De Povos Indígenas no Brasil
Foto: Ivan Canela, 2012.

Canela Ramkokamekrá

Autodenominação
Memortumré
Onde estão Quantos são
MA 2175 (Siasi/Sesai, 2012)
Família linguística

Canela é o nome pelo qual ficaram conhecidos dois grupos Timbira: os Ramkokamekrá e os Apanyekrá. Há diferenças significativas entre esses grupos vizinhos, mas ambos falam a mesma língua e são pautados pelo mesmo repertório cultural. Até a década de 1940, os Ramkokamekrá tinham menor contato com a sociedade nacional e com outros grupos indígenas do que os Apanyekrá. Depois disso, a situação inverteu-se. Não obstante, atualmente ambos grupos têm sofrido uma forte interferência por parte de algumas agências de contato, como Funai, fazendeiros e missionários. Em contrapartida, têm procurado reaver a autonomia de suas atividades produtivas e manter sua vitalidade cultural, expressa por uma complexa vida ritual, práticas xamânicas e intrincada organização social.

Nome

Mulher Canela Ramkokamekrá colocando massa de mandioca brava sobre folhas de bananeira. Foto: William Crocker, 1964.
Mulher Canela Ramkokamekrá colocando massa de mandioca brava sobre folhas de bananeira. Foto: William Crocker, 1964.

Os Canela são compostos das cinco nações remanescentes dos Timbira Orientais, sendo a maior a dos Ramkokamekrá, descendentes dos Kapiekran (como eram conhecidos até 1820). O nome Canela também era utilizado pelos sertanejos para os Apanyekráe os Kenkateye, que foram massacrados e dispersos em 1913. Os Kenkateye separaram-se dos Apanyekrá por volta de 1860.

O grupo Ramkokamekrá atualmente se auto-denomina com o nome português Canela. Ramkokamekrá significa "índios do arvoredo de almécega". Usam o termo Me(n)hi(n) para se referir aos Timbira Orientais. É provável que o nome Canela seja uma referência ao fato desses índios serem visivelmente mais altos - com suas longas pernas -, quando comparados pela população regional a seus vizinhos Guajajara.

O grupo Apanyekrá se auto-denomina como tal. São conhecidos pela bibliografia apenas por esse nome e suas variações ortográficas, ou ainda por Apanyekrá-Canela. Apanyekrá significa "o povo indígena da piranha". Nimuendajú supõe que eram chamados por esse nome porque pintavam o maxilar inferior de vermelho, remetendo à imagem desse peixe carnívoro.

Língua

Rapaz Ramkokamekrá da aldeia Escalvado. Ele canta ao redor da aldeia com cocar com penas de arara. Foto: Willian Crocker, 1969.
Rapaz Ramkokamekrá da aldeia Escalvado. Ele canta ao redor da aldeia com cocar com penas de arara. Foto: Willian Crocker, 1969.

Os Canela e os Krahô falam uma mesma língua da família Jê, no tronco Macro-Jê, com pequenas variações. Os Canela entendem o Krikati/Pukobyé com facilidade e, certamente, o Gavião do Tocantins. Essas são as principais línguas Timbira orientais que sobreviveram. Já o Apinayé (Timbira Ocidental) é tão diferente do Canela como o espanhol é do português. Um Canela não compreende o Xavante (Jê Central) ou o Xokleng (Jê Meridional), e apresenta muita dificuldade para compreender o Xikrin (Jê setentrional).

Muitos Canela conseguem se expressar em português, mesmo que não o falem corretamente. Os Ramkokamekrá têm maior domínio dessa língua do que os Apanyekrá. Entre aqueles, os homens falam melhor o português do que as mulheres, por contarem com mais experiências urbanas e por praticarem o comércio.

São explícitos os aspectos de dualismo em língua Canela, na medida em que quase todos os verbos possuem duas formas básicas alternadas. Além disso, uma pessoa, quando fala com seu grupo, usa um pronome exclusivo em primeira pessoa do plural, me(n)pa (nós-nosso grupo); mas quando fala com outro grupo, usa um pronome inclusivo em primeira pessoa do plural wa me(n) (nós, todos nós), como em português. Pronomes, adjetivos e substantivos não são diferenciados por gênero, como em português, mas um sufixo feminino (-kahãy) ou masculino (-tsu(n)m-re) pode ser adicionado a qualquer substantivo. Existem duas formas de pronome em segunda e terceira pessoas. A forma ka é usada para parentes, cônjuges, amigos informais e a maioria dos outros indivíduos, inclusive membros de outros grupos timbira. O outro pronome, , é empregado para estabelecer distância social e respeito com a maioria dos afins e todos os amigos formais. Essa última forma é também usada na segunda e terceira pessoas do plural. Dos 30 fonemas Canela, 17 são vogais, dois são semi-vogais e onze são consoantes. Isso resulta numa quantidade incomum de sons vocálicos transmissores de significados. A língua dos Canela não possui ditongos, mas faz distinção fonêmica entre vogais longas e breves.

Localização

Vista aérea da aldeia de Escalvado. Foto: Ray Roberts Brown, 1970.
Vista aérea da aldeia de Escalvado. Foto: Ray Roberts Brown, 1970.

A principal aldeia ramkokamekrá, Escalvado, é conhecida pelos sertanejos e moradores de Barra do Corda como Aldeia do Ponto e localiza-se em torno de 70 km a sul-sudeste dessa cidade, no estado do Maranhão. A  Terra Indígena Canela hoje está homologada e registrada. Até recentemente, essas terras de cerrado, florestas-galeria e pequenas chapadas ficavam no município de Barra do Corda, mas agora localizam-se no novo município de Fernando Falcão, que se estruturou a partir do crescimento da antiga vila Jenipapo dos Resplandes. O limite sul da Terra Indígena fica em grande parte delimitado pela serra das Alpercatas. O rio Corda corre fora da TI, afastado 20 Km, ao longo do limite noroeste.  

Aldeia de Porquinhos. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993
Aldeia de Porquinhos. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993

No que diz respeito aos Apanyekrá, a regularização da Terra Indígena Porquinhos aconteceu no começo da década de 1980. A aldeia principal encontra-se a cerca de 80 Km a sudoeste do município de Barra do Corda e 45 Km a oeste da aldeia ramkokamekrá de Escalvado. Está a leste do município de Grajaú, separada por 75 Km de área de cerrado facilmente transponível.

Enquanto os Ramkokamekrá vivem basicamente em áreas de cerrado com pequenos igarapés, os Apanyekrá têm essa mesma ecologia a leste e sul, contando, no entanto, com extensas florestas a norte e oeste. Possuem também o rio Corda, que em alguns pontos tem oito metros de largura. Os Apanyekrá têm, assim, a vantagem de dispor de melhor solo para a agricultura de coivara e maior abundância de peixes, além da caça na floresta e no cerrado.

Demografia

Canela Apanyekrá na Aldeia Porquinhos. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993
Canela Apanyekrá na Aldeia Porquinhos. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993

Estima-se que, antes do contato com os "brancos", as nações timbira viviam em grupos que somavam de mil a 1.500 pessoas. Os grupos menores encontravam problemas para se defender durante as guerras sazonais (junho-agosto).

Já os grupos maiores cindiam-se provavelmente devido a conflitos de lideranças. Por volta de 1817, os Kapiekran (ancestrais dos Ramkokamekrá) reduziram-se drasticamente devido a guerras intertribais e varíola. Remanescentes refugiaram-se nos vales de serras, mas se reinstalaram nas terras atuais durante a década de 1840, não havendo registro de sua população nessa época.

Nimuendajú contou em torno de 300 indivíduos ramkokamekrá em 1936 e William Crocker, por volta de 412, em 1960. Censos sucessivos registram 437 (1970), 508 (1975), 600 (1979) e 836 (1988). Em 1998, a Funai registrou 1.262 pessoas e, em 2000, 1.387. Em 2001, Crocker e Pareschi computaram 1337.

Quanto aos Apanyekrá, Nimuendajú estimou 130 indivíduos para os em 1929. Crocker contou 205 em 1970, 213 em 1971, e 225 em 1975. Um relatório da Funai lista 458 em 2000.

Histórico do contato

Rito do Tepjarkwa na aldeia do Escalvado. Foto: Curt Nimuendaju, 1931.
Rito do Tepjarkwa na aldeia do Escalvado. Foto: Curt Nimuendaju, 1931.

Os Kapiekran, ancestrais dos Canela, foram indiretamente contatados por forças militares no fim do século XVII, mas apenas durante a última década do século XVIII efetivamente ocorreram incursões contra sua população e seu modo de vida. Ataques periódicos partiam das milícias locais ou bandeiras, organizadas para tomar e assegurar as terras dos Kapiekran, empregadas na agricultura e criação de gado ao longo dos rios Itapicuru e Alpercatas, a nordeste e oeste de Picos. Dizimados por essas guerras, em 1814, os Kapiekran renderam-se às forças brasileiras da região, em Pastos Bons, em troca de proteção. Seus remanescentes, bem como os de outras várias nações timbira, foram autorizados a se estabelecerem no canto noroeste das terras ancestrais dos Kapiekran. No final de 1830, eles ocupavam por volta de 5% das antigas áreas de coleta desse povo.

Seguiram-se cem anos de relativa paz e limitados contatos com sertanejos, até que, em 1938, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) enviou um agente para morar com sua família próximo à aldeia Ramkokramekrá. Esse relacionamento causou-lhes acelerada mudança cultural. O trabalho de campo de Nimuendajú para seu grande estudo sobre os Canela, The Eastern Timbira, foi realizado, felizmente, antes do início desse processo, durante seis visitas entre 1929 e 1936.

O SPI se impôs de tal modo às autoridades indígenas que tornou inoperante a liderança por classe de idade, essencial para garantir a realização anual do trabalho nas roças familiares. Esse enfraquecimento de lideranças contribuiu significativamente para a perda da auto-suficiência da produção agrícola, até os tempos atuais.

As tradições culturais também não passaram incólumes ao contato. Em 1951, morreu um importante chefe ramkokramekrá, Hàk-too-kot, grande conhecedor e promotor das tradições Canela. Concomitantemente, nessa época iniciou-se o ensino da escrita. Já na década de 1970, a incipiente assistência de saúde proporcionada pela Funai fez crescer a confiança nos medicamentos farmacêuticos, favorecendo o crescimento populacional. Paralelamente, missionários da Wycliffe Bible Translators traduziram o Novo Testamento para a língua dos Canela e propagaram novos valores entre os Ramkokamekrá.

O movimento milenarista ocorrido entre os Ramkokamekrá em 1963 também contribuiu para o descrédito nas antigas tradições. O fracasso do movimento só fez acentuar esse descrédito, além de os obrigar a se transferirem temporariamente para uma área Guajajara perto de Barra do Corda, de modo a escaparem da vingança dos fazendeiros. Essa mudança forçada para uma zona ecológica diferente os expôs a tipos adversos de agricultura e caça, assim como à convivência com os Guajajara, grupo de língua Tupi, e com a cultura urbana brasileira.

A ponte construída sobre o rio Alpercatas em 1956 possibilitou que fossem introduzidos bens comercializáveis relativamente baratos entre os Ramkokamekrá. Tais mercadorias também foram um fator importante na mudança de valores, estimulando um maior investimento no trabalho agrícola direcionado para a obtenção desses bens e favorecendo a riqueza material individual. Nos anos 1990, um projeto destinado a fazer os Ramkokamekrá superarem o período de fome que precedia a colheita promoveu a abertura de grandes roças comunitárias e os convenceu que, trabalhando juntos, poderiam aumentar a produção. Esta, por sua vez, seria vendida na cidade em troca de bens industrializados, seu novo foco cultural.  

Moças associadas aos Me Kén, pássaros de água, entre dois homens. Foto: Curt Nimuendaju, 1931.
Moças associadas aos Me Kén, pássaros de água, entre dois homens. Foto: Curt Nimuendaju, 1931.

A primeira menção aos Apanyekrá data do final da década de 1810, quando são citados pelo militar Francisco de Paula Ribeiro. Parece que eles habitavam a área montanhosa a oeste dos Kapiekran, localizada muito ao norte dos caminhos dos vales de rios utilizados pelos colonos brasileiros (pelo Itapicuru e baixo Alpercatas, e pelos rios Parnaíba e Balsas). Sofriam, assim, menos ataques de jagunços, já que estavam menos expostos que os Kapiekran, que habitavam as terras mais planas a leste e a sul ao longo do Itapicuru e do baixo Alpercatas. No início dos anos 1830, as terras férteis das nascentes do rio Corda e seus arredores foram ocupadas por uma família que criava gado. Os Apanyekrá passaram então a conviver com sertanejos que viviam imediatamente ao sul, o que não aconteceu com os Ramkokamekrá.

Os Apanyekrá têm histórias muito antigas, provavelmente do século XIX, que relatam uma época na qual estiveram sujeitos ao forte controle de um fazendeiro local. Ele os empregava em sua fazenda e em tarefas de sua casa. Seus jagunços dormiam com suas mulheres. O fazendeiro costumava fornecer gado para festas, nas quais todos dançavam à moda sertaneja (abraçados).

Por volta de 1950, o SPI começou a pagar um sertanejo para viver com os Apanyekrá e ali estabelecer um posto. Em contraste com os encarregados do posto Ramkokamekrá daquele tempo, o encarregado dos Apanyekrá era mais respeitoso e discreto em relação aos índios, e os protegia dos fazendeiros. Os Apanyekrá continuaram mudando periodicamente sua aldeia para diferentes locais em suas terras, levando consigo o "posto elementar" e o encarregado. Encontrei sua aldeia na área de Águas Claras em 1958, Porquinhos em 1960, Rancharia em 1966 e 1971, e em outro lugar da área de Porquinhos em 1974 e 1975. Eles não mudaram deste último local desde então, permanecendo próximos ao novo posto da Funai e do prédio da escola com sua enfermaria, ambos construídos em alvenaria e telha no início da década de 1970.

Em 1963, quando os fazendeiros atacaram os Ramkokamekrá, que então se alçavam num movimento messiânico, ameaçaram também tomar as terras dos Apanyekrá. As ameaças continuaram e algumas terras periféricas foram ocupadas por um fazendeiro, o que levou a guarnição militar de engenharia sediada em Barra do Corda a estabelecer uma pista de pouso na área de Porquinhos por volta de 1965, para proteger os índios.

Os Apanyekrá eram mais isolados do que os Ramkokamekrá não apenas porque aqueles estavam mais distantes de Barra do Corda, mas também porque as florestas ao longo do rio Corda se estendem quase continuamente entre a cidade e Porquinhos, dificultando a construção de uma estrada direta entre as duas. A estrada de Barra do Corda para os Ramkokamekrá, ao contrário, atravessa quase somente florestas de arbustos e cerrados e necessitava de apenas uma ponte, que foi construída em 1971. Por volta de 1978, caminhões que saíam de Barra do Corda para Porquinhos dirigiam-se primeiro para o sul até a aldeia Ramkokamekrá de Escalvado/Ponto, de modo a cruzar o cerrado perto das cabeceiras dos diversos cursos d'água da área em pontes recém-construídas para alcançar Porquinhos.

Organização política

Em uma festa, líder Canela Ramkokamekrá divide carne de boi entre as famílias na aldeia do Escalvado. Foto: William Crocker, 1959.
Em uma festa, líder Canela Ramkokamekrá divide carne de boi entre as famílias na aldeia do Escalvado. Foto: William Crocker, 1959.

Os sistemas de metades e sociedades cerimoniais existentes entre os Canela não apresenta caráter exogâmico, embora o mesmo não possa ser dito com segurança em relação aos Canela do século XVIII. As classes de idade - de afiliação vitalícia - são formadas e iniciadas através de quatro cerimônias. Cada classe de idade consiste em homens nascidos num período em torno de dez anos. Classes de idade formadas consecutivamente sentam-se em lados opostos na praça, leste ou oeste. Assim, classes de idade de homens por volta de seus 10, 30, 50 e 70 anos sentam-se de um lado; enquanto homens em torno de seus 20, 40 e 60 anos sentam-se do outro lado.

Quase todas as atividades são executadas por essas metades, ou por classes de idade opostas, competindo entre si: danças e cânticos cerimoniais ou cotidianos, corridas rasas ou com toras, assim como a abertura de roças, caçadas para cerimônias, abertura de estradas ou de picadas sobre a linha divisória da Terra Indígena. A cada 20 anos (dez anos entre os Apanyekrá), a classe ocidental - cujos membros estão se aproximando dos 50 anos de idade - tradicionalmente transfere-se para o centro do pátio, na qualidade de mais velhos, os pro-khãm-mã (mikhà para os Apanyekrá). Por sua vez, a classe oriental - cujos membros acabaram de passar dos 50 anos de idade - junta-se àquela, formando o conselho dos mais idosos. Os homens da metade oriental aconselham, mas não governam.

O conselho dos velhos selecionava o chefe, que costumava governar pela vida inteira. Atualmente ele se mantém no cargo de seis meses a dois anos. O chefe encarrega-se das relações externas e assume a maior parte das iniciativas internas. O conselho dos velhos geralmente o apóia, mas pode exercer sutil oposição e bloquear ou alterar decisões impopulares. A atribuição especial dos mais velhos é planejar e conduzir as extensas festividades.

Cantador apanyekrá. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993
Cantador apanyekrá. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993

Os Canela são notáveis pelo valor que dão à paz interna no grupo. Palavras de raiva não devem ser expressas no pátio central da aldeia, onde os homens mais velhos se reúnem duas vezes ao dia para resolver problemas e fruir da sociabilidade. Se ali as desavenças internas às famílias extensas não são colocadas, elas serão debatidas e resolvidas em alguma das grandes casas dispostas no círculo da aldeia, onde os tios do queixoso e do acusado agem como representantes de seus sobrinhos ou sobrinhas. Líderes da aldeia e a maior parte dos indivíduos evitam tornar públicas questões contenciosas. Os cilindros auriculares usados pelos homens eram tidos com realçadores da audição e, por conseguinte, de obediência.

Diferentemente dos Ramkokamekrá, que tinham um chefe principal (exceto durante a cisão entre 1957 e 1963), os Apanyekrá tinham três chefes durante os anos 1950 e 1960. Um comandava as situações cotidianas com muita eficiência, mas não poderia ser o chefe principal porque, diziam, era de descendência Kenketeye. Menos eficiente como coordenador de atividades, porém mais prestigiado, era o diretor dos rituais, um grande líder de canto e dança de maracá e um prodigioso contador de histórias. Já o chefe mais velho era o principal interlocutor com o SPI em Barra do Corda e fazia viagens mensais para lá para obter um insignificante salário.

Estrutura familiar

Three generations of Ramkokamekrá Canela women begin to process manioc. photo: Jean Crocker, 1990.
Three generations of Ramkokamekrá Canela women begin to process manioc. photo: Jean Crocker, 1990.

Os Canela moram em casas de palha de palmeira ou pau-a-pique, ao estilo sertanejo, construídas em torno de um grande caminho circular com aproximadamente 300 metros de diâmetro, incluídos os pequenos quintais atrás de cada casa. Uma praça com aproximadamente 75 metros de diâmetro fica no centro, e, como raios da circunferência, saem caminhos do pátio central para cada casa. Atrás da maioria das casas localizam-se outras, da mesma família, formando uma segunda fileira e, às vezes, casas mais distantes iniciam uma terceira fileira.

Uma mulher - com suas irmãs, mãe, avó e filhas - mora no círculo da aldeia em uma área definida em relação ao nascer do sol, sempre na mesma posição nas sucessivas localidades para as quais se transfere a aldeia. Suas primas, que descendem da mesma mulher ancestral por linha feminina (primas paralelas), moram em casas adjacentes ao longo do círculo da aldeia. Se forem da mesma geração, ela as trata por "irmãs". Essa mulher chama as mães de suas "irmãs" de "mãe", e as filhas e filhos de suas "irmãs", de "filhas" e "filhos". O arco de casas contíguas em que essas mulheres vivem é chamado de "casa comprida" (ikhre lùù).

Filhos e irmãos de uma mulher casam-se fora de sua própria "casa comprida" e fora daquela de onde vieram seus pais, os pais de suas mães e os pais de seus pais, de modo a evitarem o incesto. Os filhos e filhas desses homens são primos dos filhos e filhas das suas irmãs, que permanecem na casa em que nasceram; mais precisamente, são primos cruzados, uma vez que seus pais são irmãos de sexos opostos. Nesse sistema de relações, um homem ou uma mulher trata o filho da irmã do pai (que vive fora de sua "casa comprida") por "pai". Da mesma forma, um homem chama o filho do irmão da mãe de "filho". Por sua vez, uma mulher chama o filho do irmão da mãe de "sobrinho", e a irmã deste último, de "sobrinha". Avós e avôs são igualados terminologicamente às irmãs do pai (tias) e irmãos da mãe (tios), respectivamente.

Embora os Apanyekrá e os Ramkokamekrá tivessem seguido até então o mesmo padrão de terminologia de parentesco, nos fins da década de 1950 os primeiros abandonaram o uso do termo "pai" para o filho da irmã do pai e para o filho da filha da irmã do pai. Em cada caso, ele se tornou "tio" ou "sobrinho", conforme um novo princípio determinante, o de idade relativa. Além disso, o parentesco apanyekrá era menos determinado por relações de "sangue" (kaprôô) e tendia mais a ser baseado em conveniência ou preferência.

O parentesco é reconhecido bilateralmente, apesar da ênfase matrilateral. Não existem clãs, mas apenas um certo número de linhagens isoladas e cerimônias para transmitir o direito de desempenhar certos papéis.

No caso dos Apanyekrá, foram registradas várias exceções ao padrão de residência matrilocal. Em contraste, quaisquer exceções entre os Canela me eram explicadas como temporárias.

Relações entre os sexos

Sogra e cunhada Ramkokamekrá colocando o cinturão ao redor do quadril da esposa nova na aldeia do Escalvado. Foto: William Crocker, 1975.
Sogra e cunhada Ramkokamekrá colocando o cinturão ao redor do quadril da esposa nova na aldeia do Escalvado. Foto: William Crocker, 1975.

Um primeiro casamento acontece quando a menina tem em torno de 11 a 13 anos e entrega sua virgindade ao homem de quem ela gosta. No entanto, ela não está definitivamente casada enquanto não engravidar e dar à luz uma criança. Antes de 1975, o casamento era praticamente indissolúvel, mas agora, quando um homem deixa a casa, o que é freqüente, isto é chamado de "divórcio das crianças".

Durante o resguardo, que dura uns 40 dias depois do parto, a mulher convoca seus "outros maridos" para compartilhar do ritual com o marido efetivo. Como ela pode ter praticado sexo cerimonial em série com várias dúzias de homens durante a gravidez, ela identifica de um a quatro desses "outros maridos" como aqueles que contribuíram com uma quantidade suficiente de sêmen para a formação do feto. Esses homens devem cumprir restrições alimentares e sexuais de modo a favorecer o crescimento e saúde da criança. Caso contrário, a criança corre risco de vida. Atualmente, não há mais a identificação desses outros maridos, mas a crença permanece. Conseqüentemente, visando garantir a saúde do bebê, um "outro marido" principal é secretamente avisado sobre a necessidade de observar as restrições alimentares e sexuais, sem que sua esposa tome conhecimento das transgressões dele.

As crianças são criadas no ambiente da casa da mãe e irmãs da mulher e todos seus filhos. Antes do contato mais intenso com os padrões ocidentais de sociabilidade, era comum que a mulher deixasse seus filhos com a mãe ou uma das irmãs enquanto ela se ausentava para um caso amoroso.  

Criança Canela Ramkokamekrá no interior de uma habitação na aldeia do Escalvado. A cama elevada é de uma moça recém-casada sem filhos, para que apenas seu marido possa vê-la. Foto: Willian Crocker, 1969.
Criança Canela Ramkokamekrá no interior de uma habitação na aldeia do Escalvado. A cama elevada é de uma moça recém-casada sem filhos, para que apenas seu marido possa vê-la. Foto: Willian Crocker, 1969.

Amigos informais, dessa maneira, podem ter relações sexuais. Essa atividade era praticada tão extensivamente que constituía uma forma muito comum de recreação. Sexo extraconjugal era permitido a todos - exceto entre consangüíneos, amigos formais e certos afins - durante sua prática em série, como requeriam as inúmeras festas anuais. Assim, dependendo da ocasião, um grupo de dez a 80 homens podia praticar sexo - um de cada vez - com um grupo de duas a oito mulheres. Entre os indivíduos, pública ou privadamente, recusar o desejo sexual de outro era difícil, pois tal atitude era tida como avara e anti-social, até mesmo maligna. Homens e mulheres tinham de ser, então, generosos tanto com seus corpos, como com seus simples bens, como cestos, arcos, flechas e comidas.

Já pessoas aparentadas (como tios e sobrinhas, ou tias e sobrinhos) que não habitavam a mesma casa, não tinham vínculos de nome ou tratamentos prescritos, brincavam quando se encontravam. Porém, parentes muito distantes podiam quebrar o tabu do incesto e então tratar-se como "esposos". No entanto, essa incomum generosidade sexual foi totalmente perdida em meados dos anos 1980, quando houve um estreitamento do contato com não-índios e que bens industrializados passaram a ser mais facilmente adquiridos e fortemente desejados. Os velhos tempos de prazer foram então se perdendo devido ao aparecimento do ciúmes sexual dos maridos.

No âmbito social, os Canela possuem cinco sistemas de metades e, restritos à esfera masculina, seis grupos do pátio central, cinco associações rituais, duas ordens hierarquizadas e cinco agrupamentos de homens que demonstram origens inter-tribais. As mulheres não possuem associações, mas quase todos os grupos masculinos têm duas meninas indicadas como integrantes dessas agremiações masculinas. As mulheres tiram sua própria força em relação aos homens no controle de suas famílias e das redes extensas de parentesco.

Embora o poder entre os sexos estivesse equilibrado a favor dos homens, a situação das mulheres aumentou durante a última metade do século XX. Agora as mulheres também podem ser pintadas no pátio central como chefes cerimoniais. O poder dos homens é melhor considerado quando as ordens e iniciativas partem dos chefes e dos mais velhos. O poder masculino tem origem nas reuniões no pátio e alcança todos os membros da aldeia. Em contrapartida, o poder das mulheres ocorre exclusivamente no interior da casa, através do controle sobre a distribuição de comida para todos os moradores.

Amigos formais e nominação

Encontro de dois amigos formais apanyekrá. Foto: William Crocker, 1975
Encontro de dois amigos formais apanyekrá. Foto: William Crocker, 1975

Os Canela comparam os amigos formais aos compadres e comadres ou padrinhos no sertão. Há um respeito especial entre esses homens e mulheres, que se devem reciprocamente servir, honrar e proteger. Por exemplo, se um bebê cai acidentalmente dentro do fogo, seu principal amigo formal deve encenar o acidente perante os pais, com a possibilidade de se queimar da mesma maneira. Esse ato dramático constrange os pais ante a multidão reunida, de forma que pai e mãe tentarão impedir que o acidente ocorra novamente com seu bebê.

Amigos formais, quase sempre homens, brincam ao se encontrar. Cada um escolhe seu amigo formal no período de iniciação de sua classe de idade. Antigamente eram inseparáveis. Guerreavam juntos, protegiam-se mutuamente e trocavam eventualmente de esposas.

Em relação à nominação, um homem dá o seu conjunto de nomes ao filho da irmã ou irmã classificatória, enquanto a mulher dá o seu para a filha do irmão uterino ou classificatório. Assim, um irmão e uma irmã, uterinos ou classificatórios, nomeiam os sobrinhos do mesmo sexo. Durante os anos 1970 houve maior troca de nomes entre irmãos classificatórios de sexo oposto do que entre irmãos uterinos. Faz mais sentido aos irmãos classificatórios assim proceder, já que essa instituição estreita as relações entre duas pessoas. Os irmãos uterinos já possuem um relacionamento forte, portanto a troca de nomes não serve para reforçá-lo. Uma conduta alternativa para primos afastados de sexo oposto que se chamam de "irmãos" é manter relações sexuais, o que os torna cônjuges classificatórios, quebrando, conseqüentemente, aquela relação. Mas se, ao invés de o fazerem, eles trocarem nomes, se tornarão quase tão próximos quanto irmãos uterinos.

Com a transmissão de nomes dá-se os ritos cerimoniais e o acesso a papéis. Entre outros Timbira e os Jê Setentrionais, a transmissão de nomes é cerimonialmente muito importante, quando o doador transmite sua persona cerimonial ao receptor. Entre os Canela, entretanto, a transmissão de nomes é menos evidente e significativa, tanto nas práticas cerimoniais como na vida cotidiana do indivíduo. Isso acontece porque a atuação do sistema de metades de classes de idade é muito mais marcante do que os sistemas constituídos de unidades baseadas na transmissão de nomes. Há papéis que nada têm a ver com transmissão de nomes; por exemplo: líderes relacionados a classes de idade e moças associadas a ritos de iniciação, moças wè tè, chefe-visitante intertribal ou membro do grupo dos palhaços.

Os Apanyekrá tinham mais amigos formais relacionados ao nome pessoal do que os Ramkokamekrá, mas não tinham, como estes, o ritual (intêê) para fazer novos amigos formais. Uma pessoa Apanyekrá é enterrada por seus afins. Entre os Ramkokamekrá, são os amigos formais que o fazem.

Atividades produtivas

Eduarda Canela fazendo berubu (beiju) para um ritual de iniciação masculina na aldeia de Porquinhos. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993
Eduarda Canela fazendo berubu (beiju) para um ritual de iniciação masculina na aldeia de Porquinhos. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993

As colheitas tradicionais canela incluíam amendoim, milho, batata-doce, inhame, abóbora, feijão-de-corda (Phaselous sp.), mandioca-brava (wayput-re), macaxeira, algodão, cabaças e outros produtos. Os gêneros mais comuns hoje - a mandioca, arroz e feijão - foram adotados depois do contato com a sociedade nacional, bem como banana, laranja, manga, melancia, abacaxi, mamão, tabaco, cana-de-açúcar e outros itens. Entre os Ramkokamekrá, nas pequenas florestas-galeria de sua terra, roças ribeirinhas eram abertas com machados de pedra e queimadas. Essas roças tradicionais produziam menos de 25% do alimento, enquanto coleta, pesca e caça supriam o resto. No final dos anos 1830, o reassentamento em áreas que representavam por volta de 5% das terras que ocupavam obrigou os Ramkokamekrá a praticar mais extensivamente o sistema de roças de coivara, de acordo com o modelo regional.

No final dos anos 1940, a economia de ambos os grupos tornou-se deficiente, dependendo de apoio externo para se manter. Passaram a depender significativamente dos alimentos fornecidos pela agência indigenista e praticar o sistema de "meia" com os moradores, trabalhando em suas terras para ficar com metade da produção. No início de 1990, no entanto, entre os ramkokamekrá as roças voltaram produzir alimento suficiente para sua sobrevivência. Eles continuam, no entanto, a ter uma produção insuficiente nos magros meses que vão de setembro a dezembro. As roças começam a produzir em janeiro e o ápice da produção se dá com a colheita de arroz no mês de maio. Já os Apanyekrá não alcançaram esse retorno à auto-suficiência, entretanto mantiveram mais plantas nativas que os Ramkokamekrá e cultivavam suas roças de modo menos influenciado por métodos sertanejos.

O desafio enfrentado atualmente pelos Canela Ramkokamekrá consiste em garantir uma produção suficiente de alimentos de forma que os gêneros disponíveis não terminem em setembro. Assim, eles não teriam que consumir as primeiras raízes de mandioca, com apenas um ano de crescimento, e portanto pouco desenvolvidas. Com a produção suficiente de mandioca, poderiam consumir apenas as raízes cultivadas há dois ou três anos. Algumas famílias vêm procurando produzir um excedente que possa ser comercializado com os sertanejos ou nos mercados das cidades.  

Canela Ramkokamekrá espalham pedras quentes com varas compridas antes de jogar berabas de mandioca sobre elas. Foto: William Crocker, 1960.
Canela Ramkokamekrá espalham pedras quentes com varas compridas antes de jogar berabas de mandioca sobre elas. Foto: William Crocker, 1960.

Felizmente, por enquanto as matas ribeirinhas existentes na Terra Indígena apresentam-se como possibilidade de sustento para a população ramkokamekrá em expansão, por meio da prática da agricultura de coivara. Uma fonte adicional de renda são as pensões dos aposentados pelo Funrural, que se tornaram uma ajuda econômica significativa a partir da década de 1980. Além disto, há vários aposentados por razões de saúde, mães que recebem ajuda e estudantes bolsistas. Até o final dos anos 1990, existiam em torno de 60 a 70 pensionistas na aldeia Escalvado. Adicionalmente, em 2001 existiam oito índios ramkokamekrá empregados na Funai (Fundação Nacional do Índio), três na Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e quatro professores índios no município.

Tradicionalmente, há uma tendência de irmãs colocarem suas roças na mesma área, seguindo o padrão da "casa comprida" na aldeia. Todavia, homens motivados politicamente tentam atrair adeptos masculinos para suas áreas de roças. Formam-se assim as facções, ainda que os Canela sejam discretos quanto às rivalidades políticas. O poder de chefes potenciais emerge, no entanto, a partir da "direção" de um local de roça.

Atualmente, existem duas grandes "comunidades de roça" no grupo ramkokamekrá, cada uma com um círculo de casas, que assentam 80% da população. Há ainda pelo menos quatro agrupamentos menores. Mesmo assim, cada família mantém uma casa na aldeia principal, Escalvado, e para lá retorna para as festas anuais. Ultimamente, contudo, tem havido um movimento de volta à aldeia por parte das famílias que têm filhos freqüentando regularmente a escola do Escalvado. Estas passam mais tempo na aldeia principal, indo apenas de vez em quando às roças em busca de legumes.

Artes

Brincos auriculares (Kyi). Foto: Curt Nimuendaju, 1931.
Brincos auriculares (Kyi). Foto: Curt Nimuendaju, 1931.

As maiores expressões da arte canela são as formas musicais e as danças acompanhadas de cantos. O ciclo diário dos Canela inclui três períodos de danças cantadas, que vão das 2:30 às 5:30 da manhã, aproximadamente; das cinco às seis da tarde e das sete às dez horas da noite. O tempo gasto nas danças e cantos, de mais de um quarto do dia, demonstra a ênfase dada a essa manifestação de arte, embora raramente a mesma pessoa complete a rodada inteira de sete horas. Esse ciclo ocorre unicamente quando os Canela estão reunidos e vivendo na aldeia principal, e não dispersos pelas aldeias de roça ou exercendo as parcerias com moradores vizinhos.

O canto e dança apanyekrá no ritmo do mestre do maracá é quase idêntico, em forma e em seu horário diário, à versão ramkokamekrá. Apenas o estilo musical das canções soa um pouco diferente aos ouvidos. As canções ramkokamekrá enfatizam a seqüência harmônica, enquanto as apanyekrá realçam a linha melódica.

Os homens vagueiam, exibindo-se e pulando diante de uma longa fileira de mulheres, todos guiados por um homem que canta e dança com um maracá. Hoje em dia, tal dança ocorre somente nos períodos das grandes festas.

Iniciandos sendo preparados na Aldeia Porquinhos. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993
Iniciandos sendo preparados na Aldeia Porquinhos. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993

As artes visuais são relativamente simples, especialmente se comparadas com seus "primos culturais", os Kayapó-Xikrin, entre os quais a pintura corporal é muito desenvolvida e aprimorada. Entre os Canela, o urucum é passado no corpo em situações familiares. O carvão, quando fixado pelo látex extraído do "pau de leite" e aplicado de maneira ordenada no corpo é uma manifestação familiar; quando aplicado sem cuidado ou ordem, é um indício de que a pessoa esteve recentemente envolvida em um caso extraconjugal. A tintura azul-escura do jenipapo é usada unicamente em uma determinada situação cerimonial, jamais no dia-a-dia.

Por ocasião de cerimônias solenes, o grupo Ramkokamekrá se ornamenta com penugem de gavião (agora substituída por penas de pato doméstico) colada no corpo com a resina de almécega e usada com urucum em padrões precisos. No caso dos Apanyekrá, há a aplicação adicional de penas verdes de periquito Os artefatos materiais Apanyekrá são basicamente os mesmos dos Ramkokamekrá, embora os estilos sejam um pouco diferentes.

Homens Canela Ramkokamekrá em uma corrida de toras. Foto: William Crocker, 1975.
Homens Canela Ramkokamekrá em uma corrida de toras. Foto: William Crocker, 1975.

Os Canela costumavam fazer aproximadamente 150 tipos de artefatos, a maioria adornos corporais masculinos, muitos deles feitos especialmente para serem usados em determinados papéis cerimoniais. Os materiais usados provinham principalmente das folhas das palmeiras buriti e inajá, assim como da minúscula palmeira tucum. Os homens esculpiam cuidadosamente as pontas de bastões e lanças feitos de pau-brasil, usados antigamente para a guerra, geralmente enfeitados com penas de papagaio, arara e outras aves. Vários tipos de cabaças eram usadas como utensílios; a maioria, porém, têm sido substituída por mercadorias da cidade. Eles faziam diversos tipos de esteiras e cestos, mas não tinham cerâmica.

Os Canela praticam freqüentemente, com atitude competitiva moderada, uma corrida com pesadas toras de até 120 quilos, a distâncias de até 10 quilômetros. Eles também praticam curtas corridas rasas e outras mais longas de até mil metros.

Religiosidade e xamanismo

Segundo a tradição canela, depois da morte a alma vai para uma aldeia de almas em algum local a oeste, onde vive em ondições similares à vida em uma aldeia, exceto porque as coisas são amenas e menos agradáveis. Por exemplo, a comida tem menos sabor, a água é morna mas não fria e o sexo menos prazeroso. Depois de certo tempo, os espíritos tornam-se animais de caça, em seguida animais menores e, mais tarde, algo como um mosquito ou um toco de árvore. Finalmente, a entidade deixa de existir.

Almas que ainda estão sob a forma humana podem ser contatadas por xamãs. Mas se porventura alguém mantiver contato com elas ficará seriamente doente ou mesmo morrerá. Os Canela acreditam que se violarem determinadas regras, tais como ir ao mato durante a noite ou apanhar água do riacho depois do anoitecer, as almas podem pegá-los. De qualquer forma, as almas trazem prejuízos aos homens, e apenas os xamãs podem descobri-las.

Acredita-se que, tempos atrás, poderosos xamãs tinham extraordinário poder sobrenatural, essencialmente os de omnisciência - o conhecimento e a antevisão de tudo. Isso, no entanto, só era possível mediante a ajuda das almas (os recém-mortos), que em sua maioria foram grandes xamãs enquanto vivos. Os bons xamãs convocam uma alma que lhes diz tudo o que precisam saber. Por exemplo, se falece o recém-nascido de uma mulher, o xamã é capaz de dizer porque isto aconteceu, o que costuma ser atribuído à ingestão de alimentos "carregados" e, conseqüentemente, poluídos. Algumas almas teriam visto e contado a outros, que, por sua vez, reportariam o fato ao xamã interessado. O diagnóstico do xamã é definitivo, mesmo que a mãe tenha uma outra versão. A decisão dele jamais é contestada.

Os xamãs não competem por poder com os chefes políticos. Muitos chefes já tiveram algum poder xamânico, porém nunca à altura de um bom xamã. Raras vezes mulheres tornam-se xamãs, mas, nos anos 1970, havia várias mulheres xamã e duas, no mínimo, estão entronizadas na mitologia.

Os xamãs curam os pacientes através da extração da doença ou poluição, e são remunerados apenas quando bem sucedidos. Há também xamãs anti-sociais, os quais podem jogar feitiços ruins, que entram no corpo como doenças. Outros xamãs lutam para tirar os feitiços, procurando devolvê-los ao emissor. Antigamente, um xamã anti-social, acusado de homicídio por feitiço pelo conselho da aldeia, era golpeado com bastões até a morte. A última vez que isso aconteceu foi por volta de 1903.

Submeter-se a restrições alimentares e sexuais é um instrumento para que o indivíduo se torne forte em caráter e habilidade, e para que possa desenvolver, através de esforço pessoal, as habilidades para as carreiras principais - caçador, corredor ou xamã -, mas não para dançar e cantar com o maracá.

Os Canela acreditam que a poluição penetra pelo corpo através da ingestão de caldos de carne e por meio do contato dos fluídos sexuais. Tais poluições não afetam uma pessoa saudável, porém enfraquece os poderes de um guerreiro, caçador, corredor ou xamã. No entanto, se um indivíduo está doente, ou fraco, como é caso de um bebê, poluições comuns podem torná-lo mais doente, ou até mesmo matá-lo. Os Canela acreditam que o sangue dos pais, irmãos uterinos e filhos de um indivíduo é muito parecido com o seu próprio. Assim, essa família nuclear está tão inter-conectada que a poluição de um de seus membros poder afetar os outros. Se eles já estão em situação mais vulnerável, essas poluições suplementares podem adoecer ou matar o indivíduo. Quando, então, uma pessoa tem um dos integrantes de sua família nuclear adoecida, ela precisa submeter-se a restrições alimentares e sexuais para ajudar na recuperação do doente.

Um indivíduo torna-se xamã depois de receber a visita de uma ou várias almas, por ocasião de uma doença grave, quando as almas vêm para curar o moribundo. Um jovem que quer se tornar xamã deve submeter-se a um intensivo processo de restrições alimentares e sexuais, para impedir a entrada de elementos contaminadores em seu corpo. Ele pode, também, ingerir determinadas infusões de ervas para eliminar a poluição. As almas são atraídas pelo indivíduo mais livre de poluição. Quando o acham, fazem-lhe uma visita e dão-lhe os poderes para ser um xamã. Geralmente os poderes são específicos para curar certas intrusões corporais, como a picada de cobra, mas, para os grandes xamãs, tais poderes têm aplicações mais gerais.

Em resumo, os Canela possuíam, tradicionalmente, diversas formas - sobrenaturais, naturais e humanas - para fortalecer suas condições de vida. Primeiro, os xamãs podem comunicar-se com almas quando necessitam de informações e poderes. Segundo, uma fonte de força em geral provém do canto de determinada canção mediante festivais particulares. Terceiro, um Canela pode manter restrições alimentares e sexuais para manter a poluição afastada do seu corpo e, assim, alcançar determinadas capacidades. Quarto, também é possível cheirar certas infusões para aumentar as habilidades de caçador e melhorar as condições de saúde em geral.

Os Ramkokamekrá acreditam que os xamãs Apanyekrá são mais poderosos como curadores, tanto que freqüentemente os procuram. Em meados dos anos 1970, o universo dos espíritos e dos perigos das poluições tinha mais crédito entre os Apanyekrá que entre os Ramkokamekrá, e aqueles também respeitavam mais seriamente as restrições.

Desde 1830, os Canela vêm partilhando de crenças e práticas do catolicismo popular. A partir de 1970, veio crescendo o número de Ramkokamekrá que se dizem "crentes" (protestantes), em 1993 chegou a 25% da população, mas em 2001 foi reduzido a 15%. Diferentemente, os Apanyekrá sempre tiveram menos contato com protestantes

Mitologia

Furação de orelha entre os Ramkokamekrá. Foto: Curt Nimuendaju, 1931.
Furação de orelha entre os Ramkokamekrá. Foto: Curt Nimuendaju, 1931.

Os Canela já tiveram mais de cem mitos, mas hoje eles não acreditam plenamente neles. Uma das principais figuras mitológicas entre ambos os grupos é Awkhêê, que tinha poderes sobrenaturais e, quando desejava, transformava-se em animais ou outras formas, assustando seus tios, os quais, então, tiveram de matá-lo. Embora esses acreditassem tê-lo queimado em uma fogueira, ele sobreviveu na forma de cinza. De volta à forma de ser humano, seja como Awkhêê ou como Dom Pedro II, o Imperador do Brasil, ele intimou os Canela a escolher entre seu mundo, representado pelo arco e a flecha, e o mundo dos brancos civilizados, representado por uma arma de fogo.

Os Canela escolheram o arco e a flecha e, por conseguinte, uma posição subordinada no mundo dos brancos. Assim, os sertanejos passaram a ter de ajudar os Canela e lhes dar tudo de graça. Em troca, os Canela devem respeito, deferência e obediência aos brancos.

Um mito de origem conta que Sol e Lua andaram pela terra, criando as normas para a vida social. Sol criou os homens e mulheres ideais e Lua criou aqueles deformados. Sol permitiu que facões e machados trabalhassem nas roças por conta própria, enquanto Lua os fez parar. Conseqüentemente, os homens necessitam trabalhar arduamente para fazer suas roças. Há pelo menos uma dúzia de episódios desse mito que relatam a origem da morte, enchentes, incêndios da floresta e o porquê das palmeiras de buriti serem altas e a lua possuir suas manchas, entre outros.

Há mitos canela que explicam a origem do fogo e do milho: um menino trouxe o fogo para seu povo depois de tê-lo roubado da fogueira de uma onça fêmea. A Mulher Estrela apaixonou-se por um Canela e então desceu para morar por um tempo entre os seus familiares. Durante essa estadia, ela indicou que o milho crescia no mato e os ensinou que aquilo era bom de se comer. Tal foi a origem das roças. Ela então voltou para o céu com seu companheiro e ambos se transformaram nas estrelas gêmeas, conhecidas entre os não indígenas como Castor e Pólux.

Paralelamente a um amplo conjunto de mitos sobre como acreditam terem vivido seus ancestrais, os Canela têm um grande número de histórias de guerra, algumas das quais descrevem como lutaram e foram derrotados pelos brancos durante a primeira metade do século XIX. Outras histórias relatam como seus chefes então os conduziam. Mitos e histórias de guerra costumavam ser narradas no centro da aldeia, para divertir a população, aos finais de tarde e nas madrugadas, mas essa prática foi perdida por volta dos anos 50. Hoje, quando contadas, essas histórias fazem referência a "índios brabos", seus ancestrais, quase como se fossem um povo diferente. Os grandes guerreiros, bem como os líderes fortes, utilizavam-se de poderes xamânicos para fazerem valer os seus propósitos. Por exemplo, o guerreiro Pèp lançou flechas contra inimigos cujos olhos ele era capaz de atingir diretamente, matando-os. Da mesma forma, chefes importantes usavam seus limitados poderes para alcançarem seus objetivos, fosse exercendo-os, fosse pelo temor da população de que pudessem vir a fazê-lo.

Embora os mitos de origem dos Apanyekrá e Ramkokramekrá sejam muito semelhantes, há algumas diferenças surpreendentes. Por exemplo, a Mulher-Estrela retorna aos céus com o homem Apanyekrá apenas depois de ter cometido um ato hostil de vingança, entornando o conteúdo de uma cabaça no pátio, o que não ocorre em sua partida mais amigável na versão ramkokamekrá. Para os Apanyekrá, Awkhêê tem um nome alternativo, Plùùkupê, mas a ordem para se submeter aos civilizados e depender deles, que resultou do fato de terem recebido o arco e a flecha ao invés da arma de fogo, é a mesma. Ademais, os Apanyekrá têm um certo número de mitos que os Ramkokamekrá não têm e vice-versa.

Rituais

Os iniciandos Ramkokamekrá, Pepyê, cantam no pátio com talos de buriti. Foto: William Crocker, 1957.
Os iniciandos Ramkokamekrá, Pepyê, cantam no pátio com talos de buriti. Foto: William Crocker, 1957.

Os Canela possuem um conjunto de ciclos rituais baseados na família extensa, nos quais participam a parentela matri e patrilateral, embora a primeira tenha papel dominante. Os principais ritos para ambos os sexos são o nascimento, puberdade e casamento (várias etapas), o resguardo pós-parto (couvade) e o luto.

Os ritos de passagem para adolescentes consistem na perfuração de orelha para os meninos e reclusão para as meninas, por ocasião da primeira menstruação. Ambos os sexos têm práticas pós-pubertárias. A nomeação dos bebês, logo após o nascimento, é restrita aos doadores de nomes; o nascimento de um homem era anunciado pelo nomeador.

Outro conjunto de ciclos rituais ocorre durante as festas e está baseado no apoio e participação de quase toda a sociedade. Meninos são introduzidos na classe de idade por quatro ou cinco festas de iniciação. Como passo principal para o casamento definitivo, a maioria das meninas entra como associada nos rituais masculinos, de modo a receber seus cintos de maturidade, os quais são necessários para serem aceitas por seus parentes afins. A divisão por classes de idade está relacionada ao treinamento dos meninos para se tornarem guerreiros.

A realização dos rituais de iniciação masculina Apanyekrá (Khêêtúwayê e Pepyê) se tornou irregular desde os anos 1970 e, a partir de então, esses rituais foram realizados apenas duas vezes para formar uma classe de idade, ao invés de quatro ou cinco, como acontece entre os Ramkokamekrá. Nos anos 1990, também entre estes a performance desses rituais havia se tornado irregular. O ritual dos Apanyekrá que fecha o verão (Wè tè) não estava sendo realizado com regularidade, e o ritual que abre a mesma estação (também chamado Wè tè) parece nunca ter sido praticado por eles. O equivalente Apanyekrá (Krokrok) do ritual ramkokamekrá dos gaviões (Pepkahàk) foi perdido, e o ritual das máscaras nunca foi adquirido pelos Apanyekrá.

Meninos apanyekrá durante ritual de iniciação masculina. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993
Meninos apanyekrá durante ritual de iniciação masculina. Foto: Jaime Siqueira Jr./CTI, 1993

Por outro lado, as práticas sazonais da estação chuvosa das metades Vermelha e Preta eram de certo modo mais efetivas entre os Apanyekrá do que entre os Ramkokamekrá, e as versões Apanyekrá dos rituais Laranja e Pàlrà eram semelhantes às dos Ramkokamekrá. O ritual do Peixe Apanyekrá (Tepiakwá) não foi realizado vários anos por volta da década de 1970, mas é ainda muito popular entre os Ramkokamekrá nos anos 1990. A descendência matrilinear de propriedade (haakhat) de algumas cerimônias ramkokamekrá e de direitos para atuar em certos papéis, especialmente no ritual do Peixe, não foi encontrada entre os Apanyekrá.

Uma diferença notável nos rituais para introduzir meninos e adolescentes em uma classe de idade entre os dois grupos é que, entre os Apanyekrá, os adolescentes pegos abandonando sua reclusão para encontros conjugais ou extraconjugais eram enfileirados juntamente com suas parceiras sexuais, mantidos ajoelhados frente a frente no pátio, de modo que todos vivessem publicamente sua vergonha. A severidade de tal punição para a mesma transgressão não era característica dos Ramkokamekrá, que não puniam os adolescentes que nela incorriam.

Notas sobre as fontes

Canela Ramkokamekrá. Foto: René Fuerst, 1975.
Canela Ramkokamekrá. Foto: René Fuerst, 1975.

Dos autores antigos, é Francisco de Paula Ribeiro, militar português cujos textos estão publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que dá as informações mais ricas e seguras sobre a situação dos Canela e demais Timbira e da conquista de suas terras pelo avanço dos criadores de gado no início do século XIX.

Quanto aos estudos etnológicos, o primeiro trabalho de fôlego é The Eastern Timbira, de Curt Nimuendajú, que visitou os Canela seis vezes entre os anos 1928 e 1936.

William Crocker começou sua pesquisa etnológica com os Canela Ramkokamekrá em 1957 e tem retornado assiduamente a suas aldeias até os dias de hoje, de modo que suas visitas somam mais de 72 meses de campo. Conta como auxiliares vários Canela, que escrevem ou gravam diários. Além do primeiro volume de seu livro The Canela (Eastern Timbira), publicou vários artigos sobre diferentes aspectos da vida desse povo. Junto com sua esposa, Jean Crocker, publicou um livro mais leve, The Canela: Bonding through Kinship, Ritual, and Sex, destinado a despertar o interesse de estudantes universitários para os temas etnológicos.

O autor coletou menos material entre os Apanyekrá que entre os Ramkokamekrá. Não montou nenhuma coleção de artefatos específicos dos Apanyekrá, embora muitos itens Apanyekrá se encontrem nas coleções. Nenhuma gravação de músicas Apanyekrá foi realizada com equipamento de alta qualidade, como foi feito entre os Ramkokamekrá. Nem foram coletados diários escritos pelos índios.

A análise do movimento messiânico ocorrido entre os Canela Ramkokamekrá em 1963, realizada por Manuela Carneiro da Cunha, utiliza como fonte os textos publicados de William Crocker.

A dissertação de mestrado de Maria Elisa Ladeira, A Troca de Nomes e a Troca de Cônjuges: Uma contribuição ao estudo do parentesco Timbira, trata mais dos Apanyekrá que dos Ramkokamekrá, comparando os primeiros aos Krahô e aos Apinajé.

Jack e Jô Popies, do Instituto Lingüístico Wyeliffe Bible Translators passaram 22 anos (de1968 a 1990) entre os Canela Ramkokamekrá traduzindo o Novo Testamento para a língua nativa. Tornaram-se queridos entre a população e ensinaram dezenas de jovens a ler e escrever em Canela.

O National Museum of Natural History, da Smithsonian Institution, em Washington, DC, onde trabalhou William Crocker (agora aposentado), guarda uma vasta coleção sobre os Canela: muitas fotografias, filmes de 16 mm e em super 8mm de 1970 nunca editados. Em 1997 começou a ser feito um vídeo, lançado em 1999. O autor também deixou na instituição diários escritos e falados em canela e português, gravações de cantos (também na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos) e mitos em Canela.

Nas instituições brasileiras, há coleções de artefatos canela no Museu Goeldi (Belém), no Museu Nacional (Rio de Janeiro) e no Museu Paulista (São Paulo).

Fontes de informação

  • ADAMS, Kathlen; PRICE JUNIOR, David (Eds.). The demography of small-scale societies : case studies from lowland South America. Bennington : Bennington College, 1994. 86 p. (South American Indian Studies, 4)
  • ALHO, Getúlio Geraldo R. Três Casas Indígenas : pesquisa arquitetônica sobre a casa em três grupos - Tukano, Tapirapé e Ramkokamekra. São Carlos : USP, 1985. 91 p. (Dissertação de Mestrado)
  • CROCKER, William H. Canela (Central Brazil). In: WILBERT, Johannes (Org.). Encyclopedia of World Cultures. v.7. New York : G. K. Hall & Co., 1994, p.94-8.
  • --------. Canela marrigage : factors in change. In: KENSINGER, K. (Org.). Marriage practices in lowland South America. Urbana e Chicago : Univer. of Illinois Press, 1984. p.63-8. (Illinois Studies in Anthropology, 14)
  • --------. Canela relationships with ghosts : this worldly or otherworldly empowerment. Lat. Am. Anthropol. Rev., s.l. : s.ed., v. 5, n. 2, p. 71-8, 1993.
  • --------. The Canela (Eastern Timbira), I : an ethnographic introduction. Washington : Smithsonian Intitution Press, 1990. 506 p. (Smithsonian Contributions to Anthropology, 33)
  • --------. Estórias das épocas de pré e pós-pacificação dos Rankokanmekra e Apaniekra-Canela. Boletim do MPEG: Série Antropologia, Belém : MPEG, n.68, 1978. 30 p.
  • --------. Extramarital sexual practices of the Rankokamekra-Canela indians : an analysis of socio-cultural factors. In: LYON, Patricia L. (Org.). Native South Americans : ethnology of the least known continent. Boston : Little, Brown ans Co., 1974. p.184-94.
  • --------. A method for deriving themes as applied to Canela indian festival materials. Ann Arbor : Univ. of Wisconsin, 1962. 299 p. (Ph.D. Dissertation)
  • --------. O movimento messiânico dos Canelas : uma introdução. In: SCHADEN, Egon (Org.). Leituras de etnologia brasileira. São Paulo : Cia. Editora Nacional, 1974. p.515-28. [Tradução do original em inglês publicado nas Atas do Simpósio sobre a Biota Amazônica, v.2 (Antropologia), p. 69-83, 1967].
  • --------. Myths. In: WILBERT, J.; SIMONEAU, K. (Orgs.). Folk literature of the Gê indians. v.2. Los Angeles : Ucla Publications, 1984. p. 17-32; 50-2; 97-106; 195-203; 354-8.
  • --------. The non-adaptation of a savanna indian tribe (Canela, Brazil) to forced forest relocation : an analysis of ecological factors. In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS BRASILEIROS (1o.: 1971). Anais. v.1. São Paulo : Instituto de Estudos Brasileiros, 1972. p. 213-81.
  • --------; CROCKER, Jean (Eds.). The Canela : bonding through kinship, ritual, and sex. Forth Worth : Harcourt Brace College Publishers, 1994. 202 p. (Case Studies in Cultural Anthropology)
  • CUNHA, Manuela Carneiro da. Logique du mythe et de l’action : le movement messianic Canela de 1963. L'Homme, Paris : Ecóle des Hautes Études en Sciences Soc., v.13, n.4, p. 5-37, 1973.
  • LADEIRA, Maria Elisa. Uma aldeia Timbira. In: NOVAES, Sylvia Caiuby (Org.). Habitações indígenas. São Paulo : Nobel ; Edusp, 1983. p. 11-32.
  • --------. A troca de cônjuges : uma contribução ao estudo do parentesco Timbira. São Paulo : USP, 1982. (Disertação de Mestrado)
  • --------; AZANHA, Gilberto. Os "Timbira atuais" e a disputa territorial. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1991/1995. São Paulo : Instituto Socioambiental, 1996. p. 637-41.
  • NINUENDAJÚ, Curt. The Eastern Timbira. Berkeley : Univer. of California Press, 1946. 357 p.
  • --------. A habitação dos Timbíra. In: SCHADEN, Egon. Leituras de etnologia brasileira. São Paulo : Companhia Editôra Nacional, 1976. p. 44-62.
  • OLIVEIRA, Adalberto Luiz Rizzo de. Ramkokamekra-Canela : dominação e resistência de um povo Timbira no Centroeste Maranhense. Campinas : Unicamp, 2002. (Dissertação de Mestrado) 
  • QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Organização social e mitologia entre os Timbira de Leste. Rev. do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo : USP, n.9, p. 101-2, 1970.
  • RIBEIRO, Francisco de Paula. Memórias sobre as nações gentias que presentemente habitam o continente do Maranhão. Rev. do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro : IHGB, v.3, p. 184-97; 297-322; 442-56, 1841.
  • VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios Canela. In: SILVA, José Eduardo Fernandes de Souza e (Org.). Esporte com identidade cultural : coletânea. Brasília : Indesp, 1996. p. 106-11. (Esportes de Criação Nacional, 2)
  • Mending vilay : the Canela indiansof Brazil. Dir.: Stephen Schecter; William Crocker. Vídeo cor, 49 min., 1999.
  • CROCKER, William; WATANABE, Barbara. 2002 The Canela : a website. Washington : Smithsonian Instituition’s.