From Indigenous Peoples in Brazil
News
Resgate de cisne mobiliza frequentadores de parque
25/02/2009
Fonte: FSP, Cotidiano, p. C3-C4
Resgate de cisne mobiliza frequentadores de parque
Cisne fêmea driblou todas as tentativas feitas para capturá-lo; refugiou-se no meio do ex-lago, em poças recheadas de peixes mortos
Centenas de pessoas acompanharam a tentativa de tirar ave da lama no ex-lago da Aclimação
Laura Capriglione
Da reportagem local
O macho e a fêmea de cisne negro nadavam juntos no momento em que o fundo do lago da Aclimação abriu-se e 78 milhões de litros d'água começaram a desabar em um redemoinho cujo vórtex apontava para o córrego da Pedra Azul, que deságua no Tamanduateí, que deságua no Tietê.
Ralo adentro rolaram peixes, tartarugas e, muitos frequentadores do parque da Aclimação juram tê-lo visto, aves aquáticas. Quando quase todo o lago já tinha sido sugado, e apenas uma fina lâmina d'água restava recobrindo o fundo, milhares de peixes pulavam desesperados, tentando sair do atoleiro.
No meio da confusão, os dois cisnes assistiam a tudo, pescoços colados. "Eles estavam como que hipnotizados. Nem tentavam fugir", lembrava ontem Romilda Queiroz, 67, professora aposentada, chorando os acontecimentos da véspera.
Ontem, o casal de cisnes separou-se. O macho foi capturado ao se aproximar da margem do lago. Enviaram-no para o Viveiro Manequinho Lopes, no parque Ibirapuera, local que recebeu as aves flageladas (patos, marrecos, gansos, além do cisne). Faltou uma.
O cisne fêmea driblou todas as tentativas feitas até as 18h de ontem para capturá-lo. Refugiou-se no meio do ex-lago, cercado por poças d'água agora recheadas de peixes mortos -cascudos, tilápias, carpas coloridas, carpas-de-espelho e até mussuns, espécimes de corpo cilíndrico, parecidos com enguias ou moreias.
Resgate
"O cisne está atolado." Ninguém sabia se estava, mas a fêmea, parada por horas no meio do pântano, indicava isso, e o murmúrio espalhou-se.
Frequentadores do parque exigiam que a polícia fizesse um resgate da ave à la Rambo -helicóptero em voo estacionário, um Rambo descendo de rapel até o animal.
A saída foi cogitada porque, antes, alguns voluntários e guardas civis metropolitanos já haviam tentado alcançar a fêmea -andando. Afundaram na lama. O lago converteu-se em armadilha movediça. Ir de barco também não dava, não havia água suficiente -encalhava.
Foi quando apareceu Edmir Rabello, radialista "patriota e voluntário" na autodefinição. Chapéu camuflado de pescador, bermudas, botas de mergulhador e uma boia imensa feita com câmara de pneu de caminhão, ele parecia um aqualouco, mas tinha uma ideia na cabeça: ser conduzido por cordas -de boia- até o cisne, e assim capturá-lo.
Por volta das 15h, as centenas de pessoas que assistiam à agonia do bicho soltaram um óóóóóó uníssono. A ave tinha se movido. Foram poucos centímetros, mas ok. Ela não estava atolada.
A estratégia mudou. Esticou-se uma corda de uma margem à outra do lago. Homens em joggings limpinhos, frequentadores do parque, ofereciam-se para ajudar a agitar a corda, de modo a "arrastar" a ave até a margem coalhada de lixo urbano -pneus velhos, sapatos, garrafas, e latinhas que apareceram depois que a água baixou.
O "arrastão" na lama envolveu até quem achava a estratégia bizarra, como o músico Luís Guilherme de Mattos, 28, guitarrista e violonista, que terminou imundo e com as mãos lanhadas. "Achei um pouco rústico demais. Mas eu senti que devia ajudar, e fui."
Até que funcionou e o bicho foi bonitinho para a margem. O que ninguém sabia, porque paulistano que é bom não sabe nada de natureza, é que os cisnes são exímios voadores.
Quando o homem com a rede se aproximou da ave, ela abriu as asas imensas (aí se viram as pontas brancas) e voou, linda, de volta para o meio do lago sem água. Os espectadores, até ali calados, irromperam em aplausos e gritos de alegria.
Quietinha, a funcionária que cuida dos banheiros do parque há 14 anos, Agustia Maria, 37, picava bem miudinho um pão francês. "Deixa essa confusão parar. Daqui a pouco ela vem comer na minha mão, como vem todos os dias."
A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, responsável pela administração do parque da Aclimação, não sabia informar ontem à noite se, quando ou como será feita nova tentativa de resgate da ave. A noite passada ela passou sozinha no lago sem água.
Equipamento que fez lago secar tinha inspeção eventual
Conrado Corsalette
Da reportagem local
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), disse ontem que o desgaste do material pode ser a causa do acidente que secou anteontem o lago do parque da Aclimação.
"Pode não ser a chuva, pode ser o tempo de vida útil do equipamento, que chegou ao fim", afirmou Kassab, que esteve na manhã de ontem no local.
Apesar disso, de acordo com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, desde ao menos 1939, quando o parque da zona sul passou a ser gerido pela prefeitura, a estrutura que rompeu e sugou os 78 milhões de litros d'água do lago não é reformada.
Segundo Hélio Neves, chefe-de-gabinete da secretaria do verde, a prefeitura fazia vistorias eventuais e não havia motivos para reformá-la.
"Toda vez que, por alguma razão, caía um galho, alguém entrava lá para tirar. Nunca ninguém percebeu uma fissura ou problema na estrutura", afirmou Neves.
A estrutura em questão é o vertedouro, que controla o nível da água e impede que o lago transborde. Com a chuva forte, a base de concreto desse vertedouro, construído ao redor de quatro pilastras, cedeu.
"Não havia motivo para trocar o vertedouro. Ninguém nunca apontou necessidade de trocá-lo, nunca foi percebido como algo necessário", declarou o chefe-de-gabinete.
Ele, no entanto, não soube informar quando foi feita a última vistoria nem quem a fez.
Segundo a prefeitura, o lago deve estar em situação normal num prazo de seis semanas. "Espero que seja rápida a recuperação do vertedouro. E espero que em quatro a seis semanas a gente tenha o lago cheio de novo", afirmou Neves.
Uma empresa privada deverá ser contratada emergencialmente para avaliar o estrago e apurar as causas do acidente.
Hipóteses
Além das nascentes naturais, o lago recebe parte da água do córrego Pedra Azul, que é despejada no local após tratamento. Quando o nível da água sobe demais, ela vaza pela abertura superior do vertedouro e é despejada de novo no córrego.
Os técnicos da prefeitura deram ontem à Folha duas hipóteses para o rompimento da base da estrutura.
Na primeira, o concreto da base teria se rompido com a pressão externa da água. Na segunda, teria havido uma sobrecarga da galeria para onde a água do lago é levada (córrego Pedra Azul) e ela teria voltado, causando uma pressão interna e o consequente rompimento.
O lago ficou seco em cerca de 50 minutos. Peixes de várias espécies, tartarugas e cágados foram dragados canal a dentro.
O córrego Pedra Azul desemboca do rio Tamanduateí, que por sua vez deságua no Tietê.
Frequentadores do parque disseram à Folha terem visto aves aquáticas sendo sugadas pela água. A secretaria nega que alguma ave tenha morrido.
A pasta diz que os 21 gansos, os 4 patos, o marreco, um cisnes negro, além de peixes, foram levados para um centro veterinário localizado no parque Ibirapuera.
A reportagem esteve no local na tarde de ontem, mas não foi autorizada a ver os animais.
Frequentadores ficam desolados com acidente
Da reportagem local
A primeira expressão da dona-de-casa Romi Ichijo, 66, ao entrar no parque da Aclimação foi "meu Deus!".
Ela não havia visto o noticiário. Tinha a sua frente, totalmente vazio, o lago onde no dia anterior havia 78 milhões de litros d'água. "E os peixes? Será que vamos conseguir ter a água de volta?"
As perguntas e a perplexidade de Romi estavam na boca e na cara dos centenas de frequentadores do parque.
Alguns se emocionaram. A professora aposentada Maria dos Santos, 57, caiu no choro ao ver o lamaçal. "Venho aqui há 15 anos e não esperava ver isso", afirmou.
Apesar da recomendação contrária da administração do parque, que alertava para eventuais contaminações, dezenas de pessoas, com sacos plásticos ou baldes na mão ainda procuravam peixes vivos nas poças d'água.
Perplexidade e emoção não tiraram uma ponta de revolta dos frequentadores. "É o que dá terceirizar todos os serviços do parque. Isso é um descaso com o dinheiro público", dizia a professora Maria do Carmo Artuso,45, em frente ao lamaçal.
FSP, 25/02/2009, Cotidiano, p. C3-C4
Cisne fêmea driblou todas as tentativas feitas para capturá-lo; refugiou-se no meio do ex-lago, em poças recheadas de peixes mortos
Centenas de pessoas acompanharam a tentativa de tirar ave da lama no ex-lago da Aclimação
Laura Capriglione
Da reportagem local
O macho e a fêmea de cisne negro nadavam juntos no momento em que o fundo do lago da Aclimação abriu-se e 78 milhões de litros d'água começaram a desabar em um redemoinho cujo vórtex apontava para o córrego da Pedra Azul, que deságua no Tamanduateí, que deságua no Tietê.
Ralo adentro rolaram peixes, tartarugas e, muitos frequentadores do parque da Aclimação juram tê-lo visto, aves aquáticas. Quando quase todo o lago já tinha sido sugado, e apenas uma fina lâmina d'água restava recobrindo o fundo, milhares de peixes pulavam desesperados, tentando sair do atoleiro.
No meio da confusão, os dois cisnes assistiam a tudo, pescoços colados. "Eles estavam como que hipnotizados. Nem tentavam fugir", lembrava ontem Romilda Queiroz, 67, professora aposentada, chorando os acontecimentos da véspera.
Ontem, o casal de cisnes separou-se. O macho foi capturado ao se aproximar da margem do lago. Enviaram-no para o Viveiro Manequinho Lopes, no parque Ibirapuera, local que recebeu as aves flageladas (patos, marrecos, gansos, além do cisne). Faltou uma.
O cisne fêmea driblou todas as tentativas feitas até as 18h de ontem para capturá-lo. Refugiou-se no meio do ex-lago, cercado por poças d'água agora recheadas de peixes mortos -cascudos, tilápias, carpas coloridas, carpas-de-espelho e até mussuns, espécimes de corpo cilíndrico, parecidos com enguias ou moreias.
Resgate
"O cisne está atolado." Ninguém sabia se estava, mas a fêmea, parada por horas no meio do pântano, indicava isso, e o murmúrio espalhou-se.
Frequentadores do parque exigiam que a polícia fizesse um resgate da ave à la Rambo -helicóptero em voo estacionário, um Rambo descendo de rapel até o animal.
A saída foi cogitada porque, antes, alguns voluntários e guardas civis metropolitanos já haviam tentado alcançar a fêmea -andando. Afundaram na lama. O lago converteu-se em armadilha movediça. Ir de barco também não dava, não havia água suficiente -encalhava.
Foi quando apareceu Edmir Rabello, radialista "patriota e voluntário" na autodefinição. Chapéu camuflado de pescador, bermudas, botas de mergulhador e uma boia imensa feita com câmara de pneu de caminhão, ele parecia um aqualouco, mas tinha uma ideia na cabeça: ser conduzido por cordas -de boia- até o cisne, e assim capturá-lo.
Por volta das 15h, as centenas de pessoas que assistiam à agonia do bicho soltaram um óóóóóó uníssono. A ave tinha se movido. Foram poucos centímetros, mas ok. Ela não estava atolada.
A estratégia mudou. Esticou-se uma corda de uma margem à outra do lago. Homens em joggings limpinhos, frequentadores do parque, ofereciam-se para ajudar a agitar a corda, de modo a "arrastar" a ave até a margem coalhada de lixo urbano -pneus velhos, sapatos, garrafas, e latinhas que apareceram depois que a água baixou.
O "arrastão" na lama envolveu até quem achava a estratégia bizarra, como o músico Luís Guilherme de Mattos, 28, guitarrista e violonista, que terminou imundo e com as mãos lanhadas. "Achei um pouco rústico demais. Mas eu senti que devia ajudar, e fui."
Até que funcionou e o bicho foi bonitinho para a margem. O que ninguém sabia, porque paulistano que é bom não sabe nada de natureza, é que os cisnes são exímios voadores.
Quando o homem com a rede se aproximou da ave, ela abriu as asas imensas (aí se viram as pontas brancas) e voou, linda, de volta para o meio do lago sem água. Os espectadores, até ali calados, irromperam em aplausos e gritos de alegria.
Quietinha, a funcionária que cuida dos banheiros do parque há 14 anos, Agustia Maria, 37, picava bem miudinho um pão francês. "Deixa essa confusão parar. Daqui a pouco ela vem comer na minha mão, como vem todos os dias."
A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, responsável pela administração do parque da Aclimação, não sabia informar ontem à noite se, quando ou como será feita nova tentativa de resgate da ave. A noite passada ela passou sozinha no lago sem água.
Equipamento que fez lago secar tinha inspeção eventual
Conrado Corsalette
Da reportagem local
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), disse ontem que o desgaste do material pode ser a causa do acidente que secou anteontem o lago do parque da Aclimação.
"Pode não ser a chuva, pode ser o tempo de vida útil do equipamento, que chegou ao fim", afirmou Kassab, que esteve na manhã de ontem no local.
Apesar disso, de acordo com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, desde ao menos 1939, quando o parque da zona sul passou a ser gerido pela prefeitura, a estrutura que rompeu e sugou os 78 milhões de litros d'água do lago não é reformada.
Segundo Hélio Neves, chefe-de-gabinete da secretaria do verde, a prefeitura fazia vistorias eventuais e não havia motivos para reformá-la.
"Toda vez que, por alguma razão, caía um galho, alguém entrava lá para tirar. Nunca ninguém percebeu uma fissura ou problema na estrutura", afirmou Neves.
A estrutura em questão é o vertedouro, que controla o nível da água e impede que o lago transborde. Com a chuva forte, a base de concreto desse vertedouro, construído ao redor de quatro pilastras, cedeu.
"Não havia motivo para trocar o vertedouro. Ninguém nunca apontou necessidade de trocá-lo, nunca foi percebido como algo necessário", declarou o chefe-de-gabinete.
Ele, no entanto, não soube informar quando foi feita a última vistoria nem quem a fez.
Segundo a prefeitura, o lago deve estar em situação normal num prazo de seis semanas. "Espero que seja rápida a recuperação do vertedouro. E espero que em quatro a seis semanas a gente tenha o lago cheio de novo", afirmou Neves.
Uma empresa privada deverá ser contratada emergencialmente para avaliar o estrago e apurar as causas do acidente.
Hipóteses
Além das nascentes naturais, o lago recebe parte da água do córrego Pedra Azul, que é despejada no local após tratamento. Quando o nível da água sobe demais, ela vaza pela abertura superior do vertedouro e é despejada de novo no córrego.
Os técnicos da prefeitura deram ontem à Folha duas hipóteses para o rompimento da base da estrutura.
Na primeira, o concreto da base teria se rompido com a pressão externa da água. Na segunda, teria havido uma sobrecarga da galeria para onde a água do lago é levada (córrego Pedra Azul) e ela teria voltado, causando uma pressão interna e o consequente rompimento.
O lago ficou seco em cerca de 50 minutos. Peixes de várias espécies, tartarugas e cágados foram dragados canal a dentro.
O córrego Pedra Azul desemboca do rio Tamanduateí, que por sua vez deságua no Tietê.
Frequentadores do parque disseram à Folha terem visto aves aquáticas sendo sugadas pela água. A secretaria nega que alguma ave tenha morrido.
A pasta diz que os 21 gansos, os 4 patos, o marreco, um cisnes negro, além de peixes, foram levados para um centro veterinário localizado no parque Ibirapuera.
A reportagem esteve no local na tarde de ontem, mas não foi autorizada a ver os animais.
Frequentadores ficam desolados com acidente
Da reportagem local
A primeira expressão da dona-de-casa Romi Ichijo, 66, ao entrar no parque da Aclimação foi "meu Deus!".
Ela não havia visto o noticiário. Tinha a sua frente, totalmente vazio, o lago onde no dia anterior havia 78 milhões de litros d'água. "E os peixes? Será que vamos conseguir ter a água de volta?"
As perguntas e a perplexidade de Romi estavam na boca e na cara dos centenas de frequentadores do parque.
Alguns se emocionaram. A professora aposentada Maria dos Santos, 57, caiu no choro ao ver o lamaçal. "Venho aqui há 15 anos e não esperava ver isso", afirmou.
Apesar da recomendação contrária da administração do parque, que alertava para eventuais contaminações, dezenas de pessoas, com sacos plásticos ou baldes na mão ainda procuravam peixes vivos nas poças d'água.
Perplexidade e emoção não tiraram uma ponta de revolta dos frequentadores. "É o que dá terceirizar todos os serviços do parque. Isso é um descaso com o dinheiro público", dizia a professora Maria do Carmo Artuso,45, em frente ao lamaçal.
FSP, 25/02/2009, Cotidiano, p. C3-C4
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source