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Tupi pode emitir até 3,3 bi de t de CO2

25/05/2009

Fonte: OESP, Vida, p. A14



Tupi pode emitir até 3,3 bi de t de CO2
Cálculo considera a produção de 8 bilhões de barris; por ano, emissão de carbono no Brasil é de 1,5 bilhão de t

Herton Escobar

As reservas de petróleo do mundo estão longe de secar. Mas não é preciso esperar tanto. Segundo estudo publicado neste mês na revista Nature, se o mundo quiser manter o aumento da temperatura do planeta abaixo de 2°C, não poderá queimar mais do que um quarto das reservas já disponíveis de combustíveis fósseis (óleo, carvão e gás) até 2050. Esse é o limite de aquecimento global considerado minimamente "seguro" pela comunidade científica.

"Temos petróleo demais, muito além do que podemos nos dar ao luxo de queimar", disse o autor principal do estudo, o alemão Malte Meinshausen, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impactos Climáticos.

Os resultados adicionam outro grau de urgência à necessidade de substituir o uso de combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia, que não acrescentam carbono à atmosfera - tal como solar, eólica e biocombustíveis. Nesse cenário de temperatura elevada e carbono em excesso, o entusiasmo brasileiro sobre as descobertas de petróleo no pré-sal - assim como os bilhões de reais que precisarão ser gastos para retirá-lo do fundo do mar - parece ir na contramão dos esforços nacional e internacional de combate ao aquecimento global. "Qualquer exploração de novas reservas certamente vai acrescentar mais carbono à atmosfera", diz Meinshausen.

Só as reservas do campo de Tupi - um dos vários que estão sendo descobertos na camada de pré-sal da Bacia de Santos - são estimados pela Petrobrás entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris de petróleo. Se todo esse óleo for recuperado, transformado em combustível e queimado, isso resultará na emissão de, pelo menos, 2,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, segundo cálculo feito por especialistas a pedido do Estado.

Isso equivale, aproximadamente, ao que o Brasil emite hoje em um ano - incluindo as emissões do setor energético, de transportes, do desmatamento da Amazônia. No caso dos 8 bilhões de barris, esse volume aumentaria para 3,3 bilhões de toneladas de CO2.

Um segundo reservatório descoberto no pré-sal e considerado comercialmente viável é o campo de Iara, com reserva estimada em até 4 bilhões de barris - mais 1,7 bilhão de toneladas de CO2 em emissões potenciais.

As contas foram feitas pelos especialistas Roberto Schaeffer, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio (UFRJ), e Luiz Alberto Horta Nogueira, professor do Instituto de Recursos Naturais da Universidade Federal de Itajubá. Cada barril de petróleo queimado emite entre 420 e 440 quilos de CO2 - sem contar o carbono emitido ao longo da cadeia produtiva, nos processos de extração, transporte, refino e distribuição. A comparação com as emissões totais do País é baseada em estimativa preliminar, já que o novo inventário oficial só deve ficar pronto no fim do ano. Pelos números do inventário atual (de 1994), o Brasil emite por ano cerca de 1,5 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (conta que inclui emissões de dois outros gases do efeito estufa: metano e óxido nitroso).

Quanto desse carbono que está embutido no petróleo será emitido de fato para a atmosfera dependerá de como as reservas do pré-sal serão utilizadas - algo ainda não definido. Falta saber quanto do óleo será transformado em combustível (gasolina ou diesel) e quanto será usado na fabricação de petroquímicos (como plástico), que mantêm o carbono "aprisionado" no produto. Em média, no mundo, 90% do petróleo é queimado e 10%, vira petroquímicos. "No Brasil é possível que essa proporção seja maior, pois há muita demanda por petroquímicos", avalia Alexandre Szklo, colega de Schaeffer na Coppe-UFRJ. Outro fator é a qualidade do petróleo do pré-sal.

Por ser um óleo de peso médio a leve, a quantidade de energia necessária para recuperá-lo tende a ser menor do que para óleos mais pesados, como é o caso de boa parte do óleo produzido e exportado hoje no Brasil. Menos energia consumida significa menos emissões. "Se usarmos o óleo do pré-sal para refino, poderemos até ter um benefício em termos de emissões", avalia Szklo. Ele ressalta que o que faz a emissão crescer é o aumento da demanda, não da oferta. "A demanda existe. Sem o pré-sal, ou teríamos de importar mais óleo ou usar um de pior qualidade." Procurada, a Petrobrás não se manifestou.


País não pode abrir mão petróleo, diz especialista

Especialistas em energia consultados pelo Estado foram unânimes em dizer que, apesar da preocupação climática, o País não pode abrir mão do petróleo do pré-sal.
"A demanda por petróleo é um problema global", diz Alexandre Szklo, da Coppe-UFRJ. A contramão do País, segundo ele, não está em investir no pré-sal, mas em continuar a investir em infraestrutura de transporte baseada em rodovias, em vez de ferrovias e hidrovias, que demandam menos petróleo.
Também é preciso cuidado para que a ênfase no pré-sal não desvie atenções da necessidade de investir em fontes renováveis de energia. Uma opção, segundo ele, seria taxar o óleo do pré-sal e aplicar o recurso em energia renovável. "Podemos usar o pré-sal para que ele seja seu próprio coveiro."
Cerca de 45% da matriz energética brasileira é baseada em fontes renováveis, principalmente hidrelétrica e biomassa, mas estudos mostram que há muito potencial desperdiçado nas áreas solar e eólica. "Estamos diante de uma equação complicada, que é aumentar a oferta de energia e emitir menos CO2", diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura. Segundo ele, não há como abrir mão do petróleo porque a demanda continuará a crescer. H.E.

OESP, 25/05/2009, Vida, p. A14
 

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