From Indigenous Peoples in Brazil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

News

Katukinas exibem a intimidade de seu cotidiano em filme

09/04/2006

Autor: Zélia Maria Bonamigo

Fonte: Paraná On Line-Curitiba-PR



Depois de ser lançado no Rio de Janeiro, os curitibanos tiveram a oportunidade de assistir, no último dia 30, na Cinemateca de Curitiba, o filme Noke Haweti, quem somos e o que fazemos, que mostra o cotidiano dos índios katukinas nas aldeias da Terra Indígena do rio Campinas, localizada no Acre. Aqueles que foram até a Cinemateca conheceram os quatro katukinas que estiveram presentes no momento da exibição: Teká, Mani, Kosti e Aro. Lá estavam presentes também a produtora do filme, Nicole Algranti (do Rio de Janeiro), e a antropóloga Edilene Coffaci de Lima (de Curitiba). O filme teve a direção de Sherê Katukina.
Totalizando aproximadamente 700 pessoas, os katukinas pertencem às sociedades indígenas da família lingüística pano. Desde a década de 1960, habitam na fronteira entre Amazonas e Acre. Em 1984 foi demarcada a terra indígena do rio Campinas, que totaliza 32 mil hectares. Esta terra indígena é cortada pela BR-364, que está sendo pavimentada no trecho que separa Cruzeiro do Sul de Rio Branco.

A filmagem



Teká (Francisco Carneiro) e Aro.

O filme, com duração de 54 minutos, mostra o alegre cotidiano das aldeias, desde os momentos de maior intimidade até as grandes expressões festivas. "Foi produzido na nossa terra indígena, em um longo trabalho. Foi dirigido pelo próprio katukina, o Sherê, eu fiquei na câmera, foi a primeira experiência que eu tive, eu achei muito difícil porque nós nunca tínhamos trabalhado numa tecnologia como a filmadora, mas até que conseguimos fazer o filme", disse Teká.

Nicole Algranti, que trabalha desde 1992 com povos indígenas da Amazônia, disse: "neste projeto optei por entregar a câmera e a direção nas mãos deles, então eu apenas produzi e viabilizei as articulações políticas. Fazer um filme no meio da floresta não é fácil. Lançamos dois discos e fita em DVD também, e o projeto já abriu portas para os katukinas em coisas maiores que eles podem alcançar. No Rio de Janeiro foi supersucesso, deu 900 pessoas em três dias, compraram discos e fitas em DVD. Os recursos vão direto para a conta bancária dos katukinas".

O recado



Paulo Homem de Góes
e Nicole Algranti.

Não foi somente para deixar um documentário às gerações futuras de suas aldeias que os katukinas quiseram fazer o filme. Teká explicou: "fizemos esse documento também para que em outras escolas os estudantes possam aprender sobre nosso povo. Além de pensar no futuro das nossas crianças, queremos mostrar à sociedade envolvente nossa cultura, como estamos fazendo em Curitiba agora. Futuramente vamos produzir outro filme para fortalecer mais nosso conhecimento. Toda comunidade participou. Com certeza vocês vão gostar".

A repercussão

Após a apresentação do filme, os espectadores tiveram oportunidade de dirigir perguntas aos katukinas e à produtora. Entre elas, dois interesses se sobressaíram: primeiramente a curiosidade a respeito de quem escolheu o que devia ser filmado. Eles responderam que a escolha foi do diretor e das comunidades. Chamou também a atenção dos espectadores o tema do kampo, o anfíbio Phyllomedusa bicolor, cuja secreção é usada por eles como um estimulante para a caça, como um revigorante e como um remédio.

Conhecendo a sociedade envolvente

Edilene Coffaci de Lima, doutora em Antropologia pela USP e professora na UFPR, conhece os katukinas desde 1991 e entre eles realizou pesquisa de campo por 18 meses. Desde 2004 ela acompanha a intensificação do uso do kampo entre os não-índios e integra a equipe (composta por antropólogos, herpetólogos, médicos e biólogos moleculares) montada pelo Ministério do Meio Ambiente para pensar em alternativas que viabilizem a exploração econômica do kampo, respeitando a legislação específica. Ela disse: "os katukinas nos ajudam a pensar de um modo bastante interessante como os povos indígenas mantêm o controle sobre seus contatos com a nossa sociedade. Durante muito tempo se falou que os índios desapareceriam, ou se mesclariam à nossa própria sociedade. Pois vejam: os katukinas moram perto de um centro urbano, da cidade de Cruzeiro do Sul, cujo acesso, a partir de suas aldeias, é bastante fácil. No entanto, entre eles só usam a sua própria língua e seus costumes ganham cada vez um acento mais forte. A realização deste filme, de uma certa maneira, documenta o relativo sucesso com que têm conduzido suas relações conosco. Evidentemente isso não absolve nossa sociedade dos inúmeros problemas que lhes causamos e que eles mostram no filme; mas, se os problemas não são maiores, certamente é porque eles próprios têm pensado em suas soluções".

Acompanha o grupo os dois pajés, Mani, Kosti e Aro, um jovem em processo de preparação. Ele explica: "aprendo, desde 1995, a fazer trabalho de cura na aldeia; daqui a algum tempo vou ser pajé forte." Um dos cantos de cura está nos Cds à disposição do público, que podem ser encontrados nos seguintes endereços para venda: Terra Índia, na rua Conselheiro Araújo, 367, próximo ao Hospital das Clínicas, e Restaurante Green Life, na rua Carlos de Carvalho 271.
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source