From Indigenous Peoples in Brazil
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News
Oito indústrias de SP têm o dobro da água de toda a cidade de Campinas
03/05/2015
Fonte: FSP, Cotidiano, p. B1, B3-B4
Oito indústrias de SP têm o dobro da água de toda a cidade de Campinas
Empresas captam de rios da bacia do Cantareira; cidades no entorno sofrem com crise hídrica
Governo do Estado estuda mudar modelo de licenças para evitar que atendimento ao setor afete moradores
ARTUR RODRIGUES FABRÍCIO LOBEL DE SÃO PAULO
Um grupo de apenas oito indústrias do interior paulista tem autorização para captar dos rios uma quantidade de água duas vezes maior que a da cidade de Campinas (a 93 km de SP), com 1,1 milhão de habitantes.
As empresas lideram a lista das maiores licenças de captação de água na bacia do sistema Cantareira, a mais afetada pela atual crise hídrica no interior São Paulo.
Em alguns casos, o uso da água por essas companhias, combinado com chuvas abaixo da média, causa impacto no abastecimento da população. A região tem pequenos municípios em rodízio de água há um ano.
Diante da atual crise, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) estuda mudar as regras de concessão da água para evitar que o atendimento à indústria afete moradores.
Atualmente, a legislação prevê que o abastecimento humano deve ter prioridade sobre outros setores, como o industrial, a agricultura e a produção de energia, mas, para especialistas e integrantes do governo, a regra não é suficiente em condições climáticas extremas.
"O abastecimento público é prioritário, mas e entre todos os outros usos? Quem sai da fila entre a indústria, a agricultura e o setor elétrico? Nosso sistema de outorga não responde a isso", disse em evento público em março Mônica Porto, secretária-adjunta de Recursos Hídricos.
Um dos primeiros avanços na discussão ocorreu em janeiro, quando a ANA e o DAEE (agências reguladoras federal e estadual, respectivamente) determinaram que as licenças de captação para cidades, indústrias e agricultura seriam reduzidas caso os rios estivessem abaixo de determinado nível.
Para o professor Antônio Carlos Zuffo, da Unicamp, uma alternativa com menor impacto na economia seria a criação de um "mercado de água", em que indústrias de diferentes setores pudessem negociar entre si o direito de uso do recurso.
PARALISAÇÃO
Entre as líderes de captação de água na região estão a multinacional do setor químico Rhodia, a Petrobras e a Suzano Papel e Celulose.
Elas fazem parte de uma lista de 580 indústrias autorizadas a captar água diretamente da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí -onde está inserido também o sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo.
Algumas, como a Rhodia, tiveram unidades paralisadas no ano passado em razão da crise da água.
Empresas dizem que reduziram uso de água
Indústrias afirmam que captam um volume menor do que o autorizado
Para consórcio local, esforço de economia do setor evita que água seja disputada entre indústria e prefeituras
DE SÃO PAULO
As empresas que detêm as maiores autorizações para captar água na bacia onde fica o sistema Cantareira afirmam que investem em reúso e retiram um volume menor do que poderiam.
Líder na lista, a Rhodia diz que devolve ao rio Atibaia a maioria da água utilizada no resfriamento de equipamentos e na geração de energia.
A refinaria Replan (Refinaria de Paulínia), da Petrobras, afirma que as ações de economia de água resultam no reúso de 25% do que é consumido. A empresa também utiliza a água para resfriamento de equipamentos.
A Raízen, do setor energético, diz que a autorização de captação da empresa foi concedida num cenário diferente do atual. "Praticamos uma política de uso responsável de recursos naturais, e a captação da unidade em questão é inferior à metade autorizada", afirmou a empresa.
Também na lista das que podem usar mais água, a Ajinomoto diz que tem consumo abaixo do limite máximo de captação no rio Jaguari.
"Na fábrica de Limeira, realizamos ações para otimizar o consumo de água, de modo que a nossa captação não ultrapasse 50% do permitido pela outorga", afirma.
De acordo com a Ajinomoto, 1.800 dos seus 3.000 empregados trabalham na unidade que utiliza água do rio Jaguari para resfriamento no processo industrial.
Questionada sobre o assunto, a Suzano Papel e Celulose diz que "reconhece o momento delicado em relação à estiagem e as consequentes dificuldades hídricas".
A reportagem não conseguiu localizar representantes das usinas União São Paulo e Santa Cruz.
GOVERNO
A Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado afirma em nota que analisa formas de aperfeiçoar o sistema de licenças, levando em conta que o uso das águas deve ser compartilhado entre o abastecimento humano, o setor hidrelétrico, a agricultura e a indústria.
O governo diz estudar modelos e alternativas que, "no devido momento, serão debatidos com a sociedade". Segundo a secretaria, é "precipitado" falar em "alteração específica" neste momento.
Francisco Lahóz, secretário-executivo do Consórcio das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que reúne prefeituras e empresas da região, diz que as indústrias têm trabalhado para reduzir cada vez mais o volume de água consumido.
Segundo ele, o esforço faz com que não exista disputa entre indústria e abastecimento público.
Lahóz afirma, no entanto, que a crise hídrica força o meio produtivo a rediscutir outorgas que sejam seguras tanto para o abastecimento como para o crescimento industrial. "Estamos olhando essas questões na região. A minha dúvida é se os mesmos cuidados estão sendo tomados na bacia do Alto-Tietê [que inclui São Paulo] ou na do São Francisco [que abrange Minas e o Nordeste]", diz.
(ARTUR RODRIGUES E FABRÍCIO LOBEL)
No interior, usina e moradores sofrem com crise hídrica
Há mais de um ano em esquema de rodízio, Cosmópolis divide represa com companhia de produção de açúcar
Empresa afirma que reduziu o uso de água em suas atividades e que produtividade caiu 19% com a estiagem
DO ENVIADO ESPECIAL A COSMÓPOLIS DE SÃO PAULO
Cortada por rios como o Jaguari e o Pirapitingui, Cosmópolis (a 135 km de SP) estava acostumada com a abundância de água. Desde o ano passado, porém, a realidade do município de 66 mil habitantes mudou.
A cada dia, um dos dois setores da cidade, na região de Campinas, tem o fornecimento interrompido entre as 6h e as 18h. Além disso, há diminuição da pressão do volume enviado às torneiras sempre no período das 7h às 17h.
Como outras cidades da região que adotaram racionamento, a captação de água para a represa do município, no rio Pirapitingui, também disputa espaço com o abastecimento de indústrias.
No caso de Cosmópolis, o rio fornece água à usina Ester, que tem uma das maiores autorizações para captar na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jaguari, onde fica o sistema Cantareira.
O rodízio de água na cidade foi iniciado em fevereiro do ano passado. Desde então, a população vem tentando se adaptar às novas restrições.
O funileiro Vinicius Moraes, 26, conta que a restrição o obrigou a trocar a lavadora de alta pressão por um pano úmido no serviço. "Mesmo assim, na semana passada tivemos que parar o serviço por falta de água", diz.
Pessoas que trabalham na área da construção relatam problemas similares. "Chegamos a ficar com a obra duas semanas parada por falta de água", afirma o servente José Antônio Fernandes, 30.
Nascido na cidade, o aposentado Valentin Estevanato, 82, não se lembra de outra seca parecida. "Na roça, muita gente perdeu toda a plantação por falta de água", diz ele, que mudou os hábitos em casa para economizar.
A Usina Ester, que emprega cerca de 2.000 pessoas na região, afirma também ter diminuído o uso da água no processo produtivo (lavagem da cana, moagem, fabricação de açúcar, álcool e geração de energia). "Temos solicitação de renovação, revisada, prevendo captação de 40% da outorga atual", afirmou a usina, por meio de nota.
Em 2014, ano da crise hídrica, a produtividade agrícola foi 19% menor do que a esperada, diz a usina.
REGIÃO
Cidades próximas a Cosmópolis também adotaram rodízio de água, como Valinhos, Santo Antonio de Posse e Santa Bárbara D'Oeste.
Em Santa Bárbara, o racionamento veio mesmo com a existência de três represas para abastecer a cidade. O rodízio já acabou, mas a cidade estuda passar a captar água também do rio Piracicaba.
"[Antes] Todo mundo achava que tinha água em abundância. Mesmo com o fim do racionamento, você não vê mais desperdício", diz Carlos Bueno de Camargo Junior, 41, dono de um pet shop.
(ARTUR RODRIGUES E FABRÍCIO LOBEL)
Sabesp negligenciou desperdício, afirma especialista japonês
Para técnico que trabalhou junto à estatal, empresa deveria focar a redução de perdas
FABIANO MAISONNAVE DE SÃO PAULO
Por anos, a Sabesp deixou em segundo plano o combate ao desperdício de água na Grande São Paulo, o que poderia evitar a necessidade de buscar novas fontes na atual crise de abastecimento.
A avaliação, do especialista japonês Masahiro Shimomura, 61, é baseada nos seus três anos de trabalho co- mo assessor do programa de redução de perdas de água da Sabesp em São Paulo.
De 2007 a 2009, participou do Projeto Eficaz, fruto de um acordo de cooperação entre a empresa e a Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão, na sigla em inglês).
"O desafio era a sensibilização sobre o tema. A direção da Sabesp não pensava seriamente sobre perda de água", disse, em entrevista à Folha em São Paulo, onde foi um dos palestrantes de um seminário sobre gestão de água promovido pelo Ministério do Meio Ambiente.
No período em que assessorou a Sabesp, ele testemunhou alguns registros de vazamento esperarem até dois anos pelo conserto. Em média, afirma, o prazo era de uma semana. Em Tóquio, referência mundial em gestão de água, o reparo costuma ser feito no mesmo dia.
Para ele, a Sabesp se concentrava apenas nas reclamações de falta de água dos consumidores, sem relacioná-la ao problema do desperdício.
Na região metropolitana de São Paulo, a perda de água tratada é de cerca de 17,4%, segundo a Sabesp. Caso se levem em conta furtos, a perda fica em torno de 30%. Em Tóquio, esse índice é de 2%.
"Se em São Paulo essa taxa estivesse em 5%, 10%, não haveria necessidade de desenvolver novas fontes de água, de fazer um sistema maior. E a redução de água não é cara", argumenta Shimomura.
Em nota, a Sabesp afirma que sempre considerou a redução um problema prioritário. A empresa afirma que criou um programa específico, com investimentos de R$ 6 bilhões entre 2009 e 2020. Desse total, a Jica concedeu empréstimo de R$ 847 milhões, em valores atualizados.
Ainda segundo a Sabesp, se as perdas na região metropolitana estivessem em até 10%, a economia seria de 5 mil litros por segundo, "o que seria insuficiente para compensar a redução de disponibilidade de água na região, devido à escassez hídrica, que levou à redução da produção de 69,1 mil litros por segundo (média de 2013) para 51,3 mil litros por segundo (média de 2015)".
FSP, 03/05/2015, Cotidiano, p. B1, B3-B4
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217972-oito-industrias-de-sp-tem-o-dobro-da-agua-de-toda-a-cidade-de-campinas.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217975-empresas-dizem-que-reduziram-uso-de-agua.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217976-no-interior-usina-e-moradores-sofrem-com-crise-hidrica.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217977-sabesp-negligenciou-desperdicio-afirma-especialista-japones.shtml
Empresas captam de rios da bacia do Cantareira; cidades no entorno sofrem com crise hídrica
Governo do Estado estuda mudar modelo de licenças para evitar que atendimento ao setor afete moradores
ARTUR RODRIGUES FABRÍCIO LOBEL DE SÃO PAULO
Um grupo de apenas oito indústrias do interior paulista tem autorização para captar dos rios uma quantidade de água duas vezes maior que a da cidade de Campinas (a 93 km de SP), com 1,1 milhão de habitantes.
As empresas lideram a lista das maiores licenças de captação de água na bacia do sistema Cantareira, a mais afetada pela atual crise hídrica no interior São Paulo.
Em alguns casos, o uso da água por essas companhias, combinado com chuvas abaixo da média, causa impacto no abastecimento da população. A região tem pequenos municípios em rodízio de água há um ano.
Diante da atual crise, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) estuda mudar as regras de concessão da água para evitar que o atendimento à indústria afete moradores.
Atualmente, a legislação prevê que o abastecimento humano deve ter prioridade sobre outros setores, como o industrial, a agricultura e a produção de energia, mas, para especialistas e integrantes do governo, a regra não é suficiente em condições climáticas extremas.
"O abastecimento público é prioritário, mas e entre todos os outros usos? Quem sai da fila entre a indústria, a agricultura e o setor elétrico? Nosso sistema de outorga não responde a isso", disse em evento público em março Mônica Porto, secretária-adjunta de Recursos Hídricos.
Um dos primeiros avanços na discussão ocorreu em janeiro, quando a ANA e o DAEE (agências reguladoras federal e estadual, respectivamente) determinaram que as licenças de captação para cidades, indústrias e agricultura seriam reduzidas caso os rios estivessem abaixo de determinado nível.
Para o professor Antônio Carlos Zuffo, da Unicamp, uma alternativa com menor impacto na economia seria a criação de um "mercado de água", em que indústrias de diferentes setores pudessem negociar entre si o direito de uso do recurso.
PARALISAÇÃO
Entre as líderes de captação de água na região estão a multinacional do setor químico Rhodia, a Petrobras e a Suzano Papel e Celulose.
Elas fazem parte de uma lista de 580 indústrias autorizadas a captar água diretamente da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí -onde está inserido também o sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo.
Algumas, como a Rhodia, tiveram unidades paralisadas no ano passado em razão da crise da água.
Empresas dizem que reduziram uso de água
Indústrias afirmam que captam um volume menor do que o autorizado
Para consórcio local, esforço de economia do setor evita que água seja disputada entre indústria e prefeituras
DE SÃO PAULO
As empresas que detêm as maiores autorizações para captar água na bacia onde fica o sistema Cantareira afirmam que investem em reúso e retiram um volume menor do que poderiam.
Líder na lista, a Rhodia diz que devolve ao rio Atibaia a maioria da água utilizada no resfriamento de equipamentos e na geração de energia.
A refinaria Replan (Refinaria de Paulínia), da Petrobras, afirma que as ações de economia de água resultam no reúso de 25% do que é consumido. A empresa também utiliza a água para resfriamento de equipamentos.
A Raízen, do setor energético, diz que a autorização de captação da empresa foi concedida num cenário diferente do atual. "Praticamos uma política de uso responsável de recursos naturais, e a captação da unidade em questão é inferior à metade autorizada", afirmou a empresa.
Também na lista das que podem usar mais água, a Ajinomoto diz que tem consumo abaixo do limite máximo de captação no rio Jaguari.
"Na fábrica de Limeira, realizamos ações para otimizar o consumo de água, de modo que a nossa captação não ultrapasse 50% do permitido pela outorga", afirma.
De acordo com a Ajinomoto, 1.800 dos seus 3.000 empregados trabalham na unidade que utiliza água do rio Jaguari para resfriamento no processo industrial.
Questionada sobre o assunto, a Suzano Papel e Celulose diz que "reconhece o momento delicado em relação à estiagem e as consequentes dificuldades hídricas".
A reportagem não conseguiu localizar representantes das usinas União São Paulo e Santa Cruz.
GOVERNO
A Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado afirma em nota que analisa formas de aperfeiçoar o sistema de licenças, levando em conta que o uso das águas deve ser compartilhado entre o abastecimento humano, o setor hidrelétrico, a agricultura e a indústria.
O governo diz estudar modelos e alternativas que, "no devido momento, serão debatidos com a sociedade". Segundo a secretaria, é "precipitado" falar em "alteração específica" neste momento.
Francisco Lahóz, secretário-executivo do Consórcio das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que reúne prefeituras e empresas da região, diz que as indústrias têm trabalhado para reduzir cada vez mais o volume de água consumido.
Segundo ele, o esforço faz com que não exista disputa entre indústria e abastecimento público.
Lahóz afirma, no entanto, que a crise hídrica força o meio produtivo a rediscutir outorgas que sejam seguras tanto para o abastecimento como para o crescimento industrial. "Estamos olhando essas questões na região. A minha dúvida é se os mesmos cuidados estão sendo tomados na bacia do Alto-Tietê [que inclui São Paulo] ou na do São Francisco [que abrange Minas e o Nordeste]", diz.
(ARTUR RODRIGUES E FABRÍCIO LOBEL)
No interior, usina e moradores sofrem com crise hídrica
Há mais de um ano em esquema de rodízio, Cosmópolis divide represa com companhia de produção de açúcar
Empresa afirma que reduziu o uso de água em suas atividades e que produtividade caiu 19% com a estiagem
DO ENVIADO ESPECIAL A COSMÓPOLIS DE SÃO PAULO
Cortada por rios como o Jaguari e o Pirapitingui, Cosmópolis (a 135 km de SP) estava acostumada com a abundância de água. Desde o ano passado, porém, a realidade do município de 66 mil habitantes mudou.
A cada dia, um dos dois setores da cidade, na região de Campinas, tem o fornecimento interrompido entre as 6h e as 18h. Além disso, há diminuição da pressão do volume enviado às torneiras sempre no período das 7h às 17h.
Como outras cidades da região que adotaram racionamento, a captação de água para a represa do município, no rio Pirapitingui, também disputa espaço com o abastecimento de indústrias.
No caso de Cosmópolis, o rio fornece água à usina Ester, que tem uma das maiores autorizações para captar na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jaguari, onde fica o sistema Cantareira.
O rodízio de água na cidade foi iniciado em fevereiro do ano passado. Desde então, a população vem tentando se adaptar às novas restrições.
O funileiro Vinicius Moraes, 26, conta que a restrição o obrigou a trocar a lavadora de alta pressão por um pano úmido no serviço. "Mesmo assim, na semana passada tivemos que parar o serviço por falta de água", diz.
Pessoas que trabalham na área da construção relatam problemas similares. "Chegamos a ficar com a obra duas semanas parada por falta de água", afirma o servente José Antônio Fernandes, 30.
Nascido na cidade, o aposentado Valentin Estevanato, 82, não se lembra de outra seca parecida. "Na roça, muita gente perdeu toda a plantação por falta de água", diz ele, que mudou os hábitos em casa para economizar.
A Usina Ester, que emprega cerca de 2.000 pessoas na região, afirma também ter diminuído o uso da água no processo produtivo (lavagem da cana, moagem, fabricação de açúcar, álcool e geração de energia). "Temos solicitação de renovação, revisada, prevendo captação de 40% da outorga atual", afirmou a usina, por meio de nota.
Em 2014, ano da crise hídrica, a produtividade agrícola foi 19% menor do que a esperada, diz a usina.
REGIÃO
Cidades próximas a Cosmópolis também adotaram rodízio de água, como Valinhos, Santo Antonio de Posse e Santa Bárbara D'Oeste.
Em Santa Bárbara, o racionamento veio mesmo com a existência de três represas para abastecer a cidade. O rodízio já acabou, mas a cidade estuda passar a captar água também do rio Piracicaba.
"[Antes] Todo mundo achava que tinha água em abundância. Mesmo com o fim do racionamento, você não vê mais desperdício", diz Carlos Bueno de Camargo Junior, 41, dono de um pet shop.
(ARTUR RODRIGUES E FABRÍCIO LOBEL)
Sabesp negligenciou desperdício, afirma especialista japonês
Para técnico que trabalhou junto à estatal, empresa deveria focar a redução de perdas
FABIANO MAISONNAVE DE SÃO PAULO
Por anos, a Sabesp deixou em segundo plano o combate ao desperdício de água na Grande São Paulo, o que poderia evitar a necessidade de buscar novas fontes na atual crise de abastecimento.
A avaliação, do especialista japonês Masahiro Shimomura, 61, é baseada nos seus três anos de trabalho co- mo assessor do programa de redução de perdas de água da Sabesp em São Paulo.
De 2007 a 2009, participou do Projeto Eficaz, fruto de um acordo de cooperação entre a empresa e a Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão, na sigla em inglês).
"O desafio era a sensibilização sobre o tema. A direção da Sabesp não pensava seriamente sobre perda de água", disse, em entrevista à Folha em São Paulo, onde foi um dos palestrantes de um seminário sobre gestão de água promovido pelo Ministério do Meio Ambiente.
No período em que assessorou a Sabesp, ele testemunhou alguns registros de vazamento esperarem até dois anos pelo conserto. Em média, afirma, o prazo era de uma semana. Em Tóquio, referência mundial em gestão de água, o reparo costuma ser feito no mesmo dia.
Para ele, a Sabesp se concentrava apenas nas reclamações de falta de água dos consumidores, sem relacioná-la ao problema do desperdício.
Na região metropolitana de São Paulo, a perda de água tratada é de cerca de 17,4%, segundo a Sabesp. Caso se levem em conta furtos, a perda fica em torno de 30%. Em Tóquio, esse índice é de 2%.
"Se em São Paulo essa taxa estivesse em 5%, 10%, não haveria necessidade de desenvolver novas fontes de água, de fazer um sistema maior. E a redução de água não é cara", argumenta Shimomura.
Em nota, a Sabesp afirma que sempre considerou a redução um problema prioritário. A empresa afirma que criou um programa específico, com investimentos de R$ 6 bilhões entre 2009 e 2020. Desse total, a Jica concedeu empréstimo de R$ 847 milhões, em valores atualizados.
Ainda segundo a Sabesp, se as perdas na região metropolitana estivessem em até 10%, a economia seria de 5 mil litros por segundo, "o que seria insuficiente para compensar a redução de disponibilidade de água na região, devido à escassez hídrica, que levou à redução da produção de 69,1 mil litros por segundo (média de 2013) para 51,3 mil litros por segundo (média de 2015)".
FSP, 03/05/2015, Cotidiano, p. B1, B3-B4
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217972-oito-industrias-de-sp-tem-o-dobro-da-agua-de-toda-a-cidade-de-campinas.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217975-empresas-dizem-que-reduziram-uso-de-agua.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217976-no-interior-usina-e-moradores-sofrem-com-crise-hidrica.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217977-sabesp-negligenciou-desperdicio-afirma-especialista-japones.shtml
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