From Indigenous Peoples in Brazil
News
Brasil 2040
19/04/2015
Autor: LEITE, Marcelo
Fonte: FSP, Ciência+Saúde, p. C11
Brasil 2040
Marcelo Leite
Governo despreza estudo sobre o futuro próximo do país, elaborado por suas melhores instituições
Ninguém em sã consciência jogaria no lixo um estudo sobre o futuro próximo do país realizado por algumas de suas melhores instituições. Não, em especial, se ele concluísse que a mudança climática previsível implica riscos graves para os setores de energia e agricultura.
Mas o novo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) se chama Roberto Mangabeira Unger. E este país é o Brasil, "Pátria Educadora" --pode chamar também de "Madrasta do Planejamento".
O estudo se intitula "Brasil 2040". Teve início em dezembro de 2013 sob a coordenação de Sérgio Margulis, economista que trabalhou duas décadas no Banco Mundial e chefiava a área de Desenvolvimento Sustentável da SAE.
Mangabeira Unger desmontou a equipe e truncou a pesquisa, que deveria estar pronta e acabada antes de junho. Margulis se aposentou e vai fazer outros trabalhos no Rio. Natalie Unterstell, diretora do estudo, pegou uma bolsa em Harvard e vai de veleiro para Cambridge.
Faltou pouco para o "Brasil 2040" ser finalizado. Ele partiu de cenários climáticos para o Brasil criados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que utilizou quatro modelos de computador para calcular que a temperatura no país pode subir entre 3oC e 6oC em 30 anos.
Numa segunda fase, também já concluída, instituições como Coppe/UFRJ e Ipea partiram dessas projeções para estimar o impacto potencial sobre recursos hídricos, geração de energia, agricultura, saúde e infraestrutura.
Faltou completar a terceira etapa: reunir tudo num conjunto de propostas e prioridades para adaptar o país à mudança do clima. Ninguém sabe o que vai ser feito com essa pilha de informação, que contém coisas de arrepiar.
Entende-se que ninguém em sã consciência goste de levar más notícias para a presidente Dilma Rousseff, menos ainda um ministro novato. Médio: Mangabeira já ocupou a pasta quando ela foi criada e as más línguas diziam que se chamaria Secretaria de Ações de Longo Prazo (Sealopra).
O ministro, se desse curso e consequência ao "Brasil 2040" --como deveria, para não desperdiçar recursos públicos--, teria de informar ao Planalto que o aumento de temperatura pode acarretar diminuição de chuvas de 15% no Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) e de 10% no Norte (N).
Nas regiões SE/CO se concentra 70% da geração de eletricidade no país. A região N é a única do território com potencial hidrelétrico pouco explorado, e nela as empreiteiras enrascadas na Lava Jato se dedicam a erguer colossos bilionários como Belo Monte (Xingu), Jirau/Santo Antônio (Madeira) e São Luís (Tapajós).
Menos precipitação implica vazão diminuída nos rios. A pesquisa abortada pela SAE avaliou vários cenários, e em alguns deles a afluência para usinas como Belo Monte, Serra da Mesa, Tucuruí, Xingó e Sobradinho pode diminuir até 30%, quiçá 60%.
No setor agrícola, o efeito seria diminuição das áreas de baixo risco para várias culturas: soja (até 39%), milho (até 16%), feijão (até 26%), arroz (até 24%)...
A SAE encolheu-se diante da responsabilidade de propor o que fazer a respeito e só tem olhos para a educação (errando na mosca, pode-se dizer). Falta saber o que fará com tais dados o Ministério do Meio Ambiente, cuja ministra se chama Izabella Teixeira.
FSP, 19/04/2015, Ciência+Saúde, p. C11
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/216554-brasil-2040.shtml
Erramos
CIÊNCIA (19.ABR, PÁG. C11) Diferentemente do que foi publicado na coluna "Brasil 2040", o aumento de temperatura de 3oC a 6oC projetado no estudo de mesmo nome se refere a 2070-2100, não a 2015-2045.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/216914-erramos.shtml
Marcelo Leite
Governo despreza estudo sobre o futuro próximo do país, elaborado por suas melhores instituições
Ninguém em sã consciência jogaria no lixo um estudo sobre o futuro próximo do país realizado por algumas de suas melhores instituições. Não, em especial, se ele concluísse que a mudança climática previsível implica riscos graves para os setores de energia e agricultura.
Mas o novo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) se chama Roberto Mangabeira Unger. E este país é o Brasil, "Pátria Educadora" --pode chamar também de "Madrasta do Planejamento".
O estudo se intitula "Brasil 2040". Teve início em dezembro de 2013 sob a coordenação de Sérgio Margulis, economista que trabalhou duas décadas no Banco Mundial e chefiava a área de Desenvolvimento Sustentável da SAE.
Mangabeira Unger desmontou a equipe e truncou a pesquisa, que deveria estar pronta e acabada antes de junho. Margulis se aposentou e vai fazer outros trabalhos no Rio. Natalie Unterstell, diretora do estudo, pegou uma bolsa em Harvard e vai de veleiro para Cambridge.
Faltou pouco para o "Brasil 2040" ser finalizado. Ele partiu de cenários climáticos para o Brasil criados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que utilizou quatro modelos de computador para calcular que a temperatura no país pode subir entre 3oC e 6oC em 30 anos.
Numa segunda fase, também já concluída, instituições como Coppe/UFRJ e Ipea partiram dessas projeções para estimar o impacto potencial sobre recursos hídricos, geração de energia, agricultura, saúde e infraestrutura.
Faltou completar a terceira etapa: reunir tudo num conjunto de propostas e prioridades para adaptar o país à mudança do clima. Ninguém sabe o que vai ser feito com essa pilha de informação, que contém coisas de arrepiar.
Entende-se que ninguém em sã consciência goste de levar más notícias para a presidente Dilma Rousseff, menos ainda um ministro novato. Médio: Mangabeira já ocupou a pasta quando ela foi criada e as más línguas diziam que se chamaria Secretaria de Ações de Longo Prazo (Sealopra).
O ministro, se desse curso e consequência ao "Brasil 2040" --como deveria, para não desperdiçar recursos públicos--, teria de informar ao Planalto que o aumento de temperatura pode acarretar diminuição de chuvas de 15% no Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) e de 10% no Norte (N).
Nas regiões SE/CO se concentra 70% da geração de eletricidade no país. A região N é a única do território com potencial hidrelétrico pouco explorado, e nela as empreiteiras enrascadas na Lava Jato se dedicam a erguer colossos bilionários como Belo Monte (Xingu), Jirau/Santo Antônio (Madeira) e São Luís (Tapajós).
Menos precipitação implica vazão diminuída nos rios. A pesquisa abortada pela SAE avaliou vários cenários, e em alguns deles a afluência para usinas como Belo Monte, Serra da Mesa, Tucuruí, Xingó e Sobradinho pode diminuir até 30%, quiçá 60%.
No setor agrícola, o efeito seria diminuição das áreas de baixo risco para várias culturas: soja (até 39%), milho (até 16%), feijão (até 26%), arroz (até 24%)...
A SAE encolheu-se diante da responsabilidade de propor o que fazer a respeito e só tem olhos para a educação (errando na mosca, pode-se dizer). Falta saber o que fará com tais dados o Ministério do Meio Ambiente, cuja ministra se chama Izabella Teixeira.
FSP, 19/04/2015, Ciência+Saúde, p. C11
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/216554-brasil-2040.shtml
Erramos
CIÊNCIA (19.ABR, PÁG. C11) Diferentemente do que foi publicado na coluna "Brasil 2040", o aumento de temperatura de 3oC a 6oC projetado no estudo de mesmo nome se refere a 2070-2100, não a 2015-2045.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/216914-erramos.shtml
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source