From Indigenous Peoples in Brazil
News
Tóquio 'aprende a lição' e hoje perde só 2% da água
15/03/2015
Fonte: FSP, Cotidiano, p. C6-C7
Tóquio 'aprende a lição' e hoje perde só 2% da água
Grande SP desperdiça 19% da água tratada, índice da capital japonesa há 50 anos
Segredo não está na alta tecnologia, e sim nos recursos humanos, diz técnico da empresa de saneamento japonesa
FABIANO MAISONNAVE ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
Apenas 19 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão projetava usar a Olimpíada de 1964 para mostrar ao mundo que já havia se reerguido da destruição quase completa.
Para o evento, construiu, entre outras obras faraônicas, o primeiro trem-bala do mundo. Mas surgiu então um problema inesperado: as torneiras de Tóquio secaram.
"Esta cidade está experimentando a falta de água mais crítica em 40 anos enquanto entra no período mais quente do verão e acelera febrilmente os preparativos para os Jogos Olímpicos, marcados para daqui a dois meses e meio", descrevia o jornal "New York Times" em sua edição de 26 de julho de 1964.
O principal reservatório de Tóquio, o Ogouchi, ficou com apenas 0,5% de sua capacidade (o Cantareira, na Grande SP, opera hoje com 14,5%).
O fornecimento de água chegou a ser cortado durante 11 horas por dia em dezenas de milhares de casas, enquanto moradores faziam fila diante de caminhões-pipa, segundo fotos e relatos da época.
A situação só melhorou após a construção emergencial de um canal de cerca de 17 km para levar água ao Ogouchi. O sufoco passou, e a Olimpíada --a primeira transmitida via satélite-- foi considerada um sucesso.
Para os técnicos do Departamento de Água de Tóquio, ficou a lição. A cinco anos de sediar novamente uma edição dos Jogos Olímpicos, o risco de outra crise hídrica é considerado remoto na cidade, hoje referência na administração de recursos hídricos para São Paulo e outras cidades do mundo.
DESPERDÍCIO
Entre as diversas melhorias, talvez a maior façanha da metrópole japonesa seja o índice de apenas 2% de perda de água por problemas na tubulação, um dos menores percentuais do mundo.
Na região metropolitana de São Paulo, o desperdício é de cerca de 19%, índice que Tóquio registrava na época da Olimpíada de 1964.
A diferença pode ser ainda mais alta caso se levem em conta os furtos na região metropolitana --problema inexistente no Japão. Por esse cálculo, a perda em São Paulo fica em torno de 30%.
Para especialistas, a redução do desperdício é uma das formas mais eficientes de ampliar a segurança do abastecimento de água.
Ao contrário do que se pode imaginar, o segredo não está na alta tecnologia, mas no departamento de recursos humanos, explica Norifumi Tashiro, diretor de coordenação do Departamento de Água do Governo Metropolitano de Tóquio.
"É a capacidade do funcionário", disse Tashiro, taxativo, em entrevista à Folha na sede do Departamento de Água, sobre o motivo de um desperdício tão baixo.
"Tem a questão da substituição do material do tubo, mas isso já está sendo realizado há tempos. Outro fator importante é a realização imediata do reparo após a detecção do vazamento."
Tóquio tem cerca de 400 fiscais com treinamento específico, incluindo um local com simulações de vazamento. A técnica mais usada, de inspeção por geofonamento --que amplifica o som do subsolo--, é praticamente idêntica à utilizada em São Paulo.
Quando um vazamento na tubulação é detectado, a reparação é feita no mesmo dia, segundo números oficiais.
A Sabesp, empresa de água do Estado de SP, trabalha com um prazo de até 36 horas.
DISTRIBUIÇÃO
Graças a uma rígida lei ambiental, nenhuma fonte de água doce de Tóquio é imprópria ao consumo humano.
A capital japonesa também ampliou sua capacidade de produção de água, com novos reservatórios, canais e estações de tratamento.
Hoje, está em construção um anel de dutos para melhor distribuir a água e evitar que uma região esteja mais vulnerável, como em 1964.
"Estamos nos preparando para que não haja disparidades", afirmou Tashiro.
Tóquio, entretanto, não está imune a problemas. Há três anos, por exemplo, uma seca voltou a diminuir o nível dos reservatórios. Uma campanha publicitária com dicas de economia de água, porém, bastou para evitar problemas de desabastecimento.
O jornalista FABIANO MAISONNAVE viajou a convite da Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão)
Não há como igualar Japão, afirma Sabesp
DE SÃO PAULO
De 2007 a 2010, o Japão prestou cooperação técnica à Sabesp para diminuição de desperdícios no sistema. Em 2012, emprestou R$ 860 milhões para o programa de redução de perdas da empresa paulistana. Eric Carozzi, superintendente da Sabesp, avalia, no entanto, que diferenças entre São Paulo e Tóquio, como a falta da coleta de todo o esgoto daqui, impedem que repliquemos os resultados japoneses.
Em SP, canos centenários explicam alto desperdício
Na capital, 20% da tubulação têm mais de 40 anos; rede tem média de 33 anos
Troca de encanamento, onde se perde 19% de água tratada, faz parte de programa de redução de perdas da Sabesp
FABRÍCIO LOBEL DE SÃO PAULO
O envelhecimento dos canos (parte deles já centenários) é a principal causa de perdas de água nas tubulações da Sabesp. Na Grande SP, o desperdício com isso chega a 19,4% da água tratada.
Segundo a Sabesp, é impossível determinar com exatidão os pontos mais antigos das tubulações na capital. Antes da década de 30, quando técnicos instalavam e substituíam as tubulações, os registros eram feitos à mão, em pranchetas hoje perdidas.
Foi somente a partir daquela década que os dados passaram a ser registrados de uma forma mais consistente.
Sabe-se, no entanto, que a grande maioria das tubulações antigas está localizada na região central. Cerca de 20% dos canos da cidade têm mais de 40 anos, e a rede tem, em média, 33 anos.
As tubulações mais antigas são de ferro fundido, muitas de fabricação inglesa, e hoje sofrem com a idade avançada. Além de eventuais rachaduras e desencaixes, há um desgaste gerado devido a uma reação química.
Ao longo de décadas, os sais minerais da água se acumulam na parede da tubulação e reagem com o ferro. A calcificação dessa reação obstrui o cano, como ocorre com uma artéria doente.
Para reduzir esse processo, desde os anos 50 começaram a ser usados canos com revestimento interno de cimento e areia. A partir da década de 70, chegam os canos de PVC. E, desde 2005, utiliza-se cada vez mais o PEAD (polietileno de alta densidade), plástico maleável e resistente.
"A troca de tubulações é uma parte cara e difícil dentro do programa de redução de perdas", diz Dante Pauli, executivo da Sabesp."Todos falam do Japão como referência nesse sentido. Mas temos também que considerar que nós não temos os mesmos recursos do Japão", disse.
A primeira etapa de combate aos vazamentos é identificar os locais a serem reformados. A Sabesp faz isso, por exemplo, a partir de reclamações de clientes. Pode-se também usar um tipo de microfone capaz de escutar ruídos de vazamentos no subsolo.
Após encontrado o defeito, a Sabesp pode simplesmente trocar a tubulação ou apenas reabilitá-la. Na reforma, é usado um jato de pedras para a limpeza --o interior do cano é revestido com uma resina, ele é desinfetado, e a água volta a passar normalmente.
A Sabesp agora busca parcerias privadas para reduzir as perdas nos encanamentos.
FSP, 15/03/2015, Cotidiano, p. C6-C7
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/211958-toquio-aprende-a-licao-e-hoje-perde-so-2-da-agua.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/211964-nao-ha-como-igualar-japao-afirma-sabesp.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/211959-em-sp-canos-centenarios-explicam-alto-desperdicio.shtml
Grande SP desperdiça 19% da água tratada, índice da capital japonesa há 50 anos
Segredo não está na alta tecnologia, e sim nos recursos humanos, diz técnico da empresa de saneamento japonesa
FABIANO MAISONNAVE ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
Apenas 19 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão projetava usar a Olimpíada de 1964 para mostrar ao mundo que já havia se reerguido da destruição quase completa.
Para o evento, construiu, entre outras obras faraônicas, o primeiro trem-bala do mundo. Mas surgiu então um problema inesperado: as torneiras de Tóquio secaram.
"Esta cidade está experimentando a falta de água mais crítica em 40 anos enquanto entra no período mais quente do verão e acelera febrilmente os preparativos para os Jogos Olímpicos, marcados para daqui a dois meses e meio", descrevia o jornal "New York Times" em sua edição de 26 de julho de 1964.
O principal reservatório de Tóquio, o Ogouchi, ficou com apenas 0,5% de sua capacidade (o Cantareira, na Grande SP, opera hoje com 14,5%).
O fornecimento de água chegou a ser cortado durante 11 horas por dia em dezenas de milhares de casas, enquanto moradores faziam fila diante de caminhões-pipa, segundo fotos e relatos da época.
A situação só melhorou após a construção emergencial de um canal de cerca de 17 km para levar água ao Ogouchi. O sufoco passou, e a Olimpíada --a primeira transmitida via satélite-- foi considerada um sucesso.
Para os técnicos do Departamento de Água de Tóquio, ficou a lição. A cinco anos de sediar novamente uma edição dos Jogos Olímpicos, o risco de outra crise hídrica é considerado remoto na cidade, hoje referência na administração de recursos hídricos para São Paulo e outras cidades do mundo.
DESPERDÍCIO
Entre as diversas melhorias, talvez a maior façanha da metrópole japonesa seja o índice de apenas 2% de perda de água por problemas na tubulação, um dos menores percentuais do mundo.
Na região metropolitana de São Paulo, o desperdício é de cerca de 19%, índice que Tóquio registrava na época da Olimpíada de 1964.
A diferença pode ser ainda mais alta caso se levem em conta os furtos na região metropolitana --problema inexistente no Japão. Por esse cálculo, a perda em São Paulo fica em torno de 30%.
Para especialistas, a redução do desperdício é uma das formas mais eficientes de ampliar a segurança do abastecimento de água.
Ao contrário do que se pode imaginar, o segredo não está na alta tecnologia, mas no departamento de recursos humanos, explica Norifumi Tashiro, diretor de coordenação do Departamento de Água do Governo Metropolitano de Tóquio.
"É a capacidade do funcionário", disse Tashiro, taxativo, em entrevista à Folha na sede do Departamento de Água, sobre o motivo de um desperdício tão baixo.
"Tem a questão da substituição do material do tubo, mas isso já está sendo realizado há tempos. Outro fator importante é a realização imediata do reparo após a detecção do vazamento."
Tóquio tem cerca de 400 fiscais com treinamento específico, incluindo um local com simulações de vazamento. A técnica mais usada, de inspeção por geofonamento --que amplifica o som do subsolo--, é praticamente idêntica à utilizada em São Paulo.
Quando um vazamento na tubulação é detectado, a reparação é feita no mesmo dia, segundo números oficiais.
A Sabesp, empresa de água do Estado de SP, trabalha com um prazo de até 36 horas.
DISTRIBUIÇÃO
Graças a uma rígida lei ambiental, nenhuma fonte de água doce de Tóquio é imprópria ao consumo humano.
A capital japonesa também ampliou sua capacidade de produção de água, com novos reservatórios, canais e estações de tratamento.
Hoje, está em construção um anel de dutos para melhor distribuir a água e evitar que uma região esteja mais vulnerável, como em 1964.
"Estamos nos preparando para que não haja disparidades", afirmou Tashiro.
Tóquio, entretanto, não está imune a problemas. Há três anos, por exemplo, uma seca voltou a diminuir o nível dos reservatórios. Uma campanha publicitária com dicas de economia de água, porém, bastou para evitar problemas de desabastecimento.
O jornalista FABIANO MAISONNAVE viajou a convite da Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão)
Não há como igualar Japão, afirma Sabesp
DE SÃO PAULO
De 2007 a 2010, o Japão prestou cooperação técnica à Sabesp para diminuição de desperdícios no sistema. Em 2012, emprestou R$ 860 milhões para o programa de redução de perdas da empresa paulistana. Eric Carozzi, superintendente da Sabesp, avalia, no entanto, que diferenças entre São Paulo e Tóquio, como a falta da coleta de todo o esgoto daqui, impedem que repliquemos os resultados japoneses.
Em SP, canos centenários explicam alto desperdício
Na capital, 20% da tubulação têm mais de 40 anos; rede tem média de 33 anos
Troca de encanamento, onde se perde 19% de água tratada, faz parte de programa de redução de perdas da Sabesp
FABRÍCIO LOBEL DE SÃO PAULO
O envelhecimento dos canos (parte deles já centenários) é a principal causa de perdas de água nas tubulações da Sabesp. Na Grande SP, o desperdício com isso chega a 19,4% da água tratada.
Segundo a Sabesp, é impossível determinar com exatidão os pontos mais antigos das tubulações na capital. Antes da década de 30, quando técnicos instalavam e substituíam as tubulações, os registros eram feitos à mão, em pranchetas hoje perdidas.
Foi somente a partir daquela década que os dados passaram a ser registrados de uma forma mais consistente.
Sabe-se, no entanto, que a grande maioria das tubulações antigas está localizada na região central. Cerca de 20% dos canos da cidade têm mais de 40 anos, e a rede tem, em média, 33 anos.
As tubulações mais antigas são de ferro fundido, muitas de fabricação inglesa, e hoje sofrem com a idade avançada. Além de eventuais rachaduras e desencaixes, há um desgaste gerado devido a uma reação química.
Ao longo de décadas, os sais minerais da água se acumulam na parede da tubulação e reagem com o ferro. A calcificação dessa reação obstrui o cano, como ocorre com uma artéria doente.
Para reduzir esse processo, desde os anos 50 começaram a ser usados canos com revestimento interno de cimento e areia. A partir da década de 70, chegam os canos de PVC. E, desde 2005, utiliza-se cada vez mais o PEAD (polietileno de alta densidade), plástico maleável e resistente.
"A troca de tubulações é uma parte cara e difícil dentro do programa de redução de perdas", diz Dante Pauli, executivo da Sabesp."Todos falam do Japão como referência nesse sentido. Mas temos também que considerar que nós não temos os mesmos recursos do Japão", disse.
A primeira etapa de combate aos vazamentos é identificar os locais a serem reformados. A Sabesp faz isso, por exemplo, a partir de reclamações de clientes. Pode-se também usar um tipo de microfone capaz de escutar ruídos de vazamentos no subsolo.
Após encontrado o defeito, a Sabesp pode simplesmente trocar a tubulação ou apenas reabilitá-la. Na reforma, é usado um jato de pedras para a limpeza --o interior do cano é revestido com uma resina, ele é desinfetado, e a água volta a passar normalmente.
A Sabesp agora busca parcerias privadas para reduzir as perdas nos encanamentos.
FSP, 15/03/2015, Cotidiano, p. C6-C7
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/211958-toquio-aprende-a-licao-e-hoje-perde-so-2-da-agua.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/211964-nao-ha-como-igualar-japao-afirma-sabesp.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/211959-em-sp-canos-centenarios-explicam-alto-desperdicio.shtml
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source