De Pueblos Indígenas en Brasil

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Ecologia urbana

05/01/2005

Autor: MINC, Carlos

Fonte: JB, Outras Opinioes, p.A11



Ecologia urbana
Carlos Minc
Deputado estadual (PT-RJ)
Você respira dióxido de enxofre, sofre com o barulho, ingere sua dose diária de agrotóxico na salada, lamenta a língua negra na sua praia, fica deprimido com o espigão que desfigura a paisagem, se indigna com a sujeira da cidade, mas se alguém lhe pergunta o que é ecologia, as imagens que lhe vêm à mente são a Amazônia, as baleias, as nações indígenas, o mico leão dourado, o Pantanal. Estas são legítimas bandeiras dos ambientalistas, que apesar dos esforços continuam ameaçadas pela cobiça, pela impunidade, pela falta de tecnologias alternativas.
As grandes cidades são organismos doentes; expressam desequilíbrios econômicos, ecológicos e espaciais que fazem do país um ser disforme: um corpo atrofiado com macrocefalia,uma imensa cabeça conturbada. As metrópoles funcionam como colonialistas do território, atraem populações e recursos em espaços congestionados, gerando no rastro do êxodo áreas decadentes e desarticuladas. O diagnóstico é sombrio: conjuntivite (pela poluição do ar), surdez (pelos decibéis), amnésia (a especulação afeta a memória histórica), câncer (bairros degradados se replicam), estresse (a cidade à beira de um ataque de nervos), obesidade (por gorduras e frituras), diarréias (pelos coliformes na água), esquizofrenia (cidade partida), depressão geriátrica (anciãos abandonados, descartáveis), enfarte do miocárdio (circulação engarrafada por automóveis; viadutos - pontes de safena ineficazes), falocracia (erotismo barato, estupros cotidianos, homofobia), síndrome da alienação adquirida (pessoas convertidas em terminais receptores de códigos globalizados).
A terapia para este coquetel de doenças é a Cidade do Cidadão, com direito de vizinhança, reflorestamento de encostas, metrô, trens modernos e ciclovias integradas, coleta seletiva domiciliar do lixo, rádios e TVs comunitárias, esgoto tratado, saúde auditiva da população preservada, sem sinaleiras de garagem e com revestimento acústico nas casas de espetáculos. O direito ao sol, à paisagem, ao verde deve ser democratizado e os centros culturais incentivados no combate à violência e à exclusão, colocando um cavaquinho e uma filmadora nas mãos que empunham um AR-15.
As políticas públicas devem subir os morros, libertando as associações do jugo despótico dos traficantes, impedindo que a polícia despreparada, isolada, mate e morra nesta guerra sem fim. A rede de cidades médias deve ser fortalecida, levando alternativas e cidadania ao interior e combatendo a decadência e o êxodo.
A reforma agrária ecológica, sem desmatamentos, queimadas e agrotóxicos, com agro-indústria e fruticultura, amplia a oferta de alimentos saudáveis, combatendo a favelização e a violência. Moradias populares, com ventilação, energia solar, sem amianto, com hortas comunitárias são um eficaz antídoto ao desmatamento das encostas e às inundações, agravadas pelo entupimento de plásticos e pet, que geram emprego e renda nas cooperativas de catadores.
Retiramos o chumbo da gasolina, garantimos o gás natural nos táxis, uma rede cicloviária e a retomada do metrô; começou em alguns bairros, com 10 anos de atraso e sem a divulgação e as parcerias, a coleta seletiva domiciliar, mas é um avanço. Ou garantimos ecologia urbana e cidadania para todos, ou em breve não haverá saúde, lazer, segurança e cidade para ninguém.

Carlos Minc é presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Alerj

JB, 05/01/2005, p. A11
 

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