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 Artemisa Xakriabá, a jovem indígena que luta para salvar a Amazônia de Bolsonaro

01/11/2019

Autor: Travis Waldron

Fonte: Huffpost Brasil - https://www.huffpostbrasil.com/



Aos 19 anos, ela representa os dois grupos mais ameaçados pela destruição do meio ambiente: as tribos indígenas e os jovens.

No mês passado, enquanto os incêndios na Amazônia ameaçavam causar uma destruição irreparável na Amazônia, Artemisa Xakriabá, 19, implorava que o mundo entendesse o que a obliteração do meio ambiente no Brasil representaria para os indígenas, como ela.

"Estamos lutando por nossas vidas", disse Artemisa em um discurso durante protestos realizados em Manhattan, não muito longe da sede da ONU, onde pouco depois o presidente do Brasil, o direitista Jair Bolsonaro, afirmaria que a mudança climática é uma "conspiração globalista", negaria que os incêndios estejam destruindo a Amazônia e culparia os indígenas pelo fogo.

Ninguém melhor que Artemisa para exemplificar a urgência do problema. Ela é parte das duas comunidades que produziram os líderes mais aguerridos na luta contra a mudança climática e a destruição do meio ambiente. Artemisa é adolescente num mundo em que milhões de jovens imploram às gerações mais velhas para prestar atenção na mudança climática. E ela também é integrante da tribo Xakriabá, parte de uma comunidade que pode sofrer os efeitos mais imediatos e desastrosos da guerra contra o ambiente, que obriga as tribos indígenas brasileiras a lutar não só contra a mudança do clima, mas também por sua própria existência.

"Estamos lutando por nosso território sagrado", diz Artemisa. "Mas estamos sendo perseguidos, ameaçados e assassinado só por proteger nossos próprios territórios. Não podemos aceitar o derramamento de nem sequer mais uma gota de sangue indígena."

Artemisa diz ter vindo a Nova York para "pedir ajuda em nome de toda a juventude brasileira" e para exigir proteções para as populações indígenas de todo o mundo, pois suas batalhas são movidas por "uma conexão direta com a terra e com as florestas".

"Costumamos dizer que a natureza é nossa mãe, pois ela nos dá a vida, ela nos alimenta", diz Artemisa. "Temos o dever de defendê-la."
O "genocídio" indígena promovido por Bolsonaro

Os povos indígenas ocupam aproximadamente 25% das terras do planeta, e seus territórios abrigam 80% da diversidade de espécies vegetais e animais do planeta. O Banco Mundial afirma que os povos indígenas têm papel "enorme" a desempenhar na proteção de áreas ambientais vulneráveis, vitais para limitar os efeitos das mudanças climáticas. Em agosto, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU argumentou pela primeira vez que proteger as terras indígenas é essencial na luta para salvar o planeta.

Artemisa tinha apenas 7 anos quando ela e outras crianças da tribo Xakriabá ajudaram a reflorestar 15 áreas ribeirinhas perto de suas terras, no sudeste de Minas Gerais. No Brasil, 300 tribos indígenas ocupam cerca de 13% do território do país e ajudam a proteger do desmatamento uma parte enorme da floresta amazônica.

Mas isso também significa que ninguém está mais ameaçado pelos efeitos da mudança climática e da destruição ambiental que os povos indígenas. No Brasil, eles ficaram ainda mais vulneráveis nos últimos anos, com a reversão de proteções ambientais e tribais por parte de governos conservadores - que levaram a um crescimento do desflorestamento.

Bolsonaro representa uma ameaça ainda maior. Em suas quase três décadas no Congresso, o ex-oficial do Exército fez ataques constantes aos povos indígenas. Em 1998, ele disse ser uma "vergonha" que os militares do Brasil não tenham sido tão "eficientes" quanto os americanos, que conseguiram "exterminar os índios". Em 2015, afirmou que os indígenas brasileiros não deveriam ter seus territórios protegidos porque "eles não falam nossa língua, não têm dinheiro e não têm cultura".

Durante a campanha presidencial de 2018, Bolsonaro prometeu enfraquecer as agências ambientais e acabar com a prática proteger terras indígenas, para que a agricultura, a mineração e outros interesses pudessem operar mais livremente na floresta. Líderes tribais alertaram que isso poderia resultar num "genocídio" dos povos indígenas.

Mesmo antes da posse de Bolsonaro, em janeiro deste ano, a redução das regulamentações ambientais promovida pelo governo anterior e a promessa de Bolsonaro de levá-las ainda mais longe incentivou agricultores e mineiros a visar terras indígenas. Em 2018, 135 indígenas foram mortos, um aumento de 23% em relação a 2017, de acordo com o Conselho Indigenista Missionário.

Neste ano, Bolsonaro tentou cortar as asas da agência governamental encarregada de proteger terras e povos indígenas, e seus aliados no Congresso preparam legislação para permitir a mineração e a agricultura nessas terras. Nos primeiros nove meses de 2019, houve 160 relatos de invasões de terras ou extração ilegal de madeira e mineração em terras indígenas em todo o Brasil, segundo dados preliminares do Conselho Indigenista Missionário - o total é o dobro registrado no mesmo período do ano passado.

Costumamos dizer que a natureza é nossa mãe, pois ela nos dá a vida, ela nos alimenta. Temos o dever de defendê-la.Artemisa Xakriabá

Em julho, mineiros invadiram uma reserva indígena e mataram um importante líder tribal. Em resposta, membros da comunidade Wajapi pediram proteção governamental contra os invasores de terra, que vestiam uniformes militares e portavam armas. Em resposta, Bolsonaro questionou a veracidade do relato. "O presidente é responsável por esta morte", disse um senador da oposição ao The New York Times.

O Brasil tem o maior número de tribos sem contatos com a civilização em todo o mundo, e no passado houve esforços para protegê-las. Mas, em outubro, o governo de Bolsonaro repentinamente demitiu seu principal especialista em povos isolados, levando os especialistas a alertar que essas populações também correm o risco de ser vítimas de genocídio.

"Todas as afirmações que os povos indígenas do Brasil fazem [sobre Bolsonaro] são verdadeiras", diz Dinaman Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, após o discurso de Bolsonaro na ONU.

Como nos Estados Unidos - onde as tribos lideraram protestos contra um oleoduto planejado para a reserva indígena Standing Rock e contra a tentativa do presidente Donald Trump de abrir o Monumento Nacional Bears Ears à mineração -, as tribos indígenas brasileiras e as organizações que as representam intensificaram seus esforços para resistir, buscando o apoio de líderes que travam batalhas semelhantes em todo o mundo.
'Não estamos sozinhos'

Bolsonaro e Trump formam uma aliança anticlima, e líderes indígenas de ambos os países também uniram forças. Em março, a deputada americana Deborah Haaland (do Partido Democrata, de oposição) - que em 2018 tornou-se uma das primeiras mulheres indígenas eleitas para o Congresso - juntou-se a Joenia Wapichana, a primeira mulher indígena eleita para o Congresso Nacional. Elas assinaram juntas um artigo criticando Trump e Bolsonaro por "tomarem medidas extremas para acabar com direitos conquistados a duras penas pelo povos indígenas, em benefício das indústrias extrativas e da agricultura comercial".

Enquanto a Amazônia ardia em chamas, o ativismo indígena se intensificou. Artemisa estava entre os milhares de manifestantes que participaram da primeira Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, para protestar contra as políticas ambientais destrutivas de Bolsonaro e sua tentativa de acabar com as proteções para os povos indígenas. Foi uma demonstração de força sem precedentes de indígenas brasileiras, bolivianas e de outras partes do continente. Lideranças indígenas brasileiras continuam protestando em todo o mundo desde então.

Após a marcha, uma coalizão de organizações indígenas juvenis de toda a América do Sul e do leste da Ásia, onde as tribos indígenas também são ameaçadas destruição de áreas florestais, escolheu Artemisa para servir como sua representante nos eventos de setembro em Washington e Nova York. Na capital dos Estados Unidos, ela se reuniu com congressistas americanos para falar dos incêndios na Amazônia e da urgência da mudança climática. Artemisa também estava entre os jovens que marcharam para o Capitólio pedindo ação dos políticos para conter a crise ambiental.

Em Nova York, ela se uniu a outros líderes que foram à cidade para fazer um contraponto não só a Bolsonaro, mas também às corporações e interesses corporativos que ajudaram a colocar a Amazônia (e o planeta) em risco: em toda a cidade, eles participaram de protestos contra instituições financeiras e outras empresas que, segundo os indígenas, continuam a agravar a crise global do meio ambiente.

Depois das falas de Bolsonaro e Trump na ONU - em que os dois presidentes fizeram pouco das preocupações com a mudança climática e mencionaram teorias da conspiração -, em questão de horas os ativistas brasileiros organizaram um evento para dar sua resposta.

"Mesmo com nossas terras queimando e nosso sangue sendo derramado em nossas terras, trazemos o grito da nossa gente até aqui", disse Sonia Guajajara, diretora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. "A coragem supera o medo."

"Se existe alguma esperança hoje, é a de que não estamos sozinhos", continuou ela. "A experiência de outros líderes indígenas do resto do mundo [está trabalhando] em conjunto para se fortalecer em defesa da população indígena brasileira."
"Nosso futuro é conectado"

Se alguém tem o mesmo senso de urgência dos indígenas em relação à mudança climática, são os jovens. Milhões deles protestaram mundo afora, exigindo que os políticos - mais velhos - façam algo imediatamente para proteger o planeta e seus futuros.

"Estou aqui como uma jovem mulher, porque não tem diferença entre uma ativista indígena jovem como eu e uma ativista jovem como Greta", disse Artemisa em seu discurso. Ela fazia referência a Greta Thunberg, a adolescente sueca que desencadeou um movimento global ao abandonar a escola em protesto. "Nosso futuro está conectado pelo fio da crise climática."

A resposta conspiratória de Bolsonaro aos incêndios na Amazônia ameaçam tornar o Brasil um pária no cenário mundial. Países como Alemanha e Noruega cancelaram investimentos no país, e a França e a União Europeia fizeram ameaças ainda mais contundentes.

No Brasil, algumas das principais jovens lideranças políticas do país se uniram a Artemisa. Tabata Amaral, deputada de São Paulo de 25 anos, recentemente abriu um evento nos Estados Unidos com um pedido de desculpas pela inação de Jair Bolsonaro em relação à mudança climática. Ela prometeu que os jovens brasileiros estão alinhados com o resto do mundo.

"Este é nosso futuro e, apesar de Bolsonaro e o resto do Congresso talvez não viverem para ver o que vai acontecer com o planeta em 10, 20 ou 30 anos, o mundo será completamente diferente se não fizermos nada", disse Amaral ao HuffPost. "Não é uma opção para mim, não é uma opção para nós. É uma questão do nosso futuro. Nós é que vamos ter de passar por isso. Não temos tempo a perder. Temos de fazer alguma coisa já."

O número de incêndios diminuiu em setembro. Mas a destruição não parou por aí: o Brasil perdeu quase 8.000 quilômetros quadrados de floresta este ano, e a Amazônia está cada vez mais perto de um ponto do qual não há mais recuperação possível. Ameaças às populações indígenas brasileiras, americanas, indonésias e africanas só se intensificam.

"Não sei se fizemos o mundo prestar atenção suficiente à nossa causa, mas acredito que essa é nossa maior missão aqui. Então vamos continuar lutando", disse Artemisa. "Independentemente do que decida o presidente, se ele nos apoiar ou não, temos de seguir em frente."

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.




https://www.huffpostbrasil.com/entry/artemisa-xacriaba-amazonia_br_5dbb4905e4b09d8f979872f2?utm_hp_ref=br-mulheres
 

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