De Pueblos Indígenas en Brasil
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Notícias
'Vivemos momento de retrocesso', diz antropóloga sobre direitos indígenas
11/07/2019
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: Folha de S. Paulo https://www1.folha.uol.com.br
Os indígenas viraram alvo novamente. Esse foi o alerta da antropóloga Aparecida Vilaça na Flip. "Vivemos um momento de retrocesso absoluto, estamos voltando aos anos 50 e 60 (época em que brancos promoveram massacres sistemáticos de indígenas)", disse Aparecida durante a mesa Bendegó, que foi moderada pelo jornalista Paulo Roberto Pires, editor da revista Serrote.
Aparecida é autora de "Paletó e eu - Memórias de meu pai indígena", um relato sobre a relação de pai e filha da antropóloga com o indígena Paletó, e com os waris, com quem conviveu por longos períodos em aldeias em Rondônia, desde 1986.
Segundo Aparecida, que é professora de antropologia no Museu Nacional, o simples fato de membros do governo manifestarem desprezo pela terra indígena e pelos direitos adquiridos dos indígenas está funcionando como um sinal verde para invasões de reservas.
No início do ano, o governo Bolsonaro transferiu a atribuição de demarcação de terras indígenas para o ministério da Agricultura, mas decisão foi barrada pelo Congresso, reiterada por Bolsonaro, e aí derrubada no STF.
Além disso, integrantes do governo vêm afirmando que os índios querem fazer o que quiserem com suas terras, inclusive vender ou plantar soja.
"Essa coisa de dizer que eles querem agricultura e mineração, é tudo completamente falso", disse a antropóloga.
Ela afirmou que vários waris estão ligando para ela e relatando invasões: "Aparecida, estão entrando aqui (na reserva homologada) dizendo que não vale mais nada". "A situação dos povos indígenas em geral é drástica."
Segundo Aparecida, é importante que as pessoas se deem conta de que a luta pelos povos indígenas não só dos antropólogos e pesquisadores.
"Se não tivermos diversidade a gente morre, um mundo feito só de gente igual é chato e pobre; nós precisamos é aprender com eles, e não ter essa ideia que vamos civilizá-los. Eles é que podem nos civilizar -podem nos ensinar a ser autossuficientes em produção de comida, na preservação da família. Se a gente tira a terra dos índios e os evangeliza, aí acabou", disse ela, que foi muito aplaudida.
Ela descreveu Paletó como "um grande parceiro intelectual na minha descoberta da vida dos waris e na minha redescoberta da vida na cidade: e me questionou sobre coisas do meu mundo em que eu jamais tinha pensado."
Aparecida lembrou os massacres de índios dos anos 40, 50 e 60, e como a primeira mulher de Paletó foi assassinada junto com a filha pequena, metralhada na vagina -dois terços da população wari foi dizimada.
"O medo deles é que isso volte a acontecer, e está acontecendo sub-repticiamente, as pessoas estão armadas."
A antropóloga também criticou o descaso do governo com o Museu Nacional, que foi destruído em um incêndio no ano passado. "Somos pessoas desabrigadas, tentando reconstruir nossa biblioteca (de antropologia), que era a maior da América Latina, e estamos fazendo crowdfunding porque não conseguimos verba pública", disse.
Segundo a autora, o incêndio foi fruto de anos de negligência do governo. "Há décadas os dirigentes do museu pediam verbas para reformas (que poderiam ter impedido o incêndio), e as verbas nunca chegaram. A gente jamais vai conseguir repor as preciosidades que estavam lá dentro."
Aparecida foi aplaudida diversas vezes durante a mesa que durou 45 minutos -estratégia de fazer algumas mesas mais curtas do que em Flips passadas.
O nome da mesa, Bendegó, é uma referência à cidade da região de Canudos, onde se passa "Os sertões", obra do autor homenageado este ano, Euclides da Cunha.
Mas Bendegó também é o nome do meteorito de 5 toneladas que foi encontrado na região no século 18. O meteorito fazia parte do acervo do Museu Nacional desde o século 19 e podia ser visto logo na entrada.
Sobreviveu ao incêndio, a contrário dos 27 mil volumes da biblioteca de antropologia.
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/vivemos-momento-de-retrocesso-diz-antropologa-sobre-direitos-indigenas.shtml
Aparecida é autora de "Paletó e eu - Memórias de meu pai indígena", um relato sobre a relação de pai e filha da antropóloga com o indígena Paletó, e com os waris, com quem conviveu por longos períodos em aldeias em Rondônia, desde 1986.
Segundo Aparecida, que é professora de antropologia no Museu Nacional, o simples fato de membros do governo manifestarem desprezo pela terra indígena e pelos direitos adquiridos dos indígenas está funcionando como um sinal verde para invasões de reservas.
No início do ano, o governo Bolsonaro transferiu a atribuição de demarcação de terras indígenas para o ministério da Agricultura, mas decisão foi barrada pelo Congresso, reiterada por Bolsonaro, e aí derrubada no STF.
Além disso, integrantes do governo vêm afirmando que os índios querem fazer o que quiserem com suas terras, inclusive vender ou plantar soja.
"Essa coisa de dizer que eles querem agricultura e mineração, é tudo completamente falso", disse a antropóloga.
Ela afirmou que vários waris estão ligando para ela e relatando invasões: "Aparecida, estão entrando aqui (na reserva homologada) dizendo que não vale mais nada". "A situação dos povos indígenas em geral é drástica."
Segundo Aparecida, é importante que as pessoas se deem conta de que a luta pelos povos indígenas não só dos antropólogos e pesquisadores.
"Se não tivermos diversidade a gente morre, um mundo feito só de gente igual é chato e pobre; nós precisamos é aprender com eles, e não ter essa ideia que vamos civilizá-los. Eles é que podem nos civilizar -podem nos ensinar a ser autossuficientes em produção de comida, na preservação da família. Se a gente tira a terra dos índios e os evangeliza, aí acabou", disse ela, que foi muito aplaudida.
Ela descreveu Paletó como "um grande parceiro intelectual na minha descoberta da vida dos waris e na minha redescoberta da vida na cidade: e me questionou sobre coisas do meu mundo em que eu jamais tinha pensado."
Aparecida lembrou os massacres de índios dos anos 40, 50 e 60, e como a primeira mulher de Paletó foi assassinada junto com a filha pequena, metralhada na vagina -dois terços da população wari foi dizimada.
"O medo deles é que isso volte a acontecer, e está acontecendo sub-repticiamente, as pessoas estão armadas."
A antropóloga também criticou o descaso do governo com o Museu Nacional, que foi destruído em um incêndio no ano passado. "Somos pessoas desabrigadas, tentando reconstruir nossa biblioteca (de antropologia), que era a maior da América Latina, e estamos fazendo crowdfunding porque não conseguimos verba pública", disse.
Segundo a autora, o incêndio foi fruto de anos de negligência do governo. "Há décadas os dirigentes do museu pediam verbas para reformas (que poderiam ter impedido o incêndio), e as verbas nunca chegaram. A gente jamais vai conseguir repor as preciosidades que estavam lá dentro."
Aparecida foi aplaudida diversas vezes durante a mesa que durou 45 minutos -estratégia de fazer algumas mesas mais curtas do que em Flips passadas.
O nome da mesa, Bendegó, é uma referência à cidade da região de Canudos, onde se passa "Os sertões", obra do autor homenageado este ano, Euclides da Cunha.
Mas Bendegó também é o nome do meteorito de 5 toneladas que foi encontrado na região no século 18. O meteorito fazia parte do acervo do Museu Nacional desde o século 19 e podia ser visto logo na entrada.
Sobreviveu ao incêndio, a contrário dos 27 mil volumes da biblioteca de antropologia.
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/vivemos-momento-de-retrocesso-diz-antropologa-sobre-direitos-indigenas.shtml
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