2012, a previsão é produzir mais 1.500 toneladas por ano, com a primeira ampliação da extração em Caetité e com o início da exploração no município de Santa Quitéria, no Ceará. Na jazida cearense, começou a funcionar recentemente a primeira parceria com a iniciativa privada para a exploração de urânio.
Com as duas usinas nucleares atualmente em operação no Brasil - Angra 1 e Angra 2-, o país consome menos de 500 toneladas de urânio por ano. Quando entrar em operação, provavelmente a partir de 2014, Angra 3 consumirá cerca de 320 toneladas por ano.
Também em 2014, o Brasil planeja dominar em escala industrial todas as etapas do ciclo do combustível nuclear, da produção do concentrado de urânio, conhecido como "yellow cake", até o enriquecimento, a fabricação de pastilhas e a montagem das varetas usadas como combustível nas usinas nucleares.
"A gente não quer exportar urânio como concentrado, mas já na forma de combustível nuclear", adianta Tranjan.
Quatro novas usinas nucleares, planejadas para entrar em funcionamento até 2030, deverão usar 250 toneladas por ano de urânio. Mas, antes mesmo de a primeira dessas quatro novas usinas começar a operar, e sem contar com o potencial de Pitinga, o Brasil estará produzindo 2.800 toneladas de urânio por ano. E usando menos do que a terça parte disso.
"Nossa prioridade é assegurar o fornecimento para as nossas usinas e as que estão planejadas. A decisão sobre o que fazer com o excedente será tomada quando ele realmente existir", disse o ministro Edison Lobão (Minas e Energia).
Decisão
O comitê interministerial de desenvolvimento do programa nuclear ainda não definiu o que fazer com o urânio extra a ser produzido em Santa Quitéria. A mais recente reunião do grupo ocorreu em agosto, pouco depois do anúncio do resultado da licitação, ganha pelo grupo Galvani. Na jazida de Itataia, o urânio é encontrado associado ao fosfato, usado na produção de fertilizantes agrícolas.
A exportação de urânio foi assunto polêmico durante a primeira viagem de Luiz Inácio Lula da Silva à China, em 2004, quando os chineses manifestaram interesse em importar o produto brasileiro.
Procurado pela Folha, o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) não se manifestou sobre a ampliação da produção excedente de urânio planejada pela INB, estatal vinculada à pasta.
Se optar por não exportar os excedentes, o urânio produzido a mais pode ser estocado. "Se o país entender que deve ficar com estoques estratégicos, tudo bem", diz Tranjan, insistindo em que o planejamento da estatal extrapola o mercado interno. "Nossa ambição vai além disso."
O mundo tem hoje mais de 400 usinas nucleares em funcionamento. A demanda anual por urânio é estimada em 64 mil toneladas. O Brasil tem a sétima maior reserva mundial do minério. À frente do país, nesse ranking, estão: Austrália, Cazaquistão, Rússia, África do Sul, Canadá e Estados Unidos.
Minério testa ambições diplomáticas de Lula
Igor Gielow
Secretário de redação
Da sucursal de Brasília
A questão do urânio brasileiro pode tornar-se o real teste dos limites das ambições diplomáticas do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Como é sabido, o Itamaraty lulista prega uma independência estridente, visando acompanhar o crescimento da importância econômica do Brasil. Para críticos, a longa lista de trapalhadas e fracassos na empreitada supera a iniciativa, mas nunca houve um questionamento externo incisivo.
Isso pode mudar. Se há um assunto que é tratado seriamente no mundo, é proliferação nuclear. Ainda que Barack Obama pareça dar prioridade a quase tudo, seus movimentos no setor reforçam o que já fazia George W. Bush: incentivar o controle da produção de combustível que eventualmente possa ser utilizado em armas nucleares.
O medo é dividido em duas vertentes. A primeira é a da proliferação estatal. Desde que foi descoberto no começo da década que cientistas paquistaneses haviam permitido à Coreia do Norte fazer sua bomba e alimentaram países como o Irã e a Líbia com segredos atômicos, Washington teme que regimes que lhe são hostis virem potências nucleares.
O segundo flanco é o do terrorismo. É bem difícil montar uma bomba e ter os meios para jogá-la sobre alguém, mas há uma longa lista de mecanismos simples que precisam de um pouco de material físsil para criar uma confusão dos diabos: são as chamadas bombas sujas, que, se não destroem uma cidade, podem contaminá-la de forma devastadora.
Se o Brasil não preocupa ninguém no segundo item, seu alinhamento ideológico a regimes antiamericanos em nome da tal independência pode gerar uma situação conflituosa quando o que está na mesa é algo mais que um cargo em algum organismo internacional.
O país considera o controle da produção de urânio enriquecido, como defendem os EUA na forma de um banco regulado pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), uma ameaça à sua soberania. É seu direito, ainda mais quando possui reservas importantes de urânio e pretende dominar todo o ciclo de enriquecimento em escala industrial. Mas, ao fazer isso e ao mesmo tempo abraçar o regime do iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o Brasil passa uma mensagem dúbia sobre suas intenções.
Não ajuda muito seu Plano de Defesa quase reclamar da limitação constitucional à bomba e de tempos em tempos alguma autoridade dizer que temos direito ao armamento nuclear. No jogo bruto da diplomacia nuclear, palavras são tão importantes quanto ações.
Plano do governo exorta domínio da tecnologia nuclear
Da sucursal de Brasília
Acelerar o aproveitamento das jazidas de urânio do país é uma das diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa. Lançado por Lula em dezembro de 2008, o plano dedica duas páginas à defesa do domínio da tecnologia nuclear.
O documento rejeita novos acordos internacionais que limitem o desenvolvimento da tecnologia de energia nuclear no país, como a ideia defendida pelos EUA de criar um banco de urânio enriquecido em grau suficiente para ser usado na geração de energia. A proposta manteria as atividades de enriquecimento de urânio sob controle de organismos multilaterais.
A bomba atômica usa urânio enriquecido a um grau bem superior ao do usado nas usinas e na propulsão de submarinos.
"A ideia em discussão é abortar a construção de fábricas de enriquecimento de urânio nos países, sobretudo por causa do programa nuclear iraniano", diz Guilherme Camargo, presidente da Aben (Associação Brasileira de Energia). O Brasil já tem fábrica, em Resende (RJ).
"O Brasil zelará por manter abertas as vias de acesso ao desenvolvimento de suas tecnologias de energia nuclear", diz a Estratégia Nacional de Defesa.
O documento critica o aumento das restrições do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear) e defende o submarino de propulsão nuclear e o desenvolvimento em escala industrial de todo o ciclo do combustível nuclear. (MS)
FSP, 19/10/2009, Dinheiro, p. B3
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source