De Pueblos Indígenas en Brasil

News

 Ministro garante que sociedade decidirá sobre criação de reserva indígena

08/12/2005

Fonte: Midianews-Cuiabá-MT



O ministro da Justiça, Márcio Tomas Bastos, garantiu que o Governo Federal não criará a Reserva Indígena Portal do Encantado, no município de Porto Esperidião (326 km a Oeste de Cuiabá), na fronteira com a Bolívia, como quer a Funai, enquanto não houver participação da população e de todos os poderes constituídos nas discussões.

A informação é do procurador-geral do Estado de Mato Grosso, João Virgílio, membro de uma comissão, composta por representantes do Ministério Público Estadual, Assembléia Legislativa, Câmara Federal, Congresso Nacional e lideranças da região, instituída para acompanhar a questão.

A comissão discutiu o assunto com o ministro da Justiça na última quarta-feira (07/12), em Brasília. "Mato Grosso não é contra ou a favor da criação da reserva indígena. O que queremos é que a sociedade mato-grossense participe desse processo que até agora foi feito de maneira unilateral pela Funai", esclareceu o procurador-geral do Estado.

Na região remota da fronteira seca do Brasil com a Bolívia, distante 410 km de Cuiabá, a Funai tenta criar a Terra Indígena Portal do Encantado, de 43.057 hectares, para descendentes de bolivianos que vivem em Mato Grosso e que seriam da etnia chiquitana, baseando-se apenas em levantamentos realizados por antropólogos do órgão, sem consultar as comunidades locais, que há várias gerações possuem propriedades e desenvolvem atividades econômicas na região. A implantação da Terra Indígena, tratada discretamente há quatro anos pela Funai, pode ser a chave para se implantar 32 reservas ao longo dos 730 km da linha imaginária que une os dois países, o que praticamente fecharia aquela faixa de fronteira e dificultaria as relações comerciais de Mato Grosso e do Brasil com a Bolívia e outros países andinos.

Segundo o superintendente de Políticas Indígenas do Estado, Rômulo Vandoni, a população dessa região "está pedindo socorro" diante da atitude da Funai de não discutir com os moradores a criação da reserva. "O trabalho de pesquisa antropológica deve ser feito em conjunto com outras instâncias, como o Estado, as prefeituras e as lideranças locais. Temos que saber se aqueles brasileiros querem ou não ser considerados índios. Estamos num país livre e democrático, por que não ouvir a sociedade?", questionou o superintendente, que também participou da audiência com o ministro da Justiça.

Vandoni explicou que o Ministério da Justiça enviará uma equipe a Mato Grosso para verificar como foram conduzidos os estudos da Funai. "O ministro entendeu a gravidade do assunto, não há como transformar uma população em etnia indígena sem antes consultá-la", observou. Além do superintendente e o procurador João Virgílio, participaram da audiência com o ministro da Justiça os senadores por Mato Grosso Jonas Pinheiro e Serys Marli, os deputados federais Pedro Henry e Tetê Bezerra, os deputados estaduais Joaquim Sucena e Pedro Satélite e o promotor de justiça Mauro Zaque. Autoridades de Mato Grosso do Sul, como o senador Delcídio Amaral, também participaram da reunião, pois o estado vizinho vive um problema semelhante em relação à atuação da Funai com a população que mora na fronteira com o Paraguai.

DESCONTENTAMENTO - Líderes comunitários das áreas englobadas pelo projeto da Funai são contra a decisão do órgão federal e afirmam que não são descendentes de índios chiquitanos, como apontou uma consulta feita junto a comunidades da região. "Chegaram a nossas comunidades e utilizaram indevidamente nossa imagem para embasar o projeto deles. Em nenhum momento afirmamos aceitar a condição de índios chiquitanos como quer afirmar a Funai", contestou Lídio Tomicha, coordenador da Associação de Moradores de Santa Mônica, de Porto Esperidião, onde residem 65 famílias.

O professor da escola municipal da comunidade de Nossa Senhora Aparecida, Aparecido Ortiz, também demonstrou descontentamento com a forma como a Funai desenvolveu o trabalho em sua comunidade. "Algumas pessoas foram convencidas a cancelar o documento de identidade civil, ficando numa condição que não condiz com a nossa realidade", reclamou.
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source