From Indigenous Peoples in Brazil
News
Doação de pessoa física pode ser a saída
02/02/2009
Fonte: O Globo, Razão Social, p. 6-7
Doação de pessoa física pode ser a saída
Para ActionAid, é preciso recorrer mais a esse tipo de contribuição
Osvaldo Soares
osvaldo@oglobo.com.br
Se em muitos casos as ONGs já enfrentam o problema do fluxo intermitente de recursos, a crise mundial põe mais uma pedra no caminho: como evitar ou tentar atenuar o impacto da esperada redução do volume de dinheiro destinado a projetos sociais? Para a ActionAid, que atua no combate à pobreza em 12 estados brasileiros, a doação feita por pessoa física é uma das saídas. Segundo a organização, ainda se depende muito da contribuição de empresas no país. Com a queda da atividade econômica, as ONGs cuja fonte de recursos é principalmente empresarial estariam mais vulneráveis.
Pesquisas mostram que, no Brasil, 80% do dinheiro para o investimento social privado vem de empresas e 13% de pessoas físicas, enquanto na Inglaterra e nos Estados Unidos é o oposto: 80% das doações saem do bolso dos cidadãos. De acordo com Lucimara Letelier, coordenadora de Captação de Recursos da ActionAid, pessoa física e empresas têm motivações diferentes. E sentirão a crise de forma diversa também.
- A motivação da empresa está mais ligada ao interesse privado, como o de ter uma boa imagem. A da pessoa física está mais voltada para o interesse público - diz ela. - O corte que as empresas farão em suas ações de patrocínio está ligado à previsão de redução de lucro e crescimento. Já as pessoas físicas estão conscientes de que a causa não pode parar e que o problema da pobreza vai continuar e até se agravar. E, embora também possa sofrer com a crise, a classe que doa (A e B), de um modo geral, não vai deixar de contribuir com R$ 30, R$ 35 mensais por causa disso. Além disso, num momento de crise, as pessoas querem contribuir para uma mudança.
Embora não se possa dizer que o mesmo acontecerá no Brasil, Lucimara cita uma pesquisa feita em julho de 2008 na Europa para mostrar a tendência do doador pessoa física. De 500 famílias ouvidas, 51% estavam passando por dificuldades financeiras, mas apenas 28% tinham a intenção de reduzir suas contribuições a organizações sociais. Lucimara afirma que a captação de recursos de pessoas físicas é uma forma também de reforçar a causa na qual a ONG está envolvida, dando mais legitimidade ao trabalho e abrindo a possibilidade de, no futuro, ampliar o leque de doadores.
A ActionAid é afiliada da ActionAid Internacional, organização fundada na Inglaterra, presente em 50 países e que tem como patrono o príncipe Charles. No Brasil, a ONG, apoiando projetos de combate à desnutrição, geração de renda e melhoria da educação, entre outros, já beneficiou mais de 300 mil pessoas. Setenta por cento da receita da organização vem de pessoas físicas e o restante, de fundações internacionais e órgãos de governos europeus.
São 1.800 doares brasileiros.
Uma forma de contribuir é pelo apadrinhamento, por um valor mensal mínimo de R$ 35, de uma criança de uma comunidade onde a ActionAid já atue.
Segundo Lucimara, os efeitos da crise sobre a receita de pessoa física ainda não estão sendo sentidos com intensidade pelas ONGs no Brasil. Baseada em pesquisa, ela acredita que isso só poderá ser avaliado no fim deste ano ou no início de 2010.
Embora aconselhe o investimento na captação de recursos de pessoas físicas, Lucimara lembra que há obstáculos. Em primeiro lugar, ainda é preciso desenvolver no Brasil a cultura de o cidadão contribuir regularmente para uma organização social. Outra dificuldade é a falta de incentivo fiscal.
- Mas a profissionalização do setor ajuda organizações que já contam com seus doadores pessoas físicas a superarem essas dificuldades - diz ela.
ActionAid
www.mudeumavida.org.br
telefone 0300 100 0300
Como enfrentar a crise
A pedido da "Razão Social", Lucimara Letelier elaborou uma espécie de manual de sobrevivência na crise para as ONGs brasileiras. A seguir, as dicas relacionadas por ela.
Diversificação das fontes de recursos: Quanto menor a dependência de uma fonte, menor será o impacto. É importante preparar a estrutura interna para captar de pessoas físicas, governos e fundações internacionais, eliminando a dependência de empresas. É bom também estudar alternativas de geração de receita própria (pela venda de produtos, serviços, publicações, vídeos e eventos que a organização possa desenvolver legalmente em correlação com sua atividade-fim).
Invista em pessoa física: A crise tem impactos diferentes sobre as empresas e as pessoas físicas. Dessa forma, ajuda a fortalecer a captação da pessoa física, trazendo à tona todo o potencial desta fonte de recursos, que tem, entre outras vantagens, a de dar legitimidade à causa. Na historia internacional, não é comum que a doação de pessoa física caia nos mesmos níveis que a empresarial em tempos de crise. Às vezes, pode aumentar.
Informação qualificada e pesquisa: Informe-se sobre tendências mundiais e o impacto das crises anteriores sobre organizações sociais no Brasil e no mundo e sobre cada fonte de recurso.
Ajuste no planejamento e orçamento: É importante fixar as metas financeiras e organizacionais para 2009/10 alinhando as expectativas à nova realidade.
Deve-se rever as reservas e reativar planos de criação de um fundo de recursos. Também é importante rever as atividades previstas e estabelecer novas prioridades. Toda a equipe deve estar consciente e participar desses ajustes, não somente a diretoria executiva e financeira. Algumas organizações estão optando por reduzir a expectativa de receita em 15% a 20% e estimando quedas no orçamento dentro desse patamar.
Transparência e prestação de contas: Na crise, as escolhas dos apoiadores ficarão mais precisas e reduzidas. Eles vão optar pelo melhor. Por isso, a identificação clara pelo apoiador (pessoa física/jurídica) do retorno que sua doação obterá vai garantir sua permanência na parceria. Relatórios de auditorias, indicadores de resultados e comunicação contínua são mecanismos fundamentais nesta fase.
Flexibilização: Esteja pronto para oferecer alternativas ao apoiador. Exemplos: no caso de empresas, faça ajustes na programação ou no valor dos projetos patrocinados; no caso de pessoas físicas, amplie as formas de participação e as opções de pagamento.
Fortalecimento da missão/causa: É um momento importante para que cada organização comunique claramente a importância de seu trabalho e qual papel tem a cumprir na crise. As organizações sociais trabalham por causas públicas, coletivas, e sabem que, numa crise, os beneficiários de sua atividade são os que podem sofrer ainda mais com os impactos negativos. E o apoiador (pessoa física ou jurídica) deve se reconhecer como parte desse trabalho, que não pode parar.
Foco na retenção: O relacionamento com o apoiador deve ser fortalecido nesta etapa, observando-se as reais necessidades e limitações de cada lado na crise. Mais do que nunca, será importante construir com sua fonte de recursos uma relação de proximidade e confiança. O objetivo é, juntos, estudarem alternativas nesta fase, evitando-se assim a perda da fonte.
Fortaleça a estrutura interna: A crise pode apontar os benefícios de investir na formação de um setor de captação profissionalizado, que num momento como este possa reagir com agilidade e de forma integrada com a diretoria e o conselho de cada organização. Sem esta capacidade interna, a crise torna-se tema para poucos na organização e tira o foco dos líderes de suas atividades, para se lançarem de forma caótica à busca de patrocinadores de última hora.
Reconheça os efeitos positivos da crise:
Ao lado dos problemas, as oportunidades também serão muitas. A crise pode amadurecer a organização, mostrar áreas que precisam de ajustes, gerar inovação e criatividade, otimizar recursos e identificar áreas de atuação no setor social em que a ONG pode ser mais ativa.
O Globo, 02/02/2009, Razão Social, p. 6-7
Para ActionAid, é preciso recorrer mais a esse tipo de contribuição
Osvaldo Soares
osvaldo@oglobo.com.br
Se em muitos casos as ONGs já enfrentam o problema do fluxo intermitente de recursos, a crise mundial põe mais uma pedra no caminho: como evitar ou tentar atenuar o impacto da esperada redução do volume de dinheiro destinado a projetos sociais? Para a ActionAid, que atua no combate à pobreza em 12 estados brasileiros, a doação feita por pessoa física é uma das saídas. Segundo a organização, ainda se depende muito da contribuição de empresas no país. Com a queda da atividade econômica, as ONGs cuja fonte de recursos é principalmente empresarial estariam mais vulneráveis.
Pesquisas mostram que, no Brasil, 80% do dinheiro para o investimento social privado vem de empresas e 13% de pessoas físicas, enquanto na Inglaterra e nos Estados Unidos é o oposto: 80% das doações saem do bolso dos cidadãos. De acordo com Lucimara Letelier, coordenadora de Captação de Recursos da ActionAid, pessoa física e empresas têm motivações diferentes. E sentirão a crise de forma diversa também.
- A motivação da empresa está mais ligada ao interesse privado, como o de ter uma boa imagem. A da pessoa física está mais voltada para o interesse público - diz ela. - O corte que as empresas farão em suas ações de patrocínio está ligado à previsão de redução de lucro e crescimento. Já as pessoas físicas estão conscientes de que a causa não pode parar e que o problema da pobreza vai continuar e até se agravar. E, embora também possa sofrer com a crise, a classe que doa (A e B), de um modo geral, não vai deixar de contribuir com R$ 30, R$ 35 mensais por causa disso. Além disso, num momento de crise, as pessoas querem contribuir para uma mudança.
Embora não se possa dizer que o mesmo acontecerá no Brasil, Lucimara cita uma pesquisa feita em julho de 2008 na Europa para mostrar a tendência do doador pessoa física. De 500 famílias ouvidas, 51% estavam passando por dificuldades financeiras, mas apenas 28% tinham a intenção de reduzir suas contribuições a organizações sociais. Lucimara afirma que a captação de recursos de pessoas físicas é uma forma também de reforçar a causa na qual a ONG está envolvida, dando mais legitimidade ao trabalho e abrindo a possibilidade de, no futuro, ampliar o leque de doadores.
A ActionAid é afiliada da ActionAid Internacional, organização fundada na Inglaterra, presente em 50 países e que tem como patrono o príncipe Charles. No Brasil, a ONG, apoiando projetos de combate à desnutrição, geração de renda e melhoria da educação, entre outros, já beneficiou mais de 300 mil pessoas. Setenta por cento da receita da organização vem de pessoas físicas e o restante, de fundações internacionais e órgãos de governos europeus.
São 1.800 doares brasileiros.
Uma forma de contribuir é pelo apadrinhamento, por um valor mensal mínimo de R$ 35, de uma criança de uma comunidade onde a ActionAid já atue.
Segundo Lucimara, os efeitos da crise sobre a receita de pessoa física ainda não estão sendo sentidos com intensidade pelas ONGs no Brasil. Baseada em pesquisa, ela acredita que isso só poderá ser avaliado no fim deste ano ou no início de 2010.
Embora aconselhe o investimento na captação de recursos de pessoas físicas, Lucimara lembra que há obstáculos. Em primeiro lugar, ainda é preciso desenvolver no Brasil a cultura de o cidadão contribuir regularmente para uma organização social. Outra dificuldade é a falta de incentivo fiscal.
- Mas a profissionalização do setor ajuda organizações que já contam com seus doadores pessoas físicas a superarem essas dificuldades - diz ela.
ActionAid
www.mudeumavida.org.br
telefone 0300 100 0300
Como enfrentar a crise
A pedido da "Razão Social", Lucimara Letelier elaborou uma espécie de manual de sobrevivência na crise para as ONGs brasileiras. A seguir, as dicas relacionadas por ela.
Diversificação das fontes de recursos: Quanto menor a dependência de uma fonte, menor será o impacto. É importante preparar a estrutura interna para captar de pessoas físicas, governos e fundações internacionais, eliminando a dependência de empresas. É bom também estudar alternativas de geração de receita própria (pela venda de produtos, serviços, publicações, vídeos e eventos que a organização possa desenvolver legalmente em correlação com sua atividade-fim).
Invista em pessoa física: A crise tem impactos diferentes sobre as empresas e as pessoas físicas. Dessa forma, ajuda a fortalecer a captação da pessoa física, trazendo à tona todo o potencial desta fonte de recursos, que tem, entre outras vantagens, a de dar legitimidade à causa. Na historia internacional, não é comum que a doação de pessoa física caia nos mesmos níveis que a empresarial em tempos de crise. Às vezes, pode aumentar.
Informação qualificada e pesquisa: Informe-se sobre tendências mundiais e o impacto das crises anteriores sobre organizações sociais no Brasil e no mundo e sobre cada fonte de recurso.
Ajuste no planejamento e orçamento: É importante fixar as metas financeiras e organizacionais para 2009/10 alinhando as expectativas à nova realidade.
Deve-se rever as reservas e reativar planos de criação de um fundo de recursos. Também é importante rever as atividades previstas e estabelecer novas prioridades. Toda a equipe deve estar consciente e participar desses ajustes, não somente a diretoria executiva e financeira. Algumas organizações estão optando por reduzir a expectativa de receita em 15% a 20% e estimando quedas no orçamento dentro desse patamar.
Transparência e prestação de contas: Na crise, as escolhas dos apoiadores ficarão mais precisas e reduzidas. Eles vão optar pelo melhor. Por isso, a identificação clara pelo apoiador (pessoa física/jurídica) do retorno que sua doação obterá vai garantir sua permanência na parceria. Relatórios de auditorias, indicadores de resultados e comunicação contínua são mecanismos fundamentais nesta fase.
Flexibilização: Esteja pronto para oferecer alternativas ao apoiador. Exemplos: no caso de empresas, faça ajustes na programação ou no valor dos projetos patrocinados; no caso de pessoas físicas, amplie as formas de participação e as opções de pagamento.
Fortalecimento da missão/causa: É um momento importante para que cada organização comunique claramente a importância de seu trabalho e qual papel tem a cumprir na crise. As organizações sociais trabalham por causas públicas, coletivas, e sabem que, numa crise, os beneficiários de sua atividade são os que podem sofrer ainda mais com os impactos negativos. E o apoiador (pessoa física ou jurídica) deve se reconhecer como parte desse trabalho, que não pode parar.
Foco na retenção: O relacionamento com o apoiador deve ser fortalecido nesta etapa, observando-se as reais necessidades e limitações de cada lado na crise. Mais do que nunca, será importante construir com sua fonte de recursos uma relação de proximidade e confiança. O objetivo é, juntos, estudarem alternativas nesta fase, evitando-se assim a perda da fonte.
Fortaleça a estrutura interna: A crise pode apontar os benefícios de investir na formação de um setor de captação profissionalizado, que num momento como este possa reagir com agilidade e de forma integrada com a diretoria e o conselho de cada organização. Sem esta capacidade interna, a crise torna-se tema para poucos na organização e tira o foco dos líderes de suas atividades, para se lançarem de forma caótica à busca de patrocinadores de última hora.
Reconheça os efeitos positivos da crise:
Ao lado dos problemas, as oportunidades também serão muitas. A crise pode amadurecer a organização, mostrar áreas que precisam de ajustes, gerar inovação e criatividade, otimizar recursos e identificar áreas de atuação no setor social em que a ONG pode ser mais ativa.
O Globo, 02/02/2009, Razão Social, p. 6-7
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