De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Interior corre risco de racionar água
03/10/2011
Fonte: OESP, Metrópole, p. C5
Interior corre risco de racionar água
Disponibilidade hídrica da Bacia Piracicaba-Capivari-Jundiaí fica abaixo dos índices do Oriente Médio; conta pode ficar mais cara
Karina Ninni
Parte dos 5 milhões de habitantes dos municípios que compõem as bacias Piracicaba-Capivari-Jundiaí (PCJ) corre o risco de racionamento, aumento de até 15% no valor das contas de água e até mesmo interrupção no abastecimento.
"Nossa disponibilidade hídrica no estio é de 400m3/habitante/ano. Para se ter uma ideia, no Oriente Médio a disponibilidade hídrica média é de 450m3/habitante/ano", compara Francisco Lahóz, presidente do Consórcio PCJ, associação de gestores e empresários que faz parte do Comitê das Bacias de mesmo nome.
De acordo com a ONU, uma disponibilidade hídrica inferior a 1.500 m3 habitante/ano já é considerada estresse hídrico. "Só não estamos no caos total porque temos um gerenciamento de primeiro mundo", diz Lahóz.
O risco de racionamento se renova a cada ano. Desde 2004, o Sistema Cantareira está sob o regime de gestão compartilhada, administrado com a participação das bacias que mantêm os principais mananciais fornecedores de água. O gerenciamento de ponta estabelecido com esta concessão, porém, vem se deparando, há dois anos, com um limitante não previsto: o esvaziamento do banco de águas dos municípios que compõem as bacias PCJ. O motivo: o excesso de chuvas que o Estado vem enfrentando há dois verões.
O banco de águas é uma ferramenta que permite a poupança do recurso para os meses de seca se, na época de chuvas, os municípios usam menos vazão do que aquela a que têm direito. Mas, quando chove demais no início do ano e o sistema Cantareira chega aos 100% de armazenamento, é preciso verter água para não comprometê-lo. A água vertida é a do banco de águas do interior. Por isso, alguns membros dos Comitês das Bacias do PCJ querem adiantar a discussão sobre os termos da concessão, que será revista em 2014.
"O modelo de outorga (concessão) previa problemas com as estiagens, mas não com o excesso de chuvas", afirma Paulo Tinel, consultor técnico da diretoria da Sanasa, em Campinas.
Exemplos do que ocorreu nos últimos anos: janeiro de 2010 foi o segundo mais chuvoso da história, atrás apenas de janeiro de 1947; e, em dezembro de 2009, choveu em 12 horas 32% do que deveria chover o mês todo.
Inverno. O resultado dessa equação chuvosa é que, quando chega o inverno, as cidades que dependem da água das Bacias PCJ têm de solicitar à Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico do Comitê uma vazão maior. De acordo com as regras definidas pela outorga de operação do Sistema Cantareira, em 2004, os municípios das bacias PCJ têm direito de receber 5m3/s de água (ou 5 mil litros), enquanto a Grande São Paulo recebe 31m3/s (ou 31 mil litros).
Até 30 de agosto, os municípios estavam usando os 5m3/segundo ao qual têm direito e mais 3,5m3/segundo do seu banco de águas. No início do mês, solicitaram uma vazão de 11m3/segundo - e a diferença entre os 5 e os 11 está saindo do banco de águas da Grande São Paulo.
"O banco de águas da capital é robusto e estamos conseguindo abastecer com os 11. Mas, se a estiagem for prolongada, os 11 não darão mais conta. Por isso, eu continuo pleiteando de 12 a 15 m3/segundo para nós durante a seca, para poder operar com um pouco mais de flexibilidade", afirma Tinel, da Sanasa.
Segundo ele, sem o aumento da vazão, as condições de captação são críticas. A água captada seria de péssima qualidade e municípios como Americana, Jaguariúna e Sumaré - todos da Grande Campinas - poderiam enfrentar racionamento.
Francisco Lahóz lembra que, nos últimos 20 anos, a cidade de Sumaré já sofreu racionamento várias vezes e teve a captação interrompida por baixa vazão. "Se não consegue dar potabilidade à água, não pode distribuir", diz.
Quanto pior a qualidade da água, mais caro para tratá-la. "Já tivemos aumentos de tarifa variando de 5% a 15% em alguns municípios em razão de custos com obras de engenharia e produtos químicos necessários nas baixas vazões", revela Lahóz, fazendo uma ressalva. "É preciso que os habitantes da capital e do interior se unam porque é um problema de todos. Se tivermos de ir à capital para justificar um aumento de tarifa para o paulistano, vamos lá dar a cara a tapa."
Comitê admite que será preciso rever distribuição
Luiz Roberto Moretti, secretário executivo do Comitê das Bacias PCJ-órgão gestor dos recursos hídricos - confirma que o fenômeno do preenchimento total dos reservatórios é novo e pede medidas, mas diz que a outorga de 2004 já representa uma vitória sobre a falta de regras de distribuição para o interior.
"Não havia regra para estipular número mínimo de vazão para a região antesde2004. Conseguimos a regra. Naquele momento, ela ajudou muito. Nos últimos anos, aconteceu esse fenômeno do excesso de chuvas. Percebemos que a regra não dava conta, mas para mudá-la são necessários estudos e metas de controle de perdas", afirma.
O Sistema Cantareira é o principal produtor de água potável da Grande São Paulo, responsável pelo abastecimento de aproximadamente 50% de sua população - pouco mais de 8 milhões de habitantes. "O sistema Cantareira sempre foi conflituoso, por motivos óbvios. Ele abastece metade da população da região metropolitana de São Paulo e mais 5 milhões de pessoas no interior ", afirma Rui Brasil, assessor técnico da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado.
Em 2003, antes do sistema de gestão compartilhada entrar em operação, vários municípios enfrentaram rodízio de distribuição de água e racionamento no inverno. "Bairros em cidades como Americana, Campinas e Sumaré tinham água uma vez por semana", diz Francisco Lahóz, presidente do Consórcio PCJ.
A preocupação com a disponibilidade hídrica cresce na mesma medida das previsões de aumento populacional.
Cidades populosas do interior-como Campinas, Piracicaba e Sorocaba - se servem das bacias. Obras como a ampliação do Aeroporto de Viracopos, o trem-bala entre São Paulo e Rio - com ramal até Campinas - e a migração de indústrias da capital para o interior devem aumentar a demanda por água.
"Creio que 11 m³ por segundo é o mínimo para garantir segurança hídrica para a região", diz Paulo Tinel, da Sanasa."Mas, sobretudo, queremos que, em caso de necessidade de abertura de comportas, a água liberada seja a do volume operacional do reservatório, não do banco de águas."
Somadas, a região atendida pelas Bacias PCJ, a Grande São Paulo, a Baixada Santista e a Bacia do Rio Paraíba do Sul representam 80% do PIB do Estado e mais de 25% do PIB do País./ K.N.
Briga pela água
Luiz Roberto Moretti
Secretário executivo do Comitê das Bacias PCJ
"Não existe deliberação no Comitê sobre isso (antecipação das negociações da concessão), o que não quer dizer que o assunto não esteja sendo discutido"
Rui Brasil
Assessor da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado
"Até a década de 1970, não ocorriam em São Paulo chuvas com mais de 100mmem 24 horas.
Nos anos 2000, isso ocorreu sete vezes. Não temos estudos para saber o que seria uma vazão ideal.
Mas há uma briga pela água, sem dúvida"
Curiosidades
Medida
A "pegada hidrológica" mede o consumo total de água per capita ao ano, incluindo a água embutida nos produtos que consumimos. A pegada hidrológica de um brasileiro médio é de 1.340m3 per capita ao ano. A de um norte-americano é de 2.500 m3 .
Consumo
A média de consumo de água por pessoa no Brasil é de 200 litros por dia. O maior consumo é observado no Distrito Federal, com 225 litros/ pessoa/dia. A ONU diz que 180 litros por dia são suficientes para um indivíduo
OESP, 03/10/2011, Metrópole, p. C5
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,interior-corre-risco-de-racionar-agua--,780466,0.htm
Disponibilidade hídrica da Bacia Piracicaba-Capivari-Jundiaí fica abaixo dos índices do Oriente Médio; conta pode ficar mais cara
Karina Ninni
Parte dos 5 milhões de habitantes dos municípios que compõem as bacias Piracicaba-Capivari-Jundiaí (PCJ) corre o risco de racionamento, aumento de até 15% no valor das contas de água e até mesmo interrupção no abastecimento.
"Nossa disponibilidade hídrica no estio é de 400m3/habitante/ano. Para se ter uma ideia, no Oriente Médio a disponibilidade hídrica média é de 450m3/habitante/ano", compara Francisco Lahóz, presidente do Consórcio PCJ, associação de gestores e empresários que faz parte do Comitê das Bacias de mesmo nome.
De acordo com a ONU, uma disponibilidade hídrica inferior a 1.500 m3 habitante/ano já é considerada estresse hídrico. "Só não estamos no caos total porque temos um gerenciamento de primeiro mundo", diz Lahóz.
O risco de racionamento se renova a cada ano. Desde 2004, o Sistema Cantareira está sob o regime de gestão compartilhada, administrado com a participação das bacias que mantêm os principais mananciais fornecedores de água. O gerenciamento de ponta estabelecido com esta concessão, porém, vem se deparando, há dois anos, com um limitante não previsto: o esvaziamento do banco de águas dos municípios que compõem as bacias PCJ. O motivo: o excesso de chuvas que o Estado vem enfrentando há dois verões.
O banco de águas é uma ferramenta que permite a poupança do recurso para os meses de seca se, na época de chuvas, os municípios usam menos vazão do que aquela a que têm direito. Mas, quando chove demais no início do ano e o sistema Cantareira chega aos 100% de armazenamento, é preciso verter água para não comprometê-lo. A água vertida é a do banco de águas do interior. Por isso, alguns membros dos Comitês das Bacias do PCJ querem adiantar a discussão sobre os termos da concessão, que será revista em 2014.
"O modelo de outorga (concessão) previa problemas com as estiagens, mas não com o excesso de chuvas", afirma Paulo Tinel, consultor técnico da diretoria da Sanasa, em Campinas.
Exemplos do que ocorreu nos últimos anos: janeiro de 2010 foi o segundo mais chuvoso da história, atrás apenas de janeiro de 1947; e, em dezembro de 2009, choveu em 12 horas 32% do que deveria chover o mês todo.
Inverno. O resultado dessa equação chuvosa é que, quando chega o inverno, as cidades que dependem da água das Bacias PCJ têm de solicitar à Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico do Comitê uma vazão maior. De acordo com as regras definidas pela outorga de operação do Sistema Cantareira, em 2004, os municípios das bacias PCJ têm direito de receber 5m3/s de água (ou 5 mil litros), enquanto a Grande São Paulo recebe 31m3/s (ou 31 mil litros).
Até 30 de agosto, os municípios estavam usando os 5m3/segundo ao qual têm direito e mais 3,5m3/segundo do seu banco de águas. No início do mês, solicitaram uma vazão de 11m3/segundo - e a diferença entre os 5 e os 11 está saindo do banco de águas da Grande São Paulo.
"O banco de águas da capital é robusto e estamos conseguindo abastecer com os 11. Mas, se a estiagem for prolongada, os 11 não darão mais conta. Por isso, eu continuo pleiteando de 12 a 15 m3/segundo para nós durante a seca, para poder operar com um pouco mais de flexibilidade", afirma Tinel, da Sanasa.
Segundo ele, sem o aumento da vazão, as condições de captação são críticas. A água captada seria de péssima qualidade e municípios como Americana, Jaguariúna e Sumaré - todos da Grande Campinas - poderiam enfrentar racionamento.
Francisco Lahóz lembra que, nos últimos 20 anos, a cidade de Sumaré já sofreu racionamento várias vezes e teve a captação interrompida por baixa vazão. "Se não consegue dar potabilidade à água, não pode distribuir", diz.
Quanto pior a qualidade da água, mais caro para tratá-la. "Já tivemos aumentos de tarifa variando de 5% a 15% em alguns municípios em razão de custos com obras de engenharia e produtos químicos necessários nas baixas vazões", revela Lahóz, fazendo uma ressalva. "É preciso que os habitantes da capital e do interior se unam porque é um problema de todos. Se tivermos de ir à capital para justificar um aumento de tarifa para o paulistano, vamos lá dar a cara a tapa."
Comitê admite que será preciso rever distribuição
Luiz Roberto Moretti, secretário executivo do Comitê das Bacias PCJ-órgão gestor dos recursos hídricos - confirma que o fenômeno do preenchimento total dos reservatórios é novo e pede medidas, mas diz que a outorga de 2004 já representa uma vitória sobre a falta de regras de distribuição para o interior.
"Não havia regra para estipular número mínimo de vazão para a região antesde2004. Conseguimos a regra. Naquele momento, ela ajudou muito. Nos últimos anos, aconteceu esse fenômeno do excesso de chuvas. Percebemos que a regra não dava conta, mas para mudá-la são necessários estudos e metas de controle de perdas", afirma.
O Sistema Cantareira é o principal produtor de água potável da Grande São Paulo, responsável pelo abastecimento de aproximadamente 50% de sua população - pouco mais de 8 milhões de habitantes. "O sistema Cantareira sempre foi conflituoso, por motivos óbvios. Ele abastece metade da população da região metropolitana de São Paulo e mais 5 milhões de pessoas no interior ", afirma Rui Brasil, assessor técnico da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado.
Em 2003, antes do sistema de gestão compartilhada entrar em operação, vários municípios enfrentaram rodízio de distribuição de água e racionamento no inverno. "Bairros em cidades como Americana, Campinas e Sumaré tinham água uma vez por semana", diz Francisco Lahóz, presidente do Consórcio PCJ.
A preocupação com a disponibilidade hídrica cresce na mesma medida das previsões de aumento populacional.
Cidades populosas do interior-como Campinas, Piracicaba e Sorocaba - se servem das bacias. Obras como a ampliação do Aeroporto de Viracopos, o trem-bala entre São Paulo e Rio - com ramal até Campinas - e a migração de indústrias da capital para o interior devem aumentar a demanda por água.
"Creio que 11 m³ por segundo é o mínimo para garantir segurança hídrica para a região", diz Paulo Tinel, da Sanasa."Mas, sobretudo, queremos que, em caso de necessidade de abertura de comportas, a água liberada seja a do volume operacional do reservatório, não do banco de águas."
Somadas, a região atendida pelas Bacias PCJ, a Grande São Paulo, a Baixada Santista e a Bacia do Rio Paraíba do Sul representam 80% do PIB do Estado e mais de 25% do PIB do País./ K.N.
Briga pela água
Luiz Roberto Moretti
Secretário executivo do Comitê das Bacias PCJ
"Não existe deliberação no Comitê sobre isso (antecipação das negociações da concessão), o que não quer dizer que o assunto não esteja sendo discutido"
Rui Brasil
Assessor da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado
"Até a década de 1970, não ocorriam em São Paulo chuvas com mais de 100mmem 24 horas.
Nos anos 2000, isso ocorreu sete vezes. Não temos estudos para saber o que seria uma vazão ideal.
Mas há uma briga pela água, sem dúvida"
Curiosidades
Medida
A "pegada hidrológica" mede o consumo total de água per capita ao ano, incluindo a água embutida nos produtos que consumimos. A pegada hidrológica de um brasileiro médio é de 1.340m3 per capita ao ano. A de um norte-americano é de 2.500 m3 .
Consumo
A média de consumo de água por pessoa no Brasil é de 200 litros por dia. O maior consumo é observado no Distrito Federal, com 225 litros/ pessoa/dia. A ONU diz que 180 litros por dia são suficientes para um indivíduo
OESP, 03/10/2011, Metrópole, p. C5
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,interior-corre-risco-de-racionar-agua--,780466,0.htm
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