De Pueblos Indígenas en Brasil
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Noticias
A política da língua no Brasil
20/03/2004
Autor: TUPAN-AN, Nicolau
Fonte: JT, Artigos, p. A2
A política da língua no Brasil
Nicolau Tupan-An
Pensando em nossa primeira língua, inspirou-me o seguinte:
Nheengatu-tupi Oiepé
...tecóetêmonguetá mbaécuaçaba nheengaxüuára;
...nheenga nheengaetá mbaécuáçara çuí;
nheengaetá uiemonguetá ucuáu çuí;
uiemonguetá çupé, nheengatu-tupi oiepé;
nheengatu-tupi çupé...nheeng nheeng nheengaetá.
Tradução:
A primeira boa língua
...gramática é a filosofia da língua;
...língua, o artifício da linguagem;
...linguagem, um meio de comunicação;
Para comunicação, uma boa língua;
Para uma boa língua, boas ...palavras, palavras, palavras.
Hoje, dos 228.500 verbetes que o mais completo dicionário (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa) apresenta, 45 mil são palavras oriundas da língua nheengatu-tupi.
O nheengatu-tupi foi o idioma falado pelo grupo de índios mais importante do Brasil, os Tupinambás. língua ágrafa (sem escrita), falada na catequese e nas bandeiras, utilizada como instrumento das conquistas espirituais e territoriais de nossa história.
Os jesuítas, através da escrita (o nheengatu-tupi foi gramatizado em 1595 por José de Anchieta), transformaram-na em língua Geral; e, assim, o nheengatu-tupi foi adotado por índios de outros grupos lingüísticos, por europeus e até mesmo pelos negros.
Até o fim do século 17, a língua oficial do Brasil era o nheengatu-tupi. De cada dez brasileiros, oito só se expressavam nesse idioma. Mas em 1758 o Marquês de Pombal baixou um decreto proibindo o uso desse idioma, ao qual atribuía a acusação de que estava prejudicando as comunicações na colônia brasileira, e impunha punições para quem não utilizasse o
português.
Se não houvesse essa medida o Brasil seria um país bilíngüe, cuja população usaria o nheengatu-tupi e o português, da mesma forma como ocorre hoje no Paraguai em que o povo se exprime em espanhol e guarani (língua pertencente ao mesmo tronco da língua nheengatu-tupi).
A História universal nos ensina que uma das formas de dominação de um povo sobre outro se dá pela imposição da língua. E, para impor sua hegemonia política e social, os colonizadores tinham de manter o domínio lingüístico. Para tanto, em 1822 ocorreu o processo de Independência mais conservador de todo o continente Americano:
(...) de hoje em diante estão quebradas as nossas relações, nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal! Nenhum laço nos une mais (...) D.Pedro, o que estás a falaire?
A imposição do português como língua nacional, ainda nos une.
Por que, no Brasil, não falamos a Língua Brasiliana?
E tem sido esse unitarismo lingüístico o laço que impede nossa autonomia ideológica e independência cultural. Desde 1897, ano da fundação da Academia Brasileira de Letras, nossa língua escrita e falada vem sendo policiada por esses reacionários (tratam nossa língua como um fóssil) que defendem apenas o padrão culto como única forma correta de comunicação social.
E em 1946 a Academia Brasileira de Letras participou do parecer que definiu como (português) a língua falada no Brasil: "A vista do que fica exposto, a Comissão reconhece e proclama esta verdade: o idioma nacional do Brasil é a Língua Portuguesa. E, em conseqüência, opina que a denominação do idioma nacional do Brasil continue a ser Língua Portuguesa."
Etnocentrismo? Preconceito lingüístico? Política da língua?
Sim, no Brasil o elitismo lingüístico e o próprio uso da cultura como forma de discriminação social são os únicos e verdadeiros legados da colonização portuguesa.
E, fazendo a política da língua, asseguro a todos os brasileiros que: o conhecimento, mesmo que superficial, do nheengatu-tupi representa um grande passo para a consolidação de nossa identidade.
Quanto mais consciência tivermos de nossa língua, mais consistente será nossa cultura.
Nicolau Tupan-An é professor universitário de História da Cultura Indígena e História da Cultura Brasileira e autor de "Nheengatu-tupi Vocabulário e Gramática da língua Tupi-Guarani"
Dos mais de 228 mil verbetes que o `Dicionário Houaiss' apresenta, 45 mil são palavras oriundas da língua nheengatu-tupi
JT, 20/03/2004, Artigos, p. A2
Nicolau Tupan-An
Pensando em nossa primeira língua, inspirou-me o seguinte:
Nheengatu-tupi Oiepé
...tecóetêmonguetá mbaécuaçaba nheengaxüuára;
...nheenga nheengaetá mbaécuáçara çuí;
nheengaetá uiemonguetá ucuáu çuí;
uiemonguetá çupé, nheengatu-tupi oiepé;
nheengatu-tupi çupé...nheeng nheeng nheengaetá.
Tradução:
A primeira boa língua
...gramática é a filosofia da língua;
...língua, o artifício da linguagem;
...linguagem, um meio de comunicação;
Para comunicação, uma boa língua;
Para uma boa língua, boas ...palavras, palavras, palavras.
Hoje, dos 228.500 verbetes que o mais completo dicionário (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa) apresenta, 45 mil são palavras oriundas da língua nheengatu-tupi.
O nheengatu-tupi foi o idioma falado pelo grupo de índios mais importante do Brasil, os Tupinambás. língua ágrafa (sem escrita), falada na catequese e nas bandeiras, utilizada como instrumento das conquistas espirituais e territoriais de nossa história.
Os jesuítas, através da escrita (o nheengatu-tupi foi gramatizado em 1595 por José de Anchieta), transformaram-na em língua Geral; e, assim, o nheengatu-tupi foi adotado por índios de outros grupos lingüísticos, por europeus e até mesmo pelos negros.
Até o fim do século 17, a língua oficial do Brasil era o nheengatu-tupi. De cada dez brasileiros, oito só se expressavam nesse idioma. Mas em 1758 o Marquês de Pombal baixou um decreto proibindo o uso desse idioma, ao qual atribuía a acusação de que estava prejudicando as comunicações na colônia brasileira, e impunha punições para quem não utilizasse o
português.
Se não houvesse essa medida o Brasil seria um país bilíngüe, cuja população usaria o nheengatu-tupi e o português, da mesma forma como ocorre hoje no Paraguai em que o povo se exprime em espanhol e guarani (língua pertencente ao mesmo tronco da língua nheengatu-tupi).
A História universal nos ensina que uma das formas de dominação de um povo sobre outro se dá pela imposição da língua. E, para impor sua hegemonia política e social, os colonizadores tinham de manter o domínio lingüístico. Para tanto, em 1822 ocorreu o processo de Independência mais conservador de todo o continente Americano:
(...) de hoje em diante estão quebradas as nossas relações, nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal! Nenhum laço nos une mais (...) D.Pedro, o que estás a falaire?
A imposição do português como língua nacional, ainda nos une.
Por que, no Brasil, não falamos a Língua Brasiliana?
E tem sido esse unitarismo lingüístico o laço que impede nossa autonomia ideológica e independência cultural. Desde 1897, ano da fundação da Academia Brasileira de Letras, nossa língua escrita e falada vem sendo policiada por esses reacionários (tratam nossa língua como um fóssil) que defendem apenas o padrão culto como única forma correta de comunicação social.
E em 1946 a Academia Brasileira de Letras participou do parecer que definiu como (português) a língua falada no Brasil: "A vista do que fica exposto, a Comissão reconhece e proclama esta verdade: o idioma nacional do Brasil é a Língua Portuguesa. E, em conseqüência, opina que a denominação do idioma nacional do Brasil continue a ser Língua Portuguesa."
Etnocentrismo? Preconceito lingüístico? Política da língua?
Sim, no Brasil o elitismo lingüístico e o próprio uso da cultura como forma de discriminação social são os únicos e verdadeiros legados da colonização portuguesa.
E, fazendo a política da língua, asseguro a todos os brasileiros que: o conhecimento, mesmo que superficial, do nheengatu-tupi representa um grande passo para a consolidação de nossa identidade.
Quanto mais consciência tivermos de nossa língua, mais consistente será nossa cultura.
Nicolau Tupan-An é professor universitário de História da Cultura Indígena e História da Cultura Brasileira e autor de "Nheengatu-tupi Vocabulário e Gramática da língua Tupi-Guarani"
Dos mais de 228 mil verbetes que o `Dicionário Houaiss' apresenta, 45 mil são palavras oriundas da língua nheengatu-tupi
JT, 20/03/2004, Artigos, p. A2
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