De Pueblos Indígenas en Brasil
Noticias
Pais pesquisa mais fibras naturais para carros
24/10/2004
Fonte: OESP, Economia, p.B11
País pesquisa mais fibras naturais para carros
Indústria brasileira, que já substituiu vários produtos sintéticos, pode ser pioneira no uso intensivo desses materiais
Cleide Silva
O Brasil pode ser pioneiro no uso intensivo de fibras naturais na produção de automóveis. As montadoras já utilizam matéria-prima alternativa como fibra de coco e de curauá, juta, sisal e algodão e têm avançadas pesquisas para introduzir outros materiais inéditos obtidos de fontes renováveis.
No mundo todo, a indústria busca alternativas para substituir os derivados de petróleo, usados em vários componentes automotivos. Com recursos naturais disponíveis, áreas para plantio e variadas espécies de plantas, o Brasil tem chances de liderar essa tendência, diz o gerente-executivo de engenharia de veículos da Volkswagen, Orildo Cabbellete.
Hoje, todos os modelos Fox, da Volks, têm os revestimentos dos bancos, do teto e da tampa do porta-malas feitos com fibra de curauá. A planta, de origem amazônica e semelhante ao abacaxi, também será fonte de matéria-prima do CrossFox, nova versão que chegará ao mercado no início de 2005.
No próximo ano, a Volks passará a utilizar fibra de coco nos bancos da Parati e da Saveiro, produto que a Mercedes-Benz usa no modelo Classe A desde o início de sua produção em Minas Gerais. "Além da reciclabilidade, o produto é mais resistente que a resina comum", afirma Roberto Gasparetti, supervisor de Marketing da DaimlerChrysler, dona da Mercedes-Benz.
A fibra de coco produzida no Pará é usada nos bancos e na cobertura do painel do Classe A. Segundo Gasparetti, o conforto térmico é uma das vantagens da fibra natural. "A ventilação é melhor e absorve a oscilação da temperatura do corpo", explica. Além disso, após 400 mil quilômetros de uso em testes, os bancos mantinham a configuração original, sem deformações.
O Smart, veículo que será fabricado em Minas Gerais a partir de 2006 com pelo menos 80% da produção voltada às exportações para Estados Unidos e Europa também terá peças em fibra de coco. O Brasil exporta a fibra para o Classe A feito na Alemanha e o Classe C.
A Ford tem estudos avançados para o uso de fontes renováveis ainda inéditas, diz o chefe de Engenharia da empresa, Marcio Alfonso. Ele ainda não revela os produtos, mas diz que os projetos estão em fase de desenvolvimento da tecnologia de confecção das peças, para que sua aplicação seja rentável e não ocorram desperdícios.
A Volks, segundo Cabbellete, também deve anunciar, em breve, a adoção de novas fibras naturais. O curauá, por enquanto, será utilizado apenas na linha Fox porque não há plantação suficiente para atender demanda maior. No caso da fibra de coco, o gargalo está na falta de capacidade industrial de processamento das fibras. Hoje, há duas fornecedoras de produtos feitos com cada produto, ambas instaladas no Estado do Pará.
RECONQUISTA
A Honda adotou o uso de juta no porta pacotes do Fit, lançado no ano passado. O produto era bastante usado pela indústria automobilística há mais de 20 anos, mas foi trocado por resinas plásticas, mais barata e de produção em larga escala. Agora, a juta começa a reconquistar espaço, assim como a malva e o algodão.
A General Motors usa pó de madeira misturado com polipropileno nos painéis das portas do Corsa. De acordo com Rita Binda, gerente de engenharia de materiais da montadora, o produto, não é tóxico e garante à peça a mesma qualidade de produtos químicos usados anteriormente.
O fornecedor das peças, a Collins, de Varginha (MG) tem plantação própria de eucaliptos e se compromete com o reflorestamento das árvores. A GM também estuda o uso da fibra de coco para os encostos dos bancos dos modelos da marca.
Outra preocupação das montadoras é com a reciclagem dos carros. Muitas vezes, o material usado é reciclável, mas não há centros especializados. Além disso, o desmonte nem sempre é viável. Desde 1992, a Fiat desenvolve carros com sistemas de desmanche facilitado
Projeto leva trabalho para famílias carentes
Cultivo de curauá é fonte de renda para cerca de 1.500 pessoas em Lago Grande
O uso de materiais renováveis na produção de automóveis também tem caráter social. Tanto a produção das fibras de coco quanto as de curauá são feitas por comunidades carentes que vivem às margens do Rio Amazonas. O cultivo do curauá é fonte de renda fixa para 300 famílias (ou 1.500 pessoas) em Lago Grande, aonde se chega via barco (12 horas de viagem de Santarém) ou de monomotor (40 minutos de viagem).
A Pematec, fabricante de autopeças em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e uma das responsáveis pelo projeto de adaptação do curauá para uso industrial junto com a Volkswagen, montou uma fábrica em Santarém para processar a fibra, que chega à montadora em pedaços parecidos com cobertores de feltro. A fábrica, com 70 empregados, já vem produzindo a todo vapor, mas só será inaugurada oficialmente no início de 2005. O investimento no projeto foi de R$ 25 milhões.
Segundo Alberico Pasquetto, diretor da Pematec, com o aumento da produção a partir do próximo ano, por conta do início da produção do CrossFox e do Fox para exportação, outras mil famílias serão agregadas ao projeto. A renda média pode chegar a dois salários mínimos, dependendo da produtividade de cada uma. A empresa também tem uma fazenda própria de cultivo, onde trabalham mais 170 pessoas.
Os índios já cultivavam o curauá e usavam as fibras para redes. Em um ano de cultivo, é possível colher folhas, que são processadas em equipamentos simples. Além do curauá, a Pematec está revitalizando o plantio de juta e malva.
Novo turno
A Poematec, processadora da fibra de coco usada pela Mercedes-Benz, adquire também o produto de 500 famílias de oito pequenos municípios de Santarém. Ao todo, são 2 mil pessoas que sobrevivem do cultivo, calcula o presidente da empresa, Marcus Bünicker. Além do Classe A, o produto é usado na produção de caminhões.
Antes, as famílias vendiam a parte interna do coco para a indústria alimentícia e jogavam a casca fora. Agora, a Poematec compra as fibras, que já chegam à fábrica em fardos. Os produtores, organizados em comunidades, associações e cooperativas, receberam equipamentos para a primeira fase do processo de transformação da fibra. "As famílias agregaram valor ao trabalho", diz Bünicker.
A Poematec consome cerca de 15 toneladas ao mês de fibras, que são transformadas em placas e enviadas para a montadora. A produção será ampliada com o fornecimento da fibra para a Volkswagen, a partir do próximo ano. Instalada no distrito industrial de Ananindeua, emprega hoje 75 funcionários em um turno. Com o contrato da Volks, passará a operar em dois turnos e mais 45 pessoas serão contratadas.
OESP, 24/10/2004, p. B11
Indústria brasileira, que já substituiu vários produtos sintéticos, pode ser pioneira no uso intensivo desses materiais
Cleide Silva
O Brasil pode ser pioneiro no uso intensivo de fibras naturais na produção de automóveis. As montadoras já utilizam matéria-prima alternativa como fibra de coco e de curauá, juta, sisal e algodão e têm avançadas pesquisas para introduzir outros materiais inéditos obtidos de fontes renováveis.
No mundo todo, a indústria busca alternativas para substituir os derivados de petróleo, usados em vários componentes automotivos. Com recursos naturais disponíveis, áreas para plantio e variadas espécies de plantas, o Brasil tem chances de liderar essa tendência, diz o gerente-executivo de engenharia de veículos da Volkswagen, Orildo Cabbellete.
Hoje, todos os modelos Fox, da Volks, têm os revestimentos dos bancos, do teto e da tampa do porta-malas feitos com fibra de curauá. A planta, de origem amazônica e semelhante ao abacaxi, também será fonte de matéria-prima do CrossFox, nova versão que chegará ao mercado no início de 2005.
No próximo ano, a Volks passará a utilizar fibra de coco nos bancos da Parati e da Saveiro, produto que a Mercedes-Benz usa no modelo Classe A desde o início de sua produção em Minas Gerais. "Além da reciclabilidade, o produto é mais resistente que a resina comum", afirma Roberto Gasparetti, supervisor de Marketing da DaimlerChrysler, dona da Mercedes-Benz.
A fibra de coco produzida no Pará é usada nos bancos e na cobertura do painel do Classe A. Segundo Gasparetti, o conforto térmico é uma das vantagens da fibra natural. "A ventilação é melhor e absorve a oscilação da temperatura do corpo", explica. Além disso, após 400 mil quilômetros de uso em testes, os bancos mantinham a configuração original, sem deformações.
O Smart, veículo que será fabricado em Minas Gerais a partir de 2006 com pelo menos 80% da produção voltada às exportações para Estados Unidos e Europa também terá peças em fibra de coco. O Brasil exporta a fibra para o Classe A feito na Alemanha e o Classe C.
A Ford tem estudos avançados para o uso de fontes renováveis ainda inéditas, diz o chefe de Engenharia da empresa, Marcio Alfonso. Ele ainda não revela os produtos, mas diz que os projetos estão em fase de desenvolvimento da tecnologia de confecção das peças, para que sua aplicação seja rentável e não ocorram desperdícios.
A Volks, segundo Cabbellete, também deve anunciar, em breve, a adoção de novas fibras naturais. O curauá, por enquanto, será utilizado apenas na linha Fox porque não há plantação suficiente para atender demanda maior. No caso da fibra de coco, o gargalo está na falta de capacidade industrial de processamento das fibras. Hoje, há duas fornecedoras de produtos feitos com cada produto, ambas instaladas no Estado do Pará.
RECONQUISTA
A Honda adotou o uso de juta no porta pacotes do Fit, lançado no ano passado. O produto era bastante usado pela indústria automobilística há mais de 20 anos, mas foi trocado por resinas plásticas, mais barata e de produção em larga escala. Agora, a juta começa a reconquistar espaço, assim como a malva e o algodão.
A General Motors usa pó de madeira misturado com polipropileno nos painéis das portas do Corsa. De acordo com Rita Binda, gerente de engenharia de materiais da montadora, o produto, não é tóxico e garante à peça a mesma qualidade de produtos químicos usados anteriormente.
O fornecedor das peças, a Collins, de Varginha (MG) tem plantação própria de eucaliptos e se compromete com o reflorestamento das árvores. A GM também estuda o uso da fibra de coco para os encostos dos bancos dos modelos da marca.
Outra preocupação das montadoras é com a reciclagem dos carros. Muitas vezes, o material usado é reciclável, mas não há centros especializados. Além disso, o desmonte nem sempre é viável. Desde 1992, a Fiat desenvolve carros com sistemas de desmanche facilitado
Projeto leva trabalho para famílias carentes
Cultivo de curauá é fonte de renda para cerca de 1.500 pessoas em Lago Grande
O uso de materiais renováveis na produção de automóveis também tem caráter social. Tanto a produção das fibras de coco quanto as de curauá são feitas por comunidades carentes que vivem às margens do Rio Amazonas. O cultivo do curauá é fonte de renda fixa para 300 famílias (ou 1.500 pessoas) em Lago Grande, aonde se chega via barco (12 horas de viagem de Santarém) ou de monomotor (40 minutos de viagem).
A Pematec, fabricante de autopeças em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e uma das responsáveis pelo projeto de adaptação do curauá para uso industrial junto com a Volkswagen, montou uma fábrica em Santarém para processar a fibra, que chega à montadora em pedaços parecidos com cobertores de feltro. A fábrica, com 70 empregados, já vem produzindo a todo vapor, mas só será inaugurada oficialmente no início de 2005. O investimento no projeto foi de R$ 25 milhões.
Segundo Alberico Pasquetto, diretor da Pematec, com o aumento da produção a partir do próximo ano, por conta do início da produção do CrossFox e do Fox para exportação, outras mil famílias serão agregadas ao projeto. A renda média pode chegar a dois salários mínimos, dependendo da produtividade de cada uma. A empresa também tem uma fazenda própria de cultivo, onde trabalham mais 170 pessoas.
Os índios já cultivavam o curauá e usavam as fibras para redes. Em um ano de cultivo, é possível colher folhas, que são processadas em equipamentos simples. Além do curauá, a Pematec está revitalizando o plantio de juta e malva.
Novo turno
A Poematec, processadora da fibra de coco usada pela Mercedes-Benz, adquire também o produto de 500 famílias de oito pequenos municípios de Santarém. Ao todo, são 2 mil pessoas que sobrevivem do cultivo, calcula o presidente da empresa, Marcus Bünicker. Além do Classe A, o produto é usado na produção de caminhões.
Antes, as famílias vendiam a parte interna do coco para a indústria alimentícia e jogavam a casca fora. Agora, a Poematec compra as fibras, que já chegam à fábrica em fardos. Os produtores, organizados em comunidades, associações e cooperativas, receberam equipamentos para a primeira fase do processo de transformação da fibra. "As famílias agregaram valor ao trabalho", diz Bünicker.
A Poematec consome cerca de 15 toneladas ao mês de fibras, que são transformadas em placas e enviadas para a montadora. A produção será ampliada com o fornecimento da fibra para a Volkswagen, a partir do próximo ano. Instalada no distrito industrial de Ananindeua, emprega hoje 75 funcionários em um turno. Com o contrato da Volks, passará a operar em dois turnos e mais 45 pessoas serão contratadas.
OESP, 24/10/2004, p. B11
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