Sateré Mawé
- Autodenominação
- Onde estão Quantos são
- AM 16312 (Siasi/Sesai, 2020)
- Família linguística
- Mawé
Inventores da cultura do guaraná, os Sateré-Mawé domesticaram a trepadeira silvestre e criaram o processo de beneficiamento da planta, possibilitando que hoje o guaraná seja conhecido e consumido no mundo inteiro.
Nome
São chamados regionalmente "Mawés. Ao longo de sua história, já receberam vários nomes, dados por cronistas, desbravadores dos sertões, missionários e naturalistas: Mavoz, Malrié, Mangnés, Mangnês, Jaquezes, Magnazes, Mahués, Magnés, Mauris, Mawés, Maragná, Mahué, Magneses, Orapium.
Autodenominam-se Sateré-Mawé. O primeiro nome - Sateré - quer dizer "lagarta de fogo, referência ao clã mais importante dentre os que compõem esta sociedade, aquele que indica tradicionalmente a linha sucessória dos chefes políticos. O segundo nome - Mawé - quer dizer "papagaio inteligente e curioso e não é designação clânica.
Língua
A língua Sateré-Mawé integra o tronco lingüístico Tupi. Segundo o etnógrafo Curt Nimuendaju (1948), ela difere do Guarani-Tupinambá. Os pronomes concordam perfeitamente com a língua Curuaya-Munduruku, e a gramática, ao que tudo indica, é tupi. O vocabulário mawé contém elementos completamente estranhos ao Tupi, mas não se relaciona a nenhuma outra família lingüística. Desde o século XVIII, seu repertório incorporou numerosas palavras da língua geral.
Os homens atualmente são bilíngües, falando o Sateré-Mawé e o português, mas, apesar de mais de três séculos de contato com os brancos, nas aldeias mais afastadas ainda se encontra mulheres que só falam a língua materna.
Localização
Os Sateré-Mawé habitam a região do médio rio Amazonas, em duas terras indígenas, uma denominada TI Andirá-Marau, localizada na fronteira dos estados do Amazonas e do Pará, que vem a ser o território original deste povo, e um pequeno grupo na TI Coatá-Laranjal da etnia Munduruku.
Os Sateré-Mawé também são encontrados morando nas cidades de Barreirinha, Parintins, Maués, Nova Olinda do Norte e Manaus, todas situadas no estado do Amazonas.
Demografia
Segundo informações do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé - CGTSM, em 2014 a TI Andirá-Marau tinha em torno de 100 aldeias, situadas às margens dos rios Uaicurapá, Andirá, Urupadi, Marau, Manjuru e Miriti, e de seus igarapés. Nos últimos 30 anos a população da TI Andirá-Marau triplicou, conforme pode ser constatado no quadro abaixo.
Além da Terra Indígena Andirá-Marau, um grupo Sateré-Mawé ocupa parte da Terra Indígena Coatá-Laranjal, da etnia Munduruku. Após conflito em 1965, na aldeia Ponta Alegre do rio Andirá, na TI Andirá-Marau, este grupo migrou para a TI Waimiri-Atroari, e devido a uma série de dificuldades, em 1980, migraram novamente para o rio Mari-Mari, na TI Koatá-Laranjal. Com autorização dos Munduruku, este grupo ergueu uma comunidade chamada Vila Batista II, que contava com 127 habitantes em 2005.
Ano | População | Fonte |
---|---|---|
1987 | 4710 | Funai |
1991 | 5825 | Funai |
1999 | 6950 | Ameríndia Cooperação |
2000 | 7134 | Funai |
2002 | 7376 | Funasa |
2010 | 10761 | Funasa |
2014 | 13350 | CGTSM |
Ainda na década de 1980, algumas famílias foram morar em Nova Olinda do Norte, cidade próxima da TI Koatá-Laranjal, e, no início da década de 1990, alguns integrantes da Vila Batista II retornaram para a TI Andirá-Marau, estabelecendo-se no rio Uaicurapá.
A partir da década de 1970, intensificou-se a migração dos Sateré-Mawé para Manaus. Em 1981, o antropólogo Jorge Osvaldo Romano contou 88 Sateré-Mawé vivendo na periferia da cidade, principalmente no Bairro da Redenção. No final da década de 1990, esse número cresceu significativamente, chegando a aproximadamente 500 Sateré-Mawé. Segundo Bernal (2009), na periferia de Manaus estão situadas as comunidades Y’Apryrehyt, Maué, I’nhã-bé e Waikiru.
Estes processos migratórios se deram com acentuada liderança feminina, porque, chegando à Manaus, as mulheres tiveram mais facilidade de inserção no mercado de trabalho, trabalhando como domésticas. Grande parte desta população tem seu sustento baseado na venda de artesanato para os turistas.
Além da população Sateré-Mawé de Manaus, também é expressiva a presença desta etnia nas cidades mais próximas da TI Andirá-Marau, como Barreirinha, Parintins e Maués. Aí se instalam principalmente os jovens para continuarem seus estudos, com a vantagem de permanecerem próximos dos pais, que mensalmente vem às cidades para receber salários, bolsa família e aposentadoria, podendo dar-lhes assistência. Segundo Teixeira (2005), a estimativa dos migrantes Sateré-Mawé nestas cidades em 2002/2003 é a seguinte:
Cidade | Nº habitante |
---|---|
Barreirinha | 276 |
Parintins | 512 |
Maués | 200 |
Manaus | 600 |
Território e história do contato com os brancos
Segundo relatos dos velhos Sateré-Mawé, seus ancestrais habitavam em tempos imemoriais o vasto território entre os rios Madeira e Tapajós, delimitado ao norte pelas ilhas Tupinambaranas, no rio Amazonas e, ao sul, pelas cabeceiras do Tapajós.
Os Sateré-Mawé referem-se ao seu lugar de origem como sendo o Nusoken, lugar da morada de seus heróis míticos. Eles localizam-no na margem esquerda do Tapajós, numa região de floresta densa e pedregosa, lá onde as pedras falam.
Nunes Pereira, que viveu com esse povo na década de 1950, conta que "os lagos e rios piscosíssimos que irrigam as terras em que viveram outrora os Maués e, bem assim, as florestas e campinaranas ricas em caças de toda espécie, deveriam constituir, numa época mais remota, uma paisagem magnífica para as atividades desse povo. À representação panteísta do Noçoquem, - sítio onde se encontravam todas as plantas e animais úteis aos Maués, segundo a Lenda do Guaraná, deveria corresponder, outrora, o território por eles ocupado".
Os Sateré-Mawé tiveram seu primeiro contato com os brancos na época de atuação da Companhia de Jesus, quando os jesuítas fundaram a Missão de Tupinambaranas, em 1669. Segundo Bettendorf, "Em 1698 os Andirá acolheram o Padre João Valladão como missionário. É impossível localizar os Maraguá precisamente, mas eles viviam num lago, entre os rios Andirá e Abacaxi, provavelmente no baixo Maués-Açu, que se espraia para formar uma espécie de lago. Eles tinham três vilas, uma próxima da outra" (1910:36). Em 1692, após terem matado alguns homens brancos, o governo declarou uma guerra justa (legal) contra eles, parcialmente evitada pelos índios, uma vez que estes foram avisados e se espalharam, sendo que somente alguns ofereceram resistência.
A partir do contato com os brancos, e mesmo antes disso, devido às guerras com os Munduruku e Parintintim, o território ancestral dos Sateré-Mawé foi sensivelmente reduzido. Em 1835 eclodiu a Cabanagem na Amazônia, principal insurreição nativista do Brasil. Os Munduruku e Mawé (dos rios Tapajós e Madeira) e os Mura (do rio Madeira), bem como grupos indígenas do rio Negro, aderiram aos cabanos e só se renderam em 1839. Epidemias e perseguição aos grupos indígenas que com eles combatiam, deslocaram esses grupos dos seus territórios tradicionais, reduzindo-os.
Relatos dos viajantes confirmam que de fato houve redução territorial a partir do século XVIII, mencionando a área compreendida pelo rio Marmelos, Sucunduri, Abacaxis, Parauari, Amana e Mariacuã como território tradicional dos Sateré-Mawé. Esses relatos confirmam também que as cidades de Maués (AM), Parintins (AM) e Itaituba (PA) foram fundadas sobre sítios Sateré-Mawé, coincidindo com passagens da história oral deste povo.
Pensando em termos de macro-território, a ocupação do Médio Amazonas pelos civilizados - termo usado pelos Sateré-Mawé para designar todos àqueles que não são Sateré-Mawé: caboclos, brancos, estrangeiros, com exceção das outras nações indígenas - restringiu consideravelmente seu território tradicional. Primeiro, chegaram as tropas de resgate e as missões jesuíta e carmelita; depois iniciou-se a busca das drogas de sertão; em seguida a extração da seringa; e finalmente a expansão econômica das cidades de Maués, Barreirinha, Parintins e Itaituba para o interior dos municípios, alocando fazendas, extraindo pau-rosa, abrindo garimpos, dominando a economia indígena através de seus regatões.
Em 1978, no início do processo de demarcação da Terra Indígena Andirá-Marau, as aldeias, sítios, roças, cemitérios, territórios de caça, pesca, coleta e perambulação situavam-se entre e ao redor dos rios Marau, Miriti, Urupadi, Manjuru e Andirá. Os Sateré-Mawé consideravam essa extensão de terra como sendo sua, apesar de saberem que ela representava apenas uma pequena parcela do que já havia sido seu território. O trabalho de delimitação e demarcação da Terra Indígena Andirá-Marau, passou por revisões de limites para a inclusão de nascentes, cemitérios e sítios de antigas aldeias, e, os Sateré-Mawé avaliaram que a área demarcada corresponde a parte privilegiada de seu território originário.
Eles são tradicionalmente índios da floresta, do centro, como eles próprios falam. Até o começo do século XX escolhiam lugares preferencialmente nas regiões centrais da mata, próximas às nascentes dos rios, para implantarem suas aldeias e sítios. Nessas regiões, a caça é abundante; encontra-se em profusão os filhos de guaraná (como chamam, em português, as mudas nativas da Paullinia Sorbilis); existe grande quantidade de palmeiras como o açaí, tucumã, pupunha e bacaba, que sazonalmente comparecem na dieta alimentar; os rios são igarapés estreitos, com corredeiras e água bem fria. Esse é o ecossistema por excelência dos Sateré-Mawé e podemos observar ainda hoje, que as aldeias que guardam formas de vida tradicionais como no tempo dos velhos (plano espacial, arquitetura, roças, rituais etc.) situam-se nas cabeceiras dos rios.
As características desses nichos ecológicos eram essenciais à reprodução da vida tradicional dos Sateré-Mawé até o começo do século XX. Conforme os relatos dos mais velhos, as antigas aldeias Araticum Velho e Terra Preta, ambas situadas na cabeceira do rio Andirá, foram o polo dispersor das aldeias encontradas neste rio. Da mesma forma, a aldeia Marau Velho, que se localizava na nascente do rio Marau, foi o núcleo inicial das aldeias situadas no mesmo rio, bem como das aldeias que encontramos nos rios Miriti, Manjuru e Urupadi. Estas três aldeias desapareceram em torno da década de 20, mas ainda podemos observar seus sinais na capoeira.
A proliferação de aldeias situadas nas margens dos rios Marau e Andirá vem ocorrendo há aproximadamente 80 anos e se deve às interferências na vida tradicional dos Sateré-Mawé, ocasionadas pelas missões religiosas, pelo extinto Serviço de Proteção aos Índios - SPI, posteriormente pela Fundação Nacional do Índio - Funai, pela pressão dos regatões e pelas epidemias. Todos esses fatores levaram os Sateré-Mawé a terem vontade de ficar mais próximos das cidades de Maués, Barreirinha e Parintins. Atualmente, existe em torno de 100 aldeias localizadas nos rios Uaicurapá, Andirá, Urupadi, Marau, Miriti e Manjuru, bem como nos igarapés que os alimentam.
O processo de demarcação da TI Andirá-Marau, homologada em 06/08/1986 com 788.528 há, foi interrompido por vários conflitos, e os tuxauas gerais do rio Andirá, Donato Lopes da Paz, e do rio Marau, Emílio Tibúrcio, através do Centro de Trabalho Indigenista – CTI puderam contar com respaldo jurídico e mobilização junto à sociedade civil, fazendo frente ao projeto de rodovia Maués-Itaituba que cortaria o seu território (1980) e às invasões da estatal francesa de petróleo Elf-Aquitaine (1981 e 1982), com abertura de 344 km de picadas, 82 clareiras, e a morte por intoxicação de quatro indígenas. Os Sateré-Mawé entraram com uma ação de Interdito Proibitório contra a Elf-Aquitaine e a Petrobrás, representados por seu procurador Dalmo Dallari, e realizaram perícia com cálculo de indenização pelos danos causados pelas invasões da estatal francesa, ganhando ambos os processos.
Organização sociopolítica
Esta sociedade estrutura-se em clãs - os ywania - havendo uma hierarquia entre eles, onde o clã sateré (lagarta de fogo) sobrepuja-se aos demais, uma vez que indica os bons tuxauas. Os clãs estão presentes na cosmologia e são narrados nos mitos - saray potairia (as belas palavras dos Sateré-Mawé), e nos cantos do Waymat (ritual da tucandeira). Este ritual de passagem da puberdade para a vida adulta é o evento que tradicionalmente reúne os clãs.
Os clãs são os seguintes: sateré (lagarta de fogo), waranã (guaraná), ywaçaí (açaí), akuri (cotia), awkuy (guariba), as’ho (tatu), iaguaretê (onça), piriwato (rato grande), akyi (morcego), mói (cobra), hwi (gavião), nhampo (pássaro do mato), uruba (urubu) e nhap (caba). Geralmente os xamãs – paini na língua sateré-mawé, são do clã mói (cobra).
Os Sateré-Mawé são patrilineares, e esta regra de parentesco determina o pertencimento ao grupo. As categorias de consanguíneos (por exemplo: pai, tio paterno, tia paterna) correlacionadas aos ywania (clãs) dos cônjuges geram uma rede de relações sociopolíticas internas, rebatidas na vida política externa.
O casamento é exogâmico, e esta regra faz com que as mulheres tornem-se o elo de aliança entre os ywania (clãs), vivendo em sua comunidade de origem até o casamento, para então passar a morar com a família de seu marido. Estas relações, ao contrário das consanguíneas, podem ser desfeitas, motivando um rearranjo entre os clãs, e entre as correlações de força entre os sítios de família extensa e as aldeias. Tratam-se, portanto, de clãs exogâmicos, patrilineares e patrilocais, onde os homens permanecem no seio familiar e as mulheres casadas passam a viver num grupo de estranhos, os parentes de seu marido. No entanto, a regra da patrilocalida não é rígida, e é possível que os sogros atraiam seus genros para, por exemplo, aumentarem os sítios e as aldeias, verificando-se então a convivência de várias “nações”, termo dado pelos Saterá-Mawé aos ywania (clãs).
Existe uma hierarquia na relação entre irmãos, que se desdobra na estrutura social Sateré-Mawé. Segundo Alvarez (2009), “A relação hierárquica do plano e parentesco serve como metáfora para pensar as relações políticas no interior do grupo. O tuxaua é pensado como o irmão mais velho, o que está na linha de frente, o que dá suporte ao grupo”.
Os Sateré-Mawé estão organizados sob a autoridade do chefe da família extensa, que reside em um sítio com sua família, congregando as famílias elementares dos filhos casados. O dono do lugar, o tuissa (tuxaua) organiza e orienta todas as atividades de sua comunidade, é ele que convida os parentes e conhecidos de outros sítios ou aldeias para reforçar o contingente de trabalho, reunindo-os nos puxiruns para abertura de roças, limpeza dos guaranazais, beneficiamento do guaraná, etc. Nessas ocasiões, previamente, ele ordena que cace, pesque e torre farinha, para prover a alimentação dos convidados.
Também é atribuição do tuissa solucionar os conflitos internos, manda construir as casas, assessorar a comercialização da produção agrícola dos seus familiares e agregados, promover os rituais. Cabe ao tuxaua hospedar os visitantes demonstrando sua generosidade e procedendo à função cerimonial de oferecer çapó - guaraná em bastão ralado na água, bebida cotidiana, ritual e religiosa, que é consumida em grandes quantidades.
A autoridade política do tuissa transcende os limites da aldeia, estendendo-se, conforme seu desempenho como chefe de comunidade e de acordo com as relações com os demais tuissa, sobretudo, com o tuxaua geral.
Atualmente, podemos observar que o grau de influência política de um tuissa oscila segundo alguns critérios, dos quais se destacam: o clã ao qual pertence; suas relações de parentesco e prestígio junto aos demais tuissa; seu conhecimento sobre o tempo dos antigos (história e mitologia sateré-mawé); sua capacidade como orador; sua tradição enquanto produtor do waraná; sua habilidade para o comércio; sua participação nas lutas históricas na década de 1980 (contra a abertura da estrada Maués-Itaituba e a invasão da empresa estatal francesa de petróleo Elf-Aquitaine); e a maneira como conduz os problemas internos de sua comunidade e a tônica de suas relações com os agentes da sociedade envolvente (políticos, comerciantes e parceiros na exportação do guaraná).
Segundo os mitos o waranã foi o primeiro tuissa (tuxaua). Colombo, filho do velho tuxaua Manoelzinho Miquilies, da aldeia Nova Esperança no rio Marau, contou em 1978 a “História do Guaraná”. Neste relato, Uniawasap, dona do Nusoken (que os Sateré-Mawé costumam traduzir como paraíso) cuida do cadáver do filho, morto pelos tios: “Ei meu filho, espia para cá! O filho espiou e aí a mamãe dele já tirou o olho do curumim, bem desse lado esquerdo, que é o guaranarana, esse que é o guaraná falso. Mamãe dele chamou outra vez, ei meu filho espia para cá! O filho espiou e a mamãe dele já agarrou e já plantou o olho direito do curumim, esse que é o chamado de guaraná verdadeiro. Guaraná tuxaua mesmo, aí já plantou, aí cresce, aí já ficou guaraná tuxaua. Tu tava morto meu filho, mas agora tá no guaraná. Ficou tuxaua. Guaraná tuxaua. É sempre ele que manda servir o guaraná, manda fazer roça. Ele que anima o serviço aqui no Marau, em todo esse rio. Tudo porção reúne, senta e a mulherada ralando guaraná, depois que toma vai trabalhar. Quando quer vem, manda ralar de novo, aí porção já toma, toma muito çapó no cuião grande. Assim é que ficou guaraná tuxaua verdadeiro, a mamãe dele fez assim mesmo e disse para ele: bom meu filho agora você vai ser o primeiro tuxaua, para tudo vão precisar, para caçar, para trabalhar, para curar, para beber de novo”.
Por este relato é possível compreender que waraná (guaraná) e tuissa (tuxaua) decolam de um conjunto de eventos míticos, para a supra realidade que funda esta sociedade, onde a primeira muda do guaraná verdadeiro (Paullinia cupana Kunth var. sorbilis (Mart.) Ducke) e o primeiro Sateré-Mawé são fruto da pajelança realizada por Uniawasap no cadáver de seu filho, morto por seus tios, heróis míticos do Nusoken. Trata-se da passagem da natureza, da plataforma cosmológica do Nusoken - onde os bichos eram como os Sateré-Mawé, para a cultura, quando, simultaneamente, o nascimento do primeiro Sateré-Mawé está associado à domesticação do guaraná, fundando a agricultura.
Segundo relatos dos tuissa mais velhos, já falecidos, no tempo dos antigos o tuissa era um chefe religioso, simbolizado pelo patawi, suporte confeccionado com cipó onde é colocada a cuia com o guaraná ralado – çapô. O tuissa tinha o poder de amparar os Sateré-Mawé e proteger o plantio do waranã. Atualmente, cabe ao tuissa ser o sustentáculo de sua comunidade, e fazer frente às pressões sofridas pelo contato com a sociedade envolvente.
Padrão de ocupação tradicional
Tradicionalmente os Sateré-Mawé estabelecem-se em sítios, nesses espaços cada família possui sua residência; a cozinha, construída a meio caminho entre a casa e o rio, onde os homens torram o guaraná e as mulheres a farinha de mandioca; e o porto, local às margens dos rios e igarapés, onde a família toma banho, lava a roupa, deixa a mandioca de molho, lava o guaraná e ancora canoas.
Os sítios congregam todas as plantações que são propriedades da família (extensa ou elementar): os guaranazais, as roças de mandioca, jerimum, cará, batata doce e outros tubérculos, bem como os pomares. São, portanto, um domínio privado, onde a terra e os demais recursos naturais são apropriados pelas famílias, que se submetem à autoridade do chefe do grupo familiar, reconhecido como dono do lugar - o tuxaua.
Assim, o sítio é o grupo local latu sensu, funcionando como unidade básica da organização política e econômica dos Sateré-Mawé, podendo vir a se transformar em aldeia quando o número de famílias elementares aumenta, ou quando o tuxaua ganha prestígio junto a seus pares, pela generosidade, pela habilidade nas transações comerciais, pelo entrosamento com os tuxauas mais próximos, assim como com o tuxaua geral.
A subsistência das famílias baseia-se na agricultura, em que se destacam os plantios de guaraná e as roças de mandioca. A farinha é a base da alimentação, sendo também comercializada para as cidades vizinhas de Maués, Barreirinha e Parintins. Plantam ainda, para consumo próprio, o jerimum, a batata doce, o cará branco e roxo, e uma infinidade de frutas.
Além de exímios agricultores, são também caçadores e coletores. Mel, castanha, diferentes qualidades de coquinhos, formigas e lagartas complementam sua dieta. Coletam ainda breu, cipós e vários tipos de palhas que servem para o consumo, além se serem comercializados na cidade. Tradicionalmente, os homens participam da dieta alimentar caçando e pescando, juntamente com a farinha de mandioca, o beiju e o tacacá feitos pelas mulheres.
Atualmente, a maior parte das aldeias obedece ao traçado de um arruado, semelhante aos povoados da região. Aí, encontramos as residências, as cozinhas, os portos, igrejas de diferentes congregações, a escola e enfermaria. Assim como nos sítios, nos arredores das aldeias localizam-se as roças de mandioca e demais plantações, os guaranazais, e os pomares de cada família.
Os filhos do Guaraná
A auto-imagem dos Sateré-Mawé como filhos do guaraná está traçada no plano ideológico no mito da origem. Inventores da cultura do guaraná, os Sateré-Mawé transformaram a Paullinia Cupana, trepadeira silvestre da família das Sapindáceas, em arbusto cultivado, introduzindo seu plantio e beneficiamento. O guaraná é uma planta nativa da região das terras altas da bacia hidrográfica do rio Maués-Açu, que coincide precisamente com o território tradicional Sateré-Mawé.
O waranã é o produto por excelência da economia sateré-mawé, e dos seus produtos comercializáveis é o que obtém melhor preço no mercado. É possível ainda pensar que a vocação para o comércio demonstrada pelos Sateré-Mawé se explique pela importância do guaraná na sua organização socioeconômica.
A primeira descrição do guaraná e de sua importância para os Sateré-Mawé é de 1669, ano que coincide com o primeiro contato do grupo com os brancos. Segundo o padre João Felipe Betendorf "tem os Andirazes em seus matos uma frutinha que chamam guaraná, a qual secam e depois pisam, fazendo dela umas bolas, que estimam como os brancos o seu ouro, e desfeitas com uma pedrinha, com que as vão roçando, e em uma cuia de água bebida, dá tão grandes forças, que indo os índios à caça, um dia até o outro não têm fome, além do que faz urinar, tira febres e dores de cabeça e cãibras".
Em 1819, o naturalista Carl von Martius recolheu na região de Maués uma amostra de guaraná, denominado-a Paullinia Sorbilis. Martius observou que na época já existia intenso comércio de guaraná, enviado a locais distantes como o Mato Grosso e a Bolívia. Assim, em 1868, Ferreira Pena escreve:
Cada ano descem pelo Madeira mercadores da Bolívia e Mato Grosso dirigindo-se à Serpa e Vila Bela Imperatriz, para onde trazem seus gêneros de exportação e donde recebem os de importação. Daí, antes de regressar vão a Maués, donde levam mil arrobas de guaraná, regressando então em ubás, carregadas daqueles e deste último gênero, que eles vão vender nos departamentos de Beni, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba na Bolívia e nas povoações do Guaporé e seus afluentes.
O comércio do guaraná sempre foi intenso na região de Maués, não só o realizado pelos Sateré-Mawé, mas também pelos comerciantes locais. A procura deste produto deve-se às propriedades de estimulante, regulador intestinal, antiblenorrágico, tônico cardiovascular e afrodisíaco. No entanto, é como estimulante que o guaraná, depois de beneficiado, é mais procurando, pois contém alto teor de cafeína (de 4 a 5%), superior ao chá (2%) e ao café (1%).
Existe uma distinção entre o guaraná de excelência beneficiado pelos Sateré-Mawé, denominado regionalmente “guaraná das terras, guaraná das terras altas e guaraná do Marau”, do guaraná beneficiado pelos agricultores na região de Maués, chamado “guaraná de Luzéia”, antigo nome da cidade de Maués, de qualidade inferior porque não é produzido com o apuro das práticas tradicionais ministrados pelos Sateré-Mawé.
Divisão de trabalho no fabrico
O fabrico é um ciclo produtivo predominantemente masculino. Observa-se que existe uma relação entre a divisão sexual do trabalho e por faixa etária. As atividades mais simples do fabrico - que não dependem de tanta arte e experiência – são feitas por mãos de variadas idades. Mas, quando se trata de tarefas mais especializadas, apenas os adultos e os idosos põem a mão no waraná.
Somando a prescrição sexual com a faixa etária resulta que a colheita dos cachos, a descasca do guaraná cru, a lavagem do guaraná, a torrefação dos grãos, descascar o guaraná torrado e pilar, são tarefas quase que exclusivamente masculinas, cobrindo a faixa etária dos meninos aos adultos. A participação do sexo feminino ocorre quando se descasca o guaraná cru e o guaraná torrado.
Só é permitida a participação das meninas nas atividades acima mencionadas antes da primeira menstruação, porque depois do primeiro resguardo as meninas ganham o estatuto social de mulheres, transformando-se em esposas e mães em potencial.
As três atividades finais do fabrico são as que exigem maior experiência, uma vez que incidem decisivamente na qualidade do produto final - o pão de guaraná. É por este motivo que a modelagem dos pães, sua lavagem e defumação são entregues exclusivamente nas mãos de pessoas adultas ou velhas. Segundo a prescrição da divisão sexual do trabalho e por faixa etária, apenas os homens adultos e velhos podem se encarregar da modelagem dos pães de guaraná e do controle da defumação.
A lavagem dos pães de guaraná se distingue radicalmente das outras atividades do fabrico porque é o único momento onde as mulheres, literalmente, põem a mão na massa. Apenas as mulheres adultas (mães) e velhas (avós) recebem das mãos dos padeiros, após breve descanso nos talos de bananeira, os pães de guaraná ainda frescos, moles e de cor castanha, para serem demorada e caprichosamente lavados.
A lavagem dos pães de guaraná constitui-se, sem dúvida, no trabalho mais delicado do fabrico, o que não é suficiente para explicar a incursão feminina dentro do universo eminentemente masculino. A quebra de tabu ocasionada pela entrada das mulheres no fabrico de forma tão determinada, só pode ser compreendida através dos mitos.
As mulheres Sateré-Mawé estão representadas no corpus mítico especialmente por Uniawasap, irmã dos gêmeos que habitavam o Nusoken (que os Sateré-Mawé traduzem como paraíso). É seguindo essa trilha que podemos entender a participação das mulheres na lavagem dos pães de guaraná, porque elas estão ocupando a posição de Uniawasap na "História do Guaraná - a mulher-xamã - que através de práticas xamanísticas, cuja tônica central é a lavagem do cadáver do filho com sua saliva e o sumo de plantas mágicas, faz nascer a muda de guaraná, inaugurando a agricultura, e ressuscita seu filho - o primeiro Sateré-Mawé.
Preparo e consumo do guaraná
O çapó, guaraná em bastão ralado na água, é a bebida cotidiana, ritual e religiosa, consumida por adultos e crianças em grandes quantidades. O preparo e o consumo do çapó seguem uma série de práticas que somadas resultam em uma sessão ritual, que são sempre as mesmas, seja quando o çapó é oferecido para a família, ou durante uma reunião de tuxauas.
Cabe à mulher do anfitrião, ou a uma de suas filhas, ralar o guaraná numa pedra que cabe na palma da mão, ou, mais recentemente, numa língua de pirarucu (Arapaima gigas). Esta operação é feita com a bola ou o bastão de guaraná molhados, em fricção com a superfície da pedra ou da língua de pirarucu, formando uma espécie de uma “lama” fina de guaraná que vai sendo dissolvida com água dentro de uma cuia (Crescentia cujete). A cuia quando não está no colo da fazedora do çapo, ou quando não está passando de mão em mão, permanece apoiada no patawi.
Quando a mulher que está preparando o çapó verifica que chegou a quantidade correta de guaraná ralado diluído na água, passa a cuia para seu marido, que primeiramente se serve de um pouco do çapó, para então passar para os presentes, entregando a cuia em primeiro lugar para os mais velhos, ou para visitantes ilustres. Daí em diante, a cuia passa de mão em mão, e quando esvaziada é entregue para o dono da casa, que por sua vez devolve à esposa que prepara uma nova rodada de çapó.
Caso algum participante da sessão de çapó não goste da bebida não irá recusá-la, bebendo apenas um pequeno gole e passando adiante. Outra formalidade importante é que a ultima pessoa da rodada de çapó não deve devolver a cuia vazia para o dono da casa, sempre deixando um pouquinho de çapó.
As sessões de çapó têm várias rodadas, ou seja, a mulher do dono da casa irá preparar várias cuias de çapó conforme a disposição dos visitantes e familiares de tomarem çapó e conversarem. Geralmente o dono da casa que encerra a sessão passando a cuia com o restinho de çapó para algum membro de sua família.
Fora das sessões cerimoniais de çapó, ele é utilizado nos resguardos das mulheres, durante a menstruação, a gravidez, o pós-parto e o luto. E os homens bebem çapó durante o regime que antecede a “Festa da Tocandira”, bem como quando estão se recuperando deste ritual, e quando acompanham suas esposas após o nascimento dos filhos.
Pode-se dizer que é durante o fabrico, termo regional utilizado para indicar as várias etapas do beneficiamento do guaraná, que a vida social se intensifica, potencializando ao máximo a maneira de ser desta sociedade, trazendo para o cotidiano um conjunto de atividades que ficam adormecidas no resto do ano.
O fabrico se renova anualmente com o início da colheita do guaraná, que vai aproximadamente de novembro a março, coincidindo com o período das chuvas, permitindo que os Sateré-Mawé comungarem com sua gênese, revigorando-se etnicamente.
O Wyamat, que os Sateré-Mawé referem-se como “meter a mão na luva”, é conhecido regionalmente como “Festa da Tocandira”, coincidindo com a época do fabrico. Trata-se de um rito de passagem - onde os adolescentes tornam-se homens - de extraordinária importância para os Sateré-Mawé, possuindo uma coleção de cantos épicos que os paini (os cantadores) cantam durante todo o ritual , narrando o mito de origem, o mito do aparecimento dos clãs, as histórias das guerras que incluem a participação dos Sateré-Mawé na Guerra da Cabanagem. As luvas utilizadas durante este ritual são tecidas em palha pintada com jenipapo, e adornadas com penas de arara e gavião; nelas, o iniciado enfia a mão para ser ferroado por dezenas de formigas tocandiras (Paraponera clavata).
Cultura material e imaterial - o Porantim
Os Sateré-Mawé possuem rica cultura material, sendo os tessumi sua maior expressão. Eles designam por tessumi o artesanato confeccionado pelos homens com talos e folhas de caranã, arumã e outros, com os quais fazem peneiras, cestos, tipitis, abanos, bolsas, chapéus, paredes e coberturas de casas.
O Porantim é a peça mais importante da cultura material Sateré-Mawé, sendo um elemento catalizador da sua cosmologia. É uma peça de madeira com aproximadamente 1,50m de altura, com desenhos geométricos gravados em baixo relevo, recobertos com tinta branca, a tabatinga. Sua forma lembra a de uma clava de guerra ou a de um remo.
O Porantim possui um leque de atributos: é o legislador social, e os Sateré-Mawé frequentemente se referem a ele como sendo sua Constituição, sua Bíblia. Possui poderes de entidade mágica prevendo acontecimentos, e pode andar sozinho para apartar desavenças e conflitos em sítios distantes.
É também o suporte onde estão gravados símbolos geométricos, uma espécie de pré-escrita que funciona como “gatilho” para o narrador relatar os mitos inscritos em cada face da peça: de um lado está o mito da origem (a “História do Guaraná”, o aparecimento dos clãs), e de outro lado o mito da guerra (histórias das guerras de tempos imemoriais, gênese da “Festa do Tocandeira”, relato épico da Guerra da Cabanagem). Posiciona-se, portanto, para a sociedade que o talhou, como instituição máxima, aglutinando as esferas política, jurídica e mágico-religiosa.
Segundo os tuxauas mais velhos, o primeiro Porantim, o Porantim sésse (verdadeiro) foi talhado por Anumáh que, ouvindo a fala do waraná foi escrevendo as tradições dos Sateré-Mawé. Nas leituras do Porantim realizadas pelo Tuxáua Manoelzinho Miquiles, na época das invasões da Elf-Aquitaine, o tuxaua contava que em tempos imemoriais Wassiri (ou Anumáh, ou Anumarah’it, nomes diferentes dados para o herói mítico, que se confunde com Deus) guerreou com os veados, e, sempre mudando de nome e utilizando diferentes estratégias e feitiços, conseguiu tomar a arma do clã dos veados – o Porantim.
Política e comércio contemporâneo
Nas décadas de 1970 e 1980, o CTI - Centro de Trabalho Indigenista e os produtores de guaraná do rio Marau idealizaram o “Projeto Sateré”, voltado para limpeza dos guaranazais improdutivos, para organização da comercialização dos pães de guaraná, priorizando a pesquisa de melhores preços para o produto no mercado regional, para que, gradativamente, os produtores se distanciassem dos regatões, iniciando um processo de independência econômica. Naquela época, verificou-se que a grande oscilação dos preços do guaraná inviabilizava a auto- sustentação do projeto.
O “Projeto Sateré” foi o embrião para o processo de organização política e comercial que se daria década de 1990, buscando no mercado internacional valor agregado à altura do copyright do waraná sésse (guaraná verdadeiro), possibilitando canalizar a produção de guaraná para importação, no âmbito do comércio justo.
Em 1995, surge o “Projeto Waraná” voltado para a autonomia econômica dos produtores Sateré-Mawé, com apoio da Associação de Consultoria e Pesquisas Indianistas da Amazônia - Acopiama, e contando com grande impulso dado por Obadias Garcia, liderança urbana Sateré-Mawé, secretario da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COAIB, e articulador do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé - CGTSM.
O “Projeto Waraná” desenvolve-se desde então, contando com o apoio do CGTSM, órgão máximo dos Sateré- Mawé, fundado em 15/09/1989, que “é a expressão política da união das nações ywania (que são os clãs), e é o instrumento social de gestão do território Sateré-Mawé, constituído pela Terra Indígena Andirá-Marau”, na acepção dos próprios Sateré-Mawé.
Em 19/12/2009, nasce o CPSM – Consórcio dos Produtores Sateré-Mawé em assembleia presidida pelo tuxaua Colombo Miquiles, protagonista da luta para resgatar a cultura do waraná na década de 1980. Desde então, foram cadastrados em torno de 500 produtores, que participam do mercado internacional de “comercio justo e solidário”.
Os tratos ambientais que este tipo de comércio exige têm proporcionado uma revitalização da cultura do waraná, com a implantação de práticas de etnodesenvolvimento que vêm sendo replicadas nos sítios e as aldeias na TI Andirá-Marau. São exemplos destas ações:
- Certificações orgânicas dos produtos Sateré-Mawé na marca Nusoken (waraná, própolis, mel de abelha, óleo de castanha, de andiroba e copaíba);
- Em 2008, edição do “Protocolo de produção do Pão de Waraná – denominação de Origem Protegida”;
- Em 2010, o CPSM – Consórcio de Produtores Sateré-Mawé obteve o SISCOMEX – Sistema Integrado de Comércio Exterior, transformando-se na primeira organização indígena brasileira a exportar produtos de agrosilvicultura, especialmente o waraná;
- Em 2011, a Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários/CIG (financiada pela FAO – Organização das nações Unidas para Alimentação e Agricultura), criou um grupo de estudo constituído pelo INPI - Instituto Nacional de Proteção Industrial, Funai, ACOPIAMA – Associação de Consultoria e Pesquisas Indianistas da Amazônia, e o CPSM – Consórcio de Produtores Sateré- Mawé, para encaminhar a formalização pelo INPI do reconhecimento da “Denominação de origem do guaraná nativo da Terra Indígena Andirá-Marau";
- Em 2012, o CPSM – Consórcio de Produtores Sateré-Mawé depositou a marca Nusoken para início de comercialização do waraná em território nacional, e foi inaugurada em Parintins a unidade de beneficiamento do waraná pelo tuxaua Antônio Tibúrcio Neto, atual presidente do CGTSM.
Atualmente, dando continuidade ao conjunto de ações em busca da autodeterminação e independência econômica, o CGTSM – Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé e o CPSM – Consórcio de Produtores Sateré-Mawé, coordenam atividades para elaboração do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da TI Andirá-Marau, realizando a governança com os tuxauas das comunidades e com as várias instituições indígenas, a saber:
- AISMA - Associação Indígena dos Sateré-Mawé do rio Andirá
- EPAT - Organização Indígena Vila Nova
- WOMUPE - Organização dos Professores Indígenas Sateré-Mawé dos rios Marau e Urupadi
- MOMUPE - Organização dos Agentes de Saúde Sateré-Mawé dos rios Marau e Andirá
- OPISMA - Organização dos Professores Indígenas Sateré-Mawé dos rios Andirá e Uaicurapá
- TUMUPE - Organização dos Tuísas dos rios Marau e Urupadi
Pressão territorial
Os Sateré-Mawé chamam o seu lugar de origem de Nusoken, morada de heróis míticos, localizado na margem esquerda do rio Tapajós, numa região pedregosa e de floresta densa, “onde as pedras falam”. Segundo sua mitologia, nesta região encontravam-se todas as plantas e os animais que deram origem aos clãs, além de fornecerem os recursos naturais necessários à vida dos ancestrais. Segundo os relatos dos mais velhos, o Nusoken encontra-se fora dos limites da Terra Indígena Andirá-Marau, podendo sofrer forte impacto caso seja construída a hidrelétrica São Luiz do Tapajós.
O sudeste da Terra Indígena Andirá-Marau sobrepõe-se ao Parque Nacional da Amazônia, requerendo cuidados especiais para preservação dos ecossistemas que se desenvolvem em micro bacias, além de planejamento para fiscalização de fronteiras.
Além da problemática do desmatamento ocasionado pelo crescimento da população e da inserção do lixo nas aldeias, a face nordeste da TI Andirá-Marau, região do rio Uaicurapá, vem sofrendo pressão devido à expansão de frentes agropastoris, causando problemas ambientais ligados à extração de madeira e à existência de serrarias ilegais.
A relação da TI Andirá-Marau com seu entorno merece atenção especial, sendo necessário identificar e localizar os vetores de pressão, destacando que há áreas de sobreposição deste território indígena com o Parque Nacional da Amazônia (11%) e com a Floresta Nacional do Pau Rosa (3%).
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